Protecionismo económico e acordo climático excluídos da declaração final do G20

  • Lusa
  • 18 Março 2017

"Estamos a trabalhar para fortalecer a contribuição do comércio para as nossas economias", realça a declaração.

A declaração final da reunião de ministros das Finanças do G20, e divulgada hoje, exclui a tradicional condenação ao protecionismo económico e o apoio ao Acordo de Paris sobre o clima, refletindo a relutância do Governo norte-americano sobre os dois assuntos.

Estamos a trabalhar para fortalecer a contribuição do comércio para as nossas economias“, realça a declaração negociada entre os participantes que estão reunidos desde sexta-feira em Baden-Baden, cidade no oeste da Alemanha, indica a Lusa.

Segundo várias fontes ouvidas pela agência de notícias francesa AFP, a nova administração dos Estados Unidos (EUA), liderada por Donald Trump, que já assumiu posições hostis face ao comércio livre e à luta contra o aquecimento global, impediu o consenso entre estes dois temas nas conversações entre os ministros e conselheiros reunidos nesta ocasião, que marca a primeira grande reunião multilateral do novo secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin.

A França, pela voz do seu ministro das Finanças, Michel Sapin, lamentou o desacordo relativamente a estas duas matérias.

“Lamento que as nossas discussões de hoje tenham sido incapazes de chegar a uma posição satisfatória relativamente a essas duas prioridades absolutamente fulcrais no mundo de hoje e sobre as quais a França quer que o G20 continue a atuar com firmeza e de forma concertada”, realçou o responsável francês.

Por seu turno, a Alemanha, que tem a presidência do G20, admitiu que na reunião dos ministros das Finanças não foi possível chegar a um acordo sobre o futuro das relações comerciais, ainda que se sublinhe a sua importância.

“Estivemos de acordo sobre a importância do comércio internacional, mas não chegámos a um consenso sobre o futuro das relações comerciais”, afirmou o presidente do banco central alemão (Bundesbank), Jens Weidmann, na conferência de imprensa final do fórum.

Já o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, citado pela agência de notícias espanhola Efe, assinalou que se chegaram a algumas declarações que, apesar de não serem muito concretas, mostram o compromisso comum com um comércio justo.

“Chegámos a declarações com as quais não se avança muito, mas que mostram o nosso compromisso com um comércio justo e contra a manipulação das taxas de câmbio”, destacou.

O governante alemão acrescentou que, em certas reuniões, “não se pode pedir demasiado a alguns dos parceiros”, vincando que o secretário do Tesouro dos EUA não tinha mandato para aceitar certas declarações sobre o comércio.

Já era esperado que a política comercial do Presidente dos EUA e a tensão nas relações internacionais devido à situação em países como a Turquia e a Rússia deveriam interferir na agenda da presidência alemã do G20.

Ao grupo do G20 pertencem Estados Unidos, China, Índia, UE, Indonésia, Brasil, Rússia, México, Japão, Alemanha, Turquia, França, Reino Unido, Itália, África do Sul, Coreia do Sul, Argentina, Canadá, Arábia Saudita e Austrália. A Espanha assiste à reunião como convidada.

Os países do grupo representam cerca de 84% da população mundial e aproximadamente 80% do Produto Interno Bruto (PIB) global.

Na reunião de Baden-Baden participam ainda representantes de várias instituições internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

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Operação Marquês: PGR esclarece que não há prazo para conclusão dos trabalhos

  • Cristina Oliveira da Silva
  • 18 Março 2017

Um esclarecimento enviado às redações sublinha que a Procuradora-Geral "não fixou, de momento, prazo para o encerramento do inquérito e emissão de despacho final". A questão é analisada em abril.

Depois das “dúvidas vindas a público” em torno dos prazos da Operação Marquês, a Procuradoria-Geral da República emitiu hoje um comunicado onde esclarece que não foi fixada uma data para a conclusão dos trabalhos.

Até final de abril, o diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) deverá indicar o prazo necessário e ponderar as medidas adequadas para que este seja cumprido, indica a nota enviada às redações.

“Os magistrados titulares da designada Operação Marquês solicitaram à Procuradora-Geral da República uma prorrogação do prazo para a conclusão do inquérito e emissão de despacho final” e “estimavam também o final de junho como prazo para concluir os trabalhos”, começa por indicar o esclarecimento.

“Quanto ao pedido de prorrogação, a Procuradora-Geral considerou que o mesmo deveria ser atendido“, mas “não fixou, de momento, prazo para o encerramento do inquérito e emissão de despacho final“, continua.

Assim, “no que respeita ao prazo objetivamente adequado a tais objetivos e à sua compatibilização com os interesses da investigação e os direitos e garantias dos arguidos”, a Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal, decidiu que o diretor do DCIAP deverá “prestar informação sobre a evolução do inquérito até finais de abril“. E é nessa altura, “e se esse for o caso”, que deverá “indicar o prazo que se mostre ainda necessário à conclusão dos trabalhos” e “ponderar a adoção de medidas de gestão que se mostrem adequadas a que o prazo a definir seja cumprido”, conclui o comunicado.

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Um pequeno ensaio sobre a grande estagnação

O economista Mário Amorim Lopes analisa, num ensaio exclusivo no ECO, as razões para a grande estagnação económica de Portugal no contexto internacional.

Em 2016, Portugal terá crescido, quando medido em função do Produto Interno Bruto (PIB), entre 1,4% e 1,5%, o que contrasta com os 3,2% registados em Espanha ou com os 5,5% observados na Irlanda. Aparentemente positivos, estes dados omitem toda uma década perdida. Veja-se o caso de Espanha, que, não obstante uma taxa de crescimento francamente positiva para um país desenvolvido, ainda não recuperou o nível de produto verificado em 2008, tendo sofrido um segundo, e maior, revés com a crise das dívidas soberanas em 2011. E o mesmo se passou com Portugal.

Ainda que estas taxas de crescimento possam impressionar, especialmente em comparação com o anímico crescimento português, a verdade é que estão, para a generalidade dos países ocidentais, muito aquém dos valores registados na segunda metade do século passado. Entre 1950 e 2000, a taxa de crescimento anual média observada nos Estados Unidos foi cerca de 3,5%, o que fez com que os americanos vissem o seu PIB per capita mais do que triplicar, tendo aumentado de 16 mil dólares para 49 mil dólares.

Caso a taxa de crescimento tivesse sido apenas de 2%, ainda assim acima dos pálidos 1,5% registados em Portugal, o PIB per capita teria aumentado somente para os 23 mil dólares, menos de metade do valor efectivamente registado. Por conseguinte, não é despicienda a preocupação, prontamente apelidada de economicista por alguns, que uma diferença percentual na taxa de crescimento possa causar — em última análise poderá significar, ou não, a saída de muitas pessoas do limiar de pobreza.

O motor do crescimento económico

Esta discussão não ocorreria há três séculos. Não porque não houvesse quem se preocupasse com matérias económicas, mas porque simplesmente a economia não crescia. Em bom rigor, a economia crescia em nível e acompanhava o crescimento da população, mas a riqueza por habitante mantinha-se relativamente estável, isto pelo menos até ao século XVIII. Se hoje em dia a estimação do PIB é um processo laborioso, que implica a recolha e agregação de indicadores provenientes de dezenas de fontes e o reporte de toda a actividade empresarial, tarefa que requer a monitorização contínua por parte do Instituto Nacional de Estatística, no passado a expansão ou a contracção do produto, sendo que o produto era fundamentalmente cereais, era medida em toneladas do mesmo.

Naturalmente que se a população crescia, então havia mais gente para arar terra, produzindo mais cereais e mais gado. No entanto, descontado o tamanho da população, a quantidade produzida variava pouco, e essa variabilidade devia-se mais a fenómenos da natureza, como intempéries, do que à política económica, à investigação e desenvolvimento ou à inovação, aliás inexistentes, pelo menos se ignorarmos o advento do fogo, da sachola e de pouco mais.

