Investimento recorde impede abrandamento da economia portuguesa
O investimento acelerou significativamente no primeiro trimestre do ano e compensou uma queda abrupta na procura externa líquida, permitindo à economia portuguesa acelerar ligeiramente.
O Instituto Nacional de Estatística confirmou esta sexta-feira a sua primeira estimativa para o crescimento da economia no primeiro trimestre do ano. O PIB terá crescido 0,5% no arranque do ano, apenas mais uma décima que o ritmo de crescimento verificado nos últimos três meses de 2018. Uma progressão de 1,8% quando se compara o primeiro trimestre deste ano com o mesmo período de 2018, também mais uma décima que o ritmo de crescimento verificado então, à boleia quase exclusivamente de um ritmo de crescimento historicamente alto do investimento.
De acordo com a série estatística disponibilizada pelo INE, o crescimento de 17,8% é o mais elevado de sempre (só há dados desde o início de 1996). O mais perto que a economia portuguesa esteve de ter um ritmo tão alto de crescimento do investimento em termos trimestrais foi nos primeiros trimestres de 1997, quando se intensificou a vaga de obras de preparação da Expo98, que incluiu entre outros investimentos, a construção da Ponte Vasco da Gama (inaugurada a 28 de março de 1998).
O crescimento da economia deve-se em grande parte a esta aceleração do investimento. A construção deu um impulso importante, passando de um crescimento de 2,8% para 12,4%, a taxa de variação homóloga mais elevada desde a primeira metade de 1997.
O INE destacou também um maior investimento em outras máquinas e equipamentos, e um aumento significativo de existências (como matérias-primas, produtos e trabalhos em curso, bens para revenda) que as empresas importaram e agora estão a acumular em stock.
O investimento justifica o aumento expressivo da procura interna, até porque o consumo privado (outra componente da procura interna) das famílias está a abrandar — passou de 2,9% para 2,5%.
Segundo o INE, a procura interna deu um contributo de 4,8% para o crescimento da economia no primeiro trimestre em termos homólogos (2,2% face ao último trimestre do ano), compensando o abrandamento das exportações, e consequentemente da procura externa líquida, cujo contributo para o crescimento da economia foi negativo em 3,1% em termos homólogos (1,7% face ao último trimestre do ano).
A evolução do investimento ficará a dever-se essencialmente a um aumento do investimento privado, já que o consumo público voltou a abrandar pelo terceiro trimestre consecutivo, tendo crescido apenas 0,4% no primeiro trimestre do ano, em termos homólogos.
O Governo e as principais organizações internacionais atualizaram as suas projeções para o crescimento da economia este ano, tendo sido praticamente todas revistas em baixa. As tensões entre os Estados Unidos e a China, com a intensificação e o alastramento da guerra comercial a outros blocos além das duas maiores economias do mundo são uma das principais razões para o menor otimismo.
A incerteza relativamente ao Brexit também já estará a ter impacto na economia da zona euro, que se espera agora que venha a crescer apenas 1,2% este ano, com um abrandamento pronunciado das maiores economias do bloco que partilha a moeda única europeia, em especial a Alemanha e a Itália.
O Governo português reviu em baixa a sua previsão de crescimento para a economia portuguesa de 2,2% para 1,9% quando apresentou o Programa de Estabilidade em abril, mas é ainda assim o mais otimista. A OCDE, que reviu as suas previsões este mês, espera que a economia cresça 1,8%, enquanto FMI, Comissão Europeia e Banco de Portugal todos apontam para que a economia não cresça mais que 1,7% este ano. O mais pessimista é o Conselho das Finanças Públicas (que também é quem tem a previsão mais antiga, datada de março), que não antecipa um crescimento além dos 1,6%.
Governo fala em “crescimento da economia portuguesa mais sustentável desde 1995”
Em comunicado, o Ministério das Finanças destaca o papel do crescimento do investimento, que teve a taxa de crescimento homóloga mais elevada desde que há dados disponíveis (1996), e que este é o valor do investimento mais alto desde 2010 em termos reais.
Segundo o Governo, “o peso do investimento e das exportações no PIB atinge os 68% pela primeira vez”, defendendo que isto representa “o crescimento da economia portuguesa mais sustentável desde 1995”.
“Estes dados traduzem o aumento da confiança na evolução da economia portuguesa, que vinha já sendo refletida nos indicadores coincidentes do Banco de Portugal, nos indicadores de confiança divulgados recentemente pelo INE, reforçando as bases para um saudável crescimento futuro do país”, diz o gabinete de Mário Centeno.
(Artigo atualizado às 13h14 com o comentário do Governo aos dados)
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