Centeno promete o maior corte estrutural no défice desde que é ministro. Como?

  • Margarida Peixoto
  • 15 Outubro 2017

A descida do IRS paga-se com o aumento de outros impostos e com os dividendos do Banco de Portugal. Os aumentos de despesas com prestações e salários compensam-se com outros cortes na despesa.

No Orçamento do Estado para 2018, o ministro das Finanças, Mário Centeno, promete a maior consolidação orçamental desde que é ministro: 0,5 pontos percentuais do PIB. Mas não promete só isso. Também promete baixar os impostos, subir as pensões, descongelar as progressões dos funcionários públicos, reativar o investimento. Onde é que está o gato?

Duas semanas antes da apresentação do Orçamento do Estado para o próximo ano, as medidas de reposição de rendimentos começaram a ser avançadas pelos partidos da esquerda que dão apoio parlamentar ao Executivo socialista. Mas para além das dúvidas sobre o desenho concreto das medidas — mais ou menos faseadas, mais ou menos abrangentes — houve uma interrogação que foi ficando no ar: como é que o Governo vai encaixar tudo no Orçamento e, ao mesmo tempo, respeitar as regras de Bruxelas?

O ECO foi procurar a resposta ao relatório do Orçamento do Estado. Encontrou algumas pistas, mas também ficaram interrogações por responder.

Primeiro o que é possível concluir. Olhando para as medidas de política orçamental — o tradicional quadro que, nos tempos da troika, era sinónimo do quadro das medidas de austeridade — obtém-se a forma como o ministro das Finanças jogou com as peças do Orçamento para construir o puzzle.

Desde logo, verifica-se que Centeno se compromete a consolidar o défice sobretudo pelo lado da despesa: de um esforço de 482 milhões de euros, 89% são poupanças, enquanto pouco mais de 10% correspondem a subidas de receita. Isto quer dizer que do lado da receita verifica-se sobretudo uma recomposição das fontes de coleta.

O que acontece à receita?

Por exemplo: a alteração dos escalões do IRS terá um impacto de 230 milhões de euros em 2018 (o restante impacto, de 155 milhões, só chegará em 2019, quando forem feitos os acertos e reembolsos de imposto). A esta perda de receita juntam-se 260 milhões de euros a menos por causa da eliminação da sobretaxa. São 490 milhões de euros de alívio fiscal só no IRS.

Mas esta perda de receita será compensada com os dividendos do Banco de Portugal (no valor de 500 milhões de euros, ou seja, 148 milhões de euros a mais do que no ano anterior). Há um acréscimo da receita de fundos estruturais na ordem dos 167 milhões de euros, mas este valor é mais do que compensado com a correspondente despesa (178 milhões de euros).

A isto somam-se 150 milhões de euros de coleta a mais em impostos especiais sobre o consumo, 30 milhões vindos do novo imposto sobre os alimentos com demasiado sal e 50 milhões de euros do “exercício de revisão da receita” — uma iniciativa do Governo para melhorar a coleta.

Resumindo, a carga fiscal desvia-se do IRS para os impostos indiretos e a perda de coleta que ainda faltaria compensar é paga pelos dividendos do banco central.

E do lado da despesa?

É aqui que a consolidação, grosso modo, acontecerá, promete Centeno. Primeiro vejamos o que implicará gastos acrescidos face a 2017:

  • O descongelamento de carreiras, em 211 milhões de euros;
  • A atualização extraordinária de pensões, em 154 milhões de euros;
  • Uma nova prestação social para a inclusão, em 79 milhões de euros;
  • E as alterações nas reformas para as carreiras longas, em 48 milhões de euros.

Nestas contas não faz sentido entrar com as despesas de fundos estruturais, cujo acréscimo está praticamente coberto, como já referido, pela receita de fundos estruturais.

Assim, há 492 milhões de euros adicionais que se justificam exclusivamente por medidas discricionárias do Governo. Ora, Centeno precisa de encontrar forma de mais do que compensá-las, porque só assim evita que o impacto da subida mecânica dos gastos públicos, garantida pela evolução das despesas com prestações de velhice e saúde.

As medidas que o ministro encontrou são:

  • Uma poupança de 307 milhões de euros em juros — esta é a maior fonte de economia no Orçamento do próximo ano;
  • O congelamento nominal do consumo intermédio, na ordem dos 300 milhões de euros. Será uma das medidas mais difíceis de concretizar: a sua execução é dispersa pelos vários serviços públicos e implica, na prática, reduzir gastos. O efeito natural da subida dos preços terá de ser compensado através de menor despesa para que esta poupança se concretize.
  • Exercício de revisão da despesa, com uma poupança de 287 milhões de euros. Esta é uma medida recorrente que costuma ser designada como “outras poupanças setoriais.” Desta vez, o Governo decidiu incluir maior detalhe, explicando num quadro quais são as medidas previstas, e em que setor. A maior parte (166 milhões de euros) é garantida pela Saúde, com destaque para as poupanças esperadas com a regularização de pagamentos em atraso e com o controlo acrescido.
  • Contenção de outra despesa corrente, com uma poupança associada de 180 milhões de euros.
  • Uma poupança discreta de 23 milhões de euros obtida com o controlo de efetivos da administração pública, através de uma regra suavizada de ‘3 por 2’ (três saídas por cada duas entradas).

