Nesta falsa cidade, a Uber testa carros que se conduzem sozinhos

A Uber tem uma cidade falsa nos EUA onde treina os seus veículos para conduzirem de forma autónoma. Já há carros destes desde o ano passado nas ruas norte-americanas.

A Uber tem estado a testar os seus carros autónomos numa espécie de cidade falsa, construída em Pittsburgh. Numa área com cerca de mil metros quadrados, vários carros da empresa percorrem as pistas do recinto sem necessitarem de um condutor. Durante as provas os carros são testados, com rotundas, peões falsos e estruturas que dificultam os percursos.

Em Pittsburgh, nos Estados Unidos, a Uber tem o seu cantinho onde tem estado a desenvolver os seus carros autónomos, que não precisam de condutor. Chama-se ALMONO e fica localizada ao longo do rio Monongahela, em Hazelwood. Parece mesmo uma cidade, só lhe falta realmente ser: tem uma rotunda gigante, carros falsos, manequins que se fazem passar por peões e saltam para o meio da rua sem avisar, estruturas que dificultam os percursos e se assemelham a edifícios, semáforos, etc..

Atualmente, a ALMONO ocupa uma área de 1.022 metros quadrados, mas a Uber avançou com um pedido ao Governo de Hazelwood, em março deste ano, para expandir a sua pequena cidade em mais 1.200 metros quadrados. Esse pedido é a prova da importância que a pista de treino representa para a empresa, fundamental para integrar os carros autónomos na realidade, mas também para treinar os condutores de segurança que estão dentro dos automóveis, preparando-os para o inesperado.

Temos obstáculos e manequins que se movimentam e podem atravessar a rua, colocando-se em frente aos carros. E temos também outros veículos que se aproximam de nós“, disse Rick McKahan, um condutor dos veículos de teste da Uber. “Na maior parte das vezes, simulamos situações muito piores do que aquelas que aconteceriam na via pública”.

Os carros conduzem-se sozinhos, é verdade. É para isso que a Uber tem andado a treinar. No entanto, a empresa exige que, no interior do veículo, estejam sempre dois condutores de segurança, nos bancos da frente, para conseguirem controlar o carro em caso de perigo de acidente ou descontrolo. O programa de treino dos condutores é bastante rigoroso, levando cerca de três semanas até estes conseguirem passar no teste, que inclui avaliações escritas e testes rodoviários. Ainda não há dados certos sobre o número de condutores de segurança. No entanto, um representante da Uber adiantou que rondam as “centenas”.

Em dezembro do ano passado, poucos dias depois de terem começado os testes nas ruas dos Estados Unidos, um taxista filmou um carro autónomo da Uber a passar um sinal vermelho, na cidade norte-americana de São Francisco. Esta situação foi justificada pela empresa como “um erro humano”, mas não tardou até surgir uma utilizadora do Twitter a alegar que um carro Uber quase tinha batido no seu. Ainda que tenha alegado que não tinha culpa, a empresa defendeu-se dizendo que os condutores de segurança ainda são precisos, exatamente para evitar situações dessas.

Veja aqui como funciona uma viagem destas:

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Santana Lopes apresenta candidatura: “Nunca fiz coro com os adversários do PSD”

  • Marta Santos Silva
  • 22 Outubro 2017

Na apresentação da sua candidatura à liderança do PSD, Pedro Santana Lopes deixou mensagens ao que é, até agora, o seu principal adversário, Rui Rio. E quis pôr o passado - 2004 e 2005 - para trás.

Pedro Santana Lopes apresentou este domingo a sua candidatura à liderança do PSD, com o lema de “Unir o partido, ganhar o país”, e referindo ainda outro no seu discurso, no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA) em Santarém: “Por um PSD cada vez mais PPD”. E não poupou o rival Rui Rio — nem a ‘Geringonça’, a que rejeita chamar assim.

Falando sobre o futuro do seu próprio partido social-democrata, conhecido originalmente como PPD-PSD, sublinhou a importância da primeira parte da sigla, ao afirmar: “Por um PSD cada vez mais PPD”. E acrescentou: “Pela nossa ideologia, pelo nosso programa. Mas ao mesmo tempo para sermos um partido cada vez mais popular, próximo das pessoas. (…) Popular porque rejeita o predomínio de castas ou iluminados. Popular porque quer ser sempre o partido das bases“.

A Rui Rio deixou uma mensagem clara, num longo parágrafo perto do início do seu discurso, que foi interrompido repetidamente por aplausos: “Defendi durante estes anos o trabalho de Pedro Passos Coelho. Fi-lo com honra e com sentido de responsabilidade perante o país. Nunca fui para a Aula Magna fazer sessões com o Bloco de Esquerda ou com Mário Soares. Nunca fui para a Associação 25 de Abril ouvir elogios de Vasco Lourenço na altura em que o partido salvava Portugal da bancarrota. (…) Quando o PPD-PSD estava a chegar ao momento de conseguir a saída limpa, no termo da ajuda externa, eu nunca fui nessa altura para essas instituições dizer que, e passo a citar: ‘a democracia está mais difícil, estamos a caminho de uma ditadura corporativa’, fazer coro com os adversários do meu partido. Nunca o fiz”, completou.

Pedro Santana Lopes assinalou ainda que tinha recomendado a Pedro Passos Coelho que se houvesse um prazo mais alargado para a campanha, “por uma razão simples: Porque acho que os militantes têm direito a fazer esta clarificação com todo o conhecimento”. E acrescentou um desafio: “Gostava de sugerir que as distritais organizassem cada uma um debate, para os militantes poderem estar juntos, poderem ouvir, poderem conhecer”.

