Subida dos juros e seca atiram ações da EDP para mínimos
Analistas associam perdas do grupo EDP ao endividamento da empresa, aliado à subida das taxas de juro, bem como à menor produção de energia hídrica por causa da seca. Ações em mínimos de outubro.
As ações da EDP voltaram a pressionar a bolsa de Lisboa na sessão desta sexta-feira. Num dia em que o PSI-20 recuou 1,43%, para 5.590,86 pontos, a elétrica cedeu 3,22%, para 4,082 euros, enquanto a subsidiária EDP Renováveis recuou 3,77%, para 17,1 euros.
Desde o arranque do ano, os títulos da EDP já desvalorizaram 15,52%, caindo pela terceira semana consecutiva. Ao mesmo tempo, as ações da EDP Renováveis caíram 21,92% desde o início do ano, a maior queda em termos acumulados do índice de referência nacional, também recuando pela terceira sessão consecutiva.
Na quinta-feira, as ações da EDP tinham registado a cotação de fecho mais baixa desde 29 de outubro de 2020. Os analistas ouvidos pelo ECO associam estas perdas ao endividamento da empresa, aliado à subida das taxas de juro, bem como à menor produção de energia hídrica, dado a suspensão da produção de eletricidade em cinco barragens pelo Governo por causa da seca.
Evolução das ações da EDP em Lisboa:
Ao ECO, Nuno Mello, analista da XTB, sinaliza que o que poderá estar a penalizar a empresa “é o facto de a EDP ter vindo a anunciar, já nos últimos dois anos, que vai aumentar o endividamento nos próximos anos para fazer novos investimentos”, aliado aos receios de que o Banco Central Europeu (BCE) possa aumentar as taxas de juro para conter a inflação. “Tudo o que são empresas endividadas irão ser mais penalizadas do que aquelas que têm um rácio de dívida mais baixo”, afirma.
A opinião é partilhada pela analista Catarina Quaresma Ferreira, da gestora do fundo de ações nacionais da Sixty Degree, que acrescenta que, dada a “exposição forte” da EDP Renováveis aos Estados Unidos, o mercado poderá estar a ressentir-se de “alguma subida mais pronunciada das taxas de juro” nesse país. Isto no contexto em a Fed já veio admitir que pode aumentar as taxas de juro de referência mais cedo ou mais rapidamente do que estava previsto, a começar já em março. Assim, “o elevado stock de dívida que a EDP tem”, aliado às subidas das taxas de juro, teria “um efeito negativo” no desempenho da empresa.
Nuno Mello destaca ainda que as desvalorizações do grupo EDP poderão também estar relacionadas com “a volatilidade habitual” em torno da apresentação de resultados da empresa referentes ao ano completo de 2021. O grupo publica as contas na próxima semana, a 17 de fevereiro. A EDP terá fechado o ano de 2021 com lucros de 800 milhões, segundo as estimativas dos analistas da unidade Bloomberg Intelligence, citados pelo Jornal de Negócios. Além disso, a empresa vai apresentar nesse dia o balanço do plano estratégico.
Por outro lado, o analista da XTB sublinha que o facto de a energia hídrica estar “muito abaixo daquilo que seria expectável para esta altura do ano, devido à escassez de chuva“, dada a suspensão de cinco barragens concessionadas pela EDP, justificada pela situação de seca em Portugal, também está a penalizar as ações da empresa. Do mesmo modo, Catarina Quaresma Ferreira admite que este é “um fator negativo”, mas sublinha que, a curto prazo, o impacto é “reduzido”, não descartando, porém, que possa “ser um problema” se a situação se prolongar.
“Há um outro fator também que é o facto de o banco de investimento JP Morgan ter cortado os preços-alvo tanto da EDP como da EDP Renováveis”, nota ainda Nuno Mello. A revisão em baixa deu-se na semana passada, com os analistas a cortarem o preço-alvo dos títulos da EDP de 5,70 euros para 5,55 euros. Já o preço-alvo das ações da EDP Renováveis desceu de 24,50 euros para 23,50 euros.
Não é caso único. O Goldman Sachs tinha feito o mesmo em meados de janeiro e esta sexta-feira foi a vez do Morgan Stanley. O banco de investimento cortou o preço-alvo da EDP de 5,70 euros para 5 euros por ação. Já no caso da EDP Renováveis, passaram para 21 euros por ação, contra os anteriores 24 euros.
Ao mesmo tempo, a analista da gestora do fundo de ações nacionais da Sixty Degree alerta ainda que poderão existir ainda “alguns receios” com as pressões relativas às despesas de capital (capex), “devido ao aumento dos preços das matérias-primas e de toda a situação de disrupção das cadeias de abastecimento”, na sequência da pandemia.
Neste contexto, os analistas ouvidos pelo ECO elencam que os principais desafios do grupo EDP para este ano estarão relacionados com a gestão da dívida, “mantendo os rácios de solvabilidade iguais aos atuais”, num contexto de aumento das taxas de juro, bem como adaptar-se às variações cambais que têm sucedido, com o dólar a valorizar em relação ao euro.
E se Nuno Mello destaca que outro dos desafios será cumprir as metas previstas para 2022, “se não houver chuva e se não houver vento”, Catarina Quaresma Ferreira sinaliza que, tendo em conta que as energias renováveis são “o principal vetor de crescimento”, o desafio será cumprir o plano que visa a instalação de 20 gigawatts até 2025 e de outros 30 gigawatts entre 2026 a 2030, “interessantes cumprindo o que está previsto em termos de capex num ambiente cada vez mais pressionado em termos de custos”, conclui.
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