Contas feitas, o Governo diz que vai poupar quase 1.100 milhões de euros no próximo ano.

E o corte no défice é estrutural?

No relatório da proposta de Orçamento o Governo diz que sim, mas não é claro como é que o cenário se concretiza. As medidas discricionárias de consolidação orçamental valem apenas 0,2% do PIB, o que à primeira vista parece contraditório com uma consolidação estrutural de 0,5% do PIB.

Mas pode haver outros contributos que não resultam de decisões diretas do Governo, mas que ajudam, ainda assim, a baixar os gastos estruturais. É o caso das despesas com juros: na medida em que resultem de pagamentos antecipados ao FMI ou de outras medidas de gestão da dívida, faz sentido que sejam identificadas no quadro de políticas orçamentais; mas se resultarem da descida dos juros cobrados à República, de acordo com a evolução dos mercados, não deverão ser inscritas nesse quadro e o ajustamento da evolução cíclica da economia pode não cobrir, na totalidade, este efeito. No documento, Centeno identifica uma redução do peso dos juros no PIB de 0,3 pontos percentuais.

Há ainda que somar um efeito negativo no saldo orçamental global de 0,2 pontos percentuais que diz respeito a “medidas pontuais.” Este impacto não conta na hora de apurar o saldo estrutural.

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Mais de mil operacionais no combate, três incêndios mobilizam mais meios

  • ECO e Lusa
  • 15 Outubro 2017

Os incêndios que mobilizam o maior número de meios são os que lavram nos concelhos de Monção (Viana do Castelo), Seia (Guarda) e Lousã (Coimbra).

Mais de mil operacionais combatem este domingo incêndios de grande dimensão no país, sendo os fogos nos distritos de Viana do Castelo, Guarda e Coimbra os que suscitam mais preocupação, segundo a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC).

Patrícia Gaspar, adjunta do comando nacional da ANPC, disse à agência Lusa que os incêndios que mobilizam o maior número de meios são os que lavram nos concelhos de Monção (Viana do Castelo), Seia (Guarda) e Lousã (Coimbra).

No caso do incêndio de Monção, que começou às 20h21 de sábado, Patrícia Gaspar adiantou que dois idosos foram retirados da localidade de Bela “por prevenção devido ao fumo” e duas casas foram afetadas pelas chamas em S. Paio e Velhas, sendo uma das habitações desabitada.

A mesma responsável afirmou que estão meios de socorro no local para garantir a proteção das habitações em cinco localidades do concelho de Monção, que está a ser combatido por 172 operacionais, 55 viaturas e dois meios aéreos.

Às 14:31 havia 233 ocorrências, combatidas por 3.502 operacionais, 1.055 viaturas e 12 meios aéreos. Este era o cenário, de acordo com a página da Proteção Civil:

Patrícia Gaspar disse que o incêndio que lavra no concelho da Lousã “está intenso e muito ativo”, tendo já sido retiradas pessoas das casas em Boque, Piares e Serpins, mas ainda não se registam evacuações em aldeias, que têm meios de socorro para proteger as populações. A vice-presidente da câmara de Monção disse, entretanto, à Lusa que este incêndio encontra-se “completamente descontrolado” e já “consumiu” várias casas.

O fogo em mato e pinhal que deflagrou às 6h03 de hoje no concelho de Seia é “de grande dimensão e tem quatro frentes ativas”, adiantou Patrícia Gaspar, sustentando que já foram retiradas pessoas das casas e estão meios de proteção em várias aldeias.

Cerca de 30 pessoas foram retiradas das suas casas por precaução em aldeias do concelho de Seia, onde lavra um incêndio florestal, disse o presidente da Câmara, Carlos Filipe Camelo, à agência Lusa. Patrícia Gaspar adiantou ainda que também no concelho da Guarda há outro incêndio de grande dimensão a lavrar, além dos fogos nos distritos de Viseu e Braga. A adjunta do comando nacional da ANPC disse ainda que desde as 00h00 de hoje registaram-se 129 incêndios florestais.

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Tem ideias para presentes, mas pouco talento? Talanti ajuda

  • ECO
  • 15 Outubro 2017

O projeto de Beatriz Cardoso possibilita a criação de presentes únicos em colaboração com artistas em 13 categorias, da dança à ilustração, passando pela olaria, poesia, vídeo, pop-art e decoração.

Na festa de aniversário de 40 anos de Rita, Pedro quis surpreender a mulher. Escreveu-lhe uma canção e, com o grupo Chá Dançante à guitarra, ofereceu-lhe um presente memorável. “A Rita adorou”, recorda Beatriz Cardoso, fundadora do Talanti, serviço de presentes artísticos personalizados que ajudou Pedro a organizar esta surpresa, em conversa com o ECO.

Com 20 artistas na carteira e pouco mais de cinco meses de existência, o Talanti pretende unir os que têm boas ideias para ofertas, mas não o talento para as tornar realidade, àqueles que o conseguem fazer. “Gosto de fazer pontes”, adianta Beatriz.