Geringonça “é o que eles querem” que lhes chamem

Pedro Santana Lopes não poupou o atual Governo e a maioria parlamentar que o suporta, que optou por não chamar de ‘Geringonça’. “Eu não gosto de chamar de ‘Geringonça’. Não sei se já repararam que eles adotaram o termo. Acho que pensam que tem alguma componente de afeto”, afirmou. “Chamá-los de ‘Geringonça’ é o que eles querem”.

Para si, esclareceu o agora candidato à liderança do PSD, “eles são uma frente de esquerda e extrema-esquerda, com os comunistas, de que o Partido Socialista se aproveita”. E não acabaram aqui as críticas: Santana Lopes também criticou as divisões entre a base parlamentar do Governo nalguns setores, e disse que o Executivo de António Costa “é mau para o nosso país”.

“Somos o único país da Europa onde isto acontece. Ainda por cima, acontece disfarçando-se, não se assumindo, querendo outra designação, e disfarçando o seu próprio programa pondo-o de lado”, concluiu, afirmando querer “mostrar aos portugueses” que merecem melhor, e que a alternativa é o PSD.

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Teste: Renascido das cinzas, chega o Samsung Note 8

  • Juliana Nogueira Santos
  • 22 Outubro 2017

O ECO testou o Note 8, o novo aparelho da linha empresarial da Samsung, e acabou por encontrar uma fénix. Ainda assim, a tecnológica não aprendeu com alguns dos erros.

Para além de estar associada a uma utilização mais empresarial, a linha Note da Samsung encheu manchetes e conversas por o seu último modelo, o Note 7, vir equipado com baterias defeituosas que explodiam em plena utilização. Todos os aparelhos foram recolhidos, com a marca a prometer que, da próxima vez, não havia margem para erros.

Cerca de um ano depois, a fénix ergue-se das cinzas e chega às lojas com mais do que uma bateria mais segura. O ecrã infinito de 6.3 polegadas, as três câmaras de 12 e 8 megapíxeis e a S Pen de 0,7 milímetros fazem do Note 8 um dos telemóveis mais potentes do mercado. Ainda assim, parece que a Samsung não aprendeu com alguns dos erros.

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PCP aponta falta de “quantificação orçamental” para medidas

  • Lusa
  • 22 Outubro 2017

"Nos próximos dias, no debate do Orçamento do Estado, se verá a determinação do Governo em acomodar esses custos", disse João Frazão.

O PCP defendeu hoje que, apesar de o Governo ter aprovado medidas positivas sobre incêndios, há “omissões diversas e ausência de quantificação orçamental ou de meios” para as concretizar, considerando “imprescindível” um orçamento reforçado para defender a floresta.

Em conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa, João Frazão, membro da Comissão Política do Comité Central do PCP, reagiu às medidas aprovadas pelo Governo, no Conselho de Ministros extraordinário de sábado, entre as quais a reforma da Proteção Civil e a resposta de emergência às vítimas.

“A dimensão dos problemas reclama uma séria resposta que exige determinação política, medidas integradas na sua abordagem, opções orçamentais. A par de medidas em sentido positivo registam-se para já, nas decisões adotadas pelo Governo, omissões diversas, ausência de quantificação orçamental ou de meios e outros recursos para as concretizar”, considerou.

O PCP avisou que “não será à custa de direitos e rendimentos que esses meios deverão ser alcançados”. De acordo com o dirigente comunista, é imprescindível “um verdadeiro orçamento para a defesa das florestas e contra os incêndios, com verbas muito reforçadas”. João Frazão sublinhou que o Conselho de Ministros extraordinário de sábado “foi omisso quanto à afirmação da origem dos meios para reforço do Orçamento do Estado para a defesa das florestas”.

“Nos próximos dias, no debate do Orçamento do Estado, se verá a determinação do Governo em acomodar esses custos”, disse.

O PCP defendeu que garantir os investimentos que a floresta precisa é possível e “deve ser considerado sem hesitações pelo Governo, não apenas pelo alargamento em algumas décimas do défice das contas públicas”, avisando que as respostas necessárias “não se coadunam com as limitações e os constrangimentos impostos à vida nacional nos últimos anos”.

“Sobre o SIRESP, o PCP considera que a decisão de entrada do Estado na empresa é um passo positivo, se dela decorrer o controlo estratégico” da empresa, referiu ainda.

A propósito das medidas imediatas aprovadas no sábado pelo executivo socialista, o dirigente comunista realçou ser “necessário que se apliquem todos os mecanismos da lei de apoio às vítimas, aprovadas apenas na generalidade pela recusa do PS em ir mais longe”.

O PCP lamenta que o Governo nada tenha dito sobre a instalação de redes de defesa da floresta contra incêndios, sobre o preço da madeira, sobre o cadastro ou ainda sobre a reconstituição do corpo de Guardas Florestais.

“O PCP não deixa de denunciar que, com as medidas anunciadas, o Governo opta por não cumprir a lei do sistema da defesa da floresta contra incêndios, que prevê a constituição de 200 equipas de sapadores florestais até 2019”, acrescentou. O papel reforçado das Forças Armadas merece nota positiva dos comunistas, que sempre se manifestaram contra a “perda das capacidades da Força Aérea para o combate a fogos”, mas querem saber “com quantos meios e a partir de quando”.

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BE aponta passo no caminho certo mas diz que há mais a fazer

  • Lusa
  • 22 Outubro 2017

O bloquista referiu que “falta ainda dotar de meios públicos o Estado, para poder existir o combate sem ter que recorrer a privados”.

