Passos Coelho não se recandidata à liderança do PSD
Pedro Passos Coelho não se vai recandidatar à liderança do PSD. A informação está a ser avançada pela Lusa, citando fontes próximas do partido. O ECO já confirmou.
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, anunciou esta terça-feira na reunião da Comissão Política Nacional que não se irá recandidatar ao cargo nas próximas eleições diretas, disseram à Lusa fontes sociais-democratas presentes neste órgão. Esta informação já foi confirmada também pelo ECO.
Apesar de esperada, a pesada derrota do PSD nas eleições autárquicas do passado domingo acabou por surpreender pela sua dimensão e abriu portas para a saída do líder do partido. O resultado das autárquicas foi “mau demais”, como diz Pedro Santana Lopes.
As tropas que já por si andavam agitadas, agitaram-se ainda mais e há mesmo alguns ‘generais’ que se começaram a movimentar. É o caso de Rui Rio, ex-presidente da Câmara do Porto, e um dos pesos pesados do PSD. Rio, segundo noticiou o Expresso, terá mesmo reunido em Azeitão com um núcleo de senadores do partido como Manuela Ferreira Leite, Ângelo Correia, Morais Sarmento e Feliciano Barreiras Duarte.
Rio, que deverá esperar pela decisão oficial de Passos para se manifestar sobre o seu futuro, estaria já, mesmo antes das autárquicas, a planear a sua candidatura à liderança do partido, tendo mesmo uma equipa a trabalhar há algum tempo e um site pronto. No fundo, a candidatura de Rio estava já pronta para avançar para as diretas do partido que terão lugar em março, e o anúncio da não candidatura de Passos só vem antecipar o momento em que o ex-autarca fará o seu anúncio.
Mas se o “PSD dos senadores” está a mexer, o mesmo se pode dizer dos mais novos quadros do partido, com Luís Montenegro à cabeça. Fontes próximas do PSD garantem ao ECO que o ex-líder parlamentar do partido não está muito motivado para avançar nesta fase até porque o seu nome é muito conotado com o de Pedro Passos Coelho.
“O Montenegro percebe que por um lado o seu nome está muito colado ao de Passos e, por outro, que estes resultados eleitorais são uma rejeição ao Passos pelo que o seu nome poderá também ser rejeitado. E o que se espera é que o novo ciclo do PSD seja um ciclo em que o PSD lute para ganhar”, acrescentam.
Rio e a travessia do deserto
Com os indicadores económicos a galvanizarem o Governo e António Costa, estará Rio na disposição de fazer a chamada travessia do deserto?
Fontes do PSD, bem colocadas dentro do partido, não têm dúvidas: “a conjuntura económica nacional e internacional está de feição a António Costa, mas se o PSD recentrar o seu discurso, voltar a um discurso mais voltado para as pessoas e menos para os números, é certo que disputará com força as eleições“.
O PSD, prosseguem as mesmas fontes, “não podia ficar eternamente recolhido na concha”. E ainda sobre um eventual combate entre Rio e Costa para o cargo de primeiro-ministro: “se Rio for líder do partido, tem dois anos para se afirmar e, mesmo que a probabilidade de perder com Costa seja grande, há ainda muita água para correr debaixo da ponte“.
E as mesma fontes acrescentam que “o PSD precisa de um discurso renovador e o Passos, que nunca retirou o símbolo de Portugal da lapela, mesmo quando deixou de ser primeiro-ministro, não soube encetar essa renovação”.
Pedro Duarte, Paulo Rangel, Eduardo Martins. Os suplentes
A Rio e a Montenegro poderão ainda juntar-se uma “equipa de luxo de suplentes”, como é o caso de Paulo Rangel, Pedro Duarte e até mesmo Eduardo Martins.
