“A banca não é atrativa para investidores e é uma preocupação para o BCE”, diz Enria
O responsável pela supervisão bancária do Banco Central Europeu passou por Lisboa e num encontro com jornalistas disse que os bancos têm de fazer mais: o telhado arranja-se quando está bom tempo.
O responsável pela supervisão financeira do BCE elogia as melhorias na qualidade dos ativos e das posições de capital na banca. Ainda assim, vê a fraca rentabilidade e o fardo do malparado como entraves à atratividade do setor. Sobre o investimento chinês, diz que o importante é haver investidores estrangeiros e que os bancos sejam atrativos para estes investidores. Se os controlos forem aplicados corretamente, a origem do capital não é o mais importante.
Os bancos europeus não estão atrativos para investidores, apesar da recuperação da qualidade dos ativos e das posições de capital, segundo defende o chairman do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu (BCE), Andrea Enria. As fracas avaliações são uma preocupação para a instituição europeia.
“Se olharmos para as avaliações dos bancos europeus neste momento, o preço nos mercados está muito baixo. É difícil. Não estão atrativos para os investidores, o que é uma preocupação para nós enquanto supervisores”, afirmou Enria esta quarta-feira, num encontro com jornalistas, em Lisboa.
Se olharmos para as avaliações dos bancos europeus neste momento, o preço nos mercados está muito baixo. É difícil. Não estão atrativos para os investidores, o que é uma preocupação para nós enquanto supervisores.
O italiano aponta para “a baixa rentabilidade e baixa rentabilidade esperada” no futuro como principais razões para o problema. “Há algumas áreas em que os bancos devem atuar e estamos a incentivá-los nessa direção: reduzir custos, melhorar a eficiência, limpar as folhas de balanço… Limpar as folhas de balanço faz parte do esforço para recuperar a rentabilidade”, sublinhou.
Melhorias na banca portuguesa “não estão completas”
Os principais bancos em Portugal (à exceção do Novo Banco) regressaram em 2018 aos lucros, pela primeira vez após a crise. No entanto, o fardo do malparado tem sido apontado como um dos principais entraves à solidez do sistema financeiro português.
No ano passado, o crédito malparado caiu 11%, com a banca a acelerar a venda de carteiras de crédito. Apesar da diminuição, ainda há 25,8 mil milhões de euros por limpar das folhas de balanço. No total dos empréstimos, representa um rácio de 18,5%, como lembrou Enria.
“O sistema bancário português fez progressos significativos, em termos de posições de capital, de liquidez, de limpar os balanços de non performing assets, também graças às situação macroeconómica positiva e ao crescimento dos preços do imobiliário. Tudo isso ajudou mas, como disse, o processo ainda não está completo”, afirmou.
O sistema bancário português fez progressos significativos, em termos de posições de capital, de liquidez, de limpar os balanços de non performing assets, também graças às situação macroeconómica positiva e ao crescimento dos preços do imobiliário.
“É importante que os bancos continuem a reparar os seus balanços enquanto as condições são boas, que se preparem para os tempos em que as condições já não serão tão boas”, acrescentou Enria.
Consolidação e investimento estrangeiro são bem-vindos
Além da limpeza dos ativos, há outros fatores que o responsável pela supervisão financeira na Zona Euro considera que poderão vir a fortalecer o setor bancário contra os riscos que se avizinham, incluindo a desaceleração económica ou o Brexit.
“Tem havido falta de consolidação no sistema depois da crise. Em geral, se olharmos para qualquer setor que tenha passado uma crise significativa — como o automóvel ou do aço —, depois da crise há, normalmente, um excesso de capacidade. A forma de reduzir esse excesso é através da consolidação e recuperação da eficiência”, defendeu. “Tem havido pouco disso no setor bancário europeu. Outra questão estrutural é a integração a nível europeu”.
Em Portugal, as maiores aquisições têm sido feitas por bancos espanhóis, como foram os casos do Santander com o Popular Portugal ou, mais recentemente, do CaixaBank com o BPI. Enria vê o capital espanhol em Portugal como uma reação natural ao mercado único. Aliás, qualquer capital estrangeiro é visto com bons olhos por Enria.
“Penso que o facto de haver investimentos estrangeiros que tragam capital para o sistema financeiro europeu é, em geral, um desenvolvimento positivo. A minha preocupação é o contrário, que às vezes os bancos europeus não são suficientemente atrativos para investidores na Europa e de outros países. O que é importante em geral, independentemente da origem dos investidores, é que a governance dos bancos seja sólida”, acrescentou.
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