Centeno afasta recessão no 1.º trimestre igual à do primeiro confinamento
No segundo trimestre de 2020, o confinamento provocado pela pandemia levou a uma queda de 16% do PIB. Portugal está novamente confinado, mas o impacto económico será menor, antecipa Centeno.
O governador do Banco de Portugal (BdP) considera que a economia portuguesa não vai sofrer no primeiro trimestre deste ano, marcado por um novo confinamento, o mesmo impacto do sentido no segundo trimestre de 2020, período marcado pelo primeiro confinamento provocado pela pandemia. Em entrevista esta quarta-feira à RTP3, Mário Centeno adiantou que o quarto trimestre terá sido melhor do que o esperado, o que irá “equilibrar” um pior primeiro trimestre de 2021.
No segundo trimestre de 2020, Mário Centeno ainda era ministro das Finanças e fez parte da resposta orçamental não só de Portugal como da União Europeia enquanto presidente do Eurogrupo. Nesse período, o PIB caiu 16,3%, em termos homólogos, com o então ministro a antecipar uma quebra de 6,5% do PIB por cada mês de confinamento restrito. Quase um ano depois, Centeno é agora governador do Banco de Portugal, instituição que também faz previsões económicas, e mostra mais otimismo em relação ao impacto da pandemia na economia.
“A economia tem reagido às sucessivas vagas de pandemia de forma — e vou usar um termo estranho em crise pandémica — bastante positiva“, afirmou Centeno, ex-ministro das Finanças, destacando o aumento da “capacidade de adaptação que as economias têm tido a laborar nestas dificuldades“. O economista notou que “em todos os momentos de desconfinamento, a reação da economia foi automática e foi muito forte“, argumentando que para tal ajudou o facto dos apoios monetários e orçamentais terem sido “muito eficazes”.
“Se compararmos o comportamento da economia em novembro, onde também foram implementadas medidas de confinamento, com o que aconteceu em março, os indicadores de janeiro indicam que não vamos ficar com números desta natureza“, disse Mário Centeno, referindo que, por um lado, a queda das operações em multibanco apresentam uma queda de 20% (superior à de novembro), mas que, por outro lado, o consumo de energia corrigido de temperatura (Portugal passou por uma vaga de frio no início do mês) teve uma variação homóloga “quase nula”.
A contribuir para o otimismo de Centeno está a revisão em alta do desempenho do quarto trimestre de 2020 — o governador não adiantou número, notando apenas que ficará “em linha” com o terceiro trimestre –, o que permite partir para 2021 com uma “base melhor”. Tal dará para “equilibrar” o facto de o BdP esperar nas suas previsões um crescimento nulo no primeiro trimestre de 2021, que deverá pior do que o esperado por causa do novo confinamento.
Quanto à retirada dos apoios orçamentais, Mário Centeno repetiu o argumento de que as medidas devem ser “temporárias” dada a natureza desta crise, mas alertou que “seria um péssimo sinal se fossem eternizadas”.
Moratórias “não causam nenhum problema aos bancos em 2020, nem em 2021”
O governador do Banco de Portugal reconhece que existe o risco de o país “acordar para uma realidade de malparado” em setembro deste ano quando acabar a vigência das moratórias bancárias, mas dá argumentos para defender que tal não deverá acontecer. As moratórias “neste momento não causam nenhum problema aos bancos em 2020, nem em 2021”, garantiu.
Em primeiro lugar, Centeno refere o aumento da poupança em Portugal, com o total de depósitos bancários a engordar 10% com um crescimento de 7% nas famílias e de mais de 10% nas empresas, o que quer dizer que “foi criada uma almofada financeira para fazer face a eventuais necessidades“. O ex-ministro das Finanças interpreta este aumento da poupança como um sinal de os agentes económicos aprenderam com a última crise, optando por ter “muita precaução”.
Mais: as empresas que recorreram a moratórias têm depósitos no sistema bancário no valor de 20% do crédito em moratória. Mais uma vez, disse Centeno, “do ponto de vista agregado existe uma almofada para dar resposta” ao fim das moratórias uma vez que este “não será um perdão de dívida”. Isto é, em outubro deste ano será preciso voltar a pagar capital e juros aos bancos pelos empréstimos devidos. “Temos de nos preparar todos para isso”, avisou.
Ainda assim, Centeno notou que “a proteção do sistema financeiro é uma preocupação que não deixa de existir”, reconhecendo que o risco de a crise passar a ser financeira está “sempre latente”. Quanto ao endividamento público, o ex-ministro das Finanças considerou que o financiamento da República “está estável e assegurado”, mas mostrou-se preocupado com o “contexto de maior endividamento”, recomendando ao Governo que retome a descida da dívida pública assim que possível.
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