Cansada do mundo corporativo, a gestora de produto decidiu apostar na área criativa: por isso, os seus clientes fogem dos hábitos de consumo tradicionais com “produtos não imediatos”, únicos e “que exigem o seu envolvimento do primeiro ao último momento”. O Talanti disponibiliza a possibilidade de criação de presentes em 13 categorias, da banda desenhada à poesia, passando pela olaria e pela interpretação ao vivo de um história de vida, experiência que Rita escolhera, meses antes da serenata feita por Pedro, para marcar o 40ª aniversário do marido.

“O Talanti está presente sobretudo em momentos celebrativos e de agradecimento”, diz a fundadora, que realça a diversidade de ocasiões, pedidos e pessoas que já passaram pelo serviço. Os preços destas ofertas com cunho artístico e pessoal variam entre os 47€ (por uma tira de banda desenhada) e os 580€ (pela decoração de uma divisão da casa).

Pelo que exigem de quem os encomenda, os presentes do Talanti são sinónimo de dedicação, característica que serve de pilar ao serviço. “Em lituano, Talanti significa talento e quase que parece ‘para ti’, que é o nosso conceito base, esse de um alguém que dá a outro alguém”, acredita Beatriz. “Também a podemos ver como ‘ta’, dos que encomendam, ‘lan’, dos artistas, ‘ti’, dos que recebem”, acrescenta.

Para já, a prioridade é consolidar as categorias de presentes já conseguidas, até porque acumular novas poderia “confundir os clientes”. Embora oficialmente no mercado desde abril, só agora o serviço de Beatriz está a investir na sua divulgação e a receção, garante a fundadora, tem sido muito boa.

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Runnics acelera o passo para o mercado português

  • ECO
  • 15 Outubro 2017

A plataforma online de produtos de running pretende marcar presença junto dos corredores em Portugal. Além da venda de produtos, a Runnics pretende também apostar no aconselhamento dos clientes.

A plataforma de venda de produtos de running corre agora no mercado português. A Runnics, líder de marketplace especializado em running, fitness e moda desportiva chegou a Portugal. Para além do potencial para vendas, o CEO da empresa pretende apostar no aconselhamento junto dos clientes. A plataforma conta com o apoio da ex-atleta olímpica Carla Sacramento.

Num contexto em que a corrida urbana tem vindo a reunir cada vez mais adeptos, Eduardo Berrocal, CEO da Runnics, sublinha a importância de Portugal para a plataforma, considerando o mercado nacional “um mercado muito interessante”. A presença da empresa espanhola no país estende-se para além da venda de produtos desportivos. “Em Portugal a nossa estratégia de venda passa também pelas melhores recomendações, ajudando os atletas de qualquer nível a escolher o calçado que se adapta melhor às suas necessidades”, afirma.

Neste sentido, a Runnics conta o apoio da ex-atleta Carla Sacramento para adequar a oferta ao comprador. A atleta campeã mundial por Portugal refere que a sua função passa agora por “ajudar a criar conteúdos para os atletas e responder a dúvidas sobre o running, oferecendo conselhos e experiências como atleta de elite”.

A Runnics foi lançada em Espanha em agosto, e no espaço de um mês conseguiu um crescimento de 20% e previsões de vendas para o próximo ano acima dos cinco mil milhões de euros. Até ao final de 2018, a empresa de Berrocal deverá expandir-se para outros países na Europa. Já este ano, a plataforma foi considerada a melhor de marketplace em Espanha, tendo sido reconhecida com o prémio eAwards Barcelona.

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Boeing e Nissan usaram cobre e alumínio menos resistentes

  • ECO
  • 15 Outubro 2017

Boeing, Nissan, Toyota e Subaru são algumas das empresas que compraram produtos de alumínio e cobre com certificados de inspeção falsificados. Não há riscos de segurança ainda assinalados.

A confiança na qualidade do “made in Japan” anda pelas ruas da amargura. Depois de, no domingo, ter confessado ter fornecido informações falsas sobre a resistência e durabilidade de alguns dos seus produtos de alumínio e cobre, a Kobe Steel admite que é provável que mais casos de falsificação deste género sejam divulgados, durante o curso da investigação. Mais de duas centenas de empresas, incluindo a Boeing, Nissan, Toyota e Subaru, poderão ter sido afetadas.

Os produtos, cujos dados técnicos foram alterados, acabaram por ser usados por carros, comboios, aviões e até eletrodomésticos, como LCDs. Os certificados de inspeção da Kobe Steel foram “reescritos de forma inapropriada e enviados como se cumprissem as especificações”, sublinhou a empresa. Esta quarta-feira, o terceiro maior fabricante de aço do Japão confirmou ainda que também os dados sobre o pó de ferro foram falsificados.

No último ano, a manipulação dos dados técnicos afetou 19.300 toneladas de produtos de alumínio laminado, 19.400 toneladas de peças de alumínio forjado e fundido e 2.200 toneladas de produtos de cobre. Com o inflamar deste escândalo, a empresa continua a derrapar no mercado de ações. Os títulos da Kobe Steel já recuaram 18%. A fabricante tem agora um valor de mercado 1,6 mil milhões de dólares (pouco mais de 1,3 milhões de euros), inferior ao anteriormente registado, reporta a Bloomberg.

