Cinco anos de Novo Banco, seis mil milhões de prejuízos
A parte boa do BES já acumula seis mil milhões de euros em prejuízos em cinco anos de existência. É o legado que o Novo Banco continua a carregar nos ombros.
Parece contraditório, mas aquela que é a parte “boa” do Banco Espírito Espírito (BES) acumula já seis mil milhões de euros em prejuízos em apenas cinco anos de existência.
Esta sexta-feira, o Novo Banco (que nasceu em agosto de 2014 da resolução aplicada ao BES) apresentou prejuízos de 1.412 milhões de euros, um resultado penalizado pelas perdas com a venda de carteiras de ativos problemáticos, como o conjunto de nove mil imóveis (Projeto Viriato) ou do malparado no valor de 2.150 milhões de euros (Projeto Nata). É o “legado” do BES que continua a penalizar as contas do banco detido em 75% pelo Lone Star e 25% pelo Estado, justifica António Ramalho.
Novo Banco com contas no vermelho
Fonte: Novo Banco
Mas é um legado cuja fatura vai ser passada ao Fundo de Resolução. Quando ficou fechada a venda da instituição ao fundo americano, em outubro de 2017, foi criado um mecanismo de capital contingente que obriga o Fundo de Resolução (uma entidade pública que é financiado pelos bancos do sistema) a injetar dinheiro no banco sempre que as perdas na alienação de ativos problemáticos provoquem uma descida dos rácios abaixo dos níveis exigidos. Foi o que aconteceu em 2018 e também vai acontecer agora em 2019: o Fundo de Resolução vai ser chamado a contribuir com mais 1.149 milhões de euros para o banco restabelecer o seu equilíbrio financeiro, anunciou António Ramalho a partir da sede do banco na Avenida da Liberdade, em Lisboa.
Assim, desde o primeiro dia de vida do Novo Banco, o Fundo de Resolução já meteu 6,9 mil milhões, e é um montante que impacta diretamente nas contas públicas, porque o Fundo consolida no Orçamento do Estado. Foram 4,9 mil milhões logo em 2014, quase 800 milhões em 2018 e agora uns surpreendentes 1.149 milhões de euros. Quando a venda do Novo Banco foi efetivada, o discurso era outro. À data, no último trimestre de 2018, Mário Centeno e Mourinho Félix garantiam que a probabilidade de recurso à garantia pública, o tal mecanismo, era baixa.
Por isso, não foi preciso esperar muito tempo para que as novidades chegassem ao Terreiro do Paço. Ainda decorria a conferência de imprensa de apresentação de resultados e o Ministério das Finanças, surpreendido com o valor “expressivo” que vai ter de emprestar ao Fundo de Resolução (850 milhões), enviava um comunicado às redações a indicar que tinha ordenado uma auditoria aos créditos concedidos que estão no perímetro do mecanismo de capital contingente.
É uma auditoria parecida com aquela que foi exigida à Caixa Geral de Depósitos (CGD) e que veio a revelar créditos e investimentos ruinosos no período entre 2000 e 2015. Confrontado com a informação que os jornalistas acabavam de receber, António Ramalho não dramatizou: “Todas as auditorias são bem-vindas”.
Desde que nasceu, a 4 de agosto de 2014, no berço da complexa resolução do BES, o Novo Banco nunca registou lucros anuais. Logo nos primeiros cinco meses de vida, entre agosto e dezembro de 2014, os prejuízos ascenderam aos 500 milhões de euros. Nos anos seguintes, as perdas foram quase em crescendo: 981 milhões de euros em 2015, 780 milhões de euros em 2016, 2.298 milhões em 2017 e, agora, em 2018, e 1.412 milhões em 2018.
Feitas as contas, o Novo Banco apresenta um prejuízo acumulado de 5.975 milhões de euros desde 2014.
Para mostrar que também há uma parte boa dentro do Novo Banco, António Ramalho decidiu separá-lo entre “Novo Banco legado” e “Novo Banco recorrente”. Mas isto apenas em termos contabilísticos. No primeiro incluem-se os ativos tóxicos (crédito em incumprimento ou imóveis) e em descontinuação (por exemplo, a seguradora GNB Vida) e é liderado por Jorge Cardoso, que vai deixar o lugar de CFO para o irlandês Mark Bourke. No segundo está a atividade boa do banco que, sem o passado do BES nos ombros, teria obtido um lucro de 2,2 milhões de euros este ano, que deixa a instituição a ver uma luz ao fundo do túnel.
Quando cumpria quatro anos, em agosto passado, o ECO perguntou a António Ramalho se o ditado “o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita” se podia associar àquilo que vem sendo a história do Novo Banco. A resposta: “Esse é um ditado sensato que não resiste porém ao princípio de que toda regra tem exceção. Mas o ditado que mais se aplica ao Novo Banco é ‘o que não nos mata, torna-nos mais fortes‘”.
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