Empresários e gestores ‘desinvestem’ em Bruno de Carvalho
Bruno de Carvalho perdeu apoios, também entre alguns dos empresários que são sportinguistas militantes. "Danos irreparáveis", sentencia Pires de Lima.
De Madrid a Lisboa é uma hora de distância… ou o tempo de um terramoto que desabou em Alvalade no rescaldo do último jogo para a Liga Europa que a equipa verde e branco perdeu para o Atlético de Madrid. O epicentro teve origem em Bruno de Carvalho, ou melhor, na sua conta de Facebook, a partir das críticas que este fez a toda a equipa. E havia de ter réplicas este fim de semana quando o presidente leonino voltou a criticar a equipa a poucas horas do começo do jogo com o Paços de Ferreira.
Depois da perplexidade, e de a equipa ter ganho o jogo por 2-0, as críticas começaram a surgir um pouco por todo o lado, e Bruno Carvalho que, até agora, gozava de unanimidade nos seus mandatos, começou a ser contestado pelos sócios. À forte assobiadela do jogo do passado domingo, juntaram-se as críticas de Jaime Marta Soares, presidente da mesa da Assembleia Geral do Sporting a pedir a demissão do presidente. A este somam-se agora as críticas de alguns dos sócios mais conhecidos do clube de Alvalade, alguns até com assento no Conselho Leonino. Mas há também quem defenda o presidente.
Pires de Lima, ex-ministro da Economia, não tem dúvidas. “Os danos causados pelo próprio Bruno Carvalho são hoje irreparáveis”. Pires de Lima diz mesmo que “o senhor presidente da mesa da Assembleia Geral já disse tudo”. “E quando alguém que foi apoiante do Dr. Bruno de Carvalho faz críticas, sinto-me representado”, avalia. Para o gestor, “independentemente do balanço que era até há pouco tempo positivo, a situação que ele próprio criou é hoje irreparável”.
António Pires de Lima não podia ser mais claro. E a sua opinião é partilhada pelo ex-homem forte da Somague. Diogo Vaz Guedes, que se recusa a entrar em grandes pormenores, adianta: “Sou claramente favorável à iniciativa para destituir o presidente“.
Os danos causados pelo próprio Bruno Carvalho são hoje irreparáveis.
Na mesma onda de raciocínio está Francisco Calheiros, membro do Conselho Leonino. O presidente da Confederação do Turismo de Portugal diz, sobre Bruno de Carvalho: “Não tem condições para continuar“. Apesar de respeitar a gestão de cada um, Calheiros sublinha que “o presidente pode dizer o que quiser mas não pode vir a público dizê-lo. Gerir um clube como o Sporting é como gerir uma grande empresa, mas é mais difícil porque depende da bola a bater na trave”.
Para Calheiros, a altura é “boa para para desencadear este processo [eleições], de modo a começar-se a época já com um novo líder”.
Entradas e saídas
No entretanto, e no dia em que foi pai, Bruno de Carvalho anuncia o adeus ao Facebook. “Eu não quero mais enxovalhos em prol de quem não merece. Se o Sporting CP fica mais forte desta forma, seja feita a vontade da maioria. Que este meu afastamento do Facebook seja a vossa felicidade“.
Mas servirá esta saída das redes sociais para apaziguar os ânimos em Alvalade? Tudo indica que não. Ângelo Correia, empresário, ex-ministro da Administração Interna e ex-presidente da Assembleia Geral da SAD leonina, é mais contido nas palavras. “É tão importante sair como saber sair”, diz Ângelo Correia.
"Gerir um clube como o Sporting é como gerir uma grande empresa, mas é mais difícil porque depende da bola a bater na trave.”
Para o ex-presidente da Assembleia Geral, é ao presidente Bruno de Carvalho que cabe tomar uma decisão. “Ele tem de tomar uma decisão pessoal e deve expô-la a todos os sportinguistas e a todo o país. Qualquer que seja a decisão, deve ser tomada por ele”.
Já o ex-presidente do clube, Filipe Soares Franco, começa por dizer-se “muito triste“. Soares Franco recusa-se a dizer se Bruno de Carvalho deve ou não demitir-se, porque essa “é uma decisão que pertence aos sócios e aos órgãos sociais do clube”. Mas adianta: “Tenho pena que o Sporting tenha perdido alguns princípios e valores nos quais eu me revia, e que me fizeram candidatar à presidência do clube”.
"Tenho pena que o Sporting tenha perdido alguns princípios e valores nos quais eu me revia, e que me fizeram candidatar à presidência do clube.”
Apesar de não ser sócio do Sporting mas apenas simpatizante, o presidente da Martifer, empresa que até à época passada tinha camarote no estádio José de Alvalade é taxativo: Bruno de Carvalho “deve sair já“. Carlos Martins diz que “a bem do Sporting e dele próprio, [o presidente do Sporting] deve sair já. Porque o Sporting é muito maior do que ele, e Bruno de Carvalho está a prejudicar a instituição”.
“Cinco dias infelizes do melhor presidente dos últimos 30 anos”
Apesar da imagem no final do jogo com o Paços de Ferreira — com toda a equipa, incluindo Jorge Jesus, abraçados no centro do terreno, e Bruno Carvalho sentado sozinho no banco dos suplentes –, o presidente dos leões não é, ainda, um homem só.
Alexandre Patrício Gouveia, presidente do El Corte Inglés em Portugal e membro do Conselho Leonino, continua a defender Bruno de Carvalho. “A avaliação do trabalho de Bruno de Carvalho deve ter em conta os últimos cinco anos e não os últimos dias”, refere o gestor. Para Patrício Gouveia, “Bruno de Carvalho teve os últimos dias infelizes mas isso não invalida que tenha sido o melhor presidente do Sporting nos últimos 30 anos”.
E o gestor vai mais longe: “Deve reconhecer que se enganou, que não escolheu o melhor caminho e, se entender fazer isso, não só tem condições para continuar como presidente do Sporting como deve fazê-lo”.
Patrício Gouveia relembra o trabalho feito por Bruno Carvalho: “Valorizo muito o facto de ter retirado o clube da falência, a construção do pavilhão, o equilibrar financeiramente o clube”.
Opinião semelhante já tinha expressado o médico Eduardo Barroso. O histórico adepto sportinguista e também ele membro do Conselho Leonino, defendeu o presidente do Sporting em entrevista à SIC Notícias. Apoiante de Bruno de Carvalho, Barroso diz que o presidente leonino lhe garantiu que ia deixar o Facebook. Barroso disse mesmo que “Bruno está em burnout”. “Espero que tire uma licença de paternidade para descansar”, acrescentou.
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