“É incompreensível a Caixa ter sido usada em jogos de poder”, diz Cecília Meireles. CDS entrega hoje relatório do inquérito
CDS entrega hoje relatório do inquérito à Caixa, após comissão onde Cecília Meireles esteve em destaque. A deputada centrista fala em “jogos de poder” no banco público no tempo de Sócrates.
Foi um dos momentos mais polémicos da comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD). E ainda hoje Joe Berardo estará arrependido do sarcasmo com que respondeu a Cecília Meireles na audição do comendador no passado dia 10 de maio.
– “Se os bancos executarem os títulos da Associação Coleção Berardo, ficam com maioria, não é?”, questionou Cecília Meireles, quando a audição ao empresário durava já há quase quatro horas.
– “Ah, ah, ah”, reagiu Berardo, juntando mais um episódio ao rol de posições polémicas que mereceram a crítica de vários lados, incluindo Presidente da República e primeiro-ministro.
Durou cerca de 22 minutos aquele que foi o segundo round no Parlamento entre Cecília Meireles e Joe Berardo, durante o qual a deputada tentou encostar o comendador à parede para perceber a “golpada” na Associação Coleção Berardo. O comendador acabaria por revelar que foi o tribunal a decidir alterar os estatutos, uma decisão que está agora na mira do Ministério Público. E ainda que fez aumentos de capital na associação que tiraram poder aos bancos dentro da instituição.
Para Cecília Meireles, uma das deputadas-sensação no inquérito à Caixa, o depoimento de Joe Berardo no Parlamento (onde a intervenção da deputada terá sido a mais contundente em toda a comissão) nem foi o mais revelador da má gestão no banco público.
Na sua opinião, foi na audição de Teixeira dos Santos, antigo ministro das Finanças do governo de José Sócrates, que se tornou “absolutamente transparente que o papel oficial do Governo – representante do Estado, o acionista da CGD – era não ter qualquer visão estratégica, ser completamente indiferente ao papel económico na forma como a CGD era gerida e, sobretudo, não ter qualquer preocupação com as consequências futuras da gestão que estava a ser feita no presente”.
Ao ECO, a deputada centrista e colega de partido de João Almeida, que entrega esta segunda-feira as conclusões preliminares do inquérito à Caixa, considera que “é incompreensível que a CGD tenha apostado em negócios imobiliários e tenha sido utilizada como instrumento em jogos de poder de vários grupos económicos (inclusive grupos financeiros, pondo até em causa a sustentabilidade do sistema), e que o ministro da tutela afirme que o Governo nada tinha a ver com isso”.
10 momentos que marcaram o inquérito à Caixa
“Inquérito foi conclusivo, mas Parlamento não é tribunal”
Cecília Meireles não falhou nenhuma das 36 audições no Parlamento. Foram mais de 130 horas de interrogatório a várias personalidades que conheceram de perto a realidade do banco público.
Diz que a comissão parlamentar de inquérito foi conclusiva porque permitiu “perceber os contornos de muitos dos negócios e concessões de crédito que conduziram a perdas significativas, bem como identificar diferentes graus de responsabilidade (e responsáveis) entre administradores, Governo e Supervisão”. De acordo com o relatório da auditoria da EY, que deu origem à comissão de inquérito, os principais créditos ruinosos, entre os quais Vale do Lobo, Fundação Berardo ou Artlant, geraram perdas de 1.200 milhões de euros à Caixa.
"É incompreensível que a CGD tenha apostado em negócios imobiliários e tenha sido utilizada como instrumento em jogos de poder de vários grupos económicos (inclusive grupos financeiros, pondo até em causa a sustentabilidade do sistema), e que o ministro da tutela afirme que o Governo nada tinha a ver com isso.”
Ainda assim, lembra Cecília Meireles que “uma comissão de inquérito não é um tribunal”, e que retirar outro tipo de consequências já ultrapassa o papel dos deputados. Neste momento o Banco de Portugal está a apurar responsabilidades contraordenacionais e o Ministério Público a investigar responsabilidades civis.
Com o fim da terceira comissão à vista, a deputada do CDS afirma que muito do que se fez agora poderia ter sido feito na primeira comissão de inquérito (que terminou sem que os deputados pudessem ter acesso ao relatório da EY), lamentando por isso que se tenha perdido uma oportunidade para esclarecer o que se passou no banco público.
Mas diz que não descansou até apurar “assuntos que enquanto não são esclarecidos sempre enfraquecem as instituições”. E é, nesse sentido, que “a forma como algumas coisas se tornaram mais claras fortalece a CGD”, frisa Cecília Meireles.
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