De acordo com uma estimativa da unidade japonesa da JP Morgan, a substituição dos produtos de alumínio e cobre afetados pelo escândalo deverá custar à Kobe Steel 15 mil milhões de dólares (12,7 mil milhões de euros), mas o dano geral (em termos legais e de reputação) deverá ser bem superior.

Até agora, segundo o Financial Times, nenhum perigo foi assinalado. Os clientes da Kobe Steel estão a conduzir investigações internas para averiguar esse risco.

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Teodora Cardoso não acredita que Centeno trave gastos do Estado

O Conselho das Finanças Públicas duvida que o consumo público diminua 0,6% do PIB no próximo ano. Ainda assim, o parecer classificou de "plausível" e "razoável" a proposta do OE2018.

Apesar de considerar que a proposta do OE2018 é “razoável” e “plausível”, o Conselho das Finanças Públicas alerta que o consumo público deverá derrapar no próximo ano face ao que o ministro das Finanças estima. A entidade liderada por Teodora Cardoso tem dúvidas sobre a eficácia dos esforços de revisão de despesa, da centralização de compras nas administrações públicas e na regra de redução de pessoal (saem 3, entram 2).

O consumo público aumentou 0,6% em 2016, contribuindo de forma positiva para o crescimento económico. Contudo, já no corrente ano, o Governo espera que os gastos do Estado sofram uma contração de 0,2%. Mas para o próximo ano Mário Centeno é mais ambicioso: prevê uma descida de 0,6%, o que ainda assim é uma revisão em baixa face ao estimado no Programa de Estabilidade de abril (1%).

Confrontado com estas previsões, o Conselho das Finanças Públicas expõe a sua desconfiança no parecer à proposta do Orçamento: “A revisão da taxa de variação do consumo público em volume para 2017 face ao valor inicialmente projetado no PE/2017-2021 (-1,0%) exemplifica os riscos inerentes a estas previsões, não sendo de excluir que a redução do consumo público em volume, em 2018, se venha a revelar inferior a 0,6%, podendo mesmo registar algum aumento“.

Ou seja, a entidade liderada por Teodora Cardoso prevê exatamente o contrário. No relatório “Finanças Públicas: Situação e Condicionantes 2017-2021” o CFP previa que o consumo público subisse 0,7% em 2017 e uma variação nula em 2018. Contudo, depois de analisar a proposta do Orçamento do Estado para 2018, o Conselho inclina-se mais para um aumento dos gastos do Estado.

O consumo público é uma das componentes do PIB, dentro da procura interna, que incorpora as despesas do Estado. Estão incluídos os gastos com a educação, saúde, defesa nacional, justiça, infraestruturas, salários ou pensões. Contudo, não contam os investimentos ou as transferências sociais efetuadas pelo Estado. O CFP sintetiza o conceito: “O consumo público corresponde à despesa efetuada pelas Administrações Públicas na produção ou aquisição de bens e serviços para consumo coletivo ou individual”.

Na proposta de Orçamento, o ministro das Finanças prevê que, no total, o exercício de revisão da despesa corte 287 milhões de euros aos gastos do Estado. Já a nova regra de “3 por 2” — no OE2017 a regra era de duas saída, uma entrada — dá uma poupança de 23 milhões de euros. Acresce ainda um “congelamento nominal do consumo intermédio” avaliado em 300 milhões de euros e a contenção de outra despesa corrente em 180 milhões de euros. Ao todo, são quase 800 milhões de euros de cortes.

Por outro lado, existem várias medidas que vão agravar os gastos do Estado. A que mais pesa em 2018 é a eliminação definitiva da sobretaxa do IRS (260 milhões de euros), seguida das alterações nos escalões do IRS (230 milhões de euros), o descongelamento gradual de carreiras (211 milhões de euros) e a atualização extraordinária das pensões (154 milhões de euros). Ao todo são mais 855 milhões de euros em gastos para o Estado.

Contudo, o Governo prevê que o peso da despesa pública no PIB diminua. O Orçamento do próximo ano “reduz o peso da despesa pública no PIB, de 44,8% em 2017 para 44,5% em 2018”, garante o Executivo.

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Empresas portuguesas condenadas a indemnizar trabalhadores na Irlanda cria precedente

  • Lusa
  • 15 Outubro 2017

O caso de três empresas portuguesas condenadas na Irlanda por pagarem salários abaixo do contratado e descontarem por alojamento e lavandaria é um precedente que desencoraja situações semelhantes.

“Depois de este julgamento estar confirmado e registado, vai ter implicações para outras empresas porque não será preciso ir a julgamento, estabelece um precedente judicial”, disse Maria Manuela Silva, presidente da Associação Portuguesa da Irlanda, à agência Lusa.

O Tribunal de Recurso confirmou a 4 de outubro a sentença do Tribunal Superior [High Court] de março de 2016, quando as empresas Amândio Carvalho SA, Rosas Construtores SA e Gabriel Couto SA, que formavam o consórcio Rac Eire Partnership para uma autoestrada na Irlanda entre 2007 e 2009, condenadas a pagar cerca de 1,2 milhões de euros a um grupo de 27 de trabalhadores portugueses.

