Eleição pode não acabar com a instabilidade na Catalunha
Dois meses depois do referendo que abalou a região, os eleitores catalães são chamados às urnas para escolher um novo governo regional. Mas a eleição é o princípio e não o fim deste processo.
Uma coisa parece certa para os peritos: não é com estas eleições, convocadas pelo Governo espanhol após retirar do poder o governo regional que tinha sido eleito, que a Catalunha vai deixar de ser uma dor de cabeça para Madrid. Já para os investidores, é possível que a Catalunha perca importância nos tempos que aí vêm. Porquê? É improvável que haja um vencedor claro e, seja o resultado qual for, muito dificilmente virá aí um novo referendo ou declaração de independência.
Comecemos pelas sondagens. Nos cinco dias que antecedem a eleição de quinta-feira, é proibido publicar sondagens em Espanha, mas a última divulgada mostrava que os partidos separatistas e os partidos a favor de uma Catalunha espanhola poderiam partilhar quase por igual os assentos parlamentares. Tanto de um lado como do outro, porém, os acordos parecem difíceis: os liberais e o Podemos, ambos anti-independência, nunca irão aliar-se para formar Governo, enquanto o separatista Esquerra Republicana está de costas voltadas para com o partido do auto-exilado Puigdemont, ainda em Bruxelas.
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Quem vai então governar a Catalunha? Especialistas que falaram à Bloomberg mostraram-se céticos de que um acordo de Governo seja rápido a surgir. “Depois das eleições vai ter de haver uma aproximação ou negociação, pelo menos nalgumas áreas”, disse o professor de Ciência Política Pablo Simon, da Universidade Carlos III em Madrid. “Isso é do interesse de todos, incluindo dos líderes separatistas que precisam de se reorganizar”.
E a independência? Não deverá estar nos planos de um futuro próximo. Um relatório preparado pelos analistas do Commerzbank explica: “É mais provável que um novo governo, independentemente da sua composição, procure maior autonomia junto do Governo central de Espanha, em especial na área orçamental”, lê-se no relatório.
Sendo assim, para os investidores pode vir aí o fim da incerteza, acredita o Commerzbank. “Será decisivo que não haja novas tentativas de separar a Catalunha de Espanha por agora” para a estabilidade dos mercados financeiros, alertam os analistas. “Uma vitória dos apoiantes da independência pode provocar problemas a curto prazo, por exemplo juros mais elevados sobre os títulos de dívida soberana espanhola em comparação com a Bund alemã. A longo prazo, porém, a Catalunha vai estar cada vez menos no foco dos investidores, e a valorização das ações espanholas vai voltar a centrar-se nas boas perspetivas económicas do país e na influência das políticas do Banco Central Europeu”.
A agência de rating canadiana DBRS, porém, tem uma perspetiva um pouco diferente. A falha em constituir um Governo rapidamente — algo que os peritos anteveem com alguma certeza — “poderá pesar na economia catalã e acabar por afetar a economia espanhola e as suas finanças públicas”.
A DBRS vai ficar atenta, até porque embora a economia espanhola continue forte, a catalã já parece começar a ressentir-se, explica a agência. A sorte, acrescenta, é que os bancos espanhóis, incluindo aqueles que estão enraizados na Catalunha, não têm sido afetados pelo ambiente político. “A confiança dos consumidores e investidores tem permanecido bastante estável”, assinala.
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Amanhã, quinta-feira, os catalães vão às urnas escolher por quem querem ser governados, mas podem não ter uma resposta em breve. Existe mesmo a possibilidade de que novas eleições tenham de ser convocadas, se não houver acordo, já que existem tantas divergências entre os diferentes partidos, desde os conservadores independentistas aos esquerdistas pró-Madrid.
“Vai ser preciso muita criatividade e flexibilidade para sair desta situação”, diz o professor de economia Guillem Lopez Casasnovas à Bloomberg. O investigador da Universidade de Pompeu Fabra em Barcelona acredita que “mesmo que haja uma maioria de votos para os partidos independentistas, as provas dos últimos dois anos demonstram que não é possível avançar quando metade da sociedade não está desse lado”.
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