Túnel do Marão, há um ano a reduzir a interioridade em Vila Real
Demorou sete anos a construir e custou 398 milhões de euros. Mas o Túnel do Marão, que assinala um ano este sábado, está a ajudar a reduzir o impacto da interioridade em Vila Real.
O Túnel do Marão, aberto há um ano, ajudou a minimizar o impacto da interioridade em Vila Real, a atrair empresas e passou a ser a principal opção dos utentes nas deslocações para o Litoral. A Autoestrada do Marão concluiu o prolongamento da A4 de Amarante até Vila Real, inclui um túnel rodoviário de 5,6 quilómetros e abriu ao trânsito a 08 de maio de 2016.
Miguel Pinto, diretor-geral da Kathrein Automotive, fábrica de componentes para automóveis que produz antenas, faz diariamente a viagem de Vila do Conde, onde vive, para Vila Real, onde trabalha. “Em termos pessoais foi um ganho inexcedível. Faço a viagem diariamente, são 50 minutos e não custa nada. Quando trabalhava em Gaia demorava mais a deslocar-me uma dúzia de quilómetros”, afirmou à agência Lusa.
O responsável considerou que esta autoestrada era algo que se exigia porque ajudou a “minimizar o impacto da interioridade”. “Não vou dizer que acabou com a palavra interioridade para Vila Real, mas mudou muito o conceito que as pessoas têm”, afirmou. Para além de facilitar a sua vida pessoal, Miguel Pinto referiu que a infraestrutura ajudou a colmatar a dificuldade sentida pela empresa em atrair quadros superiores. “Muitas vezes quando ouviam falar de Vila Real, mesmo estando interessados no projeto, desistiam atendendo à dificuldade e ao tempo que demorava deslocarem-se até aqui”, referiu.
O responsável realçou a questão da segurança no Túnel do Marão e lembrou as deslocações mais longas e difíceis pelo sinuoso Itinerário Principal 4 (IP4) que, em alguns invernos, se transformava numa barreira que não deixava seguir viagem devido à neve. “A indústria automóvel é muito feita de envios especiais e a previsibilidade do túnel é muito vantajosa”, frisou.
Em um ano, a Kathrein contratou mais cinco funcionários da área do Grande Porto e, segundo o responsável, o “fator túnel foi decisivo na aceitação do projeto”. Atualmente, são cerca de 20 pessoas, só desta empresa, que se deslocam diariamente entre estes dois territórios. Na fábrica trabalham 430 funcionários. “Mesmo com o custo da portagem compensa”, concluiu Miguel Pinto.
Não vou dizer que [o Túnel do Marão] acabou com a palavra interioridade para Vila Real, mas mudou muito o conceito que as pessoas têm.
Bruno Carneiro, de Santo Tirso, veio trabalhar para a Kathrein Automotive no início deste ano e afirmou à Lusa que a questão das acessibilidades foi um fator preponderante na sua escolha por Vila Real. “Quando me contactaram para vir para Trás-os-Montes, Vila Real, parecia-me tudo muito distante. Era a ideia que eu tinha. Só tinha vindo cá uma vez, há uma série de anos, e depois fiquei surpreendido porque, de facto, não era assim tão longe. É menos de uma hora de viagem desde a minha casa em Santo Tirso”, salientou.
"Quando me contactaram para vir para Trás-os-Montes, Vila Real, parecia-me tudo muito distante.”
Bruno Carneiro lembrou que, quando trabalhava em Gaia, a deslocação demorava mais tempo. “Embora fique cá durante a semana, e vá só ao fim de semana a casa, a possibilidade de poder chegar a Santo Tirso facilmente, para poder tratar de assuntos pessoais ou alguma coisa que precise, é sempre uma mais-valia”, referiu.
A Cerna é uma empresa de engenharia e consultadoria florestal, com origem na Galiza, que está há três meses no mercado nacional e escolheu Vila Real para se fixar. Luís Roxo é um dos três técnicos que trabalham na cidade transmontana e disse à agência Lusa que a atuação da empresa, nesta primeira fase de implantação, se está a centrar sobretudo no Norte e no Centro do país. “Vila Real aparece com um nova centralidade para o Norte e para o Centro do país, tendo em conta que temos as autoestradas A24 e A4 a atravessaram Vila Real e, aqui, o Túnel do Marão influencia também de grande forma essa mobilidade”, afirmou.