Num exercício puramente extrapolativo, mas não menos interessante, o economista Bradford DeLong estimou a evolução histórica do PIB per capita desde um milhão de anos a.C. até ao século XXI, usando como proxy o crescimento da população. A riqueza que um indivíduo produzia no tempo de Aristóteles não era muito diferente daquela que os seus descendentes produziam 1500 anos depois.

Confirma-se, portanto, que não existia crescimento económico para além daquele necessário para acomodar o aumento da população. Por outro lado, por volta do século XVIII o crescimento aumenta exponencialmente, com o número de pessoas a viver na extrema pobreza (com menos de $1 por dia) a cair de forma inversamente proporcional.

Em 1820, aproximadamente 84% da população mundial vivia na extrema pobreza, enquanto em 2000 apenas 24% da população vivia com menos de $1 por dia. Hoje, estima-se que menos de 10% da população mundial viva na extrema pobreza.

Duas questões emanam desta observação. A primeira é porque é que o mundo esteve estagnado durante tantos anos. A segunda é o que terá acontecido por volta do século XVIII, que trouxe crescimento económico exponencial e tirou milhões da abjecta miséria. Embora a resposta seja fundamentalmente a mesma, existem nuances importantes. Em particular, se, por um lado, é consensual o motivo pelo qual não houve crescimento económico no passado, não é consensual o motivo pelo qual o crescimento económico abrandou nestes últimos anos, em especial desde a crise financeira.

Neste ensaio procurarei dissecar as teorias divergentes, assim como a observância de cada teoria aos dados empíricos. Mas, antes, recuemos ao século XVIII.

Da Revolução Industrial até hoje

Se a população continuava a crescer, mas a terra era finita e o cultivo limitado, o que aconteceria se o crescimento das colheitas de cereais deixasse de acompanhar o crescimento da população? Thomas Malthus foi um dos primeiros a dar relevo a esta questão. Intuiu Malthus que se o crescimento da população se aproximava de taxas exponenciais e o terreno fértil e arável era limitado, então o fim era inevitável, no sentido em que não existiriam recursos suficientes para alimentar uma população em expansão.

Felizmente para nós, Malthus estava errado. Ou melhor dizendo, tendo em conta a evolução histórica e aquilo que se sabia sobre o crescimento económico, esta até era uma extrapolação razoável. Malthus desconhecia, porém, qual o motor do crescimento económico: o progresso tecnológico. E ignorava-o porque simplesmente este não existia ou era residual — isto pelo menos até à descoberta do nitrato de amónio.

O nitrato de amónio, um dos mais poderosos fertilizantes naturais, permitiu que o mesmo pedaço de terra produzisse um maior número de colheitas, e o impacto foi considerável. Se, antigamente, a agricultura era de subsistência, com a maior parte da população, eminentemente camponesa, a comer para viver e a viver para comer, era agora possível que um camponês sozinho produzisse alimento suficiente para um batalhão.

E assim foi. Este efeito reduziu a dependência da agricultura de subsistência, libertando a população, até então presa a um feudo concedido por um senhorio, para outro tipo de actividades. Outrora, o tempo de ócio ou era um exclusivo do senhor feudal, ou era proporcionado por um qualquer patrono com património — terras — em abundância. Agora, sobrava tempo para mais do que cultivar. Nascia assim a classe burguesa. Não terá sido coincidência que por esta altura tenha surgido também a máquina a vapor, que posteriormente dá origem a toda a maquinaria que possibilita a Revolução Industrial. Afinal, havia mais tempo livre para fazer coisas que não lavrar a terra.

A Revolução Industrial coincide com a era do crescimento económico, e a coincidência não é espúria. Na verdade, é a tecnologia da era da Revolução Industrial que despoleta o crescimento económico. A burguesia, agora capaz de acumular alguma riqueza, usa essa riqueza para construir ou adquirir capital — as máquinas, os terrenos, os fertilizantes, as enxadas ou os tratores —, que, com a ajuda do trabalho, usa para produzir em abundância. Se com uma enxada e dois braços semeava meia dúzia de minifúndios, com fertilizante e um trator produz muito mais. A bordadeira deu lugar ao tear, o forjador ao forno industrial. Eis o capitalismo.

O capitalismo é o processo que conduz à acumulação de riqueza que permite comprar e alocar o capital à produção, o que faz aumentar também a produtividade do trabalho. Existem, contudo, limites. Façamos o exercício teórico de imaginar um mundo em que toda a gente dispõe de capital pronto a ser usado para produzir.

Se todos produzirem na máxima capacidade, o crescimento económico, isto é, a taxa de variação do produto, nos anos subsequentes será zero. Dito de outra forma, aquelas máquinas e aquelas pessoas produzirão, na melhor das hipóteses, a mesma quantidade que produziram no ano anterior. Tirando variações residuais, a diferença de produção face ao ano anterior será zero. Ou seja, embora o capitalismo agilize e torne mais eficiente o processo produtivo, não garante, ainda assim, o crescimento económico continuado.

E esse deve-se ao progresso tecnológico. É o progresso tecnológico, a melhoria continuada da produtividade do capital físico e humano, o mecanismo que tem permitido que a economia continue a crescer. Com efeito, o dia não ficou mais comprido, bem pelo contrário, historicamente o horário laboral tem vindo a declinar; nós, assim como as máquinas, é que conseguimos agora produzir mais, fruto do progresso tecnológico que tem tornado o capital, mas também os humanos, mais produtivos.

A título de exemplo, comparemos o tempo de produção de um livro antes do surgimento da imprensa. Em média, um escriba demorava 136 dias para terminar um livro, o que dá uma produtividade média de 0.007 livros por dia. Com o surgimento da primeira máquina de impressão, circa 1440, produziam-se 2.5 livros por dia. A tipografia a vapor, que surge nos idos da Revolução Industrial, trouxe este valor para os 25 livros por dia. A era da internet trouxe a replicação virtualmente infinita de livros para meros instantes.

O declínio do crescimento económico? A teoria da estagnação secular

Este crescimento económico exponencial continuou até aos dias de hoje, ou pelo menos até à crise financeira. Reputados economistas, como é o caso de Larry Summers, argumentam que aquilo que parecia uma crise conjuntural e que tipicamente não afectava o produto potencial, isto é, aquilo que a economia consegue produzir numa situação de pleno emprego quando não sujeita a choques adversos, teve mazelas estruturais na economia. Deu-se um fenómeno de histerese, conclui.

Quer isto dizer que caso a economia não tivesse sido afectada por um choque adverso, em particular a Grande Recessão que adveio da crise financeira, o crescimento económico teria sido superior ao crescimento efectivamente observado. Mas a implicação da histerese, a ser verdade, é ainda mais preocupante — ao contrário do passado, a recuperação desta perda será muito lenta, pelo que o produto ficará muito tempo, ou até permanentemente, abaixo do produto potencial. Isto acontece porque, fruto do desemprego, as competências e o know-how dos trabalhadores depreciam, a acumulação de capital deteriora-se, e este lastro persiste na economia.

Se nos recordarmos que uma pequena diferença na taxa de crescimento do produto pode representar a saída de milhões de pessoas da miséria, este problema merece toda a atenção, que aliás tem sido dada.

O corolário da teoria de Summers é que isto se deve a um défice estrutural de procura agregada, o que explicaria o produto abaixo do produto potencial. Ou seja, o nível de consumo e de investimento está abaixo do necessário para garantir que toda a capacidade produtiva da economia está a ser empregue. Isto deve-se, segundo Summers, a factores como uma população em envelhecimento, a desigualdades de rendimentos ou a investimento em queda derivado de alterações tecnológicas.

No entanto, antes da crise financeira, o produto estava acima do produto potencial, um aparente conflito com a hipótese da estagnação secular. Estava, aliás, em níveis máximos históricos. Neste sentido, Summers, entre outros, argumentam que isso só foi possível devido à bolha no preço de determinados activos financeiros que se formou, e que, não obstante os seus efeitos adversos, permitiu alcançar o pleno emprego. Caso contrário, estaríamos abaixo do produto potencial nos anos que precederam a crise.

