Mal pagos, sem oportunidades e descontentes. Inquérito mostra insatisfação dos trabalhadores do Montepio
Mal pagos, sem oportunidades de progredir, desmoralizados e descontentes. É o retrato de um inquérito interno aos trabalhadores do Banco Montepio e cujos resultados estavam na gaveta há 3 meses.
Quando se reunir com os quadros do Montepio este sábado, no Altice Arena, em Lisboa, para o tradicional almoço de fim de ano, Tomás Correia irá encontrar uma grande franja de trabalhadores descontentes, desmoralizados e com índices de motivação deprimentes. Isto sucede não porque os funcionários estarão a lamentar a saída (prematura) do emblemático líder do grupo ao fim de 11 anos no poder. Antes, estão profundamente insatisfeitos com condições de trabalho no Banco Montepio, não vislumbrando quaisquer perspetivas de futuro naquela casa. O banco diz que está “sensível ao sentimento demonstrado” pelo inquérito, sublinhando que trabalha “ativamente na transformação da instituição” para melhorar a satisfação dos trabalhadores.
Os resultados de um inquérito realizado no passado verão — revelados agora pelo ECO depois de terem sido mantidos na gaveta durante três meses pela comissão de trabalhadores com medo que fossem tornados públicos e desestabilizassem ainda mais o banco — revelam um clima de insatisfação geral no quadro de pessoal de um banco que ainda está longe de apresentar resultados, que mantém uma liderança indefinida e cujo acionista — a Associação Mutualista Montepio Geral — também não apura a melhor condição financeira.
A comissão de trabalhadores avançou para o estudo com base nos relatos dos trabalhadores que iam chegando e que mostravam, de forma uma empírica, um clima de “insatisfação permanente” e “de níveis motivacionais baixos” dentro do banco. Assim, com o inquérito, pretendeu-se dar uma “base científica” para sustentar a real dimensão da crise social no banco. E as conclusões desta avaliação — ao qual responderam mais de 60% dos trabalhadores tendo sido reveladas internamente apenas no final do mês passado — e não deixaram dúvidas: os resultados “são motivo de elevada REFLEXÃO” e devem constituir uma “oportunidade para MELHORIAS SIGNIFICATIVAS”, lê-se nas apreciações finais e recomendações do estudo que já foram, de resto, apresentadas a Tomás Correia e à administração do banco, designadamente a Carlos Tavares e Dulce Mota, em setembro.
Na sua apreciação global, os trabalhadores revelaram-se “críticos”, com tendência “a manifestar a sua insatisfação internamente, junto dos que são mais próximos, quer interna, quer externamente”. É a avaliação que resulta do score de satisfação global de 5,27 dentro de uma escala que vai de 1 a 10 — de acordo com a metodologia usada, apenas scores entre 9 e 10 mostram trabalhadores satisfeitos, 7 e 8 são classificações “neutras” e resultados abaixo de 6 são insatisfatórios.
Resumidamente: os trabalhadores não procurariam convencer um colega a permanecer no banco se tivesse uma oportunidade de trabalho noutro lugar e nem recomendariam a um amigo vir trabalhar no Banco Montepio.
"Resultados [do inquérito] espelham bem os tempos desafiantes em que nos encontramos no setor bancário, em geral, e no Banco Montepio, em particular.”
O banco não desvaloriza os resultados do inquérito, isto apesar de não ter sido conduzido por uma empresa especializada, razão pela qual os resultados não estão auditados. Fonte oficial do banco salienta, ainda assim, que os resultados “espelham bem os tempos desafiantes em que nos encontramos no setor bancário, em geral, e no Banco Montepio, em particular”.
A mesma fonte acrescenta que o banco está “sensível ao sentimento demonstrado” pelos trabalhadores, notando que se está a trabalhar ativamente na transformação da instituição, o qual prevê várias políticas dirigidas aos trabalhadores, “incluindo a gestão de desempenho, a gestão de potencial, a compensação e benefícios e programas direcionados à atração e retenção de talento no banco”. “Acreditamos que terão impacto na satisfação dos colaboradores“, reforça o banco.
Satisfação global é negativa
Mal pagos e sem oportunidades
Dos mais de 1.800 trabalhadores que participaram no inquérito, realizado entre 9 de julho e 2 de agosto, mais de 80% consideraram-se mal pagos e revelaram-se insatisfeitos no desempenho das suas funções — apenas 3% se mostraram satisfeitos que com o salário que auferem quer com o seu trabalho no banco. Na dimensão “Satisfação no trabalho”, a classificação foi de 5,07.
No entanto, o maior descontentamento entre os funcionários do Banco Montepio tem sobretudo a ver com a “Formação” e a “Avaliação de desempenho e de oportunidades”, que registaram scores de 4,37 e 4,15, os mais baixos de todas as dimensões analisadas. Nas conclusões, a comissão de trabalhadores salienta que “a eventual progressão na carreira é percecionada como INEXISTENTE”.
Quase nove em cada dez trabalhadores não consideram que o banco faça uma avaliação justa e imparcial do seu desempenho, lamentando igualmente a falta de oportunidades para a progressão na carreira — e nem a formação é tida em conta pelo banco para progredir. Tão pouco se procura saber quais as competências de cada trabalhador na escolha de novos elementos para o exercício do funções.
Também há críticas à liderança. Por exemplo, as direções não se preocupam em capacitar os trabalhadores para atingirem as metas definidas e nem se preocupam em motivar os trabalhadores para o cumprimentos dos objetivos.
As melhores classificações foram obtidas nas perguntas sobre a “Motivação”, que obteve um score de 5,74. Mesmo assim, apenas cerca 10% dos trabalhadores disseram estar muito comprometidos com o seu trabalho. E a maioria disse que não era tratada com seriedade e consideração. Também cerca de 10% assumem que o facto de o Banco Montepio pertencer a uma associação mutualista é uma mais-valia (score de 6,28). Ainda assim, concluiu a comissão de trabalhadores, o sentimento “Ser Montepio com muito orgulho” não aumentou nos últimos meses. Pelo contrário, a julgar pela avaliação dos trabalhadores.
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