Portugal vai pagar menos a dez do que pagou a sete anos
Metade do financiamento fica garantido com operação que marca a estreia do IGCP na dívida a dez anos em 2017. Custo deverá ficar em linha com anteriores leilões com prazos estranhos.
Portugal evitou até agora leilões de dívida a dez anos, tendo optado por pedir emprestado em prazos menos convencionais para contornar o agravamento dos juros secundários. Mas a estreia do IGCP na maturidade de referência do mercado, prevista para esta manhã, deverá resultar num juro semelhante ao que pagou para vender obrigações com prazos estranhos nos últimos meses.
Em cima da mesa estão dois leilões de títulos do Tesouro a cinco anos e dez anos, através dos quais a agência que gere a dívida pública pretende levantar entre 1.000 milhões e 1.250 milhões de euros. Com a operação, metade do financiamento para 2017 fica desde já garantido. Se repete pela terceira vez a dose nos títulos com prazo a cinco anos, a maturidade que serve de benchmark para o mercado representa mesmo uma novidade este ano para o IGCP.
Para os analistas, a estratégia delineada por Cristina Casalinho foi clara: evitou incursões no mercado com dívida a dez anos para evitar um aumento significativo dos encargos do Estado com nova dívida — impedindo que o custo de financiamento no primeiro trimestre tivesse ido além dos 3,4%, acima da taxa de 2,5% registada em todo 2016. E estreia-se agora a dez anos surfando a onda de otimismo dos investidores, depois de a primeira volta das eleições presidenciais franceses terem aberto o caminho para Emmanuel Macron seguir para o Eliseu — cenário que veio a concretizar-se no passado fim de semana com a vitória de Macron na segunda volta.
“Os leilões acontecem num momento em que há forte procura. Em termos globais, há maior confiança da parte dos investidores depois da vitória de Macron. Ele traz uma abordagem diferente ao conceito europeu. É mais aberto na política orçamental e isso beneficia países como a Grécia e Portugal”, refere Alberto Gallo, chefe de estratégia macro da Algebris.
"Os leilões acontecem num momento em que há forte procura. Em termos globais, há maior confiança da parte dos investidores depois de Macron. Ele traz uma abordagem diferente ao conceito europeu. É mais aberto na política orçamental e isso beneficia países como a Grécia e Portugal.”
Desde o início do ano, o Tesouro português já emitiu dívida a sete anos, a oito anos e a nove anos, prazos pouco habituais face àquilo que tem sido prática do IGCP nos últimos anos. Pagou juros entre 3,3% e 3,9% nestas operações. O leilão de dívida a dez anos deverá registar uma taxa dentro deste intervalo, em torno de 3,5%, segundo os analistas consultados pelo ECO. No leilão a sete anos, em fevereiro, Portugal pagou 3,668%.
“Eu adicionaria cinco pontos base às taxas do mercado secundário”, aponta David Schnautz, estratego de dívida do Commerzbank. Alberto Gallo concorda: “Atualmente, a taxa de juro das obrigações a dez está à volta dos 3,4%. Esta nova emissão deverá ter um juro próximo do mercado secundário”.
Certo é que, se Cristina Casalinho tivesse vendido estas obrigações a dez anos nos últimos quatro meses, provavelmente teria pago um juro superior a 4%, um patamar psicológico e onde a própria agência DBRS admitiu sentir algum desconforto. A yield associada às obrigações a dez anos chegou a superar os 4,3% a 16 de março, após a mudança “administrativa” das linhas de referência.
"Eu adicionaria cinco pontos base acima da taxas do mercado secundário [a rondar os 3,4%].”
Entretanto, os juros portugueses vêm apresentando uma correção em baixa acentuadíssima nas últimas semanas, um desempenho para o qual contribuíram tanto fatores externos (como as eleições francesas) como fatores internos (défice nos 2%). Atualmente, a taxa a dez anos negoceia em torno dos 3,4%, servindo de referência para o leilão em mercado primário.
Gallo evidencia que “mesmo que as coisas estejam a correr melhor em Portugal, o ambiente não é perfeito e ainda há alguns desafios no setor financeiro e nas finanças públicas pela frente”. Talvez por essa razão, adianta Schnautz, o país ainda não testou o mercado de muito longo prazo. “Um passo significativo acontecerá quando voltar a emitir dívida de ultra-longo prazo, por exemplo com maturidade em fevereiro de 2030 (prazo de 13 anos), o que agora parece estar em vista apenas após as eleições britânicas, a 14 de junho”, frisou este responsável.
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