O último pilar da teoria de Summer tem que ver com a taxa de juro natural, isto é, a taxa de juro que resultaria de um equilíbrio em todos os mercados, ou colocado de outra forma, a taxa de juro de mercado caso o produto esteja no seu potencial e a inflação esteja estável.

Segundo os proponentes, a taxa de juro natural tem vindo a cair progressivamente, atingindo até valores negativos. O resultado poderá ser, alegam os partidários da teoria, uma espiral recessiva Keynesiana: com um défice de procura agregada, a taxa de juro real tem de baixar para que seja possível manter a economia em pleno emprego e evitar uma espiral deflacionária.

Como as taxas de juro nominais estão próximas de zero, o ajuste terá de ser via queda dos preços, o que fará aumentar a taxa de juro real (a equação de Fisher diz-nos que a taxa de juro nominal é a taxa de juro real mais a taxa de inflação). O aumento da taxa de juro diminui o investimento, o que irá, consequentemente, pressionar ainda mais o produto e o emprego, o que afecta por sua vez os preços, que voltariam a descer, e assim sucessivamente.

A teoria da estagnação secular e a realidade

Alguma evidência empírica suporta a teoria da estagnação secular. Em primeiro lugar, a inflação tem sido muito baixa, mesmo após medidas agressivas de política monetária; as taxas de juro têm-se mantido efectivamente próximas e até abaixo do limite inferior, e a expectativa é que assim continuem, tendo em conta o achatamento da curva de rendimentos; finalmente, se tomarmos a relação da curva de Phillips como válida, então quando o produto está abaixo do potencial a inflação é baixa, pois a capacidade instalada não está a ser plenamente usada, diminuindo a pressão sobre os preços. Se assim é, e dado que a inflação está em níveis historicamente baixos, o produto estaria abaixo do seu potencial.

Esta teoria, contudo, conflitua com outros dados empíricos. A hipótese foi desenvolvida para os EUA, que há décadas regista um saldo negativo da balança corrente, o que parece indiciar que os americanos continuam a importar, logo a consumir, em força — este facto dificilmente corroborará uma falta de procura agregada.

Também no caso de Portugal esta teoria é difícil de suportar. Entre 2000 e 2015, por cada 1€ de crescimento do produto, a dívida externa líquida cresceu, em média, 1.45€. Se a isto acrescentarmos os défices historicamente elevados, a teoria da falta de procura tem muito pouca sustentação para além da evidência acima apresentada.

Por outro lado, também a descida da inflação para níveis historicamente baixos não implica, necessariamente, que se trate de uma queda na procura agregada, embora essa seja a causa prima facie que os Keynesianos geralmente atribuem a baixos níveis de inflação.

A baixa inflação, como vimos anteriormente, pode subitamente tornar-se em deflação, que mais não é do que inflação negativa. A deflação pode ser negativa (no sentido qualitativo do termo) se resultar do processo de espiral deflacionária que vimos anteriormente, mas nem sempre assim o é — e correndo o risco de ser heterodoxo, raramente, ou quase nunca, o é.

Se pensarmos um pouco sobre o assunto rapidamente concluiremos que nem toda a deflação é negativa, novamente no sentido qualitativo do termo. Por exemplo, a redução significativa no preço dos computadores, fruto do progresso tecnológico, dificilmente poderá ser vista como algo negativo. Aumentou o poder de compra real das pessoas, sem que isso tenha causado o desemprego ou a contracção do produto.

O mesmo se afigura para as passagens aéreas das companhias low cost, que continuam em expansão e a empregar com frequência a preços de mercado. A conversão de economias industrializadas, que requeriam equipamento de preço avultado, para economias baseadas em serviços, especialmente IT, em que empresas avaliadas em milhares de milhões dólares (Facebook, Snapchat, Whatapp, e tantas outras) se constituem com pouco mais do que um par de computadores e pessoas bem qualificadas, também poderá ajudar a explicar esta taxa de juro naturalmente mais baixa do que no passado.

Os economistas Laubach and Williams estimam que a taxa de juro natural nos EUA seja, com efeito, -0.5% . Dado que os EUA registaram uma taxa de inflação à volta de 2%, isso significa que a taxa de juro real se cifrará nos -1.5%, bastante abaixo dos -0.5%. Quer isto dizer que o problema da «armadilha de liquidez», ou da economia ficar presa na Zero Lower Bound, apenas se coloca quando a taxa de juro natural for na ordem dos -4%, -5%. Com efeito, trabalho recente tem mostrado que a relação empírica entre deflação e queda do produto é muito ténue, e que essa relação fraca está exacerbada pela Grande Depressão. Da mesma forma, também a relação entre deflação e dívida (Fisherian debt deflation) é difícil de estabelecer empiricamente.

Não é falso, porém, que a procura tenha contraído com a crise financeira, e em especial no rescaldo da crise das dívidas soberanas. Efectivamente, a aversão ao risco dos agentes económicos aumentou, a confiança diminuiu, e a pressão para consolidar dívidas forçou a uma contração tanto da procura como da oferta de crédito. Isto não significa, porém, que a procura agregada esteja abaixo do produto potencial. Na verdade, com o produto acima do produto potencial, como se registou nos anos precedentes à crise financeira, este ajuste era inevitável, ainda que desejavelmente não fosse feito em período de contração económica.

A hipótese alternativa

É um fenómeno cuja constatação data dos tempos de Karl Marx, e vem aliás do próprio: uma economia capitalista está sujeita a choques exógenos, alimentados por mecanismos endógenos, que tendem a gerar instabilidade e flutuações no produto. Estes ciclos económicos, ou business cycles, têm uma frequência entre os 8 e os 10 anos, e são espoletados por choques do lado da procura (demografia, animal spirits, etc.) ou do lado da oferta (produtividade, regulamentações, impostos distorcionários, etc.).

De acordo com alguns economistas, o surgimento dos mercados financeiros e a instabilidade que lhes está subjacente parece ter alterado esta dinâmica. Os ciclos alongaram-se, assim como o seu impacto económico.

O ciclo financeiro surge como qualquer outro ciclo: dá-se o boom no preço de um activo, neste caso de activos financeiros, como acções ou obrigações, cessando-se a euforia com um bust, que causa a correcção do preço dos activos.

Contudo, e ao contrário do passado, este tipo de ciclos parece ter um efeito económico pernicioso que perdura no tempo, no sentido em que gera alocações de recursos ineficientes que prejudicam o crescimento da produtividade. Um exemplo: se os agentes económicos começarem a preferir investimentos de baixo risco, mas também de baixa rentabilidade, é muito provável que o tipo de investimento se concentre no sector dos bens não transacionáveis e com baixa intensidade tecnológica.

Este poderá ser um efeito de baixas taxas de juro, resultado de uma oferta de crédito em níveis historicamente elevados (global savings glut), que se tornou possível com o surgimento dos mercados financeiros e da sua interdependência mundial.

Com efeito, e mesmo após uma crise grave e um programa de ajustamento, começa a observar-se um pouco este fenómeno em Portugal. Com as taxas de juro próximas de zero, os aforradores procuram outro tipo de investimentos, que não os depósitos a prazo, para rentabilizarem as suas poupanças.

A escalada de preços no sector imobiliário, em particular no Porto e em Lisboa, não é alheia a isto. O crescimento do turismo justificará também a maior procura por imóveis, assim como a correcção em alta no preço dos activos, que sofreu uma forte queda com a crise das dívidas soberanas, mas existe um número considerável de pessoas que investiu em património em busca de maiores rentabilidades. Naturalmente que este fenómeno gera um aumento no preço dos activos — resta saber se sustentável.

