Ministério Público contradiz Eduardo Cabrita

O despacho do Ministério Público de Évora -- que acusa o motorista de Eduardo Cabrita de homicídio por negligência -- é claro. Vítima e local de obras estavam sinalizados.

O despacho do Ministério Público de Évora — que acusa o motorista de Eduardo Cabrita de homicídio por negligência — é claro: “a atividade dos trabalhadores na A6 estava devidamente sinalizada por veículo de proteção que, no taipal de trás, dispunha do sinal de trabalhos na estrada, como complemento dispunha do sinal de obrigação de contornar obstáculos à esquerda e duas luzes rotativas, a qual se encontrava a cerca de 100m/150m do local de realização dos trabalhos”. Além disso, todos os trabalhadores envergavam vestuário de alta visibilidade.

Uma explicação que contradiz o que Eduardo Cabrita disse esta sexta-feira à tarde, quando se tornou pública esta acusação, quando afirmou que ainda teriam “de ser esclarecidas as condições do atravessamento de uma via não assinalada”, afirmou o ministro da Administração Interna.

O motorista de Eduardo Cabrita que atropelou mortalmente um trabalhador na A6 em junho foi acusado de homicídio por negligência, segundo avançou o Observador que acrescenta que o carro, onde também seguia o ministro da Administração Interna, circulava na via da esquerda a uma velocidade de 166 km/h. Confrontado com estas informações, Eduardo Cabrita reagiu, dizendo ser “o Estado de Direito a funcionar”. “Essa é a confiança que sempre tenho nas instituições. Têm de ser esclarecidas as condições do atravessamento de uma via não assinalada”, afirmou o ministro da Administração Interna, a partir de Lagos. “Eu sou passageiro. O esclarecimento dos factos tem de ser efetuado e sem qualquer aproveitamento político daquilo que é uma tragédia pessoal”, acrescentou ainda.

O Ministério Público entende que o motorista, Marco Pontes, não teve uma “condução segura”, circulando sempre pela via da esquerda sem justificação, acabando por embater com a parte lateral esquerda da viatura no trabalhador que se encontrava no separador central.

Um dos assessores que viajava com o ministro, David Rodrigues, confirmou ao MP que não existiam indicações quanto à velocidade, mas que “teve a perceção de ter visto uma viatura de sinalização de obras, parada na berma à direita, momentos antes do embate com Nuno Santos”.

Inquirido pelo DIAP de Évora, Eduardo Cabrita afirmou que “não deu qualquer indicação quanto à velocidade a adotar, nem de urgência em chegar ao destino“. Quanto à sua agenda de trabalho, “precisou que não tinha compromissos externos agendados, apenas reuniões internas com entidades do MAI e elementos do seu gabinete, a partir das 14H30 e a ter lugar no Ministério.”

Na altura, fonte oficial do Ministério da Administração Interna disse num comunicado que “o trabalhador atravessou a faixa de rodagem, próxima do separador central, apesar de os trabalhos de limpeza em curso estarem a decorrer na berma da autoestrada”.

A investigação da GNR apurou que o motorista, que embateu com a parte lateral esquerda do carro no trabalhador que se encontrava no separador central, excedeu mais de 40 quilómetros a velocidade prevista na lei. Concluiu também que apesar das obras junto à faixa lateral direita da autoestrada, que não havia trânsito, que o local estava em bom estado e que em nada “se justificou a opção pela condução pela via da esquerda”.

O acidente ocorreu a 18 de junho de 2021 quando o carro em que seguia Cabrita atropelou Nuno Santos, de 43 anos, que fazia parte de uma equipa de trabalhadores que se encontrava junto à faixa do lado direito da estrada.

 

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