Hotelaria estima perda de até 80% da receita para 2020. “O ano está mesmo perdido”, diz CEO da AHP
As perspetivas da hotelaria apontam para uma perda máxima de 80% das receitas até ao final do ano, sendo que as reservas previstas estão abaixo dos 20%.
As estimativas da hotelaria quanto aos impactos da pandemia no setor continuam a ser pessimistas, tal como já tinha admitido o próprio presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). Em junho o cenário apontava para uma perda máxima de até 3,6 mil milhões de euros em receitas, um cenário que agora se mantém, estimando-se uma perda de até 80% das receitas até ao final do ano.
“O ano está mesmo perdido. É impossível manter um negócio assim”, diz a CEO da AHP, Cristina Siza Vieira, detalhando o cenário pessimista que se prevê para os meses de outubro, novembro e dezembro.
O quarto inquérito feito pela associação, apresentado esta quinta-feira, aponta para uma perda entre os 3,2 e os 3,6 mil milhões de euros até ao final do ano, o equivalente a uma descida máxima de 80% das receitas. Em termos de dormidas, estas ficarão semelhantes: entre 70% a 80% abaixo do verificado no ano passado. “Eventualmente não teremos uma perda tão substancial, apontamos mais para uma perda de 70% das dormidas”, disse Cristina Siza Vieira.
Em termos de taxa de ocupação prevista até ao final do ano, esta está nos 23% no Norte, nos 15% no Centro, nos 11% na Área Metropolitana de Lisboa, nos 19% no Alentejo, nos 15% no Algarve, nos 9% nos Açores e 19% na Madeira. Além disso, 60% dos hotéis tem entre 90% a 100% das reservas reembolsáveis. “Esta é uma tendência que veio para ficar”, nota a responsável.
No que diz respeito aos mercados, os portugueses são responsáveis pela maior fatia da procura, à frente dos espanhóis, dos alemães e dos franceses. Os britânicos, este ano, estão “desaparecidos em combate”, diz Cristina Siza Vieira.
Face a este cenário, 98% dos inquiridos diz ser ainda necessário implementar medidas extraordinárias de apoio ao turismo, nomeadamente o lay-off simplificado, novas linhas de apoio e o diferimento das contribuições da empresa para a Segurança Social.
Alentejo foi a “estrela da companhia” no verão
Em junho, cerca de 52% dos hotéis estavam encerrados, uma percentagem que foi diminuindo mensalmente: 29,95% em julho, 27,88% em agosto e 24,65% em setembro. Para Cristina Siza Vieira, “é uma percentagem relativamente elevada, dentro das circunstâncias”.
No que diz respeito às taxas de ocupação, que fecharam bastante abaixo dos níveis do ano passado, o Alentejo foi a região que mais brilhou este verão. “Foi a estrela da companhia, com 71% de ocupação em agosto”, disse a CEO da AHP, notando que, pelo contrário, “a queda mais violenta observou-se na Área Metropolitana de Lisboa” (abaixo dos 20%), enquanto na Madeira e nos Açores “as taxas de ocupação foram baixíssimas e gravíssimas”.
Em termos de preço médio, entre junho e setembro, “o preço médio no Alentejo e no Algarve foi simpático”, notou a responsável, detalhando que este indicador ficou acima dos 100 euros em ambas as regiões. “Tudo o resto esteve a preços muito abaixo do praticado mas, ainda assim, não se vendeu ao desbarato”, sublinhou, notando mesmo que no Alentejo o preço médio foi superior ao praticamente em 2019.
O mercado português foi apontado como um dos três principais mercados, depois de Espanha. Enquanto isso, o “Reino Unido foi apontado no top 3 apenas na Madeira, desaparecendo da pool de principais mercados emissores”.
Nestes meses, quase 60% dos hotéis fecharam entre 11% a 30% dos quartos. “Basicamente, ninguém ficou aberto a 100%”, diz Cristina Siza Vieira. “Obviamente ainda estamos a falar de uma previsão muito negativa para a totalidade do ano em termos de taxa de ocupação, mas, apesar disso, o verão deu um aqui um boost de energia ao setor”.
Para o futuro, “basicamente ninguém tem confiança que o setor recupere em 2020”. O inquérito mostra que 27% dos hotéis acredita numa recuperação apenas no segundo semestre de 2023, enquanto 21% acredita numa recuperação no segundo semestre de 2022.
(Notícia atualizada às 13h14 com mais informação)
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