O líder parlamentar do BE considerou hoje terem sido dados passos no caminho certo no Conselho de Ministros de sábado, no âmbito da prevenção e do combate a incêndios, mas afirmou haver mais a fazer, inclusive no SIRESP.

À margem da cimeira europeia Plano B, a decorrer em Lisboa, Pedro Filipe Soares congratulou-se, em declarações aos jornalistas, por algumas propostas do seu partido irem “finalmente ver a luz do dia” e apelou a que se avance rápido na sua aplicação, já que os calendários das alterações climáticas “não são compagináveis com os calendários administrativos que têm regido escolhas políticas”.

Porém, há decisões que ainda “não são concretamente o resultado final” que o partido gostava de ver, notou o bloquista, referindo-se ao sistema de comunicações de emergência SIRESP, que deveria ter gestão pública.

“Só essa garantia de gestão pública é que retira de cima da mesa a incompetência dos privados e a insegurança, que tantas vezes tem sido anexada ao SIRESP quando é chamado a intervir”, disse.

O BE esperava ainda a “gestão integrada da floresta, com a introdução de uma visão integradas entre a gestão da floresta e a prevenção dos incêndios florestais”, vertentes que deveriam estar “debaixo da mesma entidade”.

Comentando também a decisão de colocar a Força Aérea como responsável pela gestão do combate aéreo, o bloquista referiu que “falta ainda dotar de meios públicos o Estado, para poder existir o combate sem ter que recorrer a privados”. Pedro Filipe Soares referiu ainda que as Forças Armadas têm um “papel de apoio, mas não se podem a sobrepor a entidades civis que são as responsáveis pela Proteção Civil”.

Questionado sobre as consequências dos incêndios florestais para o défice, o deputado reafirmou que devem estar em “cima da mesa as prioridades do país”. “As metas do défice, para Bruxelas ver, nunca se podem sobrepor à garantia da segurança das populações e o investimento que o Estado deve fazer” para o conseguir, declarou.

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Marcelo saúda “forma rápida” como Governo “tratou de tudo”

  • Lusa
  • 22 Outubro 2017

Marcelo assinalou vários “pontos positivos” nas decisões do Conselho de Ministros, nomeadamente aquilo que diz respeito às comunicações da Proteção Civil.

O Presidente da República saudou hoje em Tábua a “forma rápida e tão abrangente” como o Conselho de Ministros extraordinário de sábado sobre incêndios “quis tratar de tudo e de tantos dossiês em tão pouco espaço de tempo”.

“Entre hoje de madrugada e hoje de manhã estive a analisar as medidas do Conselho de Ministros. Quero sublinhar a forma rápida e tão abrangente como o Conselho de Ministros quis tratar de tudo e de tantos dossiês em tanto pouco espaço de tempo”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, naquele município do distrito de Coimbra também afetado pelos incêndios do dia 15.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, “isto é o início de um processo”. “Não é o fim de um processo. Sabemos que é um processo demorado, mas que seja o menos demorado possível e que chegue rápido às pessoas”, sublinhou. O Presidente da República reafirmou ainda a necessidade de uma convergência nacional sobre a temática: “Sem essa convergência não vamos lá”.

Marcelo assinalou vários “pontos positivos” nas decisões do Conselho de Ministros, nomeadamente aquilo que diz respeito às comunicações da Proteção Civil. “A ideia de o Estado ter uma participação no SIRESP parece uma ideia fundamental”, acrescentou. O chefe de Estado considerou ainda importante que a Força Aérea assuma a “responsabilidade cimeira” na gestão dos meios aéreos e aplaudiu o reforço da vigilância e o aumento de equipas de sapadores florestais. No seu entender, é igualmente positivo que a Proteção Civil tenha um quadro de profissionais próprios, com carreira própria, com dirigentes designados por concurso.

O Presidente também colocou nos aspetos positivos a unidade de missão para a reforma dos sistemas de prevenção e combate. “Mostra a experiência que um comando com liderança clara é essencial”, sublinhou.

A reforma da Proteção Civil, que pretende aproximar a prevenção do combate aos incêndios e reforçar o profissionalismo, deverá passar pela entrada do Estado na rede SIRESP e por vários apoios dirigidos às populações e às zonas mais afetadas.

Estas medidas foram anunciadas no sábado pelo Governo, que se sentou à mesa para discutir, durante 11 horas, a reforma nos sistemas de prevenção e combate aos incêndios e adotar medidas de emergência de apoio às vítimas, depois dos incêndios de Pedrógão Grande (junho) e de várias zonas das regiões Centro e Norte (15 e 16 de outubro).

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Do OE2005 até ao banco social: a economia por Santana Lopes

Qual é o pensamento económico do candidato à liderança do PSD? Com este mote, o ECO foi à procura das declarações de Santana Lopes que dão pistas sobre o que quer para o país.

É este domingo que Pedro Santana Lopes apresenta a sua candidatura à presidência do PSD. Depois de se ter despedido dos funcionários da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) na sexta-feira, o ex-primeiro-ministro passa a ter como missão convencer os militantes sociais-democratas a votarem em si nas diretas. O ECO reuniu as ideias que marcam o pensamento económico de Santana Lopes.

Um almoço com Marcelo Rebelo de Sousa deu base aos rumores. Um dia depois, Santana Lopes anunciou que seria candidato à liderança dos sociais-democratas, após seis anos à frente da Santa Casa. Mas este foi só o último cargo público que Santana Lopes assumiu — já foi presidente da Câmara de Lisboa e da Figueira da Foz, primeiro-ministro, líder do PSD, presidente do Sporting entre 1995 e 1996, entre outros cargos públicos. Atualmente, é sócio da Global Laywers, ainda que não exerça — segundo o site da Ordem dos Advogados, está inativo.

