“Todas as grandes mentiras da acusação caíram”, diz Sócrates

Além do que diz ser o fim das mentiras, o antigo governante sublinhou o "escândalo da manipulação do processo" no que diz respeito à escolha do juiz.

O ex-primeiro-ministro José Sócrates considera que a decisão do juiz Ivo Rosa sobre a Operação Marquês revela o fim das “mentiras” que foram contadas nos últimos anos. De 31 crimes de que estava indicado pelo Ministério Público, o socialista vai a julgamento por seis crimes: três de branqueamento de capitais e três de falsificação de documento. Garante que não os cometeu.

“Todas as grandes mentiras da acusação hoje caíram. Estive preso com acusações que todas elas caíram aqui”, diz Sócrates à saída do Campus de Justiça depois de ouvir a decisão do debate instrutório por parte do juiz de instrução criminal, tal como Ricardo Salgado, Henrique Granadeiro, Carlos Santos Silva, Zeinal Bava, Armando Vara e outros 20 arguidos.

Ivo Rosa decidiu pela não pronúncia de Sócrates nos crimes de corrupção de que estava acusado. Sobre os negócios de construção de 50 mil casas na Venezuela, o juiz referiu que o antigo primeiro-ministro não é referido por qualquer outro arguido e que não existe prova que sustente que tenha tido conhecimento dos termos do acordo de cooperação assinado entre Portugal e Venezuela. Sobre as obras da Parque Escolar, considerou que não existe qualquer subjetividade na escolha da proposta vencedora.

"Aquilo que digo é verdade e vou defender-me. Nunca cometi esses crimes. Tudo isto é uma gravíssima injustiça.”

José Sócrates

Ex-primeiro-ministro

Já relativamente ao TGV, o juiz relembrou todos os testemunhos que não corroboram também que Sócrates tenha interferido no procedimento concursal e que não existem provas que o ligue a Joaquim Barroca. Afirmou ainda que existem indícios insuficientes e ausência de prova de que Ricardo Salgado pagou a José Sócrates (os 12 milhões falados na acusação). Ou por prescrição ou por falta de indícios, Sócrates acaba por não ir a julgamento por nenhum crime de corrupção passiva de que estava acusado.

Será julgado apenas por três crimes de falsificação e três de branqueamento de capitais, acusações que Sócrates diz que não são verdade. “Aquilo que digo é verdade e vou defender-me. Nunca cometi esses crimes“. Especificamente sobre os documentos, garantiu não os conhecer nem nunca os ter assinado. “Não me conformo com isso, acho que não é correto e vou ver com detalhe”.

O antigo governante sublinhou o “escândalo da manipulação do processo” no que diz respeito à escolha do juiz, que foi a que “mais convinha” ao Ministério Público. “Tudo isto é uma gravíssima injustiça”, acusa. Sócrates e Armando Vara tinham já contestado a distribuição eletrónica e não manual do processo, em setembro de 2014, sendo que Ivo Rosa considerou esta sexta-feira que o processo devia ter sido distribuído por forma eletrónica ou na presença de um juiz.

"Sinto-me com a tranquilidade dos inocentes e certamente que quererei uma reparação.”

José Sócrates

Ex-primeiro-ministro

O juiz decidiu, por isso, pedir a extração de certidão relativamente ao sorteio que deu o processo a Carlos Alexandre entre 2014 e 2015. Segue-se assim a investigação para o Ministério Público, mas Sócrates diz que não confia. “Claro que não confio no Ministério Público para imputar esse crime porque foi o primeiro interessado para que esse crime não fosse posto em cima da mesa, foi conivente, defendeu essa decisão”, explica.

O ex-primeiro-ministro acusa o Ministério Público de ter escolhido o juiz e agido de forma conluiada para o investigarem, acusarem e prenderem. “A acusação tem uma motivação política, sempre teve uma motivação política que está bem clara numa decisão do juiz. No momento em que o processo Marquês chegou ao Tribunal de Instrução Criminal, a sua distribuição foi manipulada e viciada para que o juiz Carlos Alexandre ficasse com o processo”, apontou.

Questionado pelos jornalistas sobre se iria pedir alguma compensação ao Estado, recusou responder, mas atirou: “Sinto-me com a tranquilidade dos inocentes e certamente que quererei uma reparação“. Já em relação a um eventual regresso à política, nomeadamente uma candidatura à presidência da República, o socialista disse que era uma reflexão que não queria partilhar publicamente.

(Notícia atualizada às 19h00)

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