Se este é o problema que efectivamente impacta os agentes económicos, a resposta política às recessões tem sido errada, ou pelo menos inadequada. Por um lado, os balanços continuam por ajustar. Basta pensar nas imparidades que continuam por registar por parte de muitos bancos, que de forma a evitarem mais recapitalizações continuam sem denunciar créditos incobráveis. Por outro lado, um excesso de dependência de políticas do lado da gestão da procura e política monetária acomodatícia, sem acompanhar essa intervenção do lado da procura com reformas estruturais do lado da oferta, em particular aquelas que limpem os balanços dos agentes.

Aliás, este intervencionismo tem impedido muitos bancos e empresas de falirem, um processo que é fundamental para libertar e realocar recursos. Assim, o capital zombie continua alocado a produção de pouca intensidade tecnológica.

Adicionalmente, a teoria dos ciclos financeiros afirma que a taxa de juro natural, um conceito puramente teórico e não observável, tem sido subestimada. A sua estimação é feita recorrendo à inflação como proxy, e depende do modelo económico subjacente.

Por regra, o modelo económico assume que existe uma relação entre produto e inflação, pelo que se a inflação é baixa, ergo o produto também. No entanto, essa relação é fraca do ponto de vista empírico. Se, contudo, se incorporar uma qualquer medida de instabilidade financeira, que tem impacto na alocação do capital e, por conseguinte, na produtividade do mesmo (e, logo, na taxa de juro), então a estimativa da taxa de juro natural altera-se.

O economista Mikael Juselius fez esse trabalho, concluindo que a taxa de juro natural é provavelmente superior à geralmente apontada. Se assim é, e ao contrário do alegado, a economia não se encontra presa numa armadilha de liquidez.

Um forecast: Malthus estava errado. Summers também?

Do ponto de vista económico, é algo paradoxal tentar explicar um problema estrutural (um crescimento da produtividade abaixo daquele que seria expectável) com um efeito que é tipicamente conjuntural (procura agregada abaixo do desejável).

Para tornear esta questão, os partidários da teoria da grande estagnação sugerem que a procura agregada é estruturalmente baixa, devendo-se isto ao cronicamente baixo investimento público. Uma vez mais, a teoria, circunscrita aos Estados Unidos, falha quando transposta para outros países. Em 2010, Portugal registou um valor recorde no investimento público, que aliás vinha em ascensão, e nem por isso regista taxas de crescimento notáveis, muito pelo contrário.

É também difícil sustentar que Portugal não dispõe de infraestrutura e de capital público que potencie a produtividade do capital privado, isto quando o país está coberto por uma rede de autoestradas, aeroportos e de telecomunicações. Difícil, sim, é escolher que autoestrada usar, e ainda mais difícil é para as empresas comportarem custos energéticos que resultam de subsídios e incentivos às energias renováveis.

Existem, contudo, muitos efeitos do lado da oferta que poderão explicar, a par com a hipótese dos ciclos financeiros, o abrandamento do crescimento da produtividade, isto é, do motor do crescimento económico. As regulamentações são um efectivo entrave à actividade económica. Se algumas se justificam, no sentido em que tentam atenuar falhas de mercado, outras são meros caprichos de um legislador completamente alheado da realidade. E no entanto nunca existiram tantas regulamentações como nos dias de hoje.

A somar a isto, uma miríade de impostos que criam distorções e desincentivos nos mercados, afastando assim o investimento, força motriz do crescimento da produtividade. Ainda recentemente, Ricardo Reis, economista e professor na London School of Economics, alertava para o problema económico, mas também moral, da dupla taxação que resulta da aplicação do IRC. A distribuição de dividendos, tributada em sede de IRS, é sobre o remanescente do lucro ex post, isto é, já deduzido o IRC. Isto gera efeitos perniciosos nas empresas, como o empolamento da despesa para baixar a matéria colectável. Tudo isto tem um impacto no crescimento económico.

Terminamos com um olhar menos negro sobre o futuro. Foram precisas algumas décadas para desconstruir Malthus. As previsões da Congressional Budget Office (a instituição americana que se assemelha à UTAO), onde era apontado o hiato entre o produto e o produto potencial, foram elaboradas em 2014, tendo originado as teorias que aqui escalpelizamos.

No exercício mais recente da CBO, realizado em Janeiro de 2017, esta estima que o PIB americano crescerá acima do produto potencial, diminuindo assim o hiato do produto, e que este desaparecerá totalmente em 2018.

Malthus estava errado. Resta saber se Summers também. Seja como for, é crucial continuar a estudar o motor do crescimento económico, desta forma garantindo que acções inadvertidas, mas especialmente as advertidas, não prejudicam esse mesmo crescimento — e perpetuam a pobreza de milhares de pessoas.

I. Laubach, T and J Williams (2003): “Measuring the natural rate of interest”, The Review of Economics and Statistics, vol 85, no 4, pp 1063–70.

II. Borio, C, M Erdem, A Filardo and B Hofmann (2015b): “The costs of deflations: a historical perspective”, BIS Quarterly Review, March, pp 31–54.

III. Borio, C (2014a): “The financial cycle and macroeconomics: what have we learnt?”, Journal of Banking & Finance, vol 45, pp 182–98, August. Also available as BIS Working Papers, no 395, December 2012.

IV. Juselius, M, C Borio, P Disyatat and M Drehmann (2016): Monetary policy, the financial cycle and ultra-low interest rates, BIS Working Papers, no 569, July. Forthcoming in International Journal of Central Banking.

Nota: Por opção, o autor não escreve segundo as regras do novo acordo ortográfico.

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Pão: de Mafra para o mundo

  • Lusa
  • 18 Março 2017

Inovação ao nível da conservação do pão permitirá dar início à exportação. Pão de Mafra faz faturar anualmente oito milhões de euros.

Muito procurado pelos consumidores da Grande Lisboa, o pão de Mafra faz faturar anualmente oito milhões de euros. Apesar de o setor ser fiel ao processo tradicional de produção, está a inovar através da ultracongelação para iniciar a exportação.

“É um pão muito bom, é muito saboroso e, como não compro pão todos os dias, este dura algum tempo em casa”, disse à agência Lusa Henrique Correia enquanto comprava pão na Ericeira, onde a opinião foi partilhada por Maria de Jesus Correia, emigrante no Luxemburgo e de férias naquela zona do concelho de Mafra (distrito de Lisboa).

Os dois milhões de consumidores da Grande Lisboa constituíram uma oportunidade de negócio para os fabricantes de um produto que até há um ano não poderia ser vendido a longas distâncias, uma vez que não durava mais do que alguns dias sem ser consumido.

Os oito fabricantes do concelho de Mafra autorizados a usar a marca registada do pão de Mafra faturam por ano oito milhões de euros e empregam meio milhar de trabalhadores, segundo dados da Associação de Comércio, Indústria e Serviços do Concelho de Mafra.

A empresa Justino Sardinha é a maior produtora, empregando uma centena de trabalhadores na produção e na distribuição do pão.

Apesar de produzir vários tipos de pão, o de Mafra é o principal, sendo fabricadas duas toneladas por mês, o que permite faturar 2,7 milhões de euros do volume anual de negócios, de 3,7 milhões de euros.

Vinte por cento da produção é vendida para os principais grupos económicos da grande distribuição. A Grande Lisboa, onde a venda de pão começou a ter expressão desde finais dos anos 70 do século passado com a greve dos padeiros e a consequente escassez de pão, absorve 90% do pão fabricado.

Desde setembro que a empresa iniciou a produção de pão de Mafra ultracongelado, mantendo todas as características do fabrico artesanal.

“A inovação é a nível da conservação do pão, para conseguir chegar mais longe, e neste momento temos todas as condições para avançar para a exportação”, explicou à agência Lusa o administrador Carlos Sardinha, que espera que o produto ultracongelado represente 10% a 20% de vendas neste primeiro ano.

O setor decidiu em setembro criar a Confraria do Pão de Mafra para promover o produto em conjunto com o município, que em julho organiza o Festival do Pão de Mafra.

A certificação do pão está também em curso: “Queremos promover o pão mais longe e proteger a sua qualidade. Existe muito pão que está a ser vendido como pão de Mafra e não é, por isso estamos a passar por um processo de certificação”, disse Susana Sardinha, presidente da confraria.