Através dos seus comentários na SIC Notícias — que partilhava com António Vitorino –, das entrevistas que foi dando ao longo dos anos, das opiniões que assinou e do que já fez no passado, o ECO reuniu as ideias e traçou o pensamento económico de Santana Lopes. Depois de ter sido sondado como um dos candidatos às eleições presidenciais do ano passado, é agora candidato à liderança do PSD. Caracterizado como sendo de centro-direita, o discurso económico de Santana Lopes centra-se no aumento da competitividade e produtividade, na presença do Estado na área da saúde e nas dúvidas relativamente ao euro.

Orçamento do Estado para… 2005 e 2018

Foi pouco o tempo em que Santana Lopes esteve no Governo, mas coincidiu com a elaboração do Orçamento do Estado para 2005, na altura da responsabilidade do ministro das Finanças, Bagão Félix. Ao longo de um discurso que fez no Parlamento, o então primeiro-ministro classificava o OE com “rigor”, mas também “esperança”. Os portugueses tinham passado por um “tratamento de choque” e naquele momento era preciso trabalhar para o futuro, disse.

Santana Lopes queria colocar um ponto final no ciclo de “correção orçamental”, ainda que mantendo-a, iniciando um novo: “o ciclo do crescimento”. Já nessa altura apontava o aumento da produtividade como um “desígnio” de Portugal, mas também já destacava a necessidade de investimento, da qualificação dos portugueses e da modernização dos serviços públicos. Nesta altura, o Governo previa um défice de 2,8% e um crescimento do PIB de 2,4% em 2005.

É essencial que o Orçamento do Estado não assuste os investidores e, logicamente, os investidores externos.

Pedro Santana Lopes

Ex-Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

O então líder do Governo criticava a evolução do endividamento das famílias, uma das preocupações que está patente no relatório do OE2005. Classificava, por isso, o documento como um dos mais difíceis dos últimos anos, dado que tinha de “manter a despesa controlada e diminuir gradualmente as despesas extraordinárias”. “Não quero pedir sacrifícios excessivos aos portugueses”, afirmou, para a seguir dizer que iríamos “ultrapassar a crise”.

Doze anos depois, enquanto comentador, Pedro Santana Lopes aproveita a sua análise ao OE para o próximo ano para criticar a quase certa subida da derrama estadual para as empresas com mais de 35 milhões de euros de lucros tributáveis. “É assustador”, classificou num artigo de opinião no Jornal de Negócios, referindo que a medida pode “esmorecer a confiança” e o “entusiasmo” da economia portuguesa. “É essencial que o Orçamento do Estado não assuste os investidores e, logicamente, os investidores externos”, argumenta.

O candidato criticou ainda as alterações que o Governo quer introduzir ao regime simplificado utilizado pelos trabalhadores a recibos verdes. Contudo, também deixou elogios. “Daria nota positiva porque prossegue o esforço de consolidação orçamental. Mas é um Orçamento com sinais muito errados”, sintetizou no seu espaço de opinião na SIC Notícias. “Os trabalhadores portugueses ganham mais com o investimento, a criação do emprego e o crescimento económico do que as meras devoluções de alguns euros às pessoas”, apontou.

Os trabalhadores portugueses ganham mais com o investimento, a criação do emprego e o crescimento económico do que as meras devoluções de alguns euros às pessoas.

Pedro Santana Lopes

Ex-Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

Santana Lopes queria ver um saldo primário mais expressivo, superior a 3% (o Governo prevê que seja de 2,6%), para diminuir mais a dívida pública. “Portugal precisa de investimento como de pão para a boca”. O candidato argumentava que a taxa de IRC portuguesa, em comparação com a de Irlanda, por exemplo, dificulta a atração de investidores para o país. “Estamos a caminhar num sentido que me parece errado”, disse, criticando alteração do modelo do crescimento económico da procura externa para a procura interna com foco no consumo interno.

Banca: a entrada da SMCL no Montepio

Enquanto provedor da Santa Casa, Santana Lopes esteve envolvido nas mais recentes decisões nacionais sobre o sistema financeiro. Assim que se soube dos problemas internos do Montepio, começou a especulação com a entrada da Santa Casa no capital do banco controlado pela Associação Mutualista.

“Seria mais aliciante se estivéssemos a construir um verdadeiro banco da economia social”, afirmou Santana Lopes, no final de junho, numa entrevista à Rádio Renascença, referindo que a construção de um projeto desses demoraria um ano. Mas admitiu que “para ser só uma entrada da Santa Casa e de algumas outras misericórdias no Montepio acho muito pouco aliciante, muito pouco aliciante, ou nada mesmo”.

Posteriormente, em declarações ao Expresso, Pedro Santana Lopes afirmou que não há nenhum negócio onde não entre, “desde que venha de fontes legítimas”. “Qualquer atividade económica legítima pode interessar à SCML”, defendeu, referindo que o financiamento até pode vir do petróleo. Na opinião do provedor, “é má gestão não rentabilizar devidamente as disponibilidades financeiras”.

Novo Banco

O social-democrata foi um dos defensores do Novo Banco continuar a ter uma “matriz portuguesa”. Num artigo de opinião publicado no Jornal de Negócios, Santana Lopes afirmou que o caso do ex-BES “não pode ser nem o Banif nem o BPN”. “O Novo Banco é muito mais importante do que qualquer um desses dois e é essencial para a economia portuguesa”, argumenta, defendendo que a “economia portuguesa, as empresas portuguesas, o setor social português, precisam de um Novo Banco de matriz portuguesa”.

