Transportes lotados. “Em Londres, vai tudo sardinha em lata…”, diz secretário de Estado da Mobilidade
O secretário de Estado da Mobilidade acredita que a solução para compensar a procura dos transportes públicos pode passar pela redução do conforto. "Em Londres, vai tudo sardinha em lata", diz.
O secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade não vê problema se houver uma redução do conforto dos passageiros nos transportes públicos para compensar o aumento da procura por causa dos passes sociais mais baratos. “Porque não? Aumentam um pouco a oferta e os comboios aguentam perfeitamente”, disse José Mendes, em entrevista ao Jornal de Negócios (acesso pago).
O passe único permitiu poupanças significativas às famílias portuguesas, na ordem das dezenas de euros, no que toca à despesa com transportes públicos. E perante a descida dos preços, houve um crescimento expressivo da procura. Dois meses depois da implementação das novas tarifas, o aumento da procura foi quase o dobro do que o Governo estava à espera.
“Já experimentou fazer uma viagem de metro em Londres? O tempo que demora, e vai tudo sardinha em lata…”, comparou o secretário de Estado, quando confrontado com a redução do conforto das viagens, numa altura em que surgem queixas dos utentes devido à reduzida oferta. “As pessoas vão apertadas nos metros em todo o mundo”, diz.
Face à decisão da Fertagus, que vai retirar bancos dos comboios para poder acomodar mais pessoas em pé, José Mendes respondeu: “As pessoas não andam de pé no autocarro? São viagens curtas, com durações até meia hora”
José Mendes reconhece, no entanto, que há melhorias a serem feitas do lado da oferta. “A Carris está a comprar 195 autocarros e a STCP 274, num investimento de 60 e 70 milhões de euros, respetivamente”, apontou.
O aumento da procura, que gera receitas superiores, deverá ajudar a fazer aumentar a oferta de transportes públicos. “Essa receita é para garantir a oferta. Se os operadores têm o dobro da procura, têm de ter o dobro da oferta.”
Questionado sobre se o Estado não tem de conceder mais compensações por garantir esse reforço da oferta, José Mendes referiu apenas que “o sistema funciona, do ponto de vista económico, como antes”. “Nós subsidiamos o transporte, que significa que como fica mais barato, as pessoas procuram mais. Com isso, os operadores têm mais clientes e têm de ir colocando mais meios no terreno”, afirmou.
As pessoas não andam de pé no autocarro? São viagens curtas, com durações até meia hora. As pessoas vão apertadas nos metros em todo o mundo.
Procura foi o dobro do esperado em Lisboa
A procura dos utentes pelos novos passes sociais na Área Metropolitana de Lisboa foi muito superior ao que o Governo estava à espera, admitiu o secretário de Estado na mesma entrevista. O Executivo esperava um aumento na ordem dos 10%, líquido da subida “normal”, isto é, cerca de 100 mil novos passageiros em 2019. Os dados atuais apontam para um crescimento de 30%.
“A expectativa que tínhamos de aumento da procura no sentido de atração de pessoas para o transporte público com esta medida […] era de pelo menos 10%, ou seja, 100 mil novos passageiros”, começou por indicar. No entanto, na Grande Lisboa, excluindo o crescimento médio anual de 4%, que já era previsto, o número de passageiros já aumentou em “167 mil passes”.
José Mendes, o primeiro da foto, numa apresentação de novos autocarros da Carris, no final de 2018.”No Porto, tínhamos em 2018 um total de 149 mil passes, que em 2019 passaram para 179 mil passes. Crescemos 30 mil passes, o que dá 20%”, acrescentou ainda José Mendes. Para o governante, os números mostram “o caráter disruptivo desta medida”. “Estou felicíssimo com estes números”, indicou José Mendes.
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