Estes tinham-se queixado que as empresas não registavam todas as horas que trabalhavam e que o valor estava abaixo do previamente acordado, além de descontarem automaticamente um serviço de lavandaria e para alojamento que os trabalhadores consideravam inadequado.

A sentença determinou na altura o pagamento de indemnizações, adicionando juros, mas as empresas recorreram por discordar da taxa de juro determinada de 8%, e da obrigação de devolver o custo com alojamento, alegando que estas eram funcionais e tinham um investimento associado.

Na semana passada, um coletivo de três juízes reiteraram que o valor dos juros, cuja taxa de referência oficial baixou em janeiro desde ano para 2%, deveria manter-se por ser aquela aplicável em 2016.

O mesmo tribunal admitiu que as empresas poderão recorrer da parcela relacionada com o alojamento, mas que terão de indemnizar os trabalhadores pelas condições em tiveram de viver durante dois anos.

A acomodação, feita de estruturas pré-fabricadas temporárias, foi descrita como estando sobrelotada e com problemas em termos sanitários.

Na sentença de 4 de outubro, o juiz Gerard Hogan comenta que as situações em causa se assemelham às condições de trabalho precárias impostas durante a Revolução Industrial.

“As questões apresentadas neste recurso têm laivos notoriamente vitorianos e o substrato factual do caso – alegações de deduções ilegais feitas por empregadores de trabalhadores estrangeiros e em geral de baixa educação – seriam familiares aos juízes do final do século XIX”, comenta.

Maria Manuela Silva acompanhou todo o processo nesta última década e recorda as condições precárias de alojamento em que encontrou os trabalhadores portugueses, com esgotos a céu aberto. “O cheiro? Nunca tinha visto, nem em filmes!” – deplorou.

Até agora, as empresas têm protelado o pagamento das indemnizações devido aos recursos consecutivos, mas o próximo julgamento deverá ser o epílogo desta longa batalha judicial. Para já, o resultado é que não há construtoras portuguesas a operar na Irlanda e empresas estrangeiras que ganhem um contrato serão mais cautelosas.

Contratos como este, com valor acordado no país e depois outro aqui, sem entregar cópia na língua nativa, não acredito que existam. Com descontos para lavandaria e alojamento não tenho conhecimento de situações iguais”, garantiu.

A próxima luta, vincou, será a de garantir que os advogados Tom O’Regan & Co e David McGrath, que trabalharam sem cobrar aos trabalhadores, sejam compensados pelo seu trabalho, o que deverá ser garantido pelo pagamento das custas judiciais atribuído às empresas portuguesas.

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Não há viabilidade para aumento do salário mínimo para 600 euros em 2018

  • Lusa
  • 15 Outubro 2017

Correia de Campos critica o Governo por não ter avançado ainda com uma verdadeira reforma da Administração Publica, nomeadamente quanto à ausência de formação ao nível dos quadros técnicos do Estado.

O presidente do Conselho Económico e Social (CES) considerou que não há viabilidade política para aumentar o salário mínimo para 600 euros em 2018 e defendeu que o Governo devia ter proposto um escalonamento nas carreiras da saúde.

Numa entrevista conjunta à Antena 1/Jornal de Negócios, que será publicada na terça-feira, António Correia de Campos considerou que “do ponto de vista político” o aumento do salário mínimo nacional para 600 euros em 2018, conforme insistem PCP, PEV E PAN, “não tem grande viabilidade”, uma vez que “há o compromisso de chegar a essa meta, mas só no final da legislatura”.

Após a entrega da proposta de Orçamento do Estado para 2018 (OE2018), o antigo ministro da Saúde salientou que apesar da aceleração do crescimento económico este ano está previsto um abrandamento no próximo ano e, por isso, recomenda ao Governo “um pouco mais de cabeça fria”.

Nesse sentido, o presidente do CES considera que “devia ter havido alguma reflexão e alguma estratégia no escalonamento das chamadas reversões em relação aos profissionais na saúde”, com pactos sólidos e rigorosos.

Correia de Campos criticou ainda o Governo por não ter avançado ainda com uma verdadeira reforma da Administração Publica, nomeadamente quanto à ausência de formação ao nível dos quadros técnicos do Estado.

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Fim do 2 por 1. Nova regra de contratação no Estado passa a ser 3 por 2

  • Marta Santos Silva
  • 15 Outubro 2017

Sobre a política do anterior Executivo, o Governo escreve que "as ilusórias poupanças impostas à força nessa época acabaram por gerar ineficiências e custos maiores". Agora vêm aí mais contratações.

A regra que existe, por vezes escrita por vezes apenas subentendida, há quase uma década na contratação da Administração Pública de apenas contratar um trabalhador por cada dois que saiam dos quadros — embora essa nunca tenha sido aplicada com todo o rigor — foi deixada cair pelo Governo. No relatório do Orçamento do Estado para 2018 entregue pelo Governo ao Parlamento, lê-se que em 2018 a regra passa a ser “três por dois” — duas entradas nos quadros por cada três saídas.

É no Quadro II.2.2., que detalha as medidas de política orçamental comparando as de 2017 com as de 2018, que se lê: “Emprego Público – 2017: Regra 2 por 1; 2018: 3 por 2“. No parágrafo anterior, lê-se o que poderá explicar esta mudança na política de contratação para o setor público. O objetivo poderá ser “garantir a provisão de serviços públicos universais e de qualidade”.

