Carlos Costa: o malparado de hoje é reflexo da “generosidade” do passado
O governador do Banco de Portugal avisou que a falta de rigor nos modelos de risco acaba por se repercutir em custos maiores. Mas reconheceu que o ambiente externo também pesa.
Para Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, o volume de crédito malparado com que os bancos portugueses são hoje obrigados a lidar reflete comportamentos do passado de maior “generosidade”, em que o prémio de risco adequado não foi cobrado. Mas este não foi o único fator a pesar, reconheceu o supervisor, esta segunda-feira, em Lisboa.
“Falo da economia portuguesa. O volume de NPL [non performing loans, ou malparado] que absorvemos hoje é reflexo do volume de crédito que foi dado no passado e do prémio de risco que não foi cobrado,” avisou o governador, na sessão de encerramento do XXVII Encontro de Lisboa entre bancos centrais dos países de língua portuguesa. E frisou: “Estamos hoje a compensar a maior generosidade em matéria de concessão de crédito.”
"Estamos hoje a compensar a maior generosidade em matéria de concessão de crédito.”
Contudo, Carlos Costa reconheceu que há outros fatores que também pesam, nomeadamente o ambiente em que as instituições financeiras operam. “Há uma parte que está fora do alcance do supervisor porque depende do contexto geral,” argumentou. “O supervisor apenas pode calibrar os instrumentos para exigir mais capital. Mas ao exigir mais capital, estamos a limitar o volume de crédito e a aumentar o custo, estamos a condicionar o crescimento potencial,” explicou. “A virtude paga-se e o vício também se paga,” rematou.
"Ao exigir mais capital, estamos a limitar o volume de crédito e a aumentar o custo, estamos a condicionar o crescimento potencial. A virtude paga-se e o vício também se paga.”
Durante o encerramento do evento, Carlos Costa deixou mais alertas. A integração financeira só interessa se promover o investimento e o consumo sustentáveis, caso contrário, “não vai gerar o desenvolvimento sustentado.” Mais: “Um sistema financeiro que canaliza o dinheiro para o soberano ou os dependentes do soberano cria a prazo as condições de insustentabilidade e instabilidade política de qualquer país,” sublinhou.
O governador explicou ainda que o “volume de crédito que pode conceder depende da qualidade da gestão das instituições, dos modelos de governo dos tomadores de crédito, da sustentabilidade das políticas e da profundidade dos ciclos.” Ou seja, “para o mesmo nível de risco, uma melhoria da gestão de risco, da gestão dos ciclos políticos, da previsibilidade da política pública e do quadro macroeconómico é importantíssimo,” defendeu.
Por isso, sumarizou, “a falta de transparência, a falta de informação das empresas, falta de rigor na análise de risco, instabilidade política ou não sustentabilidade das contas públicas repercute-se, no curto prazo, num risco adicional e, no médio prazo, num custo implícito nos spreads e nos NPL.”
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