Rutura nas cadeias de abastecimento preocupa bancos centrais
Os banqueiros centrais estão preocupados com o impacto dos problemas das cadeias de abastecimento na economia. Todos concordam que as pressões inflacionistas são temporárias.
O Fórum BCE reuniu esta tarde os líderes dos bancos centrais da Zona Euro, dos EUA, do Reino Unido e do Japão. Todos estão preocupados com o prolongamento dos problemas nas cadeias de abastecimento, que estão a inflacionar os preços. Constrangimentos deverão demorar mais alguns meses.
“Ao contrário do ano passado em que havia um mar de incerteza, esse mar recuou. Ainda temos incerteza e em alguns casos ela é uma ameaça ao crescimento”, começou por responder Christine Lagarde quando a moderadora lhe perguntou pelas perspetivas de crescimento. Um dos fatores de incerteza que mais a preocupa são “os constrangimentos nas cadeias de abastecimento que temos visto nos últimos meses meses e que em alguns casos aceleraram, como no caso do transporte marítimo de mercadorias”, afirmou a presidente do BCE. “Alguns países podiam ter exportado muito mais bens do que exportaram”, garantiu.
Do outro lado do Atlântico a preocupação é semelhante. Depois de mencionar a forte recuperação da economia americana, que está numa tendência de crescimento mais elevada do que antes da pandemia, Jerome Powell explicou que “são os constrangimentos na oferta que estão a travar a economia neste momento. A rutura das cadeias de abastecimento está a travar a produção em setores como o automóvel”.
O governador do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, referiu que na Ásia “a falta de semicondutores não está resolvida, mas está a melhorar”. Lembrou, no entanto, que alguns países do sudoeste asiático registam um novo recrudescimento no número de casos de covid-19 e implementaram medidas de confinamento que levaram ao encerramento de fábricas. Kuroda considera, ainda assim, que estas dificuldades “são temporárias e transitórias e vão diminuir durante os próximos meses”.
O mesmo se passa no Reino Unido, que enfrenta problemas de abastecimento globais, mas também locais, como a falta de combustível nas bombas devido à escassez de condutores de camiões cisterna, apontou o governador do banco de Inglaterra, Andrew Bailey, assinalando que “a política monetária não pode resolver problemas do lado da procura. Não pode produzir chips, vento e condutores de camiões.”
" “É frustrante ver que estes problemas nas cadeias de abastecimento não estão a melhorar. Na verdade, na margem, estão aparentemente a ficar piores.”
A conjugação do rápido crescimento da procura com as dificuldades nas cadeias de abastecimento está a provocar pressões inflacionistas. “É frustrante ver que estes problemas nas cadeias de abastecimento não estão a melhorar. Na verdade, na margem, estão aparentemente a ficar piores. Vão continuar no próximo ano e manter a inflação elevada”.
A subida dos preços, e o caráter temporário ou permanente dessa subida, tem sido o grande tema de debate na política monetária. O mantra continua a ser que este período de inflação mais elevada será transitório. “Este salto não levará a um novo regime inflacionário que permanecerá ano após ano”, garantiu Jerome Powell. O que não significa que os banqueiros centrais não estejam a olhar para o fenómeno com particular atenção.
“Se for mais prolongado, será que muda a forma como as pessoas pensam sobre a inflação? Estamos a monitorizar de muito perto e neste momento não vemos isso”, afirmou o presidente da Reserva Federal. “Estamos a monitorizar a subida dos preços para garantir que as expectativas em relação à inflação estão bem ancoradas. Já subiram 15 pontos base, mas estão longe da nossa meta de 2%”, disse Christine Lagarde.
A presidente do BCE acrescentou que “na evolução dos salários e nas negociações salariais que estão a acontecer na Zona Euro não estamos a ver um contágio alargado desses aumentos de preço, que podiam produzir um efeito de segunda ordem. Mas vamos monitorizar com cuidado”.
A estas preocupações, Christine Lagarde juntou a subida dos preços da energia, liderado pelo gás, eletricidade e petróleo, considerando, no entanto, que elas acontecem devido a um efeito base derivado dos baixas cotações no ano passado. A pressão dos preços da energia “deverá aliviar no início do próximo ano”, avançou.
A responsável mantém que “até ao final do ano a economia da Zona Euro estará ao nível pré-pandemia e de volta à tendência de crescimento anterior”, naquela que chamou de uma “recuperação muito incomum e muito rápida”.
Olhando para os riscos financeiros mais prementes, os banqueiros centrais citam os ciberataques e, mais a longo prazo, as alterações climáticas. Haruhiko Kuroda desvalorizou o impacto de um possível colapso da chinesa Evergrande na economia global.
O Fórum BCE terminou por este ano. “Espero que no próximo ano seja em Sintra”, disse Christine Lagarde.
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