Desde a queda do BES que a banca não cobrava tantas comissões
O montante arrecadado pelos bancos em comissões no ano passado correspondeu a 39,3% das respetivas receitas. É necessário recuar até ao final de 2013 para ver um peso mais elevado.
A crise financeira de 2008 abalou as contas dos bancos. E estes voltaram-se para as comissões como forma de garantir a sua sustentabilidade. Uma década depois, o bolo arrecadado já vai em mais de 44 mil milhões de euros, sendo que desde a queda do BES que as comissões não contribuíam tanto para as receitas dos bancos.
Dados do Banco de Portugal mostram que, entre 2010 e 2018, os bancos nacionais cobraram um total de 44.346 milhões de euros em comissões. Este valor engloba não só os rendimentos de serviços e comissões cobradas na atividade de retalho — famílias e empresas –, como outros associados por exemplo a operações em mercado de capitais.
Só no ano passado, esses serviços renderam 3.649 milhões de euros aos bancos nacionais. Este montante correspondente a 39,3% do produto bancário, ou seja, das receitas totais amealhadas pelo setor naquele período.
Entre comissões, juros, trading e outras operações, a banca portuguesa arrecadou 9.280 milhões de euros, em 2018. Seria necessário recuar até 2013, o ano anterior à resolução do BES — em agosto de 2014 — para que as comissões apresentassem um peso superior no produto bancário dos bancos: 42,9%.
Peso das comissões nas receitas dos bancos
O crescente peso das comissões bancárias insere-se num quadro de forte pressão nas margens financeiras (diferença entre juros recebidos e pagos) dos bancos ao longo dos últimos anos. “Em percentagem do ativo médio, a margem financeira passou de cerca de 4,5% em 1990 para valores em torno de 1,5% nos anos mais recentes“, dá conta o Banco de Portugal no documento “Séries Longas do Setor Bancário Português 1990-2018”, que fornece um olhar sobre a realidade da banca nas últimas três décadas.
Essa situação é sustentada no “contexto de redução expressiva das taxas de juro e das margens de intermediação financeira, bem como de uma forte desaceleração do crédito“, diz a instituição liderada por Carlos Costa. Apesar do crescimento dos níveis de concessão de crédito dos últimos anos, em Portugal, estes ainda estão aquém dos níveis de 2010.
Os bancos operam num contexto de juros negativos em que, por um lado são obrigados a aplicá-los na integra sobre os créditos, mas por outro não podem exigir aos clientes a devolução de juros negativos no caso dos depósitos. Em Portugal, a taxa de juro dos depósitos tem como teto mínimo os 0%.
Procurando de alguma forma compensar essa situação, há bancos que estão a começar a apostar na cobrança de comissões aos depósitos dos grandes clientes. Entretanto, vão também encarecendo os custos de alguns produtos que disponibilizam aos clientes particulares. Um dos exemplos que mais tem sido falado é o início da cobrança de comissões no MB Way.
A preocupação com o aumento de comissões levou mesmo o PS e o PCP a levarem a votos, esta quarta-feira, requerimentos para audições ao governador do Banco de Portugal e ao presidente da Associação Portuguesa de Bancos sobre o tema das comissões.
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