Curioso é que esta terça-feira, os dois primeiros escrevem artigos de opinião, no Público, a dar a sua visão sobre o futuro do PSD. Pedro Duarte, que estas autárquicas apareceu ao lado de Álvaro Almeida na corrida à Câmara do Porto e era mesmo candidato à presidência da Assembleia Municipal, acusa o PSD de ter uma organização obsoleta, sobretudo no que diz respeito (à falta) de um programa decente e inspirador. Duarte diz que no último congresso teve “oportunidade de alertar para a necessidade urgente de encontrar uma nova agenda política que reposicionasse o partido, afirmando-o no centro e voltando-o para o futuro”. Mas diz que “tudo caiu em saco roto”.
Agora, Pedro Duarte teme que o PSD entre numa disputa “infantilizada e impercetível aos olhos dos portugueses, em torno de rostos e personagens”. O ex-líder da JSD alerta para o facto de que o problema do partido “não reside nos seus quadros (apesar de desprezados nos tempos recentes)”.
Afirma que a prazo o país enfrentará dois problemas maiores: “carência de profissionais com as competências adequadas e uma sociedade desigual onde alguns (poucos) prosperarão, a par com camadas sociais excluídas e revoltadas”. Posto isto, o social-democrata avança com a proposta de “convocação imediata de um congresso para discutir ideias, projetos, estratégias e políticas. Sem disputa de liderança nesta primeira fase. Entendamo-nos sobre a agenda e a proposta que o PSD quer apresentar aos portugueses”.
Rangel exige “reflexão, avaliação e debate”
Também o eurodeputado Paulo Rangel, que esta noite participa na reunião do conselho nacional, tendo mesmo cancelado toda a agenda em Estrasburgo para o efeito, diz que “a derrota foi dura” e exige “reflexão, avaliação e debate”. Rangel defende que o partido não deve “precipitar-se numa apatia nostálgica ou numa depressão paralisante” e sobretudo “não deve esfumar-se numa luta de personalidades ou num choque de séquitos e aparelhos. É absolutamente essencial que, nesta hora difícil, devolvamos o melhor do nosso partido aos portugueses, a Portugal, à política portuguesa”.
Rangel relembra que “o código genético do PSD funda-se na dignidade da pessoa humana e nos direitos fundamentais, na democracia e no Estado de Direito”. Posto isto, “o PSD tem que ser inflexível na defesa da independência dos tribunais e da liberdade de imprensa e de expressão“.
“O nosso modelo é a democracia liberal, e não há que ter vergonha de dizê-lo, a democracia liberal ocidental”, afirma.
O eurodeputado diz ainda que o “PSD é eclético e, entre os seus eleitores e dirigentes, soube sempre acolher conservadores e progressistas, zelando pela liberdade de consciência. O PSD não corre atrás do politicamente correto, não bane as religiões do espaço público, não dá foro nem guarida ao pensamento único“.
Pacheco e a “doença” que está a encolher o PSD
Quem também escreve esta terça-feira nas páginas do Público é Pacheco Pereira. O ex-dirigente do partido social-democrata escreve um artigo intitulado “A doença que está a encolher o PSD”. Pacheco Pereira diz que “o PSD está numa crise profunda, que não é conjuntural, mas estrutural e não data de agora”.
“Se nada for feito pelos seus militantes, o PSD mudará de caráter, consolidando a sua deriva à direita, tentado pelo populismo e terá um caminho médio“, afirma o comentador político.
Para Pacheco Pereira podem existir dois caminhos: “Pode haver uma ou outra afirmação cosmética, e tudo continuar na mesma, seja com Passos Coelho ou com um seu seguidor e discípulo, ou pode haver alguma mudança que, mesmo sendo pouca, se for na direção certa, pode começar a virar uma página negra da história partidária”.
Pacheco diz mesmo que “não vai ser fácil, exatamente porque não é apenas um problema de mudar de líder, mas sim de mudar de grupo dirigente, principalmente em Lisboa e Porto e, mais importante do que tudo isso, mudar de política”.
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