Negócios de milhões agitam pequenos bancos em Portugal
Banca estabilizada? Há uma nova vaga de fusões e aquisições no mercado nacional. Desta vez são os bancos pequenos a atraírem grandes investidores nacionais e internacionais.
Governo e Banco de Portugal não se fartam de evidenciar a estabilização da banca portuguesa nos últimos anos, depois de a crise ter provocado problemas de capital nas maiores instituições financeiras nacionais. Mas nos últimos meses surgiu uma nova vaga de fusões e aquisições no sistema, com novos protagonistas. Desta vez são bancos de reduzida expressão no mercado que estão a atrair gigantes nacionais e internacionais à procura de oportunidades num país que ainda carrega o fardo da crise mas cuja economia potencia negócios de milhões.
CTT apostam no crédito ao consumo com 321 Crédito
Em plena transformação, os CTT apostam forte no negócio financeiro e para alavancar o seu Banco CTT (liderado por Luís Pereira Coutinho) acabaram de comprar a 321 Crédito por 100 milhões de euros.
A 321 Crédito é uma instituição financeira vocacionada para o crédito ao consumo, um mercado em elevada expansão em Portugal, depois de anos de crise ter restringido a vontade consumista dos portugueses. Fechou o ano passado com um lucro de oito milhões de euros e “aumentos muitos significativos de atividade e de carteira sob gestão”, segundo o relatório e contas de 2018. O produto bancário cresceu 30% para 21,4 milhões de euros.
Sendo mais difícil crescer de forma orgânica, o grupo expande o negócio através de aquisições. Para Pereira Coutinho, a 321 Crédito “representa mais um passo na afirmação do Banco CTT, que conta com quase meio milhão de clientes”. “Uma vez concretizada, esta aquisição reforçará a oferta de produtos e os rácios do Banco CTT e é um passo lógico e importante na nossa estratégia“, referiu Pereira Coutinho, aquando da aprovação do negócio pelas autoridades.
A aquisição da 321 Crédito deverá permitir aos CTT diversificar o portefólio de produtos do Banco CTT, “com um negócio rentável de crédito ao consumo, e otimizar o Balanço do Banco CTT, melhorando o seu rácio de transformação de 20% para mais de 60%”.
Australianos à espera do Banco de Portugal para comprar Primus
“Uma combinação irresistível entre bom ambiente económico em Portugal e robustez do banco levou o australiano Pepper Group a avançar para a compra do português Banco Primus, uma instituição financeira especializada no crédito ao consumo, por 65 milhões de euros“, assim escrevia o ECO no dia 7 de agosto de 2017.
Quase dois anos depois do anúncio da operação, o negócio com os australianos continua em “banho-maria”, à espera da autorização do Banco de Portugal para se finalizar a compra do banco aos franceses do Crédit Foncier. Ainda não se iniciou sequer o período de oposição de 60 dias úteis durante o qual o supervisor poderá travar ao negócio, com as duas partes ainda em contacto e a trocarem informações e documentação sobre o negócio. “Tendo em conta a presente data, é expectável que tal ocorra até 31 de julho próximo”, disse ao ECO Hugo Carvalho Silva, CEO do Banco Primus.
O Pepper Group, agora detido pelo fundo KKR, é um grupo financeiro australiano que atua no setor do crédito ao consumo. O grupo está atualmente cotado na bolsa do país, com um valor de mercado de cerca de 450 milhões de euros. Na Europa, já está presente em Reino Unido, Irlanda e Espanha.
Já o Banco Primus dedica-se à concessão de crédito ao consumo, sobretudo automóvel, e ao mercado hipotecário em Portugal e Espanha, tendo alcançado receitas de 24,4 milhões de euros em 2018, com um lucro de 10 milhões. Mas os australianos querem colocar o banco receber depósitos, como disse ao ECO o presidente do Pepper Group, Mike Culhane há dois anos. Hugo Carvalho Silva adianta que o banco detém uma licença full scope, e não precisa de autorização do supervisor bancário para aceitar dinheiro dos depositantes.
Em cima da mesa está ainda a possibilidade de o Banco Primus mudar de nome para… Pepper Bank.
Árabes adquirem banco à Fundação Oriente…
Detido a 90% pela Fundação Oriente, o Banco Português de Gestão (BPG) terá sido vendido aos novos donos do Efisa, a Bahrain IIBG Holdings, revelaram ao ECO Insider fontes de mercado. Há algum tempo que a Fundação Oriente tinha mostrado disponibilidade para vender o banco liderado por Carlos Monjardino e este desfecho não é uma surpresa. Fonte oficial da fundação disse ao ECO que “não há qualquer venda confirmada”.
O BPG encerrou 2018 com prejuízos de 14 milhões de euros, provocados pela queda da margem financeira (-15%) e por um aumento dos custos operacionais (+21%). Também as imparidades do crédito pressionaram: registaram um aumento líquido de 4,7 milhões de euros, “decorrente de um esforço dirigido a uma redução do peso líquido dos NPL (non performing loan) na carteira de crédito”.
