Powell: “Motivos para subir juros estão a perder força”
Presidente da Reserva Federal norte-americana defendeu que o outlook é "otimista", mas que a abordagem é de "esperar para ver". A redução da folha de balanço do banco central aproxima-se do fim.
Paciente, mas otimista. Foi assim que Jerome Powell tentou não pisar demasiado o terreno da cautela, apesar de se ter visto obrigado a reconhecer que os riscos são mais elevados. Com o processo de normalização da folha de balanço da Reserva Federal norte-americana próximo do fim, o presidente do banco central dos EUA sinalizou que também o ciclo de subidas dos juros poderá desacelerar, esta quarta-feira após a reunião de dois dias do Comité Federal de Mercados Abertos (FOMC, na sigla em inglês).
“A economia dos EUA está num bom momento e usaremos a política monetária para a manter assim. O outlook é positivo, mas há novos dados”, afirmou Powell, apontando para o Brexit, as negociações comerciais entre EUA e China, bem como o shutdown governamental no país. O presidente da Fed sublinhou que a desaceleração económica em outras geografias tem grande impacto para os EUA.
“Continuaremos a prestar atenção e a avaliar as implicações. O impacto acumulado destas questões levou-nos a considerar que uma abordagem de esperar para ver é a mais apropriada“, disse, acrescentando que “os motivos que justificam novas subidas dos juros estão, de certa forma, a perder força“.
As declarações de Powell aconteceram depois de a Fed ter anunciado que o FOMC decidiu manter a taxa diretora dos EUA inalterados para um intervalo entre 2,25% e 2,5% para o qual tinha subido em dezembro, como antecipado pelo mercado.
Após quatro subida de juros em 2018, a Fed estima realizar dois aumentos em 2019 e reafirmou esta quinta-feira que “algumas” subidas dos juros deverão ser esperados. No entanto, sublinhou que “face aos desenvolvimentos económicos e financeiros globais e às pressões inflacionárias silenciosas, o Comité está preparado para ser paciente”. Questionado sobre se a declaração significava o fim do ciclo de subidas ou quanto tempo é que esta pausa poderia demorar, Powell respondeu apenas que “irá depender inteiramente dos dados económicos recebidos”.
Venda de ativos está próxima do fim. Fed vai manter almofada
Jerome Powell afirmou ainda que o processo de redução da folha de balanço — que inverte a estratégia de estímulos de liquidez ao mercado levada a cabo durante a crise — está a entrar nas últimas fases. O presidente da Fed garantiu que estão a ser tomadas importantes decisões sobre o momento do fim, que é um momento “sem precedentes” e deverá consubstanciar-se nos próximos meses. “Tomámos a importante decisão de continuar a usar as reservas”, explicou.
A Fed está atualmente a realizar a normalizar da política monetária através da diminuição da folha de balanço com a venda mensal de 50 mil milhões de dólares em Treasuries norte-americanas e títulos garantidos por ativos ou hipotecas, que adquiriu ao longo da crise no âmbito do programa de estímulos monetários.
“A normalização irá terminar proximamente”, disse, garantindo que apesar de as taxas de juro de referência se manterem como instrumento primordial da Fed para atingir o seu mandato duplo — inflação próxima de 2% e mercado de trabalho próximo do pleno emprego –, poderá voltar a realizar compra de ativos. Explicou que “a dimensão da folha de balanço será determinado pela procura por reservas, além de uma almofada financeira”, acrescentando que “reservas mais elevadas são importantes para que as instituições financeiras tenham posições de liquidez sólidas”.
Wall Street reagiu em alta à mudança para um discurso mais cauteloso. Às 20h15 (hora de Lisboa), o financeiro S&P 500 ganha 1,84%, o industrial Dow Jones avança 2% e o índice tecnológico Nasdaq dispara 2,9%. “De forma geral, sinaliza que a Fed já não estará em piloto automático a partir daqui”, afirmou Justin Lederer, analista de dívida norte-americana na Cantor Fitzerald, em declarações à Reuters.
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