Juncker admite “austeridade irrefletida” e lamenta que se tenha dado tanta importância ao FMI durante a crise
O presidente da Comissão Europeia aproveitou a celebração dos 20 anos do Euro para se penitenciar pela "falta de solidariedade" com a Grécia e pela importância dada ao FMI na crise da dívida soberana.
Foi um Jean-Claude Juncker contido e arrependido aquele que discursou no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, na cerimónia dos 20 anos do euro. Não tanto pela moeda única, que diz que é um instrumento de “política de paz”. Mas antes pelos erros cometidos nas suas décadas de existência, nomeadamente aquando das crises das dívidas públicas que se abateram em vários países da Zona Euro. Para o presidente da Comissão Europeia, a Grécia foi “insultada” pela falta de solidariedade que outros Estados-membros demonstraram. Admitiu ainda que houve “austeridade irrefletida” que foi imposta aos países em crise, lamentando que se tenha dado tanta importância ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Sempre me arrependi com a falta de solidariedade que surgiu na época do que é conhecido como a crise grega. Não fomos suficientemente solidários com a Grécia. Nós insultámos a Grécia“, reconheceu o responsável luxemburguês esta terça-feira. Ainda assim, “regozijo-me de ver a Grécia e Portugal e outros países, que reencontraram, não diria um lugar ao sol, mas um lugar de pleno direito entre as antigas democracias europeias”.
"Sempre me arrependi com a falta de solidariedade que surgiu na época do que é conhecido como a crise grega. Não fomos suficientemente solidários com a Grécia. Nós insultámos a Grécia.”
Antes disso, Juncker falou do papel do FMI nos resgates aos vários países que foram intervencionados desde 2010, entre eles a Irlanda, a Grécia e Portugal, e das críticas que teve de enfrentar quando ainda era presidente do Eurogrupo — entre 2005 e 2013.
“Sim, houve austeridade irrefletida”, admitiu o luxemburguês. “Não porque queríamos punir aqueles que trabalhavam no duro e aqueles que estavam desempregados, mas porque as reformas estruturais, independentemente do regime monetário em que nos encontramos, continuam a ser essenciais”, completou.
Depois disso veio a penitência: “Lamento que tenhamos dado muita importância à influência do FMI“. “No início da crise, éramos vários os que achavam que a Europa tinha força suficiente para resistir por si mesma e sem a influência do FMI à crise que estava a surgir. Se a Califórnia entra em dificuldades, não se dirige ao FMI, mas aos EUA. E assim deveríamos ter feito o mesmo”, admitiu.
Juncker falava perante o Parlamento Europeu a propósito dos 20 anos da moeda única, numa cerimónia que contou com a participação de vários altos responsáveis europeus, entre eles o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, e Mário Centeno, presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças de Portugal.
Apesar do mea culpa pelos erros durante a crise, o presidente da Comissão Europeia continua a “pensar que esta política monetária [do euro] é uma política da paz feita com outros meios”.
"Lamento que tenhamos dado muita importância à influência do FMI. No início da crise, éramos vários os que achavam que a Europa tinha força suficiente para resistir por si mesma e sem a influência do FMI à crise que estava a surgir. Se a Califórnia entra em dificuldades, não se dirige ao FMI, mas aos EUA. E assim deveríamos ter feito o mesmo.”
Lembrou que, no início do projeto da moeda única, “havia muita gente a considerar-nos loucos”. “Não pensavam que uma moeda única pudesse funcionar em países tão díspares. Todos diziam que estávamos a embarcar numa aventura que iria levar a União Europeia ao abismo”, recordou.
“Mas estamos longe do abismo”, assinalou de seguida. “Com felicidade, este caminho que iniciamos há 20 anos foi coroado de êxito. O mérito é daqueles que souberam antecipar o futuro”, notou.
Em Estrasburgo, a convite do Parlamento Europeu
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