No decurso do ano passado e da “limpeza” do balanço, o banco realizou dois aumentos de capital por imposição do Banco de Portugal: o primeiro no dia 14 de setembro no valor de sete milhões de euros; o segundo ocorreu já no dia 28 de dezembro, elevando o capital da instituição em mais 8,5 milhões para os 69,15 milhões de euros, segundo o relatório e contas.
Carlos Monjardino explica as medidas tomadas visaram “robustecer o negócio, quer o capital e, globalmente, a solidez financeira da instituição”, salientando (além dos aumentos de capital no valor global de 15,5 milhões) “o incremento de imparidades, a redução dos ativos não produtivos, a revisão da estratégia, o fortalecimento do sistema de controlo interno, a reestruturação organizacional, o considerável investimento em tecnologia e o reforço do quadro de pessoal”
O ECO Insider acrescenta que a limpeza do balanço era a condição essencial da venda, e que permitirá possivelmente, a seguir, uma fusão com o Efisa, um dos despojos do BPN que estava nas mãos da Parvalorem e que foi vendido ao Bahrain IIB Holdings recentemente, por 27 milhões de euros.
… depois da compra do Efisa por 27 milhões
Antes do BPG, os investidores árabes tinham adquirido o banco Efisa que estava na esfera do Estado, através da holding Parparticipadas, por 27 milhões de euros. O Efisa era o banco de investimento do BPN, que foi nacionalizado em 2008.
O negócio ainda se encontra à espera de “luz verde” do Banco Central Europeu. Pouco se conhece publicamente do Bahrain IIBG Holdings. Anteriormente, aquela sociedade constituída no Reino do Bahrain tinha comprado o Banco Internacional de Cabo Verde ao Novo Banco.
Há uma década que o Efisa estava à venda. O montante do negócio fica acima do preço base fixado o ano passado, à volta dos 22 milhões de euros, mas fica aquém dos valores pedidos na anterior tentativa de alienação, em 2015, que acabou por ser cancelada. Este concurso teve como vencedor a Pivot, constituída por um grupo de investidores onde se incluía a Aethel, de Ricardo Santos Silva e Aba Schubert, ou ex-ministro Miguel Relvas, e que oferecia 38,3 milhões de euros. Mas a transação nunca conheceu luz verde da parte do supervisor bancário europeu.
Ainda não são conhecidos os resultados do ano passado. Em 2017, apurou um prejuízo de seis milhões de euros, contando com um capital próprio de 37,2 milhões de euros no final de dezembro daquele ano.
Chineses entram no BNI Europa
O angolano Banco de Negócios Internacional (BNI) prepara-se para vender a maioria da sua participação no português BNI Europa até junho, sendo que o comprador chinês, o KWG, terá de colocar 15 milhões de euros no banco nacional.
A instituição realizou a 17 de junho uma assembleia geral para aprovar um aumento de capital no valor de 15 milhões de euros e ainda supressão dos direitos de preferência dos acionistas. Isto quer dizer que será o novo acionista a injetar dinheiro no banco após a autorização do regulador, notou o BNI Europa ao Expresso.
No relatório e contas de 2018, o BNI Europa revela que “o processo de autorização para a aquisição de participação qualificada do capital social do Banco BNI encontra-se em fase final de apreciação por parte do Banco de Portugal e Banco Central Europeu, prevendo-se a sua conclusão até ao final de junho de 2019”.
2018 também ficou marcado por uma limpeza do balanço do banco liderado por Pedro Pinto Coelho. O BNI Europa registou prejuízos de 6,5 milhões de euros, perante o reforço de imparidades para crédito, que ascenderam a 10,6 milhões de euros.
Na certificação de contas, a PwC frisou que a capitalização do banco no exercício de 2019 “apresenta-se como fundamental para a prossecução do seu plano de negócios apresentado pelo conselho de administração, o qual levou em consideração a entrada do novo acionista”.
Amorim vende Banco Carregosa
A Amorim Projetos detém cerca de 8% do Banco Carregosa, liderado por Maria Cândida da Rocha Silva. Mas os herdeiros de Américo Amorim pretendem vender a posição, uma vez que consideram não ser uma participação estratégica, e até já terão abordado os outros acionistas nesse sentido, de acordo com o Jornal Económico.
Fonte do banco adiantou na altura que a decisão de alienação surgiu “após o falecimento do senhor Américo Amorim”, que ditou uma distanciamento dos seus herdeiros “da gestão do Banco Carregosa”.
Entre os outros principais acionistas, com mais de 5% da instituição com sede no Porto, estão a própria presidente Maria Cândida da Rocha e Silva, Jorge Freitas Gonçalves (vice-presidente) e António Pinto Marante (administrador), isto além da Amorim Projetos.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Negócios de milhões agitam pequenos bancos em Portugal
{{ noCommentsLabel }}