A lei, que data pelo menos de 2010, era na altura secretário de Estado da Administração Pública Gonçalo Castilho dos Santos, significava que todos os setores da Administração Pública teriam de se sujeitar a admitir apenas um novo funcionário por cada dois que saíssem dos quadros. No entanto, como revelou no início do ano o Expresso, a regra de uma entrada por cada duas saídas nunca chegou a ser totalmente cumprida. Mesmo nos anos de maior emagrecimento, o melhor valor conseguido pelo Governo de Pedro Passos Coelho foi de 1,6 entradas por cada duas saídas.

Com António Costa, porém, a tendência de emagrecimento inverteu-se e imediatamente a Função Pública começou a acolher mais novos trabalhadores do que os que partiam. No relatório do Orçamento do Estado, o Governo atual critica “os níveis de desinvestimento em recursos humanos e nos serviços registados no passado recente”, considerando: “As ilusórias poupanças impostas à força nessa época acabaram por gerar ineficiências e custos maiores para o Estado, para as famílias e para as empresas”.

“No quadro de uma gestão criteriosa, que respeita os recursos públicos, o Governo tomou a opção clara de reforçar a aposta em recursos humanos e em equipamentos nas áreas da Educação, da Ciência e da Saúde, aposta essa que prosseguirá em 2018″, lê-se ainda no relatório. Observando a Administração Pública como um todo, o Orçamento do Estado de 2018 iniciará o processo de descongelamento de carreiras e “reforçará práticas de gestão rigorosa e de motivação”. Reforçar-se-á, assim, o “vínculo de confiança entre os cidadãos e a Administração Pública, contribuindo esta de forma decisiva para o desenvolvimento de Portugal”.

No setor da saúde, por exemplo, o Governo reforçou o número de profissionais. “Em julho de 2017, o Serviço Nacional de Saúde contava com mais 5.799 novos profissionais do que em dezembro de 2015, entre os quais se contavam mais 2.180 médicos (inclui internos), mais 2.391 enfermeiros e mais 277 técnicos de diagnóstico e de terapêutica”, lê-se no relatório. Um esforço de contratação que se prevê ser para continuar.

Do ponto de vista orçamental, esta nova regra não se traduz por um aumento muito significativo das despesas com pessoal. De acordo com a proposta do Orçamento do Estado, o Governo inscreveu mais 71 milhões nesta rubrica, o que compara com o agravamento de 528 milhões registado em 2017. Uma subida que se justifica pelo facto de ser o primeiro ano em que os funcionários públicos receberam o ano completo sem qualquer corte salarial e o primeiro ano completo no qual a Função Pública passou a trabalhar 35 horas, acrescido ainda do efeito da eliminação gradual da sobretaxa. Assim, à estimativa de previsão de despesas com pessoal de 21.409 milhões de euros em 2017, o Governo acresce mais 0,3% — 21.480 euros.

Já em percentagem do PIB, tanto em 2017, como em 2018, há uma redução das despesas com pessoal em percentagem do PIB, o que ajuda, em 0,4 pontos percentuais, a consolidação orçamental no próximo ano. “A evolução das despesas com pessoal contribuirá em 0,4 p.p. do PIB para a consolidação orçamental, não obstante o descongelamento de carreiras na Função Pública”, sublinha o relatório do Orçamento do Estado.

Notícia atualizada

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Contratos a prazo e TSU: é desta que há alterações?

  • Cristina Oliveira da Silva
  • 14 Outubro 2017

Governo quer alcançar um acordo com os parceiros sociais que inclua a limitação dos contratos a prazo, a diferenciação da TSU consoante o tipo de vínculo e o fim do banco de horas individual.

Era prioridade em 2016, voltou a ser em 2017 e está previsto novamente para 2018. O Governo quer limitar a contratação a termo, retirando da lei a norma que prevê que os jovens à procura de primeiro emprego ou desempregados de longa duração possam, só por isso, ser recrutados a prazo. Mas há outras medidas neste âmbito.

O objetivo do Governo é conseguir um acordo tripartido em concertação social, com medidas para combater a segmentação do mercado de trabalho e promover a negociação coletiva, diz o relatório do Orçamento do Estado.

“As propostas do Governo nestas matérias incluem, designadamente, a limitação do regime de contrato a termo, no sentido de aumentar os níveis de contratação com base em contratos permanentes, nomeadamente revogando a norma do Código do Trabalho que prevê como motivo justificativo para a contratação a termo a contratação de trabalhador à procura do primeiro emprego e de desempregados de longa duração, a diferenciação da taxa contributiva a cargo das entidades empregadoras em função da modalidade de contrato de trabalho e a revogação do banco de horas individual, remetendo o banco de horas para a esfera da negociação coletiva ou para acordos de grupo, onde deve estar a regulação da organização do tempo de trabalho”, adianta o relatório.

