Há menos penny stocks na nossa bolsa. E mais ações “caras”
As ações do PSI-20 estão mais caras. Há menos penny stocks portuguesas e cinco títulos apresentam-se com um valor nominal supera os dez euros. E isso é bom e mau ao mesmo tempo.
O que têm em comum Jerónimo Martins, Semapa, Galp, Corticeira Amorim e Ibersol? São empresas que se apresentam na principal montra portuguesa com títulos cotados acima de dez euros. Não há muito tempo o PSI-20 estava carregado com penny stocks. Mas agora o destaque na bolsa são ações com elevado valor nominal. E isso é bom e mau ao mesmo tempo.
Penny stocks são ações cujo valor está abaixo do euro. São ações “baratas” que potenciam a liquidez no mercado. O que é bom para os pequenos investidores. Mas, do outro lado da moeda, estas ações de baixo valor nominal afastam grandes investidores institucionais e cuja ausência em Lisboa se fez sentir em grande medida nos últimos anos de crise económica e financeira no país — e com impacto na delapidação da mercado bolsista nacional. Em casos como o BCP e Banif, a cotação das ações chegaram inclusivamente à quarta casa decimal tão reduzido que era o preço dos seus títulos.
“Títulos com um valor nominal mais elevado podem acabar por influenciar o comportamento dos investidores privados“, refere Albino Oliveira, gestor da Patris Investimentos. “A menor proporção de penny stocks no PSI-20 é positiva para o índice, se considerarmos os investidores institucionais que muitas vezes estão constrangidos na sua capacidade de investir nestes títulos”, no caso do investidor privado, uma menor percentagem de penny stocks reduz a oferta de títulos para day-trading“, sublinha a equipa de research do BiG.
As ações mais caras do PSI-20
Fonte: Bloomberg (valores euros)
Esta circunstância tem pesado, na verdade, no volume de negociação em day-trading na bolsa portuguesa. No primeiro trimestre do ano, o volume de ações trocadas no mesmo dia afundou 15,6% no Euronext Lisbon, segundo as estatísticas da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.
Ações caras?
É o título mais “caro” do PSI-20. A Jerónimo Martins está atualmente a cotar na casa dos 17,7 euros. Ainda assim, de acordo com o Erste Group, pode valorizar ainda mais nos próximos meses: até aos 20 euros.
A dona do Pingo é um dos cinco títulos com valor nominal acima dos dez euros que atualmente coabitam no PSI-20. São títulos que chamam a atenção dos investidores de peso para a bolsa portuguesa e que olham sobretudo para os fundamentais das empresas cotadas para aferir o nível de atratividade de determinada ação. É aqui que entram indicadores como o Price Earnings Ratio (PER) — rácio do lucro por ação — para avaliar se uma ação está barata ou não.
"A menor proporção de penny stocks no PSI-20 é positiva para o índice, se considerarmos os investidores institucionais que muitas vezes estão ‘constrangidos’ na sua capacidade de investir nestes títulos”, no caso do investidor privado, uma menor percentagem de penny stocks reduz a oferta de títulos para day-trading.”
Este rácio lucro por ação é uma ferramenta útil que compara o preço de uma ação, permitindo avaliar quantas vezes o dividendo está refletido na cotação. Ou seja, assumindo que o dividendo se manterá ao longo do tempo, o PER indica quantos anos serão precisos para reaver o dinheiro investido nas ações. Assim, um título com o valor de um euro pode ser mais caro do que outro título cotado nos dez euros se a primeira não distribuir sequer dividendos. Tudo depende da capacidade de gerar lucro para quem detém o título, o acionista.
No PSI-20, as ações que apresentam o PER mais baixo pertencem atualmente à Mota Engil (PER de 7,8) e Sonae (9). Por seu turno, EDP Renováveis e Novabase apresentam os PER mais altos, de 124,1 e 34,6, respetivamente. À luz deste indicador, é mais atrativo investir na construtora e na retalhista do que na empresa de energias renováveis e na tecnológica.
Injeção de liquidez
Para cotadas como a Ibersol e Corticeira Amorim, o elevado valor facial do título poderá estar a revelar-se um mais um empecilho para a criação de liquidez no mercado, dado tratar-se de empresas com baixa capitalização bolsista ou reduzida dispersão de ações no mercado. O caso da empresa que gere franchises na área da restauração como o Burguer King ou Pizza Hut é elucidativo: subiu à principal liga da bolsa em meados de março, mas no mês subsequente pouco negociou.
É difícil de perceber se é o preço de cerca de 17 euros que está a travar a atividade bolsista da Ibersol. Se for, mais complicado ficará se a estimativa do Haitong se concretizar: as ações podem chegar aos 19,5 euros devido ao bom momento económico na Península Ibérica, de acordo com uma nota de research publicada a semana passada.
O requisito da liquidez faz parte das regras da Euronext para uma cotada pertencer ao grupo exclusivo do PSI-20. Com isto, a gestora da bolsa pretende criar condições para a formação de um preço justo dos títulos.
Em teoria, um processo de stock split (de divisão do título por mais títulos) poderia ajudar a tornar as duas cotadas mais atrativas. Mas essa não é a opinião nem de Albino Oliveira nem do BiG. “Para aumentar a liquidez dos títulos, as opções resumem-se à emissão de novas ações (ou seja um aumento de capital) ou à venda da participação de um acionista de referência que distribuiria as suas ações pelo mercado“, diz a equipa de research do BiG.
Albino Oliveira lembra que na Corticeira Amorim, a Amorim International Participations e a Investmarnk Holdings venderam no ano passado um bloco correspondente a 10% do capital do grupo, “o que permitiu aumentar o free float e, consequentemente, a sua liquidez”.
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