Apesar de reconhecer que não existe capital em Portugal, “se for para comprar o banco pelo dinheiro que outros querem pagar por ele, garanto que há muito quem o possa comprar em Portugal”, considerou na altura. Ainda assim, não era claro se preferiria uma nacionalização, ainda que temporária, em vez da venda ao Lone Star — uma ideia defendida pelo seu principal adversário às diretas, Rui Rio. Mais tarde. Santana Lopes pediu ainda que o banco não fosse “esquartejado” e, por isso, era “melhor não haver venda do que haver uma venda qualquer”. Pedro Santana Lopes chegou a admitir uma nacionalização, caso não houvesse uma alternativa melhor.

A atuação do Banco de Portugal

Santana Lopes tem sido crítico da atuação do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, a começar pela resolução do BES, onde acusa os europeus de utilizarem Portugal como cobaia. “O sistema de supervisão tem funcionado pessimamente e onde ele tem estado é no Banco de Portugal”, afirmava numa entrevista ao DN.

Portugal tem sido recordista nessa matéria, como sabemos, em bancos a irem abaixo.

Pedro Santana Lopes

Ex-Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

“Não vou dizer antes dele, porque foi já com Vítor Constâncio e agora com Carlos Costa que começaram a acontecer os desastres no sistema financeiro. Por razões não só nacionais, mas também internacionais, sabemos. Agora, Portugal tem sido recordista nessa matéria, como sabemos, em bancos a irem abaixo”, criticou.

União Europeia, o euro e o BCE

Mas as críticas não se ficam por Portugal. O agora candidato tem uma opinião negativa da União Europeia: “Faz muita asneira, tem feito muito erro, tem adotado soluções regulamentares e outras muito coxas, que têm levado à desgraçada — como sabe, no Tratado de Maastricht e tudo, o que provocou –, com uma moeda única para economias com tão diferentes níveis de desenvolvimento”, sintetiza. “Não podemos abdicar desses poderes, nessa matéria, nem o Banco Central Europeu é capaz de fazer, também, essa supervisão como deve de ser, ao contrário do que muitos podem pensar, que lá por serem estrangeiros — nós temos sempre esta mania que os estrangeiros podem”, chegara a comentar, mostrando as suas dúvidas relativamente à perda de soberania.

É, por estas razões, contra o federalismo e defende que Portugal não se deve entregar aos “braços da ‘bela e sedutora’ Europa, muitas vezes sem sabermos as condições exatas do que aí vem”. Em 2016, no congresso do PSD, dizia mesmo que a “União Europeia está débil e fraca, e por isso precisa de começar um ciclo novo”. E quanto à reestruturação da dívida? Pedro Santana Lopes não se comprometeu quando 75 personalidades defenderam a reestruturação da dívida. Discorda de alguns pontos, concorda com outros, mas admitiu na altura que a posição do Governo não podia ser essa. Em entrevista ao Público, Santana Lopes refere que “os países não se endividaram às escondidas da Europa” e, por isso, diz ser a favor de que a dívida superior a 60% seja mutualizada.

Isso não o impede de criticar muitas vezes a opção de Portugal entrar no euro. “A minha questão é o pecado original de Maastricht — a moeda única. Dar uma bicicleta pior a quem parte de trás e exigir-se que chegue ao mesmo tempo à meta. Disse isto em 2000, com esta mesma imagem da bicicleta”, argumentava. Criticou, assim, a “receita que levou a Europa à crise de hoje” e insiste num ponto a que volta recorrentemente: “Ninguém em Portugal fala do que é o nosso maior défice: a produtividade, que é o outro lado da moeda para ganharmos competitividade“.

As funções do Estado

O ex-Provedor da Santa Casa compreendeu o ajustamento feito ao Estado social nos últimos anos — “é preciso aligeirar o peso do Estado social, não há condições para sustentar o que tínhamos até aqui”, chegou a dizer –, mas continua a ser um defensor da presença do Estado no setor dos cuidados de saúde. “Sou um defensor muito mais acérrimo da presença do Estado na Saúde do que, por exemplo, na educação. Na Saúde o Estado tem de estar lá, não pode falhar”, disse. Por exemplo, em 2004, já enquanto primeiro-ministro, defendeu o pagamento de taxas moderadoras em função dos rendimentos.

Santana Lopes concorda com Passos Coelho na ideia de que o país viveu acima das suas possibilidades, muito por culpa do aumento dos salários e do endividamento excessivo. “Tínhamos poupado tanto, tanto, tanto se o país não endeusasse asneiras”, afirmou Santana, aproveitado por criticar em várias intervenções as Parcerias Público-Privadas e as scuts. Ainda assim, considera que “a carga fiscal é muito pesada nos portugueses”.

Para além da saúde, também é visível no discurso do agora candidato uma aposta na cultura. “Temos de apoiar a cultura, não podemos ter os artistas parados”, chegou a dizer.

Os militantes do PSD vão escolher o seu próximo presidente a 13 de janeiro em eleições diretas. O congresso acontece um mês depois em Lisboa.

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PSD saúda medidas do Governo e quer apresentar outras

  • ECO e Lusa
  • 22 Outubro 2017

Abreu Amorim afirmou que as medidas de remodelação do sistema de proteção contra incêndios são boas mas que ainda se pode ir mais longe, por exemplo na criação de um contingente militar especializado.

O PSD saudou este domingo as medidas apresentadas ontem à noite pelo Governo, mas defendeu que várias das medidas já tinham sido apresentadas anteriormente pelos social-democratas e admitiu ainda apresentar mais iniciativas a acrescentar a esta reforma. Numa conferência de imprensa este domingo, o deputado Carlos Abreu Amorim afirmou que o PSD estudará “com profundidade o desenho de todas as medidas” e acrescentará “algumas àquelas que o Governo apresentou ontem”.