A produção e a venda do pão de Mafra remontam à Idade Média, mas foi com o pós-25 de abril e com as respetivas greves de padeiros que ganharam visibilidade, face à consequente escassez de pão em Lisboa.

A atividade doméstica e artesanal transformou-se em empresarial e mecanizada, mas manteve fiel à origem o processo tradicional de produção – hoje em dia são usados fornos de alvenaria a lenha – caracterizado pelo elevado tempo de amassadura, tempo de fermentação curto e reduzido teor de levedura.

Barril, Carvalhal e Encarnação são as localidades do concelho onde a atividade é mais relevante, produzindo e distribuindo o pão para todo o país.

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Banco de Portugal analisa operação do Montepio para melhorar contas

  • ECO
  • 18 Março 2017

Operação foi feita na véspera da apresentação de contas do terceiro trimestre mas acabou por ser vetada.

A operação financeira que a administração do Montepio tentou montar em 2016 para ‘maquilhar’ as contas está a ser analisada pelo Banco de Portugal, noticia este sábado o Expresso (acesso pago).

A operação, que envolvia uma participação na empresa de minas I’m Mining, foi feita na véspera da apresentação de contas do terceiro trimestre mas acabou por ser travada pelo Conselho Geral e de Supervisão do banco, depois de questionada pelo auditor (KPMG), indica o semanário.

Com a venda dos 19% que o Montepio tinha na I’m Mining — controlada pelos irmãos Jorge e Carlos Martins, da Martifer — à Vogais Dinâmica (criada para o efeito), era esperada uma mais-valia de 24 milhões de euros através da valorização daquela empresa de 360 milhões para 492 milhões de euros. Este movimento permitiu aumentar o valor da participação do banco de 69 milhões para 93 milhões de euros, posição que seria comprada pelas Vogais Dinâmica (de Jorge e Carlos Martins), a sua holding IM e o Montepio.

Os contornos da operação ainda não estão esclarecidos, até porque ainda não foram apresentadas as contas de 2016.

Ao Expresso, o Banco de Portugal diz que “não se pronuncia sobre instituições financeiras individualmente”, acrescentando que “analisa todas as operações relevantes para a atividade de uma instituição financeira e retira as devidas conclusões para o processo de supervisão”. Não esclarece no entanto se abriu algum processo de investigação ou se o procedimento é suscetível de levantar questões de idoneidade a Félix Morgado e aos administradores intervenientes na operação: João Neves e João Lopes Raimundo.

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Grécia: Bancos já perderam 4.000 milhões de euros em depósitos devido à incerteza

  • Lusa
  • 18 Março 2017

Uma nova descida dos depósitos poderia obrigar as entidades gregas a recorrer em maior medida ao mecanismo de provisão de liquidez de emergência.

Os bancos gregos perderam 4.000 milhões de euros em depósitos desde o início do ano, devido ao adiamento do fim da segunda avaliação do resgate e à incerteza sobre a economia do país, conclui hoje o diário grego Kathimeriní.

Uma nova descida dos depósitos poderia obrigar as entidades gregas a recorrer em maior medida ao mecanismo de provisão de liquidez de emergência (ELA, Emergency Liquidity Assistance), cujo limite está agora em 46.200 milhões de euros até 22 de março.

A banca grega recebeu este crédito de emergência depois de em meados de fevereiro de 2015 o Banco Central Europeu (BCE) ter deixado de aceitar a dívida grega para garantir as operações de refinanciamento.

Desde que o BCE voltou a aceitar em finais de junho de 2016 a dívida grega como garantia, o limite do ELA desceu drasticamente porque os bancos voltaram a recorrer a este instrumento para adquirir liquidez.

O ELA foi até àquele momento o único canal pelo qual os bancos podiam aceder ao financiamento de curto prazo através do Banco da Grécia, ainda que a uma taxa de juro superior à pedida pelo BCE nas operações de refinanciamento.

Durante a segunda metade de 2016 os depósitos bancários nas entidades gregas, tanto privadas como das administrações públicas, cresceram devido à sensação generalizada de que a segunda avaliação do resgate ficaria fechada em finais do ano passado ou em princípios de 2017.

Mas, a dificuldade com que estão a avançar as negociações entre a Grécia e os credores fez crescer a incerteza.

Fontes do Ministério das Finanças grego indicaram depois da última conferência telefónica com os credores, na sexta-feira, que as diferenças entre a Grécia e os credores em temas fundamentais como a reforma do mercado laboral se mantêm e insistiram que este último precisa de “um debate político”, que apontaram para o Eurogrupo de segunda-feira.

Contudo, as mesmas fontes congratularam-se por terem já chegado a acordos com os credores em assuntos como os das privatizações ou o da solução extrajudicial das dívidas morosas privadas com os bancos.

Também há divergências entre as partes, segundo o ministério, em relação à liberalização do mercado de energia.

As possibilidades de que a Grécia e os credores alcancem um acordo que permita fechar a segunda avaliação do programa de resgate até ao Eurogrupo de segunda-feira são remotas e o Governo grego aponta agora para uma nova meta em 07 de abril.

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Maria Luís Albuquerque não entende fecho de balcões da CGD

  • Lusa
  • 18 Março 2017

Em troca do "esforço" de 5.000 milhões" para a recapitalização, "seria de esperar, no mínimo, que os portugueses tivessem algum serviço público em troca", afirma Maria Luís Albuquerque.

A ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque considera ser de esperar “algum serviço público” em troca do “esforço” de 5.000 milhões para recapitalizar a Caixa Geral de Depósitos, tendo dificuldade em entender o fecho de balcões.

Eu tenho alguma dificuldade em compreender algumas questões, nomeadamente o facto de a Caixa Geral de Depósitos (CGD) estar a sair (…) dos sítios onde os outros bancos não querem estar. Se se está a pedir aos portugueses um esforço de cinco mil milhões de euros para colocar na CGD, eu acho que seria de esperar, no mínimo, que os portugueses tivessem algum serviço público em troca”, afirmou a ex-governante na sexta-feira à noite, em Barcelos, à margem de uma conferência organizada pelas Mulheres sociais-democratas.

A também vice-presidente do PSD considerou ainda que se “onde os contribuintes colocam dinheiro, será, com certeza, para ter alguma vantagem face aos bancos privados”.

Por isso, a ex-titular da pasta das Finanças disser ver “com muita preocupação” as noticias que dão conta do fecho de balcões da CGD em vários pontos do país, no âmbito do plano de reestruturação do banco público.

Nos próximos anos, no âmbito do plano estratégico negociado com Bruxelas, a CGD prevê dispensar 2.200 pessoas, o que o presidente executivo, Paulo Macedo, disse na passada sexta-feira que se fará, através de “pré-reformas e eventualmente rescisões por mútuo acordo”.

Em termos de agências, a CGD quer chegar a 2020 com um número entre 470 e 490.

A CGD apresentou na semana passada os resultados de 2016 em que teve prejuízos históricos de 1.859 milhões de euros, mais de dez vezes mais os resultados negativos de 171 milhões de euros de 2015.

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Catarina Martins diz que é preciso limitar os leques salariais das empresas

  • Lusa
  • 18 Março 2017

As declarações da líder do Bloco de Esquerda surgem depois de conhecidos os vencimentos de António Mexia e Soares dos Santos em 2016.

A coordenadora do BE afirmou que é preciso limitar os leques salariais das empresas, porque ninguém pode ganhar 90 vezes o que ganha um trabalhador, em alusão à revelação dos vencimentos de António Mexia e Soares dos Santos.

“Não podemos ter setores de privilégio ilimitado, precisamos de regras na economia para que o país possa funcionar e ser mais justo”, disse na sexta-feira à noite Catarina Martins, durante a apresentação do candidato bloquista às eleições autárquicas da Maia.

