Mais velho, mais desigual e com as finanças públicas arruinadas. Olá, Reino Unido pós-Brexit
O Brexit vai elevar os custos das exportações britânicas, o que levará a uma depreciação da libra que, por sua vez, vai aumentar os preços no Reino Unido. Resultado: os pobres ficam mais pobres.
Fraco crescimento económico, estagnação dos rendimentos dos mais pobres, uma população cada vez mais envelhecida e as finanças públicas em ponto de rutura. Assim será o Reino Unido em 2030, quando a saída da União Europeia já estiver mais que finalizada e já tiver produzido efeitos.
São estas as previsões de um novo relatório, divulgado esta quinta-feira pelo think tank britânico Institute of Public Policy Research (IPPR), que faz um retrato fatalista do Reino Unido pós-Brexit.
O relatório parte de dados da OCDE, do instituto oficial de estatísticas britânico e de conversas com economistas e investigadores para fazer uma análise àquilo que vai mudar no país durante a década de 2020. Mas é ainda antes disso que acontecem as principais mudanças: as negociações do Brexit, que deverão arrancar já no início do próximo ano e que poderão estar concluídas em 2018, vão “mudar profundamente o Reino Unido” e obrigar, quase de certeza, a “compromissos dolorosos”.
"É provável que os bens e serviços provenientes do Reino Unido enfrentem custos de exportação mais elevados na década de 2020.”
“Considerando os dolorosos compromissos implicados no Brexit, bem como a ênfase política dada ao controlo da liberdade de circulação, é provável que os bens e serviços provenientes do Reino Unido enfrentem custos de exportação mais elevados na década de 2020″, aponta o estudo.
Para fazer face a esses custos, o Reino Unido deverá ter de “procurar uma depreciação controlada da moeda“. E essa desvalorização da libra, por sua vez, vai “reconfigurar a balança setorial da economia” britânica e puxar os preços para cima. Os maiores prejudicados por esta reconfiguração serão os mais pobres.
No fim, há, pelo menos, quatro pontos que vão definir o Reino Unido em 2030, prevê o IPPR:
- A população com 65 e mais anos vai aumentar em 33%. A população com mais de 85 anos vai duplicar. A população em idade ativa só vai crescer em 3%;
- Esta alteração demográfica vai levar a um défice estrutural acentuado e, chegados a 2030, a segurança social britânica ter em falta 13 mil milhões de libras (mais de 15 mil milhões de euros) para assegurar o apoio social aos adultos do país. É o equivalente a 62% do orçamento destinado a este serviço;
- Cerca de 15 milhões de empregos, ou dois terços do atual número de empregos do país, sobretudo no retalho e na manufatura, estão em risco de se tornar automatizados;
- A riqueza dos mais ricos deverá aumentar 11 vezes mais rápido do que a dos mais pobres, que só vão ver os rendimentos aumentar em 2%, entre hoje e 2030. Feitas as contas, a família média britânica vai ganhar menos 1700 libras por ano do que ganharia se o Reino Unido se mantivesse na União Europeia.
É neste cenário que o autor do relatório, Mathew Lawrence, apela a uma mudança de políticas públicas. “As políticas de nostalgia, o conservadorismo institucional e a defesa das instituições tal como eram na democracia social do século XX serão inadequadas. Para os progressistas, essa estratégia não será robusta o suficiente para mitigar a crescente insegurança, ambiciosa o suficiente para reformar o modelo económico britânico, nem inovadora o suficiente para assegurar uma transformação política e social”.
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