O primeiro-ministro apresentou ontem à noite um pacote de medidas para reformar profundamente o sistema de proteção contra incêndios, além de medidas para indemnizar as famílias das vítimas mortais.

“O grupo parlamentar do PSD e o PSD gostariam de saudar o Governo pelas medidas que foram ontem [sábado] anunciadas de combate a estes flagelos que nos têm assaltado, que são os incêndios. O Governo tomou estas medidas e pode contar da parte do PSD com toda a colaboração necessária para que as mesmas sejam levadas a caso”, afirmou hoje, no Porto, Carlos Abreu Amorim.

Segundo o social-democrata, algumas das medidas anunciadas pelo Governo, que no sábado realizou um Conselho de Ministros extraordinário dedicado aos incêndios, são “extremamente positivas”, como por exemplo a criação de concursos públicos para a Autoridade Nacional da Proteção Civil. Contudo, outras, apresentadas pelo partido no parlamento, já poderiam já estar em prática se o PS não as tivesse chumbado.

“Obviamente que temos que lamentar que algumas dessas medidas tenham esperado quatro meses, designadamente a questão da indemnização às vítimas de Pedrógão e agora às vítimas dos incêndios que sucederam a Pedrógão”, disse.

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Casa não conta para IRS se mudar crédito de banco

  • ECO
  • 22 Outubro 2017

Para a Autoridade Tributária, a transferência de crédito para outra instituição representa a constituição de um novo contrato, que já não é abrangido pela dedução no IRS.

Mudar o crédito à habitação para outro banco faz com que deixe de se poder abater parte dos juros no IRS, segundo escreve este domingo o Dinheiro Vivo. Este desconto abrangia os empréstimos contraídos até ao final de 2011, mas se o crédito foi mudado para outro banco entretanto, para a Autoridade Tributária e Aduaneira “corresponde à celebração de novo contrato”, que deixa de estar abrangido.

A informação chegou como resposta à questão de um contribuinte, numa nota onde se lia: “A verificar-se, à data [presente], uma transferência do crédito à habitação para uma outra entidade bancária, o que mais não corresponde que à celebração de um novo contrato de crédito, não poderá o sujeito passivo beneficiar do disposto no artigo 78.º E [dedução de encargos com imóveis] do Código do IRS, uma vez que o mesmo ocorrerá em data posterior ao legalmente estabelecido para o efeito”.

Tem havido uma queda no número de famílias que, na sua declaração do IRS, indicaram despesas com a compra de casa — o DN relembra que em 2008 eram 1,1 milhões os agregados, já em 2015 eram 1,07 milhões.

Foi em 2012 que deixou de ser possível abater 30% dos encargos com o crédito para a compra de habitação permanente no IRS, como parte das medidas do programa da troika. O limite dedutível foi reduzido, e só parte dos juros passaram a poder ser abatidos. Também se especificou que só os contratos de crédito feitos até 2011 seriam abrangidos.

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PCP contra privatizar ou municipalizar Pinhal de Leiria

  • Lusa
  • 22 Outubro 2017

“O problema do Pinhal de Leiria não é o princípio da gestão pública pelo Estado, mas sim a carência de meios, para que essa gestão seja eficiente e de qualidade”, refere a estrutura local do PCP.

O PCP de Leiria manifestou-se hoje contra qualquer tentativa de privatização ou municipalização do Pinhal de Leiria e sugeriu a criação de uma comissão de acompanhamento da gestão daquela mata nacional. Num comunicado hoje divulgado, a direção da organização regional de Leiria do PCP manifesta a sua “total oposição a qualquer tentativa de privatização, direta ou indireta, da maior mata nacional”.

“O problema do Pinhal de Leiria não é o princípio da gestão pública pelo Estado, mas sim a carência de meios, para que essa gestão seja eficiente e de qualidade, e o progressivo desinvestimento”, refere a estrutura local do PCP, uma semana depois do incêndio que fustigou o Pinhal de Leiria. O partido mostra-se também contra qualquer solução de municipalização do Pinhal de Leiria, entendendo que isso pode abrir portas à desresponsabilização dos governos nacionais.

Contudo, o PCP considera que a gestão pública daquela mata nacional deve envolver “de forma mais direta as autarquias da região, bem como as populações”. Assim, os comunistas propõem a realização de um fórum para a proteção e recuperação do Pinhal de Leiria, que envolva o Governo, autarquias, partidos, associações de bombeiros e a população. É ainda sugerida a criação de uma comissão de acompanhamento da gestão e valorização da mata nacional de Leiria que envolva a câmara e juntas de freguesia da Marinha Grande.

Numa leitura mais nacional dos incêndios, o PCP de Leiria considera que são “consequência anunciada das políticas de sucessivos governos do PS, PSD e CDS de destruição de estruturas e meios de proteção da floresta”. A estrutura regional do PCP entende também que “o Governo não retirou todas as lições devidas da tragédia de Pedrogão Grande”.

Os comunistas exigem, assim, que o Orçamento do Estado para 2018 garanta o reforço efetivo de meios humanos e financeiros para a defesa da floresta, com a criação de 100 equipas de sapadores florestais e com a composição de um corpo de guardas florestais.

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Taxa liberatória de IRS a 10% deverá beneficiar trabalhadores-estudantes dependentes

É criada uma nova taxa liberatória, mas isso não se traduz em mais impostos. Os fiscalistas apontam para uma diminuição, ou manutenção, dos impostos sobre os salários dos jovens dependentes.

