Mariana Mortágua: “Não acho que aprovar orçamentos do PS de olhos fechados seja útil para o país”
A deputada diz, no podcast Mistério das Finanças, que o BE manterá as mesmas exigências na negociação do OE 2022: lei laboral, serviços públicos e apoios sociais no centro da discussão com o PS.
Mariana Mortágua garante que o Bloco irá para as negociações do Orçamento do Estado para 2022 (OE 2022) “de peito aberto e com vontade” de chegar a entendimentos, como nos anteriores orçamentos. Porém, avisa que não acha que “aprovar orçamentos do PS de olhos fechados seja útil para o país”. Em entrevista ao podcast do ECO, Mistério das Finanças, conduzido pelos jornalistas Pedro Santos Guerreiro e António Costa, a deputada do Bloco insiste que é preciso avanços nas questões laborais, nos serviços públicos e nos apoios sociais.
“O Bloco vai para todas as negociações de peito aberto e com vontade“, garante a deputada bloquista, assinalando que tal não acontece apenas no OE, mas noutras áreas em que é possível acordo com os socialistas. Confrontada com as declarações de António Costa — “quem se senta à mesa para dizer que não recua em nada não quer acordo” –, Mortágua riposta que “essa questão da vontade está provada que existe e sempre existiu” do lado do Bloco.
“A questão é que políticas vão estar dentro desse OE“, alerta, mostrando desconfiança sobre o que lhe vai ser apresentado em breve quando arrancarem as negociações do próximo Orçamento. E volta ao passado para descrever como na primeira legislatura o funcionamento da geringonça estava mais oleado: “Na anterior legislatura havia um acordo escrito que protegia o Orçamento porque era preciso alcançar as metas”, explica.
Mariana Mortágua culpa o PS por não ter negociado um acordo escrito no início desta segunda legislatura e acusa o partido de ter uma “estratégia” que passava por “ameaçar uma crise política e procurar uma maioria absoluta”. “O PS achou que era mais fácil” fazer isso, disse, do que negociar à partida um acordo de incidência parlamentar, acusando os socialistas de não quererem “ir mais longe em certas áreas”.
Ainda assim, a deputada do Bloco diz não ter “nenhuma ambição” de transformar o OE do PS no OE do BE. “O PS é o partido que tem mais votos, mas o BE é o terceiro maior partido do país e o PS está em minoria (…) ninguém espera que o BE dê o seu aval a um OE se não concordar com um conjunto de políticas“, explica, sobre o equilíbrio de forças no Parlamento.
As exigências mantêm-se face à negociação do Orçamento para 2021: as questões laborais são “importantes”, classifica, assim como o reforço dos serviços públicos, nomeadamente através da exclusividade dos médicos, e a melhoria da “estrutura” da rede de prestações sociais.
Além disso, questionada sobre as declarações de Francisco Louçã que a lançou novamente para o cargo de ministra das Finanças, Mortágua diz que a ideia subjacente é a de que o Bloco “tem condições para ter um papel muito mais ativo e interventivo, inclusive papel de Governo e de poder, nas políticas económicas e financeiras do país”. Porém, rejeitou a ideia de que só quer subir a carga fiscal: “O Bloco não defende uma política generalizada de aumento de impostos“, assegurou, explicando que defende uma “reorganização e recomposição dos impostos” e a exigência de um “contributo justo dos lucros” não só através do aumento das taxas mas também combatendo a evasão fiscal.
O PS disse recentemente pela voz do primeiro-ministro que é preciso mudar a lei laboral, mas não foi concreto e o PCP já veio criticar, acusando António Costa de uma “operação de marketing” nas declarações de João Oliveira ao Expresso. O Bloco também classificou a intenção de uma “mão cheia de nada” pela voz de José Soeiro.
Recentemente, António Costa disse que há quem se reconcilie depois de um divórcio, referindo-se à relação entre o PS e o Bloco após o voto contra dos bloquistas no Orçamento para 2021. Pouco tempo depois, a líder do Bloco de Esquerda respondeu, garantindo que não existe uma zanga entre os dois partidos e que continua aberta a negociar, nomeadamente o OE 2022. “O que eu receio é um mau Orçamento do Estado”, disse Catarina Martins, notando que “há uma diferença entre ter um Serviço Nacional de Saúde mais forte ou mais fraco” ou entre ter ou não um “apoio social que permita que o país não entre numa tragédia social”
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