CGD pondera voltar a vender malparado para acautelar fim das moratórias
Apesar de ter reduzido mais de oito mil milhões de euros o montante de ativos problemáticos desde 2016, "na Caixa, tal como no Novo Banco, há muito crédito a recuperar", de acordo com o CEO.
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a ponderar voltar ao mercado para vender malparado em antecipação das moratórias, segundo anunciou esta quarta-feira o CEO, Paulo Macedo, no Parlamento. O gestor não avançou com valores, apontando apenas para montantes mais reduzidos face às grandes alienações realizadas no âmbito da reestruturação pós-crise.
“Estamos a considerar vender”, disse Macedo, explicando que apesar de o banco não precisar neste momento de o fazer por razões regulatórias, pretende acautelar o impacto que o fim do regime das moratórias poderá vir a ter na qualidade dos ativos. “Vamos fazer vendas de carteiras, mas de valores muito mais diminutos“, avançou.
Em março, a agência Debtwire noticiou que a CGD iria colocar no mercado duas carteiras de non performing loans (NPL) com valor contabilístico bruto de 450 milhões de euros. O banco liderado por Paulo Macedo fechou 2020 com o rácio de NPL pela primeira vez abaixo de 4%, superando a meta de 7% que constava do plano estratégico acordado entre o Governo e Bruxelas.
Desde 2016, o rácio baixou dos 15,8% para 3,9%, o que traduz uma redução de mais de oito mil milhões de euros em termos destes ativos problemáticos. Macedo clarificou que as vendas não tiveram prejuízo direto para o banco dado que já tinham todas sido alvo de imparidades (e por isso com perdas assumidas nas contas de forma antecipada).
A situação é hoje muito diferente, mas “na Caixa, tal como no Novo Banco, há muito crédito a recuperar”. O processo de recuperação desses ativos — nomeadamente dos créditos dos grandes devedores, que não foram vendidos nas carteiras de malparado — está a ser feito pelo Caixa Banco de Investimento (BI), de acordo com o gestor.
Serviços da Caixa deram parecer positivo ao empréstimo
Paulo Macedo foi chamado à Assembleia da República para a última audição da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do Novo Banco. “Não havia nenhuma boa solução. O que havia a avaliar era a menos penalizadora“, começou por dizer sobre a resolução do Banco Espírito Santo (BES), em 2014, numa altura em que era ministro da Saúde do Governo liderado por Pedro Passos Coelho.
“Apesar de tudo, penso que foi a solução menos má, evitou que houvesse uma maior instabilidade no sistema financeiro”, disse Paulo Macedo. Sublinhou, no entanto, que “teria sido desejável um maior envolvimento dos credores” tal como já tinham defendido outros gestores de bancos na mesma comissão parlamentar.
Após a resolução do BES, a criação do Novo Banco e a venda ao Lone Star, os principais bancos passaram a contribuir para o Fundo de Resolução, sendo que a Caixa coloca — desde 2014 — uma média de 42 milhões de euros por ano. “Não sei porque é que outras entidades do sistema financeiro não contribuem. Há uma concentração que desvirtua a concorrência”, criticou. “Há uma parte da rentabilidade que vai para aqui. Isto representa um imposto de porta aberta”.
No início do mês, o Novo Banco recebeu uma injeção de 317 milhões de euros através do Fundo de Resolução que foi financiada por um empréstimo da banca (em vez dos impostos e contribuições). Questionado sobre a operação, Macedo esclareceu que “os serviços da Caixa fizeram uma avaliação positiva ou a Caixa não teria participado”. Uma avaliação positiva significa que “entendemos que o Fundo — com pressupostos aceitáveis — conseguirá cumprir os seus compromissos. Portanto, que no longo prazo os bancos serão ressarcidos. O Fundo é solvente e conseguirá honrar os seus compromissos.
“Houve uma negociação técnica”, explicou ainda o CEO da Caixa. “O nosso entendimento foi que havia condições para fazer o financiamento. A Caixa entendeu que seria possível financiar o Fundo de Resolução de acordo com esses pressupostos e que estaria assegurado o reembolso“, acrescentou.
(Notícia atualizada às 17h30)
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