Robôs que se montam sozinhos, drones que desaparecem e o Wi-Fi que lhe mede o pulso. Futuro chega já este ano
Entregas com drones que desvanecem no ar. Carros que comunicam com outros carros. Mundos virtuais, mas bem reais. Robôs que se montam sozinhos. Estas são algumas das tendências tecnológicas para 2018.
As dinâmicas do mundo e da sociedade operam a grande ritmo e é cada vez mais rápida a evolução tecnológica a que estamos a assistir. E num mundo em constante mudança, quem não se adapta, desaparece ou morre. Por isso, é importante ouvir os ecos do futuro — partículas de informação, quase impercetíveis, que permitem às pessoas e empresas anteciparem detalhes de como vai ser o futuro que estamos a construir.
Todos os anos, o Future Today Institute, criado pela futurista e autora norte-americana Amy Webb, publica um “Relatório de Tendências Tecnológicas”. Não é um daqueles documentos repletos de promessas de um futuro maravilhoso. É uma análise robusta de centenas de tecnologias e tendências a que todos devem estar atentos, um trabalho desenvolvido há já mais de uma década e que, a cada ano, ganha mais reputação.
A edição deste ano surgiu um pouco mais tarde do que o normal mas, certamente, vai ser leitura de secretária de muitos gestores de empresas e líderes mundiais ao longo das próximas semanas. Ao longo das próximas linhas, falaremos de algumas tendências reveladas no relatório de 2018, que foi apresentado este domingo. Este artigo abordará algumas tendências tecnológicas num panorama mais geral.
O ano passado mostrou ser um drama sem descanso e 2018 promete ser mais do mesmo. Prepare-se, porque é provável que vá testemunhar vários acontecimentos que parecem não acompanhar as normais narrativas políticas, tecnológicas ou empresariais.
Interruptores remotos
A tecnologia está cada vez mais imersiva. No “Relatório de Tendências Tecnológicas” deste ano, um dos tópicos abordados são os jogos imersivos que recorrem a óculos de realidade virtual, luvas sensoriais, entre outros aparelhos que espelham num computador os nossos movimentos e emoções do mundo real. Alguns dos maiores estúdios de jogos estão a preparar novas experiências virtuais: jogos 100% imersivos que podem ser jogados por milhões de pessoas ao mesmo tempo. Em última instância, um destes jogos poderá tornar-se mesmo numa espécie de realidade paralela, virtual. Uma segunda vida para os mais viciados, que poderão passar mais tempo nesse universo paralelo do que na própria realidade. (Leia o livro Ready Player One, ou veja o filme que vai sair este ano, para ter uma ideia do que aí vem.)
É aqui que entram os interruptores remotos. Imagine que está na sua sala, totalmente embrenhado, ou embrenhada, numa realidade virtual, e que começa um incêndio na cozinha. Como a imersão é completa, não vai conseguir aperceber-se do perigo que corre no mundo real. Por isso, já estão a ser desenvolvidas formas de desligar essa imersão automaticamente em caso de perigo, uma tecnologia que pode ser vista como uma espécie de alarme inteligente.
Amy Webb conta até uma história para explicar a importância desta tendência. No início deste ano, em Las Vegas, durante uma das maiores feiras de tecnologia do mundo, houve uma falha de energia, mas muitos dos espaços da feira tinham baterias para continuarem a funcionar em caso de apagão. Ora, quando se deu a quebra de energia, uma parte significativa dos visitantes da feira estavam imersos em simuladores, realidades paralelas, cápsulas de relaxamento e por aí em diante. E muitas dessas pessoas nem sequer se aperceberam da confusão que se estava a instalar no centro de exposições. Um interruptor remoto, que desligasse a imersão em caso de perigo, evitaria este tipo de situações que podem ser perigosas.