A líder do bloco reagia à divulgação dos ordenados do líder da Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos, que em 2016 recebeu 1,26 milhões de euros, um aumento de 46,6%, e do presidente executivo da EDP, António Mexia, que recebeu 1,38 milhões de euros ilíquidos relativos à remuneração fixa e variável.

“Ficamos a saber quanto é que ganharam por ano em 2016 os patrões das maiores empresas portuguesas, estamos a falar de empresas que empregam milhares de trabalhadores com salários modestos, como são os salários em Portugal, estamos a falar de empresas que têm grandes responsabilidades na economia, a mesma economia que é tão ingrata para a generalidade da população”, frisou.

Catarina Martins sublinhou que “Soares dos Santos quase duplicou o salário de 2015 para 2016 e ganhou o ano passado 1,27 milhões de euros, o equivalente ao que ganham em média 90 trabalhadores do Pingo Doce, ganhou sozinho aquilo que paga em média a 90 trabalhadores do Pingo Doce e aumentou o seu próprio salário em 46%, será que algum dos trabalhadores do Pingo Doce teve um aumento salarial de 46%?”.

Catarina Martins perguntou ainda se algum dos fornecedores da Jerónimo Martins, produtores industriais ou agricultores viram a sua situação melhorar “sequer um quarto” do que melhorou o salário do presidente do grupo.

“Mas, há ainda melhor, António Mexia, o patrão da EDP, ganhou o ano passado mais de dois milhões de euros, a cada dia que passou António Mexia ganhou dez salários mínimos nacionais, por dia são mais de 5.500 euros, vejam bem”, referiu.

A líder do BE acusou António Mexia de ser o patrão de uma empresa que tem trabalhadores temporários nos call center com práticas abusivas de trabalho, insegurança, pressão e “quase nada de salário”.

“E quando nos olhamos para esta economia, quando olhamos para este Mexia com os seus dez salários mínimos a cada dia que passa ou para o Soares com o seu aumento salarial de 46% num ano dizem-nos que é mérito deles, o mérito deles é agravar a economia injusta, fazer a escolha pelos baixos salários dos trabalhadores, fazer a escolha por esmagar os seus fornecedores e, com isso, o emprego no país, fazer a escolha pelas piores práticas sociais”, acrescentou.

Catarina Martins frisou ser necessário direitos do trabalho que reponham os salários de quem trabalha e não permitam “este abuso” de tão poucos sobre tantos.

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Cavaco: Distanciamento dos media é “fundamental para a dignidade” de um Presidente da República

  • ECO
  • 18 Março 2017

Em entrevista ao Público, Cavaco Silva fala em "campanhas insidiosas por elementos do PS".

Cavaco Silva entende que o distanciamento da comunicação social é “fundamental para a dignidade” de um Presidente da República. Em entrevista ao Público, antigo chefe de Estado garante que saiu de Belém “realizado” com as funções desempenhadas e aponta a alteração do Estatuto Político-Administrativo dos Açores como um dos “maiores contributos para a defesa do superior interesse nacional”.

Também aborda o tema BPN, o caso PT/TVI e as calúnias que acredita terem sido dirigidas pessoas do PS. Confira alguns momentos-chave.

Funções em Belém. Cavaco Silva não sente que tenha saído incompreendido de Belém. “Saí bastante satisfeito e bastante realizado com a forma como realizei as funções de PR. A todo o tempo eu ia fazendo a comparação entre aquilo que fazia e acontecia e o que tinha acontecido se a escolha do povo português fosse outra. Não ficava nada frustrado com aquilo que ia fazendo em comparação com o que – é minha opinião – teria acontecido se a escolha dos portugueses fosse outra. Tenho uma imensa gratidão para com o povo português”. E já sobre a gratidão dos portugueses pelo antigo presidente, Cavaco responde: “Já tive ocasião de afirmar que os julgamentos vão ser feitos no dia-a-dia”.

Foi o último mandato o mais difícil? Cavaco responde: “Não vale a pena estar aqui a recuperar o que foi a campanha montada contra mim para não ser reeleito”.

Relação com os media. Cavaco Silva garante que no mês de agosto, passa “30 dias sem abrir a televisão para ouvir notícias”. Como é que o distanciamento face à comunicação social ajuda como Presidente da República? “Esse distanciamento, em minha opinião, é fundamental para a dignidade do exercício da função”, declara. “Respeitar os profissionais da comunicação social” mas “manter a total independência do PR em relação à comunicação social é uma exigência da dignidade no exercício da função”, acrescenta. “Por isso, durante dez anos, nunca telefonei a um jornalista. Eu sei que há muitos políticos que telefonam com frequência. É a minha interpretação do exercício do mandato: independência de todos os poderes, sejam corporações económicas, seja do meio jornalístico, seja de partidos. Acho que desempenhei a função com muita isenção”, conclui o ex-chefe de Estado.

Erro. Quando indicou Sócrates para a formação de Governo, cometeu um erro ao não “dizer que o encarregava de fazer diligências políticas” para “apresentar um Governo consistente e duradouro”, admite Cavaco Silva. “Isso talvez tenha influenciado a forma como ele próprio aproximou os contactos com os partidos da oposição, que não conduziram a nenhum tipo de entendimento nem para coligação nem tão pouco para acordo de incidência parlamentar”, acrescentou. O erro já não foi repetido com António Costa.

Vitória. Já aquele que considera um dos seus “maiores contributos para a defesa do superior interesse nacional” foi a “alteração do Estatuto Político-Administrativo dos Açores”, com 25 normas declaradas inconstitucionais. “Os deputados, revelando uma cobardia política que nunca mais encontrei nem conhecia, votaram três vezes o Estatuto Político-Administrativo dos Açores, sabendo que eu tinha razão (que era acompanhado nas minhas posições por muitos constitucionalistas), [e fizeram-nos] de uma forma cobarde porque iam ocorrer eleições”, conclui. Para Cavaco Silva, “é ai que se vê a fibra de um PR”. “Sabendo que o povo não acompanha, não percebe o que está a acontecer, ele está a fazer aquilo que eu considero um dos maiores contributos para a defesa do superior interesse nacional”, remata.

Vigilância. O ex-chefe de Estado garante que nunca teve suspeitas de vigilância a Belém, referindo-se ao caso que veio a público no verão de 2009. E acrescenta que o chefe da Casa Civil tinha total autonomia para gerir uma questão destas.

A caminho da bancarrota? Evitar que o novo aeroporto de Lisboa ficasse na Ota foi, para Cavaco Silva, um “importante contributo para evitar um erro que teria tido custos muito grandes para o país”. É que “logo a seguir temos também o TGV, a terceira Ponte sobre o Tejo, as auto-estradas”, investimentos com os quais discordava.

A 1 de janeiro de 2010, disse “que Portugal caminhava para uma situação explosiva”, indo “até ao limite do que é constitucional um PR fazer”, declara. “Só passava para a intervenção no discurso público quando considerava que de forma discreta e em privado não conseguia alterar. Tinha a perceção que, se nós não mudássemos, podia-nos acontecer o mesmo que aconteceu à Grécia em maio de 2010, à Irlanda em dezembro de 2010. Mas um PR nunca pode admitir em público que está a caminho de uma situação de bancarrota, tem que ser muito contido nas palavras que utiliza”, nota ainda Cavaco Silva, acrescentando: “Imagine o que seria o impacto internacional e nacional se eu falasse na possibilidade de resgate”.

BPN. No seu livro, Cavaco Silva mostra-se contra a aprovação da lei-quadro de nacionalizações, em anexo à lei da nacionalização do BPN, que só não vetou devido à urgência pública. “Não me parece (e continuo hoje a pensar) que sendo necessário um diploma para nacionalizar uma empresa se devesse colocar em anexo uma alteração à lei-quadro das nacionalizações. Penso que [os partidos da oposição] votaram contra por causa desta forma um pouco esquisita de legislar. E eu fiquei condicionado na minha decisão porque se discordasse da lei-quadro então estava a adiar a nacionalização do banco. O que, de acordo com os pareceres do BdP e do Ministério das Finanças, podia conduzir a um prejuízo para os depositantes e a uma instabilidade do sistema financeiro”, responde agora sobre o assunto.

