FMI vê retoma mais divergente com Zona Euro e EUA a crescer mais
As economias avançadas vão crescer mais do que o previsto anteriormente, mas os países mais pobres ficam para trás. Já a inflação não é uma preocupação para já, ainda que a incerteza se mantenha.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) continua a apontar para um crescimento do PIB mundial de 6% este ano, mas vê agora ainda mais divergências na retoma pós-pandemia. As boas notícias são para os países onde a vacinação está mais acelerada, maioritariamente economias avançadas, como é o caso dos EUA e da Zona Euro, cujo PIB é revisto em alta. Já as economias emergentes ficam com as más notícias, alerta o FMI na atualização do World Economic Outlook (WEO) esta terça-feira.
“A recuperação mundial da economia continua, mas com um crescente fosso entre economias avançadas e muitos mercados emergentes e economias em desenvolvimento“, escreve a economista-chefe do FMI, Gita Gopinath, notando que, apesar da previsão mundial ser a mesma do WEO anterior, a “composição [do crescimento] mudou”. Nas economias avançadas há uma revisão em alta do PIB de 0,5 pontos percentuais ao passo que nas restantes há uma revisão em baixa da mesma dimensão, mais pronunciada nos países asiáticos emergentes.
Esta atualização não vem com nova previsão para Portugal, mas tem números para a Zona Euro e as suas principais economias: o PIB da Zona Euro vai crescer 4,6% em 2021 e 4,3% em 2022, mais duas décimas e cinco décimas, respetivamente, do que no anterior WEO. França fica igual e na Alemanha há uma revisão em alta em 2022, mas é Itália que se destaca pela positiva com uma revisão em alta significativa tanto este ano como no próximo. Já em Espanha há uma revisão em baixa este ano, mas compensada por mais crescimento no seguinte.
Os Estados Unidos vão crescer 7% este ano, mais seis décimas do que o previsto anteriormente, e 4,9% no próximo, mais 1,4 pontos percentuais. Estas revisões em alta devem-se aos estímulos orçamentais adicionais da administração Biden que vão chegar no segundo semestre deste ano e a melhoria da situação epidemiológica no país.
A divergência entre estes dois blocos de países deve-se ao ritmo do processo de vacinação, o qual permitirá libertar cada vez mais a economia, e às ajudas disponibilizadas pelos países. Gopinath detalha que perto de 40% da população das economias avançadas já foi vacinada completamente, o que compara com 11% nos mercados emergentes e uma “fração pequena” nos países em desenvolvimento. A mesma divergência é notória no apoio económico com o pacote das economias avançadas a chegar aos 4,6 biliões de dólares em 2021 e anos seguintes, enquanto nos outros países muitas medidas expiraram em 2020 e os países tentam reequilibrar as contas públicas.
Mais: o FMI estima que a pandemia tenha reduzido o rendimento per capita nas economias avançadas em cerca de 2,8%, relativamente ao que seria a tendência pré-pandemia entre 2020 e 2022, o que compara com uma perda de 6,3% nas restantes economias, excluindo a China. Perante este cenário, o Fundo deixa um aviso: “A recuperação, porém, não está assegurada mesmo nos países onde as infeções estão atualmente muito baixas enquanto o vírus circular em todo o lado“, diz, num apelo a medidas que contrariem esta divergência e recordando a propagação da variante Delta e a hipótese de haver variantes que contornem a proteção das vacinas.
Apesar do otimismo geral do relatório com a retoma, o FMI relembra que há riscos caso o processo de vacinação seja mais lento do que o antecipado, caso as condições financeiras se deteriorem rapidamente por causa das expectativas de inflação e da atuação dos bancos centrais, ou caso as economias emergentes e em desenvolvimento venham a ser “duplamente” penalizadas pela deterioração da pandemia e por condições de financiamento piores.
FMI afasta preocupações com a inflação
O Fundo reconhece que há pressões nos preços, mas estas refletem desenvolvimentos relacionados com a pandemia, os quais são transitórios. “Espera-se que a inflação volte aos intervalos pré-pandemia na maioria dos países em 2022”, assim que os fatores se dissipem.
Perante este diagnóstico, o FMI considera que os bancos centrais devem evitar apertar a política monetária até existir mais certezas sobre as dinâmicas de preços. “Uma comunicação clara por parte dos bancos centrais sobre as perspetivas da política monetária será crucial para moldar as expectativas e salvaguardar contra um aperto prematuro das condições financeira”, lê-se no WEO.
Porém, a “incerteza mantém-se elevada”. Até porque, mais uma vez, a história pode ser outra para as economias emergentes em que a inflação pode manter-se elevada por causa da subida dos preços da comida. O FMI assume que há o risco das pressões transitórias tornarem-se mais persistentes, o que levará a uma ação mais preventiva por parte dos bancos centrais.
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