As possibilidades destes interruptores remotos vão ainda mais além da realidade virtual. Não há muito tempo, descobriu-se que a Uber tinha desenvolvido um software inteligente que permitia desativar e bloquear todos os sistemas informáticos da empresa, na sede e noutros locais, caso fosse alvo de uma rusga por parte das autoridades. A Apple e a Google também já permitem aos proprietários de smartphones bloquearem ou apagarem toda a informação nos seus telemóveis em caso de roubo ou perda.
Rastreamento por Wi-Fi
Segundo o relatório da futurista Amy Webb, “as ondas de rádio e de Wi-Fi podem agora ser usadas para rastrear os nossos movimentos físicos e estados emocionais”. O documento explica como os equipamentos de rede Wi-Fi nas nossas casas estão constantemente a enviar e a receber informação, convertida em ondas eletromagnéticas.
Essas ondas, no caso do Wi-Fi, não são muito fortes e já estão a ser desenvolvidos equipamentos que permitem ver essas ondas, à medida que vão sendo refletidas em objetos… ou em nós. O relatório é pragmático: “Os sinais de Wi-Fi podem ser aproveitados para nos reconhecerem através das paredes.” E acrescenta: “Imagine um futuro em que o seu router de Wi-Fi reconhece os seus movimentos físicos, depois calcula os seus parâmetros de saúde e, automaticamente, ajusta os dispositivos e aplicações da sua casa para ajudar a viver uma vida melhor.”
Segundo as pesquisas do Future Today Institute, este tipo de tecnologia está a ser desenvolvida no MIT. Há ainda um projeto chamado EQ-Radio que é capaz de “ler as suas emoções com recurso a um router de Wi-Fi”. “Nos testes, o EQ-Radio foi capaz de detetar emoções sem incomodar a pessoa que estava a ser monitorizada”, lê-se no documento.
Imagine um futuro em que o seu router de Wi-Fi reconhece os seus movimentos físicos (…).
Bullying a robôs
A robótica é só um grande chavão dentro do relatório das tendências para este ano. Dentro desta categoria, existem várias tendências identificadas por Amy Webb e que ajudam a perceber o quão longe pode ir a automação ao longo dos próximos anos. Uma delas são os robôs pessoais, que poderão ajudar nas tarefas da casa e mitigar problemas como a solidão.
No entanto, há outro aspeto que se destaca dentro da robótica: são os robôs que se montam sozinhos. “Uma nova geração de robôs é capaz de se montar sozinha, permitindo-lhes fundirem-se, separarem-se e repararem-se a eles próprios”, lê-se no documento publicado este domingo. “Os robôs que se montam sozinhos oferecem um vasto conjunto de possibilidades dentro da medicina, da indústria, da construção e da área militar”, é também dito.
E por falar em robôs, há uma terceira tendência a destacar nesta área. Segundo Amy Webb, o abuso dos robôs vai ser um problema no futuro. “Os robôs pessoais só estão a chegar agora e já é possível ver uma primeira vaga de humanos a praticar bullying neles.” Foi feito um teste em que um robô totalmente autónomo tinha de seguir um determinado percurso. Se alguém se atravessasse no caminho do robô, a máquina estava programada para pedir licença.
Ora, quando confrontados com o robô, os adultos tiveram tendência para respeitar o seu pedido, mas as crianças não. O teste mostrou mesmo que um grupo de crianças não supervisionadas foi particularmente mesquinho: as crianças gritaram para a máquina e até a pontapearam.
Assistentes digitais em todo o lado
Em Portugal pode ainda não ser moda. Mas, em alguns mercados, os assistentes virtuais têm vindo a proliferar-se a grande velocidade. Estamos a falar da Siri e da Alexa, da Cortana ao assistente da Google. Estas ferramentas inteligentes respondem a comandos de voz e executam tarefas. Vêm instaladas, muitas vezes, em colunas como o Echo da Amazon ou o Home da Google e são capazes de antecipar o que nós queremos, antes mesmo de o querermos.
