Festa do Avante acumula prejuízo de 1,88 milhões desde 2014. Vende pelo menos 25 mil bilhetes em cada edição
2019 foi o pior ano financeiro da festa, com prejuízo superior a meio milhão, segundo as contas entregues à ECFP que o ECO consultou. Estimativa por defeito põe número de bilhetes vendidos em 25 mil.
A Festa do Avante organizada pelo PCP, que é uma ação de angariação de fundos, acumulou um prejuízo de 1,88 milhões de euros entre 2014 e 2019. O resultado do último ano, um prejuízo de 564 mil euros, foi o pior dos últimos seis anos, de acordo com os dados fornecidos pelo partido à Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP), que foram consultados pelo ECO. Além disso, as receitas com bilhetes permitem concluir que, no mínimo, o evento vende 25 mil bilhetes por edição.
O evento de referência da rentrée dos comunistas passou a registar prejuízos em 2014, depois de vários anos de lucros, e desde então tem sido uma constante. A festa da Quinta da Atalaia, que este ano provocou polémica por se realizar durante a pandemia de Covid-19, tem levantado dúvidas de organização contabilística por parte da Entidade que fiscaliza as contas dos partidos já há vários, com o PCP a rejeitar as críticas, argumentando que não existe um enquadramento legal que permita “regular, pelas suas características próprias, uma grande iniciativa partidária de massas”.
A última edição, no ano passado, registou o maior prejuízo com um saldo negativo de 564 mil euros entre as receitas de 2,61 milhões e as despesas de 3,17 milhões de euros. Os prejuízos de uma atividade que representa 90% do volume de angariação de fundos acumulam-se há seis anos: 158,4 mil euros em 2014, 19,46 mil euros em 2015, 492 mil euros em 2016, 288,8 mil euros em 2018 e 362,3 mil euros em 2018.
Ao todo, o prejuízo já vai nos 1,88 milhões de euros, levando a que nos últimos anos, ao contrário do objetivo de uma angariação de fundos, o PCP tenha “perdido” dinheiro com esta iniciativa, pelo menos da forma como é organizada em termos contabilísticos perante a ECFP. Anteriormente a este período de resultados negativos, a Festa do Avante acumulou um lucro de 4,2 milhões de euros no conjunto dos anos entre 2003 e 2013 em que o resultado foi sempre positivo.
É de salientar que, apesar dos prejuízos recentes, o PCP é o segundo partido com assento parlamentar com a situação financeira mais estável com um nível de capitais próprios de 16,7 milhões de euros, um valor apenas superado pelos 19 milhões de euros do PSD, segundo as contas anuais de 2019 que foram entregues pelos partidos à ECFP este verão.
Não é claro o que levou a esta flutuação dos resultados da Festa do Avante e, mais recentemente, ao agravamento do resultado líquido — o ECO questionou o PCP, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo. Desde há muitos anos que o maior evento dos comunistas é alvo de críticas de falta de transparência por parte da ECFP, ainda que as irregularidades sejam transversais a quase todos os partidos. Em concreto, existe dificuldade em verificar a contabilidade uma vez que há muita movimentação em numerário e um elevado nível de informalidade.
Há vários exemplos nos relatórios da ECFP, como o último de 2017, ao longo dos anos sobre as contas do Avante, desde a dificuldade de obter informação quando há visitas ao evento por parte de técnicos da Entidade (como se faz a eventos de outros partidos), encontrando resistência na prestação de informação, até a viagens à Irlanda, Bulgária e Roménia que são imputadas à categoria “convívios” na despesa da Festa do Avante, entre outras despesas que não realizadas ao longo do ano e não especificamente nos meses que antecedem o evento. “A Festa do Avante, a organização Festa e a contabilidade da Festa são um evento todo o ano a tempo inteiro“, tem dito o PCP no contraditório que faz à ECFP.
Nas contas entregues pelo PCP, apenas é possível saber a evolução da receita e da despesa e, posteriormente, através da auditoria que é feita, tem sido possível ver a desagregação da receita, mas não da despesa. Uma análise aos últimos anos permite concluir que a receita tem ficado à volta dos 2,5 a 2,6 milhões de euros, sem acompanhar o aumento da despesa para lá dos três milhões de euros.
Dentro da receita, onde existe desagregação nas contas consultados pelo ECO, é visível a importância da restauração no evento com um encaixe de 1,2 milhões de euros, o que representa quase metade da receita de cada ano. A segunda maior receita vem de entradas permanentes (EP) — os bilhetes para se entrar na festa — com uma receita acima de 900 mil euros.
Avante vende pelo menos 25 mil bilhetes por edição
Uma das dúvidas que existe sobre a Festa do Avante é o número de bilhetes efetivamente vendido, uma questão que ganhou ainda mais importância este ano por causa das regras impostas para a realização do evento por parte da Direção-Geral da Saúde — no máximo, poderão estar 16.563 pessoas no recinto, apesar de este ter dimensão para 100 mil pessoas. ”
O PCP recusa-se a dizer à ECFP (e à imprensa, após questionado) quantos bilhetes vendeu em cada ano, revelando apenas a receita total com EPs. “A venda de EPs na Festa do Avante é contabilizada pelo valor total da sua venda, não podendo estar individualizado ou autonomizado um recibo para cada venda de EP. Isso é impossível“, diz o partido liderado por Jerónimo de Sousa.
Ainda não é possível saber o valor da receita com bilhetes em 2019, mas é conhecida a de 2018: 938,8 mil euros. Poder-se-ia dizer que bastava à ECFP dividir a receita pelo valor do bilhete, mas não é possível uma vez que o preço difere se for adquirido antecipadamente ou no próprio dia do evento. Ainda assim, mantendo o exemplo de 2018, em que o bilhete pré-evento custava 26 euros e no dia 37, é possível fazer uma estimativa — por defeito, ao utilizar o valor mais elevado — de que foram vendidos, pelo menos, 25 mil bilhetes.
Contudo, a análise também não acaba aqui: o PCP argumenta que muitas pessoas compram o bilhete como um “gesto de apoio” financeiro ao partido e não para irem efetivamente à festa. Numa resposta enviada ao Público esta semana, o gabinete de comunicação do PCP explica que “a sua compra prossegue, num quadro em que uma parte não correspondendo a deslocações à Festa, mas sim a gestos de apoio, possibilita que sejam ainda alguns milhares as entradas que podem ser adquiridas, atendível a capacidade fixada”. Daí que o PCP continue a vender entradas para o Avante 2020 para lá da lotação máxima definida pela DGS.
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