Exclusivo Caso Huawei: NOS pagou viagens de altos quadros da Saúde à China
Cinco quadros da Serviços Partilhados do Ministério da Saúde viajaram para a China a convite da NOS e com as viagens pagas pela operadora, parceira da Huawei. Empresa abriu auditoria interna.
A empresa parceira da Huawei que convidou e pagou as viagens a altos cargos do Estado à China foi a NOS, apurou o ECO, e não a empresa chinesa de tecnologia. A viagem, que foi noticiada pelo Expresso (acesso pago) na edição deste sábado, envolveu 14 pessoas, das quais cinco são funcionários da empresa Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS). Os outros eram representantes dos três maiores grupos nacionais privados de saúde.
O ECO tem mais pormenores: A viagem foi na Emirates, em classe económica, e decorreu entre os dias 2 e 15 de junho de 2015. Os 14 convidados da NOS partiram de Lisboa no dia 2, chegaram ao Dubai na madrugada de 3 e aterraram em Hong Kong nesse mesmo dia, durante a tarde. Entre os convidados, estão cinco quadros da SPMS: Rui Gomes, da Direção de Sistemas de Informação; Nuno Lucas, do departamento de Comunicações, Infraestruturas, Produção e Segurança; Rute Belchior, da Direção de Compras Transversais; Ana Maurício d’Avó, responsável de Comunicação e Relações Públicas; e Artur Trindade Mimoso, vogal executivo do conselho de administração da SPMS.
Para além destes, foram ainda na viagem outros nove convidados, entre colaboradores da NOS e representantes dos grupos privados Lusíadas Saúde, Luz Saúde e José de Mello Saúde. No fim, a NOS acabou por pagar 12.516 euros pelas viagens.
O ECO contactou a NOS e fonte autorizada respondeu que a operadora está “a apurar internamente o respetivo enquadramento e todo o detalhe associado a esta visita”.
Ainda assim, confirma que “em junho de 2015, colaboradores da NOS acompanharam um grupo de representantes de entidades públicas e privadas do setor da saúde, numa visita de trabalho à Huawei na China“. A Huawei, por seu lado, já tinha garantido ao ECO durante a manhã desta segunda-feira que não tinha pago qualquer viagem a estes responsáveis da Saúde, nem sequer a tinha organizado.
Entretanto, a empresa abriu uma auditoria interna por causa do caso, avançou o Expresso, notícia entretanto confirmada pelo ECO.
Inicialmente, a viagem estava marcada para os dias 2 a 7 de junho. Contudo, os convidados pediram para prolongar este período e acabaram por ficar até dia 15, confirmou ao ECO fonte de um dos grupos privados. Não foi possível saber o motivo deste prolongamento, mas não consta qualquer outra visita integrada na viagem, portanto, restará outro motivo: férias, confidenciam outras fontes.
A parceria da NOS com a Huawei foi estabelecida a 7 de outubro do ano passado, em Shenzen, na China. Miguel Almeida, presidente executivo da operadora portuguesa, e Chris Lus, diretor-geral da Huawei Portugal, assinaram o acordo que visa o desenvolvimento de soluções tecnológicas para infraestruturas de comunicações, data-centers, vídeo e soluções empresariais.
Na edição deste fim de semana, o Expresso refere, citando fonte da SPMS, que a viagem à China se tratou de um evento para “adquirir e partilhar conhecimentos sobre os recursos, modelos e estratégias diferenciadoras utilizados no âmbito da telemedicina“. Estes responsáveis visitaram o hospital de Zheng Zhou para observar como funciona o sistema de telemedicina daquela unidade de Saúde e também a sede da Huawei, em Shenzhen, perto de Hong Kong. O ECO também contactou a SPMS sobre este assunto e ainda aguarda resposta.
Entretanto, o Ministério da Saúde já confirmou que pediu a intervenção da Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS) para averiguar os factos relacionados do Estado e apurar “eventuais responsabilidades”. E espera-se uma decisão do ministro Adalberto Campos Fernandes nas próximas horas ou dias em relação ao referidos altos quadros. Também a Autoridade Tributária (AT) está a investigar o caso, uma vez que Carlos Santos, quadro da AT, também foi à China a convite de uma empresa privada.
Quadros da Saúde colocam lugar à disposição
Os quadros da SPMS envolvidos nesta polémica colocaram, entretanto, os lugares à disposição, noticia o Expresso esta segunda-feira. Em comunicado, o Ministério da Saúde adiantou esta segunda-feira que os dirigentes do SPMS, “em particular” o presidente e vogal do Conselho de Administração, colocaram à disposição os respetivos lugares.
Segundo o semanário, esta segunda-feira houve várias reuniões no Ministério da Saúde para apurar o que aconteceu. O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, decidiu esperar pelos resultados da investigação da IGAS para tomar decisões finais. A investigação deverá estar concluída em setembro, adianta ainda o Expresso.
Ministério Público investiga caso Huawei
Este caso ganha relevância depois do que sucedeu com os secretários de Estado que foram ao Europeu de Futebol a expensas da Galp e acabaram por se demitir, depois da abertura de um processo do Ministério Público e de serem constituídos arguidos. Em causa está a suspeita de prática de crimes de recebimento indevido de vantagem. O próprio Governo, há cerca de um ano, aprovou um código de conduta para cargos políticos, no qual define a proibição de recebimento de presentes de valor superior a 150 euros.
Dias depois das demissões provocadas pelo chamado caso Galpgate, o Observador avançou com uma nova polémica, desta vez envolvendo a Huawei, que pagou viagens à China a vários políticos. Um deles foi Nuno Barreto, adjunto do secretário de Estado das Comunidades, que, segundo noticiou o Observador, viajou à China em janeiro deste ano, com estadia paga pela Huawei, e que já foi afastado pelo Governo. Isto porque as despesas pagas pela Huawei foram superiores a 150 euros. O Ministério Público abriu um inquérito a estas viagens.
Além de Nuno Barreto, noticiou ainda o Observador, também Paulo Vistas, presidente da Câmara de Oeiras, Sérgio Azevedo, vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, Ângelo Pereira, vereador do PSD na Câmara de Oeiras, e Luís Newton, presidente da Junta de Freguesia da Estrela, estão envolvidos no caso Huawei.
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