Segundo o “Relatório de Tendências Tecnológicas” para este ano, os assistentes virtuais vão continuar a conquistar cada vez mais casas e serão uma nova plataforma de consumo de conteúdos que poderão abrir caminho para a criação de novos canais de notícias em áudio (as colunas com assistentes virtuais estão também a fazer crescer o número de fãs de podcasts, que são como programas de rádio em diferido).
“Os assistentes digitais vão crescer mais em 2018, à medida que os preços dos aparelhos vão diminuindo (pode esperar colunas a custarem menos de 20 dólares) e os sistemas vão melhorando na forma de interagir connosco”, sublinha Amy Webb no relatório das tendências. Segundo a norte-americana, vai ser cada vez mais comum falar com estes assistentes não só nas nossas casas como também nos nossos carros.
Vai poder falar com a Alexa [da Amazon] a partir do seu carro ou durante uma corrida matinal, enquanto a Cortana [da Microsoft] poderá, em breve, estar acessível durante uma reunião ou na secretária do seu emprego.
Entregas com drones que desaparecem
Os drones são outro chavão que merece atenção por parte do Future Today Institute há já alguns anos. Para 2018, o relatório menciona um projeto da agência norte-americana DARPA, executado em 2016, para desenvolver drones que fossem capazes de fazer entregas e, depois, desvanecer no ar. “O programa mostrou que é possível programar um pequeno chip para executar um comando e se desintegrar. O que aí vem será uma espécie de Snapchat para os drones”, afirma Amy Webb no relatório, brincando com o conceito de efemeridade da conhecida rede social.
Outro ponto notado pelo instituto é o crescente aumento de patentes registadas nesta área, que poderão criar um problema com a falta de regulamentação. “Operadores comerciais como a Amazon querem começar a fazer entregas com drones”, reconhece Amy Webb, explicando que a gigante do comércio eletrónico já garantiu uma patente para um drone capaz de se autodestruir ou desmontar sozinho em caso de emergência. Também a concorrente Walmart criou uma patente de um drone que recolhe artigos das prateleiras e os entrega aos clientes na loja.
O instituto antecipa ainda que poderão ser criados corredores aéreos para drones, num cenário em que o espaço aéreo começa a ser cada vez mais populado. Os drones estão também a ficar cada vez mais pequenos e vai ser possível que centenas de minúsculos drones se movam de forma coordenada e extremamente rápida, ao ponto de uma câmara comum não ser capaz de os detetar.
Comunicação veículo-a-veículo (V2V)
A indústria automóvel está em constante transformação e a era elétrica promete novas possibilidades e vantagens. Mas não é a única tecnologia a ser desenvolvida pelas fabricantes. Outra, também conhecida, é a condução autónoma. Amy Webb antecipa que cada vez mais cidades norte-americanas passem a dar licenças a empresas para testarem carros sem condutor, à medida que esta tecnologia vai ganhando cada vez mais confiança das autoridades e do público.
Os carros serão capazes de transmitir a sua localização exata, aceleração, posição do volante, ritmo, estado dos travões e outras informações aos outros automóveis nas redondezas. Coletivamente, os carros irão usar esta informação e analisá-la em tempo real para tomarem decisões sobre quando e como se mover.
Mas uma área muito promissora dentro deste setor são as comunicações veículo-a-veículo (V2V). Imagine que tem de fazer uma travagem brusca, mas que há outro condutor atrás de si. O seu carro poderá ser capaz de comunicar com o carro de trás para lhe dar ordem de travagem. É este tipo de partilha de informação que propõe tornar as estradas mais seguras (mas também levantar novos desafios éticos, embora isso seja outra conversa).
Voltando à era elétrica, a proliferação dos automóveis elétricos resultou em novos esforços no sentido de melhorar as baterias existentes, pelo que é de esperar que, num futuro próximo, as baterias tenham bem mais capacidade do que o que acontece atualmente.
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