Bancos centrais sem poder contra o coronavírus. Países têm de agir
Os bancos centrais pouco podem fazer para contrariar os efeitos negativos do vírus na economia. Chave para compensar quebra no crescimento está no investimento público, diz a OCDE.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) alerta para o impacto negativo que o coronavírus vai ter na economia mundial. Reviu em baixa as suas estimativas, admitindo uma quebra ainda mais acentuada perante o prolongar da epidemia. E alerta: os bancos centrais podem ajudar a aliviar a pressão, mas os efeitos serão “modestos”. Terão de ser os países a agir, aumentando o investimento público, para ajudar a economia a recuperar.
“Incertezas adicionais [para a economia] criadas pelo coronavírus tornam essencial que as políticas monetárias mantenham o apoio às economias para garantir que as taxas [de juro da dívida] de longo prazo permanecem baixas“, diz a OCDE, no mesmo relatório em que reviu em baixa a previsão de crescimento da economia mundial de 2,9% para 2,4% em 2020, apontando para que o PIB da Zona Euro cresça apenas 0,8% este ano, contra os 1,1% na anterior estimativa.
“Essas políticas [monetárias] já se tornaram mais acomodatícias nos últimos anos em muitos países, com cortes de juros generalizados”, mas também “sinalizando que os juros se manterão baixos”, lembra. “Perante um prolongado período de taxas baixas e de juros negativos, o impacto de medidas de política monetária adicionais, tanto na procura como na inflação, poderá ser apenas modesto” perante o Covid-19, alerta. Isto na ausência de “outras políticas orçamentais”.
"Perante um prolongado período de taxas baixas e de juros negativos, o impacto de medidas de política monetária adicionais, tanto na procura como na inflação, poderá ser apenas modesto.”
A OCDE não vê grande necessidade de cortes de juros nos EUA, a menos que os riscos de um abrandamento mais expressivo do crescimento económico aumentem. Já para a Zona Euro e o Japão, a perspetiva é diferente. “A Zona Euro e o Japão poderão ter de implementar medidas não convencionais adicionais, tendo em conta as perspetivas de crescimento fracas e a inflação bem aquém da meta, mas têm menos margem para aliviarem ainda mais as respetivas políticas monetárias”.
Sem poder dos bancos centrais, países têm de agir
Neste contexto, a OCDE vira as atenções para os países. “Taxas de juro excecionalmente baixas oferecem a oportunidade para que medidas de política orçamental possam ser utilizadas para fortalecer a procura de curto prazo, incluindo gastos extraordinários temporários de forma a amortecer o impacto do coronavírus”, refere.
A OCDE lembra que países como o Canadá, Alemanha, Japão, Coreia do Sul e o Reino Unido têm em marcha medidas orçamentais para apoiar a economia, alertando que a Alemanha e a Austrália podem fazer mais. Mas há outras economias avançadas “com níveis de dívida relativamente elevados e défices orçamentais” que não têm tanta margem para dar resposta ao abrandamento provocado pelo vírus.
Contudo, mesmo nestes países com menor margem orçamental, os “governos podem apoiar a atividade económica através da alteração da estrutura da despesa e dos impostos de forma a ajudarem a conter os efeitos do vírus e a suportar o crescimento económico”.
“Uma vez que os efeitos do coronavírus comecem a desvanecer-se, o grau de apoio à economia irá depender de desenvolvimentos cíclicos, da dimensão dos estabilizadores automáticos da economia, considerações sobre a sustentabilidade da dívida e da necessidade de rebalancear o mix de políticas” orçamentais, remata.
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