A alteração prevista na proposta do Orçamento do Estado para 2018 deverá beneficiar — ou pelo menos será neutra — os rendimentos dos estudantes trabalhadores, dependentes do seu agregado familiar, que passam a estar sujeitos a uma taxa liberatória de 10%, segundo os fiscalistas contactados pelo ECO.

Os estudantes que decidirem trabalhar e estudar simultaneamente vão começar a fazer uma retenção na fonte, a título definitivo, de 10% no âmbito do IRS. À primeira vista, esta medida dá a ideia de que existirá um agravamento fiscal, mas três fiscalistas contactados pelo ECO esclarecem que a alteração prevista tende a ser benéfica.

Até agora, os jovens eram obrigados a englobar os seus rendimentos no agregado familiar, ou seja, os rendimentos eram tributados à mesma taxa que os seus pais. Na melhor das hipóteses à taxa mínima de 14,5% — a não ser que o rendimento bruto total do agregado fosse inferior ao mínimo de existência, casos em que estaria isento de IRS. Agora passa a existir a opção de escolher uma taxa liberatória de 10% apenas para o rendimento do jovem, até ao limite de cerca de 2.100 euros, não havendo acertos posteriores. Ou seja, é um imposto definitivo sobre o rendimento, que depois não é declarado no IRS, o que será benéfico para a maior parte dos jovens dependentes.

O que diz a proposta do Orçamento do Estado para 2018?

“Estão sujeitos a retenção na fonte a título definitivo, à taxa de 10%, as importâncias auferidas ao abrigo do contrato de trabalho por estudante dependente matriculado no ensino secundário, no ensino pós-secundário não superior e no ensino superior, incluindo as auferidas por menor em espetáculo ou outra atividade de natureza cultural, durante as férias escolares, até ao limite anual de 5 vezes o IAS”, lê-se no documento entregue pelo Governo na passada sexta-feira na Assembleia da República.

Daqui retiram-se várias conclusões. A primeira é que são abrangidos por esta medida os jovens dependentes que estejam matriculados no secundário ou universidade, incluindo os menores que sejam artistas.

A segunda é que a taxa liberatória de 10% só se aplica até ao limite anual de cinco vezes o Indexante de Apoios Sociais (IAS). Caso a inflação e o PIB evoluam como o Executivo estima, o IAS poderá ser atualizado para um montante perto de 428 euros. A concretizar-se, o limite anual pode chegar aos 2.142 euros. Depreende-se da lei que o montante que exceda esse limite deverá ser tributado de acordo com os escalões de IRS — o ECO tentou confirmar esta interpretação junto do Ministério das Finanças, mas ainda não obteve resposta.

Acresce que os jovens continuam a poder optar por englobar os seus rendimentos para efeitos de tributação, caso queiram. Isto significa que num cenário em que seja prejudicial esta nova taxa liberatória, o agregado pode decidir por incluir o rendimento auferido pelos jovens na declaração de IRS dos pais, tal como faziam até agora. É o caso das famílias cujo rendimento total bruto (já incluindo o do jovem) continua a ser inferior ao mínimo de existência.

A explicação dos fiscalistas

Numa primeira análise, com base na proposta que se conhece, os fiscalistas contactados pelo ECO concordam que esta medida vai beneficiar os contribuintes. “A taxa mínima é de 14,5%, por isso em teoria a taxa de 10% é favorável”, refere Anabela Silva, fiscalista da EY. Uma tese corroborada por João Espanha, da Espanha e Associados: “À primeira vista, parece-me ser mais favorável do que o regime em vigor”. E ainda por Liliana Piedade, da PLMJ, que conclui que a alteração traduzir-se-á numa “tributação mais baixa” para estes jovens.

Ainda assim, Anabela Silva assinala que o efeito “pode ser imprevisível” dado que existem deduções à coleta. Na opinião de João Espanha era necessário que o rendimento bruto do agregado, já a contar com os rendimentos do jovem, fosse muito baixo — inferior ao mínimo de existência — para que a medida não fosse benéfica, dado que nesses casos o agregado não paga IRS de todo e, portanto, não há alteração à situação presente.

Mesmo nesse caso, como o contribuinte vai poder optar pelo englobamento, em última análise “nunca ficaria prejudicado”, prevê Anabela Silva. Para que isso aconteça é preciso que o jovem renuncie à taxa liberatória junto da entidade empregadora, esclarece João Espanha, optando pelo englobamento na declaração de IRS dos pais.

Por esclarecer está o modo como o remanescente do salário, após os 2.100 euros, será tributado. “A lei não é muito explícita”, considera Liliana Piedade, referindo que atualmente dá a entender que a restante remuneração será tributada através do englobamento e, por isso, aplicando as taxas de retenção na fonte e dos escalões de IRS do agregado.

As regras atuais ditam que é dependente o cidadão que tem menos de 25 anos e que não ganha mais do que o salário mínimo. Até agora, os pais tinham de declarar o dinheiro que os filhos ganham na declaração de IRS, pelo que esse rendimento era considerado como sendo dos pais para efeitos de IRS, logo tributado a uma taxa que varia consoante o escalão do agregado.

Esta alteração introduzida no OE2018 não poderá, no entanto, ser aproveitada pelos jovens cujo rendimento foi obtido fora de Portugal, segundo o fiscalista João Espanha.

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Costa anuncia reformas no combate aos incêndios. E a emoção?

  • Marta Santos Silva
  • 21 Outubro 2017

No final de dez horas de reunião, o primeiro-ministro apresentou novas medidas, lamentando: "Compreendo a revolta que muitos sentem. O tempo das instituições não é o tempo da vida de cada um de nós".

