Santana Lopes: Montepio “não será necessariamente uma aventura”
Na apresentação de contas sólidas da Santa Casa, o provedor Santana Lopes diz que "não entra em aventuras" mas o Montepio "não será necessariamente o caso". Decisão espera-se até final de junho.
A Santa Casa apresentou esta manhã contas “sólidas e robustas”. Impõe-se agora a reflexão sobre a melhor forma para “reformular a estrutura” e “assegurar o objetivo de sustentabilidade”. À afirmação de que a Santa Casa “não entra em aventuras”, Santana Lopes acrescenta agora que “o Montepio não será necessariamente o caso”.
O Governo, na voz do ministro Vieira da Silva, vê “com bons olhos” a associação da Santa Casa ao Montepio. O banco acredita que a combinação “tem pernas para andar“. O provedor da Santa Casa, que começou por admitir a “obrigação de estudar” este negócio, revelou mais recentemente que para já, a Santa Casa “não tem intenção nenhuma” de concretizar.
“A SCML não tem intenção rigorosamente nenhuma em relação ao Montepio”, disse o provedor, num artigo de opinião no Jornal de Negócios, salientando que nunca, desde que Vieira da Silva aventou essa hipótese, “não houve uma única conversa, reunião ou sequer leitura de documentos”. No entanto, esta quinta-feira na apresentação de contas, Santana Lopes mudou de posição e mostrou-se aberto à possibilidade de entrada no Montepio.
“Outros assessores têm dito mais do que eu que não é a vocação da Santa Casa. Tenho dito que a Santa Casa não entra em aventuras e não entrará. Não significa que este caso o seja“, disse Santana Lopes relativamente à possibilidade de participação acionista no Montepio. A Santa Casa encontra-se a estudar esta hipótese baseada em estudos de consultores independentes que a própria pediu.
Outros assessores têm dito mais do que eu que não é a vocação da Santa Casa. Tenho dito que a Santa Casa não entra em aventuras e não entrará. Não significa que este caso o seja.
Santana Lopes recua portanto nas intenções, que até agora eram “nenhumas”, e lembra que “a Santa Casa já teve participações financeiras desse tipo, em instituições financeiras. Por exemplo 10% na sociedade de leasing da CGD”, a Imoleasing, ou “algumas seguradoras também ligadas ao Montepio”, como a Lusitania Seguros. Estas negociações foram inclusivamente dirigidas por pessoas da mais variada orientação, desde o Padre Vítor Melícias, Pedro Vasconcelos ou Fernanda Mota Pinto, enumerou o provedor. Santana Lopes deixa, no entanto, a ressalva de que não quer com isto dizer que a Santa Casa vai participar.
A decisão está prevista até ao final de junho
Embora não exista um prazo definido, Santana Lopes aponta para final de junho para “uma decisão já fundamentada”. O vice-provedor, Edmundo Martins, foi o designado para conduzir o processo mais diretamente.
Recorde-se que o presidente da Associação Mutualista, Tomás Correia, disse que o projeto tem “pernas para andar”, mas que há investidores além da Santa Casa interessados em entrar para o capital social da Caixa Económica Montepio. “Precisa de ser trabalhado, vai ser trabalhado e vai ser uma alavanca decisiva para o país e para as instituições da economia social”, disse Tomás Correia ao Diário de Notícias.
As declarações de Pedro Santana Lopes foram feitas às margem da apresentação das contas da Santa Casa que apresentou um resultado líquido de 21,1 milhões de euros que “excede largamente” o previsto no orçamento. O provedor referiu-se às contas como “sólidas e robustas” e definiu a situação financeira como “perfeitamente controlada”, apesar das “exigências cada vez maiores” das áreas de atuação.
Placard é o terceiro jogo que mais contribui para as receitas
A receita corrente aumentou 9,4%, em 2016, confirmando a trajetória crescente desde 2014, o que permitiu à instituição financiar-se sobretudo através dos capitais próprios, que cobrem 90% do ativo. Os jogos sociais são claramente a melhor aposta da Santa Casa, uma vez que apoiam as receitas em 85% e continuam a crescer. Em 2016, houve um aumento de 13,4% nas vendas dos jogos, fomentado por novidades como o Milhão e o Placard. Este último jogo, de apostas desportivas, ascendeu rapidamente ao terceiro mais vendido e, em 2017, traz novas modalidades para o campo das apostas.
A diversificação no último ano deu-se, sobretudo, pelo investimento em património, que representa 3,1% da receita corrente e cresceu 16,5% em 2016 até alcançar 6,5 milhões de euros.
Do lado da despesa, a subida de 0,9% para 199,7 milhões de despesas correntes é classificada como “controlada”, pelo que não é encarada como uma ameaça para a sustentabilidade. Este acréscimo é justificado pelos custos com o pessoal e o aumento nos subsídios e bolsas cedidos pela Santa Casa, que ainda assim não cobrem toda a procura. A Santa Casa ditou em 2016 um salário mínimo superior ao estabelecido a nível nacional e criou um seguro de saúde para os funcionários. A ação social continua a deter o maior peso, 55,7% das despesas correntes que se traduzem em 111,2 milhões de euros. Segue-se a saúde, que custou 50,3 milhões à Santa casa, cerca de 25% da despesa.
Santana Lopes relembra, contudo, que “é nos tempos de contas mais sorridentes que se devem preparar os tempos em que porventura isso não aconteça” e assume que a instituição continuará ativa na procura de solidez para satisfazer as necessidades “daqueles para quem a Santa Casa existe: os mais carenciados”. Num ano “histórico” em termos das vendas dos jogos, 97% destes lucros retornaram à sociedade.
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