Americanos voltam ao Porto para comprar têxteis e vestuário
Perto de 250 compradores estrangeiros marcam presença no Modtissimo, o maior evento têxtil nacional. No pós-pandemia há regressos dos EUA e marcas europeias seduzidas pela produção mais próxima.
De regresso à Exponor, o Modtissimo conta receber perto de 4.000 visitantes nos dois dias da 59.ª edição deste que é o maior e mais antigo evento têxtil nacional, que arranca esta quarta-feira. Manuel Serrão adianta ao ECO que a estimativa da organização aponta para “perto de 250” compradores internacionais.
O maior número de potenciais clientes chega da Alemanha, Espanha e Países Baixos, destacando-se ainda o contingente austríaco, “provavelmente” na sequência de a Áustria ter sido o país convidado na última edição, realizada em outubro. Mas a maior “novidade pós-pandemia” é mesmo o regresso dos compradores norte-americanos, com quatro confirmações.
No ano passado, os Estados Unidos compraram 447 milhões de euros à indústria portuguesa de têxtil e vestuário (ITV), ascendendo à quarta posição na lista de maiores clientes e representando 8% do total das exportações do setor. Foi o destino que mais cresceu na comparação com a era pré-Covid (31,5% face a 2019) em termos percentuais; e o segundo que mais progrediu em valor absoluto (+107 milhões de euros), apenas atrás de França.
A poucas horas de abrir portas aos produtores de tecidos e acessórios, às empresas de confeção de adulto (com marca própria ou private label) ou às fornecedoras de serviços têxteis, num total superior a 200 expositores, o pavilhão 5 da Exponor, que conta com um total de 6.000 metros quadrados, já se encontrava em overbooking, com “especial peso” na categoria de tecidos e de acessórios para a confeção.
“De um modo geral, o perfil do comprador é muito semelhante [ao das edições anteriores], embora tenhamos conhecimento, através das delegações da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, que há cada vez mais grandes marcas europeias interessadas em vir ao Modtissimo [porque] querem ter uma produção de maior proximidade”, relata Manuel Serrão.
Esta tendência tem muito a ver com a reorganização das estratégias de compra das grandes marcas, que no período pós-pandemia estão a valorizar muito os fornecedores europeus e, sobretudo, portugueses.
O diretor deste salão têxtil e também da Associação Selectiva Moda (ASM) sublinha que “essa tendência tem muito a ver com a reorganização das estratégias de compra dessas grandes marcas, que no período pós-pandemia estão a valorizar muito os fornecedores europeus e, sobretudo, portugueses”. E confia que a ITV nacional “está em boas condições para [dar] uma resposta à altura dessa exigência”.
Um dos motivos de confiança, confirmado há dias pelos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), é que o setor bateu o recorde de exportações (5.419 milhões de euros) em 2021, superando o anterior máximo (5.314 milhões), que tinha sido registado em 2018. Para este resultado contribuíram sobretudo o vestuário em malha e os têxteis para o lar, que subiram 9% e 17% em relação a 2019, respetivamente. Por outro lado, o vestuário em tecido (-19%) ainda não conseguiu recuperar dos efeitos da pandemia.
De acordo com os dados compilados pela Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), com base nas estatísticas do comércio internacional do INE, a análise por mercados mostra que Espanha, apesar de continuar a liderar confortavelmente a tabela, viu a quota cair para 25% no total do ano passado (era 31% antes da Covid) e foi mesmo o único país do top 10 a recuar nas compras às fábricas portuguesas. A balança comercial do setor teve um saldo 1.168 milhões de euros em 2021, com uma taxa de cobertura de 127%.
Inovações e conversas no programa paralelo
Criado em 1992 como uma exposição de tecidos estrangeiros, do Hotel Solverde, perto de Espinho, o Modtíssimo passou logo na terceira edição para a Exponor, alargando o âmbito a expositores de tecidos portugueses e, mais tarde, a confecionadores e aos têxteis técnicos. Desde a 27.ª edição que tinha a Alfândega do Porto como “casa-mãe”, embora nos últimos anos tenha realizado várias edições especiais noutros locais, como o Sheraton na cidade Invicta ou o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, que serve a região Norte.
Neste regresso ao parque de exposições situado em Leça da Palmeira, a 16 a 17 de fevereiro, a maior área para os expositores, a possibilidade de reunir num mesmo espaço os stands e os fóruns, os melhores acessos rodoviários, a facilidade de estacionamento e a oferta mais diversificada de bar e restauração foram os argumentos que pesaram na decisão dos organizadores de trocarem o local do evento.
Um dos destaques desta iniciativa vai para o iTechStyle Showcase, organizado em parceria com o centro tecnológico do setor (CITEVE), e que volta a expor as inovações das empresas portuguesas, divididas entre um fórum de tecidos, um fórum de acessórios e um showcase de produtos. As “melhores e mais revolucionárias propostas” vão ser distinguidas no concurso iTechStyle Awards.
Outro espaço em evidência nesta edição do Modtissimo será o showcase do projeto Sustainable Fashion From Portugal, impulsionado pela ATP, que, como destaca a organização da feira, “visa posicionar a moda portuguesa no paradigma da sustentabilidade de forma a abarcar novos mercados onde a temática do green apresenta bastante relevância, bem como consolidar aqueles em que já atua”.
Finalmente, durante os dois dias do certame, dividido por dois palcos, haverá igualmente um programa paralelo de palestras e debates sobre temas como a transição digital ou a estratégia de bioeconomia na indústria. Pelas Modtissimo Talks vão passar a startup de rastreabilidade Rastra Tech ou a portuguesa Smartex que venceu o concurso Pitch da Web Summit 2021; e oradores como Manuel Gonçalves (TMG), Carlos Van Zeller (Altri), Miklós Nagy (Valérius 260); Ana Pedrosa Rodrigues (Pedrosa & Rodrigues), Agostinho Afonso (Têxteis Penedo), João Almeida (Têxteis JF Almeida), Mico Mineiro (Twintex), Susana Serrano (Impetus) e Alexandra Araújo (LMA).
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