Altice quer criar canais regionais de televisão em Portugal
Se comprar a Media Capital, a Altice quer criar um canal em Lisboa e um no Porto. Para assegurar a luz verde à operação, está disposta a aplicar remédios e chegar a compromissos com os concorrentes.
Se a operação de compra da Media Capital for concluída, a Altice quer criar canais regionais de notícias em Portugal e usar as infraestruturas da dona da TVI para produzir conteúdo para todos os mercados onde o grupo francês tem presença. Estes são dois dos grandes objetivos que constam da estratégia da Altice para a Media Capital, segundo apurou o ECO junto de fontes ligadas ao processo, que asseguram ainda que a empresa está disposta a aplicar os remédios que forem necessários para convencer os reguladores de que este negócio cumpre as regras da concorrência.
No que toca à estratégia para a televisão, a ideia da Altice passa, em primeiro lugar, por disponibilizar a TVI 24 na Televisão Digital Terrestre (TDT), tornando-a acessível para todos os clientes. Depois, o grupo francês quer “otimizar” a Media Capital, tornando-a mais atrativa para anunciantes. Um dos elementos desta “otimização” é o lançamento de canais regionais. O primeiro a avançar, caso a aquisição da Media Capital venha a ser concluída, será em Lisboa, sendo o objetivo avançar, posteriormente, com um canal no Porto. Não há prazos para a criação destes canais, até porque o grupo não tem ainda a luz verde para avançar com a operação, mas será possível “fazê-lo rapidamente”, diz fonte ligada ao processo.
A “otimização” da Media Capital, garante a mesma fonte, não vai levar a qualquer despedimento, nem à “transmissão” de trabalhadores de uma empresa para outra, prática pela qual a Altice tem sido criticada. Ou seja, a estratégia da Altice não prevê que os trabalhadores da TVI sejam transferidos para estes novos canais e deverão ser criados novos postos de trabalho, à semelhança do que aconteceu quando o grupo francês criou a BFM TV, canal regional de Paris, que conta, atualmente, com cerca de 100 trabalhadores.
A estratégia da Altice assenta na lógica da “convergência global” de todas as empresas do grupo. Assim, para além destes canais, a Altice quer usar as instalações da Media Capital como a “plataforma internacional” do grupo para os outros mercados onde opera: França, Estados Unidos e Israel. O plano é produzir filmes, séries e programas televisivos para todos estes mercados.
Altice disposta a chegar a “compromisso” com a concorrência
Sobre a polémica em que a operação tem estado envolta, a Altice recusa fazer alterações à proposta que foi apresentada, avaliada em 440 milhões de euros, até porque acredita que “não há motivos” para tal. “Se o regulador quiser impor remédios para garantir que a plataforma é aberta à concorrência, não temos problemas com isso”, diz fonte conhecedora da operação.
Essa foi uma das principais críticas feitas pela Anacom quando analisou a operação. O regulador do setor das telecomunicações alerta para o risco de a compra da Media Capital pela Altice, que também é dona da Meo, poder “encerrar o acesso dos operadores concorrentes aos seus conteúdos e canais de televisão e de rádio, bem como ao seu espaço publicitário”, ao mesmo tempo que poderá “encerrar o acesso de outros canais (por exemplo, a SIC e a RTP) às suas plataformas, nomeadamente de televisão por subscrição, portais de Internet (Sapo e IOL) e serviços OTT (mensagens, chamadas de voz e aplicações)”.
A mesma fonte rejeita esta ideia e assegura que a Altice que está totalmente aberta a chegar a um “compromisso” com a concorrência, para que fique claro que a Nos e a Vodafone continuam a ter acesso aos canais da Media Capital e que os restantes canais continuam a ter acesso às plataformas.
O plano é “continuar a gerir a Media Capital como tem sido gerida”, sem “alterar a forma como a empresa dona da TVI “se relaciona com os outros operadores”. O “ecossistema será aberto”, garantem as mesmas fontes, que considera que o regulador nacional “é muito competente e vai fazer uma análise muito rigorosa” à operação.
“Investimento significativo” no digital
A grande aposta da Altice será o mercado digital de publicidade, “o único que tem potencial de crescimento”. O objetivo é criar uma “plataforma de convergência” de todos os serviços oferecidos pela Altice e “rivalizar com a Google e o Facebook”, cuja quota de mercado na publicidade digital é de 75% a 80%.
Para isso, o grupo pretende criar “uma solução de publicidade, feita à medida, capaz de alcançar o cliente em qualquer plataforma: televisão, computador ou dispositivos móveis”. A Media Capital, acredita o grupo francês, é uma operadora “com potencial” para se tornar “mais atrativa para os anunciantes.
Esta “alternativa digital” que a Altice quer oferecer vai exigir um “investimento significativo” em Portugal, não havendo, para já, um valor definido.
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