Cavaco Silva aborda uma conversa com o então primeiro-ministro, em que este lhe disse que “pensava que isto não era preciso, mas o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros embirrou e acha que isto é preciso”. Cavaco Silva acredita que nem o primeiro-ministro nem o ministro das Finanças estavam convencidos.

Confrontado com a eliminação de uma conta no BPN, alegando violação do sigilo bancário com intuito político, Cavaco Silva diz não tem informação de que esse incumprimento tenha sido dirigido pelo Governo. “Não vou neste momento revelar quem, em termos mais coletivos do que apenas um individual, estava a fazer com que a minha conta fosse publicada, os seus movimentos [fossem] publicados na imprensa. Ainda por cima eu sou uma pessoa que, quando abro uma conta no banco fica lá vinte, trinta anos, às vezes sem mexer nas aplicações financeiras que são feitas. Mesmo depois da nacionalização eu não retirei os fundos que tinha lá. Só retirei quando de facto percebi”, diz.

Calúnias. O livro de Cavaco Silva também aborda uma “campanha de calúnias, mentiras e insinuações tinha sido orquestrada por elementos do PS e do Governo”. Sobre isto, aponta o dedo: “Sobre a minha casa no Algarve, um absurdo total. Sobre a doença gravíssima que eu teria”.

“Aí o que eu digo é que a informação que me chegava é que elementos do PS, da campanha de Manuel Alegre, estavam por detrás dessas múltiplas campanhas insidiosas e caluniosas que foram montadas contra mim, que não foi só uma, foram várias. Foi uma campanha muito violenta, muito violenta. Pronto, no fim as virgens ofendidas vieram criticar-me pelo meu discurso de vitória”, remata.

Caso PT/TVI. O antigo Presidente da República remete para o livro a resposta que deu a Sócrates quando este lhe pediu para suspender o inquérito parlamentar sobre o caso PT/TVI. Porque não o denunciou publicamente, embora tenha assumido que é uma ideia “absurda”? “Sempre optei por respeitar dois princípios fundamentais na interação com o Governo”, diz Cavaco Silva. Um é a “discrição” e “a segunda era a de me apresentar nas reuniões bem fundamentado e conhecedor dos assuntos”. “Um PR tem de ter cuidado nas declarações que faz em público. E num caso desses…”, adianta.

Já sobre a compra da Oi pela PT, “o primeiro-ministro foi correto a informar-me, informou-me, eu não escrevi nada que não fosse do conhecimento público e que não fosse aquilo que o primeiro-ministro me contou”, esclarece.

Sócrates. Uma vez que o livro aborda alguns casos que surgem no processo em que José Sócrates está indiciado, estaria Cavaco Silva disposto a colaborar com a investigação se fosse chamado? “Olhe eu considero essa pergunta absurda”, diz. “Eu já tive ocasião de dizer uma vez na televisão que em nenhuma reunião com o primeiro-ministro alguma vez detetei qualquer comportamento que violasse as normas”, nota Cavaco Silva.

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Uber: Em que é que a Geringonça se entende?

  • Marta Santos Silva
  • 18 Março 2017

O Parlamento discutiu esta semana as regras para o transporte individual de passageiros com plataforma eletrónica, mas não há maneira de os partidos se entenderem. O que os une e o que os separa.

Ainda não foi esta sexta-feira que a legislação vai regulamentar a atividade e o uso da Uber e da Cabify em Portugal foi aprovada. A votação foi adiada, já que o PSD decidiu apresentar um projeto próprio e o Bloco de Esquerda e o PCP têm várias críticas a fazer ao diploma do Governo. O deputado social-democrata Paulo Neves alertou mesmo que o PSD é a favor das plataformas tecnológicas, mas não tenciona servir “de muleta” para o Governo, por isso os partidos do acordo parlamentar que suporta o Executivo “que se entendam”.

A proposta do PSD ainda não é conhecida, mas o PCP já apresentou as suas propostas de alteração ao diploma e o Bloco de Esquerda também: onde é que os dois partidos mais à esquerda concordam com o Governo? E um com o outro?

  • Licenciamento da atividade
    Para o Governo, na sua proposta de lei n.º 50/XIII, bastaria que uma entidade que pretendesse abrir atividade no setor do transporte individual comunicasse o início dela ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), sendo que a instituição poderia, num prazo de 20 dias, decidir opor-se se houver requisitos que não são cumpridos. Tanto o Bloco de Esquerda como o PCP recomendam que o processo aconteça ao contrário: os operadores que tencionem iniciar atividade devem primeiro pedir autorização ao IMT, para que lhe seja atribuída posteriormente uma licença.

  • Alvarás e contingentes
    Tanto o Bloco de Esquerda como os comunistas concordam: as empresas que tenham como base o uso de plataformas como a Uber ou a Cabify devem estar sujeitas a regras de contingentação, ou seja, o número de veículos na estrada deve ser predefinido e autorizado pelos municípios de acordo com as necessidades. Os veículos devem ter ainda alvarás como os táxis — licenças emitidas pelas câmaras municipais de acordo com o contingente definido e que devem ser devolvidos quando o veículo deixar de ser utilizado para este fim.
    É o grande ponto de fratura entre o Governo e os partidos mais à esquerda, e uma das principais exigências dos taxistas, que consideram que o facto de estarem sujeitos a contingentação os deixa em desvantagem para com as plataformas digitais. João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente, disse mesmo no Parlamento que alvarás e contingentes eram “linguagem do Estado Novo”. O CDS já declarou, por sua vez, que não vê com bons olhos uma contingentação das viaturas descaracterizadas de transporte individual.
João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente, afirmou que contingentes e alvarás eram “termos do Estado Novo”.Paula Nunes/ECO

  • Presunção de contrato de trabalho
    O Governo, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português estão de acordo numa coisa: deve aplicar-se ao vínculo estabelecido entre o operador e o motorista da atividade, “independentemente da denominação que as partes tenham adotado”, o artigo n.º 12 do Código do Trabalho. Este artigo prevê que exista uma presunção de contrato de trabalho, ou seja, de prestação de atividade por parte de uma pessoa sob a autoridade de outra.

  • Cursos de formação
    Outro ponto de grande desentendimento entre o Governo e os taxistas é a formação dos motoristas das viaturas descaracterizadas. A proposta do Governo prevê que os motoristas tenham de passar por uma formação de 50 horas para obterem um título próprio para conduzir — muito inferior à formação de 125 horas prevista para os taxistas. O Bloco e o PCP querem que a formação dos motoristas seja de duração igual à dos táxis, com o PCP a pedir mesmo que toda a formação seja regida pelo previsto no regime legal de formação para acesso ao Certificado de Motorista de Táxi.

  • Preços livres ou regulamentados
    Aqui o Bloco concorda com o Governo, mas o PCP não: os comunistas querem que as plataformas tecnológicas de transporte de passageiros sejam obrigadas a predefinir os seus preços, que têm de ser aprovados pelo Governo por despacho, e com preços mínimos que “impeçam práticas comerciais desleais ou restritivas”. O PCP também quer interditar as tarifas dinâmicas: os preços variáveis conforme a procura que são calculados de acordo com os algoritmos das plataformas. O PCP também está sozinho em pedir que as viaturas de transporte individual sejam obrigadas a aceitar pagamentos em numerário.

  • Idoneidade dos operadores e motoristas
    O Bloco de Esquerda dedica várias alíneas da sua proposta a uma questão que não é suscitada nem na do Governo nem na do PCP: a idoneidade dos operadores e também dos motoristas dos veículos de transporte individual. Para o Bloco, é importante que tanto os órgãos de administração e gerência do operador nunca tenham sido condenados por crimes relacionados com a segurança no trabalho, a proteção do ambiente ou a responsabilidade profissional, como que os motoristas nunca tenham sido condenados por condução perigosa, sob influência de estupefacientes, ou por crimes que atendem contra a vida, integridade física ou liberdade pessoal.