A limitação dos contratos a prazo já tinha sido assumida como prioridade antes. A diferenciação da TSU em função do tipo de contrato também tem vindo a ser falada ao longo da legislatura e foi referida logo em 2016 como um dos objetivos do Governo. A medida até está prevista no Código Contributivo — que admite um aumento, em três pontos percentuais, da taxa contributiva a cargo do empregador quando estão em causa contratos a prazo (excluindo situações específicas) e, em contrapartida, define uma descida dos descontos, em um ponto, no caso de contratos permanentes. Mas como nunca foi regulamentada, nunca chegou ao terreno. Porém, o ministro Vieira da Silva tem vindo a dizer que é preciso revisitar a norma.

O fim do banco de horas individual — introduzido no Governo de Passos Coelho — é, por seu turno, uma promessa do programa de Governo, que tem a vindo a ser recordada pela esquerda.

Reformas a tempo parcial

A medida Contrato-Geração também volta a ser abordada. Em causa está um apoio à contratação de jovens e desempregados, conciliado com a reforma a tempo parcial de trabalhadores mais velhos. “Além de um apoio financeiro por cada contrato de trabalho celebrado, a entidade empregadora terá direito à dispensa parcial ou isenção total do pagamento de contribuições para o regime geral de segurança social, na parte relativa à entidade empregadora”, explica o relatório.

O Governo também quer avaliar as medidas de apoio à criação de projetos empresariais e do próprio emprego do Instituto do Emprego e Formação Profissional. E promete reavaliar os Contratos Emprego-Inserção.

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Segurança Social deixa de receber transferência extraordinária

  • Cristina Oliveira da Silva
  • 14 Outubro 2017

O Fundo de Estabilização Financeira vai receber 120 milhões de euros provenientes do Adicional ao IMI e do IRC. Ainda assim, o pé-de-meia deverá entrar em rutura em meados de 2040.

A Segurança Social não vai receber em 2018 qualquer transferência extraordinária do Orçamento do Estado, ao contrário do que tinha vindo a acontecer desde 2012. Este ano, ainda recebeu 429,6 milhões de euros.

“No Sistema Previdencial da Segurança Social registar-se-á em 2018 a eliminação da transferência extraordinária do Orçamento do Estado, o que traduz a consolidação da expectativa de recuperação financeira do sistema, fruto sobretudo da melhoria esperada do contexto macroeconómico”, explica o relatório do Orçamento do Estado. O PIB deverá crescer 2,2% e a taxa de desemprego poderá recuar para 8,6%.

De acordo com os números apresentados pelo Executivo, a Segurança Social conta chegar ao final do ano com um saldo global positivo de 973,6 milhões de euros. No entanto, as receitas correntes deverão aumentar 3,6% (só a nível de contribuições avança 5,6%) enquanto as despesas correntes sobem quase 6%.

Do lado das despesas, as pensões de velhice continuam a ser a parcela mais pesada. Em 2018, o gasto deverá aumentar 807 milhões de euros. Isto contando, entre outras medidas, com a atualização das pensões — a maioria deverá crescer acima da inflação e todas serão aumentadas –, e com o aumento extra de agosto. Por outro lado, os gastos com subsídio de desemprego devem cair em 58,9 milhões de euros, para 1,3 mil milhões.

Fim do corte no subsídio de desemprego pode entrar na especialidade

Os subsídios de desemprego de valor mais baixo já estão protegidos do corte de 10% mas os partidos que apoiam o Governo têm pedido a eliminação total desta redução que afeta as prestações ao fim de seis meses.

A medida não está contemplada na proposta de lei do OE mas, ao que o ECO apurou, deverá passar na especialidade. Se assim for, os subsídios de desemprego, independentemente do seu valor, deixarão de ser afetados pela redução de 10% que hoje se aplica ao fim de seis meses de pagamento.

RSI e abono vão aumentar

O Governo promete continuar a aumentar o abono de família atribuído a crianças entre os 12 e os 36 meses, “com vista a uma convergência gradual com o montante que é atribuído no primeiro ano de vida”.

O Rendimento Social de Inserção (RSI) também vai ser reforçado. O Governo repõe mais 25% dos cortes operados pelo Governo anterior. Quer isto dizer que, em 2018, já estará reposta 75% da redução.

FEFSS recebe 50 milhões de AIMI e 70 milhões de IRC

O Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) vai receber 120 milhões de euros do Orçamento do Estado. Este valor contempla 50 milhões de euros provenientes do Adicional ao IMI (AIMI) e 70 milhões respeitantes a receita de IRC consignada. Este é já o segundo ano consecutivo em que o FEFSS beneficia de verbas provenientes do AIMI mas a consignação de receita de IRC é novidade.

O FEFSS é uma espécie de pé-de-meia destinado a pagar pensões caso o sistema previdencial entre em rutura. De acordo com o Relatório sobre a Sustentabilidade Financeira da Segurança Social, “continuam-se a esperar os primeiros saldos negativos do sistema previdencial a partir de meados da década de 2020, podendo superar 1% do PIB entre finais da década de 2030 e inícios da década de 2050, para estabilizar em cerca de 0,5% do PIB em 2060″.