De acordo com o responsável, a “partir desta localização conseguem abranger o território florestal que interessa à empresa”, desde Chaves até Coimbra, Braga ou Viana do Castelo. “Essa distância que constituiria um obstáculo, em estarmos em Vila Real, neste momento consegue ser facilmente transponível”, frisou.
A Cerna instalou-se no Douro Régia Park – Parque de Ciência e Tecnologia de Vila Real e quer apostar também numa ligação à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), onde Luís Roxo estudou e trabalhou. Em um ano de funcionamento, o Túnel do Marão foi atravessado por cerca de três milhões e 850 mil veículos e contabiliza 7,5 milhões de euros de receita de portagens.
Túnel do Marão: Um marco para a região que demorou sete anos a concluir
O Túnel do Marão abriu há um ano, sete anos depois do início da construção, de um investimento global de 398 milhões de euros e com uma forte aposta na segurança dentro da infraestrutura. A autoestrada, entre Vila Real e Amarante, foi lançada em 2008, pelo Governo socialista de José Sócrates, como uma parceria público privada. O contrato de concessão foi assinado com a Concessionária Autoestrada do Marão, composta pelas empresas Somague e MSF.
A obra arrancou em 2009, o investimento inicial previsto era de 458 milhões de euros, dos quais 341 milhões eram destinados à sua construção, e a sua abertura ao tráfego foi anunciada para fevereiro de 2012. Sócrates esteve no lançamento da obra e haveria de voltar à serra do Marão para assinalar o retomar dos trabalhos no interior do túnel. É que o percurso não foi fácil e a obra de escavação do Túnel do Marão foi suspensa por duas vezes devido a um processo judicial interposto por uma empresa que explorava águas nesta serra.
Em julho de 2011, já com o Governo de Pedro Passos Coelho em funções, os trabalhos pararam em toda a extensão da autoestrada, desta vez devido a dificuldades financeiras por parte da concessionária. Na altura estavam realizados 247 milhões de euros do investimento previsto para a construção, faltando ainda escavar cerca de quatro quilómetros dos 11,3 quilómetros que representam a extensão total das duas galerias do túnel.
Em junho de 2013, o Governo PSD/CDS resgata a concessão do Túnel do Marão, uma decisão fundada no incumprimento pela concessionária que interrompeu a obra, e o empreendimento foi entregue à Infraestruturas de Portugal (IP). O Túnel do Marão fica para a história como a primeira obra pública resgatada pelo Estado, o que aconteceu dois anos após a paragem da empreitada. Em fevereiro de 2014, foi aprovada em 89 milhões de euros a candidatura do projeto ao cofinanciamento comunitário através de fundos disponibilizados pelo Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN).
A obra foi inaugurada a 7 de maio de 2016, pelo primeiro-ministro, António Costa, e abriu ao trânsito no dia 8 de maio, permitindo a ligação à Autoestrada 4 (A4) para o Porto e para Bragança. No interior do túnel, que rasga a serra do Marão, a aposta foi na segurança máxima. A infraestrutura dispõe de 18 subsistemas de segurança ativa que atuam em conjunto e são geridos por um sofisticado sistema de automação.
Todo o túnel está coberto por um sistema de videovigilância, com 126 câmaras, e de deteção automática de incidente. Em caso de anomalia, carro parado ou incêndio, a câmara mais próxima do local foca a anomalia, puxa a situação para o vídeo wall do centro de controlo onde em permanência estão dois operadores.
É o próprio sistema que sugere formas de atuação de acordo com a gravidade da ocorrência e o procedimento de emergência que deve ser tomado. Ao longo de toda a extensão existem dois passadiços para encaminhar os utentes para as 13 passagens de emergência, seis das quais permitem a passagem dos veículos para a outra galeria que poderá ser encerrada para a evacuação ou passagem dos veículos de emergência. O empreendimento inclui dois túneis, duas galerias gémeas, que foram construídos em paralelo.
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