  • Infraestrutura tecnológica e sede fiscal em Portugal
    Mais uma exigência do PCP que não é acompanhada pelo Bloco nem pelo Governo: que a infraestrutura tecnológica usada para a operação das plataformas esteja “fisicamente localizada em território nacional” para ser inspecionada pelas autoridades do Estado. E enquanto para o Governo basta que, se a empresa não tiver sede fiscal em Portugal, comunique um representante em território nacional, para o PCP é obrigatório que os operadores das plataformas eletrónicas de reserva tenham “sede social e domicílio fiscal em Portugal”.

  • Plataforma tem de controlar tempos de condução
    Para combater a precariedade neste mercado, o PCP tem mais uma proposta: que a própria plataforma impeça que seja ultrapassado o limite dos tempos de condução e que sejam respeitados os períodos de repouso, “bloqueando a utilização da plataforma sempre que os limites sejam ultrapassados”. É a ideia mais improvável de ser aprovada: as empresas multinacionais que criam estas plataformas dificilmente permitiriam que o Governo de um país as usasse para controlar as práticas de trabalho dos motoristas. O PCP também quer que a Comissão Nacional de Proteção de Dados supervisione e certifique os sistemas tecnológicos.

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BPI emite 300 milhões de dívida subordinada

O banco ainda liderado por Fernando Ulrich vai emitir 300 milhões em dívida subordinada para reforçar os rácios de capital. Títulos que já têm um comprador garantido: o CaixaBank.

O BPI vai emitir 300 milhões de euros em dívida subordinada. O banco ainda liderado por Fernando Ulrich já tinha dito que pretendia emitir este tipo de títulos para reforçar os rácios de capital de forma a cumprir com as exigências do Banco Central Europeu. E já tem um comprador garantido: o CaixaBank. O maior acionista do banco português disse que estaria “disponível para subscrever a dívida subordinada”, se esta fosse a melhor alternativa.

Num comunicado à CMVM, o BPI informa que vai emitir 300 milhões de euros de dívida subordinada. Isto depois de Fernando Ulrich ter dito, na apresentação dos resultados para 2016, que o mínimo a emitir seria de 225 milhões, mas que deveria precisar de mais. “É conveniente que seja um pouco mais e é um tema que vamos discutir nos próximos dias com o acionista CaixaBank”, disse o ainda presidente do BPI no mês passado.

Esta emissão tem de ser suficiente para reforçar os rácios de capital e ficar em linha com as regras do BCE. Com esta emissão, isto é possível. Há um reforço dos rácios numa base consolidada, com o rácio CET1 nos 11,4% e o rácio total nos 12,8%. Mas o problema residia na base não consolidada, onde estes níveis estavam abaixo do que era exigido — o mínimo para o rácio total era de 11,75% e estava nos 10,7%. Mas, com este reforço, este indicador sobe para os 12,6%.

Na altura, Gonzalo Gortázar, o administrador delegado do CaixaBank, afirmou estar disponível para subscrever os títulos de dívida subordinada de que o BPI precisa para reforçar os seus rácios. Por isso, o banco já tem um comprador garantido, como é hoje confirmado pelo banco português no comunicado enviado ao regulador de mercado. Gortázar referiu que “o BPI está agora numa situação financeira” mais forte, tendo o CaixaBank como acionista controlador. E o facto de o CaixaBank controlar o banco reforça ratings, o que facilita o acesso ao financiamento, explicou.

O BPI já só tinha de emitir 206 milhões de euros de dívida subordinada para cumprir as exigências de capital definidas pelo banco central liderado por Mario Draghi. Ou seja, alcançar um rácio total de 12%. Mas o valor a emitir será superior, com um cupão de 5,74% mais a Euribor a seis meses, que está negativa.

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Mais uma gigante entre as gigantes: Versace já abriu na Avenida da Liberdade

  • ECO
  • 17 Março 2017

É a mais recente cadeia de luxo a abrir uma loja em Portugal, e escolheu a rua mais eclética da capital, onde o metro quadrado custa 90 euros no arrendamento, para se instalar.

A Versace é a mais recente loja do segmento de luxo a abrir portas na Avenida da Liberdade. Instalou-se no nº 238, logo ao lado da Bvlgari e da Cartier, também elas lojas de luxo. No mesmo lado da avenida mais exclusiva e cara da capital, onde o metro quadrado custa 90 euros para arrendar, encontram-se outras grandes marcas como a Prada, Luis Vuitton, Gucci ou Fashion Clinic.

A nova loja da Versace, a primeira a abrir no nosso país, vem juntar-se às mais de 1.500 que se espalham pelo resto do mundo. Em Lisboa, vem ocupar uma área de 440 metros quadrados. A intenção do design, segundo a marca italiana explicou em comunicado, era a de unir “referências da arquitetura tradicional italiana com o dinamismo e energia da Versace de hoje”. Os azulejos em mármore e os elementos em bronze “criam um ambiente luxuoso e contemporâneo, onde são apresentadas as coleções de pronto-a-vestir e os acessórios da marca para homem e senhora”.

“Adoro o conceito de design das lojas Versace, que presta homenagem à herança cultural de Itália. Para mim, esta loja sugere um diálogo ininterrupto entre o passado e o futuro, entre a Versace e os seus clientes”, declarou Donatella Versace no mesmo comunicado.

A Avenida mais luxuosa… e cara

Ao ECO, a consultora imobiliária JLL divulgou os dados mais recentes dos valores das rendas praticadas nos edifícios ao longo da Avenida da Liberdade, referentes ao final do ano passado, onde as rendas prime, as mais altas praticadas, chegam aos 90 euros por metro quadrado. Se se seguir este valor de referência — e embora o valor concreto que a marca italiana está a pagar não tenha sido divulgado — pode equacionar-se que esteja a pagar, juntamente com as suas companheiras de rua, algo como 39 mil e 600 euros por mês.

“O comércio de rua tem beneficiado muito com o contínuo boom no turismo, a geral melhoria das condições económicas e a mudança de hábitos do consumidor português, mas também com a oferta gerada pela alteração da lei do arrendamento”, explicou a JLL.

No ano passado, as zonas históricas de Lisboa foram as que mais se destacaram em termos de receita do comércio de rua. O Chiado destacou-se como zona prime, onde, devido à plena ocupação dos eixos principais, as ruas secundárias vieram a gradualmente a ficar mais dinâmicas, tendo concentrado todas as novas aberturas de 2016. Na Baixa, zona que mais beneficiou com o turismo, a disponibilidade no eixo principal tornou-se muito reduzida. Ainda assim, a JLL ressalva que surgiram importantes aberturas ao longo do ano passado e que os espaços que vão ficando disponíveis “são rapidamente ocupados”.

É isso que acontece na Avenida da Liberdade, que ainda tem alguma disponibilidade “devido ao aparecimento de novos projetos resultantes da reabilitação de diversos edifícios”. Segundo a consultora, a procura nesta zona de Lisboa mantém-se elevada, confirmada pelo recorde de mais de 10 novas aberturas durante este ano.

O valor por metro quadrado na Avenida da Liberdade nunca foi baixo, mas tem vindo a subir. Em 2012 custava 70€, hoje em dia já chega aos 90€. No entanto, a JLL não prevê que o valor cresça nos próximos dois anos. As rendas prime, após os aumentos registados em 2015, mantiveram-se estáveis, com exceção da Baixa, que na Rua Augusta atingiu o mesmo valor da Avenida da Liberdade.

Foi a JLL que mediou o arrendamento do espaço à Versace. A obra do espaço foi executada pela empresa Tétris, de design e construção de interiores, também parte do grupo JLL.

A Versace foi fundada por Gianni Versace em 1978, tem a sua sede na Via Manzoni, uma das mais exclusivas de Milão, e conta atualmente com um capital social de 81.857,275 euros.

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