Britânicos investem na Biotecnol e testam remédio inovador
A Biotecnol e o Cancer Research UK estabeleceram um acordo para realizar ensaios clínicos de um medicamento inovador no combate ao cancro. O centro oncológico entrou no capital da empresa portuguesa.
A Biotecnol tem um novo acionista de referência — o Cancer Research UK. Este é o resultado de um acordo de parceria assinado, a semana passada, com este centro oncológico britânico ao fim de 18 meses de negociações. A empresa portuguesa tem agora as portas abertas para realizar ensaios clínicos de um medicamento inovador no combate ao cancro.
“Foram 18 meses de negociação dura, para desenhar uma parceria inovadora. O Cancer Research UK põe ao nosso dispor a sua infraestrutura, investindo no nosso capital e assumindo custos, além de ajudarem numa matriz de tarefas de modo a realizar os testes clínicos nos hospitais que queremos”, explicou ao ECO Pedro Pissarra, presidente da Biotecnol.
"Foram 18 meses de negociação dura, para desenhar uma parceria inovadora. O Cancer Research UK põe ao nosso dispor a sua infraestrutura, investindo no nosso capital e assumindo custos, além de ajudarem numa matriz de tarefas de modo a realizar os testes clínicos nos hospitais que queremos.”
“A Biotecnol trabalhou durante dezoito meses com o CRT, o braço comercial do CRUK, num ambiente de negociação implacável e submeteu-se com êxito à análise detalhada da sua capacidade científica e tecnológica operada por de uma comissão de 32 oncologistas de renome e várias equipas legais, comerciais e financeiras com vasta experiência”, conta a newsletter da biotecnológica portuguesa, onde apresenta este acordo. “A entrada do CRUK no capital da Biotecnol permite também a aquisição de conhecimento vital, especialmente no desenho dos ensaios clínicos que, nesta área, são ainda mais elaborados e complexos do que os desenvolvidos pelos setores farmacêuticos e biofarmacêuticos tradicionais“, acrescenta a mesma nota.
Questionado sobre a percentagem que o novo parceiro passou a deter no capital da Biotecnol, Pedro Pissarra especificou que uma das cláusulas do acordo era o sigilo absoluto sobre a componente mais financeira do negócio, embora garanta que continuam a ser os acionistas maioritários e com controlo absoluto.
Ainda assim, o responsável explica que o modelo de negócio da Biotecnol assenta na comercialização após a fase II de ensaios clínicos, ou seja, a etapa onde se observa uma prova de conceito sobre a segurança e eficácia em seres humanos, que geralmente é atingida depois de três anos de trabalho. Nesta fase, onde o produto mostra valor terapêutico e comercial, a Biotecnol vai tentar licenciar o produto a uma multinacional do setor da saúde para o colocar no mercado. “Assim, o ciclo inicia–se com um investimento de 12 a 15 milhões de euros por produto, e desenvolve–se com o retorno financeiro provocado pela licença dada à empresa multinacional, que se situa a valores atuais de mercado, num valor de oito a 12 vezes superior ao valor investido por produto e por aplicação terapêutica”, explica o responsável.
"O ciclo inicia–se com um investimento de 12 a 15 milhões de euros por produto, e desenvolve–se com o retorno financeiro provocado pela licença dada à empresa multinacional, que se situa a valores atuais de mercado, num valor de oito a 12 vezes superior ao valor investido por produto e por aplicação terapêutica.”
E se o risco seria menor em vender já a uma multinacional, antes de os testes clínicos se realizarem — porque o sucesso do negócio está diretamente relacionado com o sucesso dos ensaios — Pedro Pissarra explica que compensa mais vender depois já que, “a taxa de sucesso neste tipo de biofármacos é alta”. A estratégia é “passar a dominar a cadeia de valor, na sua componente mais valiosa, menos capital intensiva e menos arriscada, ou seja, na geração dos produtos até à fase de prova de conceito clínica”, acrescenta Pedro Pissarra.
No fundo, a Biotecnol está a repetir a receita que seguiu em 2009, quando lançou um medicamento inovador a nível mundial para o tratamento de doenças do fígado. Na altura, a estrela da companhia era a Cardiotrofina-1, uma molécula desenvolvida pelo consórcio formado pela Biotecnol e pela espanhola Digna Biotech que foi depois licenciada pelo grupo Roche, para um mercado avaliado, na altura, em 400 milhões de euros.
Desde então a Biotecnol fez um grande caminho. Reestruturou a empresa na totalidade. O seu modelo de financiamento centra-se hoje maioritariamente em acionistas privados e family offices, diz Pedro Pissarra, acrescentando que agora está “montar barreiras de risco”.
Para garantir as necessidades financeiras do dia-a-dia, a Biotecnol tem a componente de prestação de serviços através da Rodon Biologics (grupo Biotecnol), que quer crescer em Portugal. A componente de risco, de capital intensivo, é levada a cabo pela Biotecnol Limited no Reino Unido, explica o responsável.
Uma tecnologia portuguesa na vanguarda da investigação
Com tecnologia desenvolvida em Portugal pela Rodon Biologics (grupo Biotecnol), com o apoio da Universidade do Minho, a biotecnológica portuguesa espera ter criado uma solução alternativa à quimioterapia, destruindo os tumores malignos, ativando e direcionando as próprias defesas imunológicas do corpo humano (as células T) no combate à doença. Na prática é manipular o sistema imunitário de forma a este atacar os tumores.
Os ensaios clínicos, que vão decorrer nos vários hospitais do serviço nacional de saúde britânico, são a fase inicial para “um tratamento imunooncológico experimental destinado a doentes com tumores sólidos avançados”. A Biotecnol explica, em comunicado, que “este medicamento apresenta um forte potencial de utilização em vários tipos de cancro, como o cancro de mama e rins, mas o foco inicial, neste ensaio clínico, incide sobre os cancros torácicos, designadamente pulmão e pleura”.
A Imunooncologia foi classificada, em 2013 pela revista Nature, como o avanço do ano. A Biotecnol não está sozinha neste campo, já que estão em curso, em todo o mundo, vários ensaios clínicos que exploram este tipo de imunoterapia. Segundo a Biotecnol, os analistas defendem que “esta é a estrada para o êxito científico e empresarial da indústria biofarmacêutica internacional na luta contra o cancro”.
E o sucesso não é apenas científico. É também financeiro. Veja-se o caso da Flexus Biosciences que foi comprada, em 2015, pela Bristol-Myers Squibb por 1,25 mil milhões de dólares, incluindo um pagamento à cabeça de 800 milhões.
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