O primeiro-ministro António Costa apresentou este sábado, após o Conselho de Ministros extraordinário, as linhas gerais de uma reforma profunda da prevenção e combate de incêndios em Portugal, a responder às críticas feitas pelo relatório da Comissão Técnica Independente.

Ao longo do dia, outros ministros apresentaram várias medidas, cujo orçamento poderá chegar perto dos 400 milhões de euros, mas António Costa trouxe, já ao final da noite, a estrutura de uma reforma sistémica do sistema de prevenção e combate de fogos, que será implementada por uma comissão que responderá diretamente ao primeiro-ministro. Entre as alterações a fazer contam-se, por exemplo, uma institucionalização da Proteção Civil, que passará a ter dirigentes nomeados por concurso, e a especialização entre o combate aos fogos rurais e a proteção de povoações, que será separada entre GNR e bombeiros voluntários.

O primeiro-ministro, Antonio Costa, ladeado pelos ministros (E-D) da Agricultura, Capoulas Santos, da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, e da Administração Interna, Eduardo Cabrita, fala à imprensa sobre as novas medidas aprovadas no Conselho de Ministros extraordinário na residência oficial de São Bento em Lisboa.ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Na sua intervenção, transmitida pelas televisões a partir de São Bento, em Lisboa, assumiu: “Compreendo a revolta que muitos sentem. O tempo das instituições não é o tempo da vida de cada um de nós”. Sabendo que alguns criticam o Governo por ter sido lento a agir após os incêndios de Pedrógão Grande que em junho vitimaram 46 pessoas, António Costa afirmou: “A um Governo compete saber ponderar as conclusões e recomendações das comissões criadas na Assembleia da República para melhor poder decidir. Respeitámos esse tempo e agimos. Tomámos as decisões que importavam tomar. E agora da mesma forma iremos executar aquilo que hoje decidimos”.

E o que foi decidido hoje neste longo Conselho de Ministros? Pela manhã, a ministra da Justiça Francisca Van Dúnem apresentava o mecanismo extrajudicial criado para indemnizar as famílias das vítimas mortais dos incêndios de junho e outubro. Mais tarde, o ministro Pedro Marques, ladeado por Vieira da Silva e Capoulas Santos, apresentava quase 400 milhões de euros em medidas de resposta imediata para recuperar as zonas atingidas, incluindo créditos especiais para as empresas, medidas de apoio à manutenção do emprego, assim como de apoio à alimentação animal e proteção da venda da madeira acima de preços mínimos. Foi ainda anunciado que o Governo se tornou acionista do SIRESP, o sistema de comunicação de emergências que falhou várias vezes este verão e noutras ocasiões, e decidiu reforçar a sua rede.

Ao final da noite, António Costa surgia com uma reforma sistémica da proteção e combate aos incêndios, que responde ponto por ponto às recomendações feitas pela Comissão Técnica Independente da Assembleia da República. “Este Conselho de Ministros apreciou longamente o relatório”, afirmou António Costa, “e era claro para todos que nada podia ficar como antes, e que é necessário fazer uma reforma profunda mas sem roturas”. A reforma surge em três pontos principais:

  1. Aproximar a prevenção do combate. A prevenção dos incêndios deve ter uma estratégia delineada de forma próxima com a do combate aos fogos, de maneira a que ambas se complementem. Neste ponto, acrescentou o primeiro-ministro, “o Ministério da Agricultura tem de ganhar um novo papel”;
  2. O reforço do profissionalismo e da capacitação em todo o sistema. Para tal, existem várias medidas a tomar, incluindo um maior papel a ser dado ao apoio militar de emergência — desde logo, a Força Aérea vai passar a gerir os meios aéreos de combate aos incêndios, desde os seus contratos de compra até à sua utilização no terreno. Por outro lado, haverá uma expansão das companhias GIPS da GNR, “que ao longo de dez anos mostraram ser uma unidade altamente profissionalizada e capacitada”. E esta profissionalização chegará também aos bombeiros voluntários, que passarão a ser formados na escola de bombeiros, que será integrada como escola profissional. A Proteção Civil, por sua vez, será institucionalizada enquanto estrutura, passando os seus dirigentes a ser nomeados por concurso público.
  3. Criar uma maior ligação ao conhecimento. Será criada uma linha de apoio à investigação sobre a prevenção e combate de incêndios, e será reforçado o apoio aos institutos politécnicos, disse António Costa, acrescentando que, por exemplo, se pretende que haja uma maior especialização no combate aos fogos. Enquanto os bombeiros voluntários podem ser cada vez mais vocacionados “para a mais nobre missão de proteger as pessoas e as povoações”, recebendo treino mais concreto para tal, outros grupos como as companhias GIPS podem especializar-se mais no combate aos incêndios rurais.

O primeiro-ministro afirmou que foi ainda aprovada uma Estratégia Nacional de Proteção Civil Preventiva. A Proteção Civil, disse, “não é só para depois das calamidades. Tem de ser começada numa informação que é dada desde a escola até cada casa para todos estarmos melhor informados do que podemos fazer” em caso de emergência.

Questionado pelos jornalistas sobre as acusações de que o primeiro-ministro foi alvo de não ter mostrado emoção suficiente perante os incêndios que voltaram a devastar o país, António Costa respondeu de forma curta, admitindo ter errado. “Cada um de nós vive as emoções de um modo próprio, e quem é primeiro-ministro deve procurar distinguir as emoções que sente enquanto pessoa da forma como as exterioriza“, afirmou. “Lamento ter errado. Gostava muito mais que alguém tivesse dito que eu tinha abusado das minhas emoções”.

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