Rui Rio: “Se o PSD estivesse à frente do Governo já teríamos conseguido um défice zero”
O ex-autarca do Porto não poupa as críticas ao Orçamento que considera ser um documento apenas preocupado como presente. E defende pactos de regime, mas só depois de 2019.
“Se o PSD estivesse à frente do Governo já teríamos conseguido um défice zero e com os mesmo ganhos que as pessoas tiveram”, garantiu Rui Rio na sua primeira entrevista televisiva à TVI desde que anunciou que é candidato à liderança do PSD.
O ex-autarca do Porto não poupa as críticas ao Orçamento apresentada ao Parlamento esta sexta-feira que considera ser um documento apenas preocupado como presente. “Este Orçamento pensa mais no presente do que no futuro. Deveria preparar melhor o país para situações de menor crescimento económico. Preparar o país para trabalhar com o mar encarpado e não calmo como está agora”, disse Rui Rio. Quando questionado se o Orçamento estaria redigido numa lógica eleitoralista, para garantir uma vitória do PS nas legislativas em 2019, Rio respondeu: “Nem isso. Está a pensar em 2018 e depois logo se vê”.
Para o candidato à liderança do PSD, com a atual solução governativa o PS “não consegue fazer melhor porque está preso”, ao apoio parlamentar que os partidos mais à esquerda lhe dão na Assembleia da República. O antigo edil do Porto considera que podia fazer-se mais em termos de redução do défice, até porque o país tem vindo a beneficiar de uma trajetória descendente dos juros da dívida.
Rui Rio aponta ainda o dedo ao facto de a despesa total sobre o PIB aumentar. “Neste Orçamento a despesa total sobre o PIB aumenta de 44,5% para 44,8%. É pouco”, admite, “mas tinha de ser ao contrário”. “Temos de baixar o défice”, acrescenta, sublinhando que “se o PSD estivesse à frente do Governo já teríamos conseguido um défice zero”.
Para o responsável, que disputa o lugar de primeiro-ministro em 2019, este Orçamento “não é amigo das empresas e do investimento”. “Não gosto de falar sobre o que não sei”, diz numa ressalva por ainda não ter lido a totalidade da proposta de Orçamento do Estado para 2018, “mas não vejo medidas para acarinhar a poupança e o investimento”, quando tanto o investimento privado e as exportações são fundamentais para o desenvolvimento do país. “O Estado não vai investir, mas tem de criar as condições necessárias para isso acontecer”, acrescenta.
“Nunca disse que faria um bloco central”
Rui Rio é perentório: “Nunca disse que faria um bloco central”. E para deixar claro o que quis dizer quando apresentou a sua candidatura à liderança do PSD, o responsável explicou que “os partidos têm de pôr os interesses partidários de lado” e construir entendimentos para as reformas estruturais.
“Não disse: vamos todos para o Governo. Onde é que eu disse que o PSD joga para ser segundo? Uma coisa é o Governo, outra coisa é o sentido de responsabilidade”, acrescenta. “Não é mais importante ter um pacto para criar um programa para acabar com isto dos incêndios?”, questionou. “Portugal tem de estar à frente”. A opção não passa por dizer que não a tudo o que é sugerido pelo PS: “Não é PS nada, nada, nada”. “Temos de pôr os interesses do país à frente para fazer as reformas estruturais de que Portugal precisa”.
Mas apesar de ser um acérrimo defensor de pactos de regime admite que, “antes de 2019, é difícil”. Isto porque, na cabeça de Rui Rio, esta legislatura chegará ao fim e, de acordo com o calendário do PSD, “só lá para março é que haverá presidente do partido”, ou seja, pouco mais de ano e meio para as legislativa. “Não há clima para fazer pactos de regime”, defende.
E num cenário traçado pelo próprio, em que vença as eleições legislativas com “uma maioria absoluta de 52%, que nunca ninguém teve”, defende a importância do líder da oposição “seja ele qual for” para criar esses pactos de regime em áreas com a Segurança Social, a Justiça, a Educação, etc.
“Não teria almoçado com Marcelo”
Rui Rio garante que são muitas as questões que o diferenciam de Pedro Santana Lopes com quem disputa a liderança do PSD. Desde logo o facto de “honrar” os seus compromissos, quando o ex-presidente da Santa Casa da Misericórdia “gosta de deixar as coisas a meio”.
Rui Rio justificou a razão pela qual não avançou ais cedo para disputar a liderança do partido com a necessidade de cumprir o terceiro mandato à frente da Câmara do Porto, porque fora esse o compromisso que assumira com os eleitores. “Quando me pediram que fosse estava no meio do terceiro mandato. Não fui porque cumpro até ao fim os meus compromissos. Santana não é assim, deixa as coisas a meio”, atira numa primeira farpa contra o seu adversário.
A demora na decisão de Santana Lopes em concorrer ou não à liderança da Câmara de Lisboa pelo PSD “criou um problema” ao partido, acusa Rio, ironizando que Santana “estava apaixonado com o trabalho” que estava a desenvolver na Santa Casa da Misericórdia, “mas quatro ou cinco meses depois já estava disponível para sair“.
Mas as críticas ao adversário não se ficaram por aqui. Questionado se gostaria de ter almoçado com o Presidente da República antes de ter apresentado a sua candidatura, à semelhança do que aconteceu com Pedro Santa Lopes, Rui Ri foi claro: “No quadro de uma eleição partidária não teria almoçado com Marcelo”.
Rui Rio garante ser amigo de Marcelo, mas lembra que o “Presidente da República tem de ser um elemento de equilíbrio na sociedade portuguesa. Temos de ter sempre a compreensão que a colaboração dos órgãos de soberania é vital”, disse, recordando o mal-estar que se viveu quando Mário Soares foi Presidente da República e Cavaco Silva primeiro-ministro.
Na “tanta coisa que o separa” de Santana, Rui Rio garante que o adversário “está mais à direita”. “Prova disso é o apoio que o candidato nas últimas eleições em Loures já lhe veio prestar, enquanto eu serei mais de centro-esquerda”, concluiu.
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