Taxa de desemprego deverá subir para 8,3% em 2021, mas recupera nível pré-crise até 2024
Apesar da subida da taxa de desemprego, na realidade o CFP perspetiva uma melhoria do mercado de trabalho em 2021, com menor destruição de emprego face a 2020.
A taxa de desemprego vai piorar significativamente em 2021 ao subir de 6,8% para 8,3%, de acordo com as previsões divulgadas esta quarta-feira pelo Conselho das Finanças Públicas (CFP) no relatório “Perspetivas Económicas e Orçamentais 2021-2025”. Mas em 2022 já haverá uma clara melhoria com a taxa de desemprego a baixar para 7,3%, acompanhando o aumento do ritmo de recuperação económica no próximo ano. Em 2024, a taxa chega aos 6,5%, igual à de 2019.
Estas previsões do CFP são em políticas invariantes, ou seja, só contabilizam o que já está legislado e assumem que tudo ficará constante — no caso do Banco de Portugal, a previsão aponta para 7,7% em 2021. Além disso, é de notar que este indicador, a taxa de desemprego, está atualmente afetado pelo nível elevado de inativos, isto é, pessoas que estão desempregadas mas que não procuram ativamente por emprego, o que é influenciado pelas restrições da pandemia.
A sua leitura deve ser acompanhada pela evolução do emprego em Portugal. Em 2020, o emprego desceu 2%, ainda que a taxa de desemprego apenas tenha subido três décimas de 6,5% para os 6,8%. O que acontece em 2021 é que se perspetiva uma diminuição dos inativos acumulados em 2020 (passando para a população desempregada), levando a uma subida automática da taxa de desemprego. Mas na realidade o emprego apenas vai descer 0,2% este ano, de acordo com o CFP.
“Perspetiva-se uma melhoria gradual das condições do mercado de trabalho no curto prazo, associadas à expectativa de recuperação económica, ainda suportada em 2021 por medidas como o lay-off simplificado”, escreve a entidade liderada por Nazaré Costa Cabral, assinalando que “em 2022 é esperada a retoma no ritmo de criação de emprego na economia à taxa de 1,4% e o início da trajetória descendente da taxa de desemprego para valores em torno de 6,5% no médio prazo”.
Esta evolução acontece “num contexto marcado por medidas de apoio à atividade económica e à manutenção de postos de trabalho, como o lay-off simplificado, os quais contiveram a perda de emprego” e, posteriormente a 2021, num cenário de forte recuperação da economia. O PIB deverá crescer 3,3% este ano, acelerando para 4,9% no próximo ano, período em que o emprego crescerá 1,4%, mas depois abrandará.
“A recuperação lenta do emprego deverá refletir, por um lado, o impacto negativo da crise sanitária sobre a evolução perspetivada para os setores mais expostos aos contactos pessoais, como a hotelaria, restauração, turismo e atividades recreativas ligadas ao desporto e entretenimento e, por outro lado, o efeito mitigador das medidas de apoio à atividade económica, em particular o regime de lay-off simplificado, os apoios aos trabalhadores independentes e o recurso ao teletrabalho”, concretiza o CFP.
Ainda assim, esta trajetória do mercado de trabalho português é mais favorável do que a prevista pelo CFP para a Zona Euro: no agregado dos países que partilham o euro, a taxa de desemprego deverá subir dos 7,8% em 2020 para 8,6% em 2021, passando para 7,5% nos anos seguintes.
Contudo, há riscos descendentes para este cenário. “O aumento do risco de insolvências no tecido empresarial e, consequentemente, de aumento do desemprego e de diminuição no rendimento das famílias, o que associado ao elevado endividamento na economia potencia o risco de incremento do crédito malparado, em especial após o término das moratórias, com impacto nas condições de liquidez da economia”, alerta o CFP, referindo em específico o setor do turismo.
O Conselho alerta para um potencial “efeito de histerese no mercado de trabalho”, ou seja, em que a taxa de desemprego teima em não descer após um determinado choque. Este cenário é “potencialmente agravado num contexto de desajuste de competências entre a oferta e a procura de trabalho“, o que pode acontecer se a economia não reafetar os recursos de forma eficaz para a nova realidade pós-pandemia.
Produtividade vai aumentar e custos de trabalho baixam
Em 2020, a produtividade aparente do trabalho caiu 5,7% por causa das restrições da pandemia, mas o indicador vai recuperar de forma “expressiva” (+3,5%) em 2021, seguindo um “abrandamento gradual no médio prazo”.
Quanto aos custos de trabalho por unidade produzida, espera-se uma redução no curto prazo “que resulta não só da recuperação antecipada para a produtividade aparente do trabalho, mas também da expectativa de abrandamento da remuneração média por trabalhador em 2021”.
“No médio prazo o cenário tem implícita uma aceleração do ritmo de crescimento dos CTUP, em linha com a expectativa de crescimento do IHPC (1,7%)”, detalha o CFP.
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