Quer isto dizer que o FEFSS será acionado em meados da década de 2020, “projetando-se para a segunda metade da década de 2040 o seu esgotamento”. Isto assumindo uma rentabilidade de 4,2% para o Fundo, e tendo já em conta as transferências a título de AIMI e de IRC bem como dos saldos do sistema previdencial

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O Governo vai cumprir as metas de Bruxelas? Quase

  • Margarida Peixoto
  • 14 Outubro 2017

O ministro das Finanças já está a contar com a margem de benevolência da Comissão, tendo em conta o ciclo económico que Portugal atravessa. Centeno promete uma décima a menos do exigido.

Mário Centeno, ministro das Finanças, apresentou um Orçamento que está quase conforme ditam as regras da Comissão Europeia.Paula Nunes 14 Outubro, 2017

O Orçamento do Estado para 2018 diz aos portugueses que o IRS vai cair e que as pensões vão crescer. Mas o que diz a Bruxelas? Mário Centeno compromete-se com uma meta orçamental que fica uma décima aquém do rigor exigido pelas regras comunitárias.

Com a saída do Procedimento por Défice Excessivoporque Portugal colocou o défice abaixo do limiar de 3% do PIB em 2016 — as regras orçamentais de Bruxelas deixaram de se referir apenas ao saldo global. O que está agora em causa é melhorar o saldo orçamental em termos estruturais, ou seja, excluindo o impacto tanto de medidas extraordinárias, como do próprio ciclo económico.

É na página 31 do relatório do OE2018 que Centeno começa a responder à primeira questão: Vai cumprir as regras de Bruxelas? Quase.

Correção estrutural de 0,5% do PIB potencial

Fonte: OE2018

De acordo com as recomendações da Comissão para Portugal no âmbito do Semestre Europeu, a correção estrutural do défice deveria ser de 0,6 pontos percentuais — uma décima acima do compromisso assumido por Centeno.

Mas foi a própria Comissão que disse de antemão, logo em maio, que tem a intenção de “fazer uso da margem de apreciação aplicável à luz da atual situação cíclica portuguesa”. Traduzindo, quer dizer que Bruxelas vai ter benevolência na apreciação do esforço português, para garantir que o ajustamento orçamental não compromete a recuperação económica.

Centeno não deixou passar a deixa. Referindo-se à avaliação do exercício orçamental de 2016, o documento frisa que “o erro nas previsões orçamentais é um fator que deve ser tido em conta na margem discricionária que a Comissão utiliza quando avalia os projetos orçamentais dos Estados-membros”.

Para 2017, o ajustamento estrutural previsto é de 0,2 pontos percentuais — são 0,4 pontos a menos do exigido pela regra, mas uma diferença que fica aquém do que é considerado um desvio significativo aos olhos de Bruxelas. Para 2018 essa diferença é ainda mais curta face à meta (0,1 pontos). O Governo parece estar já a contar com a “margem discricionária.”

Além disso, faltará confirmar se a metodologia utilizada pelo Executivo para os cálculos é idêntica à da Comissão. No passado, Centeno já optou por seguir outro método e juntou-se a outros Estados-membros para colocar em causa a regra vigente. Essa discussão pode ser recordada aqui.

Há ainda outra regra que diz respeito ao ritmo de crescimento da despesa líquida primária. A Comissão recomendou a Portugal que esta despesa — que corresponde à despesa pública excluindo juros, despesa com programas totalmente cobertos por fundos europeus e alterações nos gastos com subsídios de desemprego que não decorram de mudanças nos critérios — não suba mais de 0,1% do PIB. O relatório não diz se esta regra será cumprida.

O documento deixa apenas projeções sobre a evolução das despesas e das receitas estruturais, e da despesa primária estrutural.

Como evoluem receitas e despesas?

Fonte: OE2018

Com esta evolução dos indicadores de despesas e receitas, Centeno projeta um saldo primário estrutural cada vez mais positivo. “Em 2016 o saldo primário de 2,2% do PIB colocou Portugal entre os países que registaram melhor resultado neste indicador, e prevê-se que assim continue em 2017 e 2018,” lê-se no documento. O gráfico em baixo mostra a evolução para este indicador.

Como evolui o saldo primário estrutural?

Fonte: OE2018

Por fim, a melhoria dos indicadores orçamentais permitirá, promete o Governo, reduzir a dívida pública para valores mais próximos dos 120% do PIB, que é considerado um patamar de referência a partir do qual os riscos de insustentabilidade são significativos.

"Estamos melhor, não estamos a salvo de tudo e portanto temos de continuar porque obviamente antecipamos que o ciclo de taxas de juro baixas possa vir a inverter-se um destes dias.”

Mário Centeno

Ministro das Finanças

Como evolui a dívida pública?

Fonte: OE2018

Contudo, este sábado, em entrevista à Antena 1, o ministro das Finanças reconheceu que a necessidade continuar a baixar o défice ainda se mantém. “Estamos melhor, não estamos a salvo de tudo e, portanto, temos de continuar porque obviamente antecipamos que o ciclo de taxas de juro baixas possa vir a inverter-se um destes dias,” admitiu Mário Centeno.

É por isso que é preciso “garantir que os indicadores financeiros do Estado, que é o agente mais relevante para estas matérias, estejam sintonizados com estas exigências,” argumentou o ministro. “E portanto quando projetamos um défice orçamental de 1%, e de 0,5% para o final da legislatura é evidente que o país hoje está muito melhor preparado para flutuações cíclicas normais,” rematou.

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