Crédito para comprar casa nunca foi tão barato em Portugal
A taxa de juro média aplicada aos novos empréstimos para fins de habitação tocou, em dezembro, no valor mais baixo de sempre. Foi de apenas 0,80%.
Foram muitas as famílias que, apesar da pandemia, recorreram à banca para conseguirem comprar uma casa. Mesmo com a crise pandémica, revelaram confiança suficiente na economia para pedirem crédito à habitação, levando o montante solicitado a tocar máximos de mais de uma década. Parte da explicação para esse apetite está no custo desse financiamento. É que estes empréstimos nunca foram tão baratos em Portugal.
2020 foi um ano que ficou marcado pela crise pandémica que provocou algumas dificuldades a vários portugueses. Ainda assim, com as medidas de proteção ao emprego, muitos mantiveram a estabilidade financeira para, entre outros, comprar casa. E fizeram-no recorrendo ao crédito à habitação. Prova disso mesmo é que é preciso recuar até 2008 para observar um valor tão elevado no que toca ao montante disponibilizado pelos bancos para este fim. No total do ano de 2020, esse valor atingiu os 11.389 milhões de euros.
No final do ano, essa realidade apenas se tornou mais evidente. No último mês de 2020, os valores concedidos pelas instituições bancárias ultrapassaram os 1,2 mil milhões, chegando mesmo aos 1.203 milhões de euros para empréstimos destinados à aquisição de habitação, o valor mensal mais elevado desde julho de 2008.
Tudo isto ao mesmo tempo em que a taxa de juro média aplicada às novas operações de empréstimos para compra de casa atingiu o valor o mais baixo desde que há registo. No passado mês de dezembro, o custo exigido às famílias a propósito da subscrição de créditos desta natureza fixou-se em apenas 0,80%.
Pelo quinto mês consecutivo foi, assim, estabelecido um novo mínimo histórico. Face ao mês de novembro, onde a taxa se fixava nos 0,84%, regista-se uma quebra de quatro pontos base. Em comparação com o mesmo mês em 2019, altura em que essa taxa era de 1,1%, estamos agora perante uma queda de 30 pontos base.
Por que razão esta taxa de juro está tão baixa?
Para conseguir explicar este mínimo nos juros do crédito da casa, há que ter alguns fatores em conta. Em primeiro lugar, é importante não desconsiderar a “guerra” de spreads que tem ocorrido entre os bancos a operarem em Portugal, de forma a posicionarem-se mais favoravelmente no mercado, com o intuito de angariarem novos clientes.
Muitas destas instituições bancárias têm vindo a rever em baixa os valores dos seus spreads. Um bom exemplo disso mesmo é o Bankinter, que em setembro decidiu passar a oferecer uma margem mínima de 0,95% — baixando a taxa para um nível que não se verificava no mercado desde o ano de 2010. Para além desta instituição, muitas outras encontram-se neste momento com spreads de 1%. É o caso do Crédito Agrícola, ActivoBank, Millennium BCP e também do Santander.
Ao mesmo tempo que se deu esta redução dos spreads da parte das instituições bancárias que operam em Portugal, também os juros no mercado têm vindo a descer, atingindo níveis cada vez mais negativos. A atual política de juros baixos do Banco Central Europeu teve repercussões ao nível das taxas Euribor, atualmente em mínimos históricos e com valores bem abaixo de zero.
O facto de a taxa de juro associada aos novos empréstimos à habitação ter atingido este mínimo histórico de 0,8% deve-se a estas duas razões: à queda dos spreads dos bancos mas, também, da taxa Euribor a 12 meses — a qual está atualmente em terreno negativo, nos -0,507%. A taxa de mercado anula parte da margem cobrada dos bancos, daí a taxa dos novos créditos ser mesmo inferior à dos spreads.
E, ao que tudo indica, este juro muito baixo para comprar casa a crédito deverá permanecer em mínimos históricos durante algum tempo. O Banco Central Europeu (BCE), que tem em vigor uma política monetária altamente expansionista, tem vindo a dar garantias de que a taxa de referência da Zona Euro vai continuar em 0%, mantendo-se assim a pressão nos juros utilizados como indexantes no crédito ancorados em mínimos históricos.
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