Portugal financia-se em três mil milhões a dez anos com disparo na taxa de juro
Custos de financiamento de Portugal agravaram-se significativamente, mesmo com um forte apetite dos investidores. Procura por dívida superou os 15,5 mil milhões, cinco vezes a oferta.
Portugal financiou-se esta quarta-feira em três mil milhões de euros na emissão de dívida sindicada a dez anos. A operação contou com forte procura, que superou os 15,5 mil milhões de euros. Ainda assim, os custos agravaram-se significativamente, refletindo as atuais condições do mercado.
Com o livro de ordens já encerrado, os termos finais da operação são estes, de acordo com a agência de informação financeira IFR: o prémio exigido pelos investidores fica nos 35 pontos base ao qual se acresce a taxa mid swap do euro a dez anos, que está nos 1,34%. O que significa que Portugal terá de suportar um juro a rondar os 1,7%.
Os investidores deram ordens acima dos 15,5 mil milhões de euros, incluindo uma fatia de 1,7 mil milhões de euros suportada pelos bancos que apoiaram o IGCP nesta operação que vem estabelecer uma nova referência a dez anos no mercado de dívida de Portugal. A agência que gere a dívida pública vai dar mais detalhes à tarde, nomeadamente sobre o perfil e origem dos investidores, isto se seguir os procedimentos habituais.
Barclays, BBVA, CaixaBI, Deutsche Bank, JPMorgan e Santander foram os bancos contratados pelo IGCP para venderem as obrigações com maturidade em 16 de julho de 2032 e que contam com ratings de Baa2 da Moody’s e de BBB da S&P e Fitch.
Esta é a segunda emissão sindicada que a agência liderada por Cristina Casalinho realiza este ano. Logo a abrir o ano, o IGCP captou um financiamento de três mil milhões de euros com títulos a 20 anos, com uma taxa de juro a rondar os 1,2%. Agora paga mais por títulos com maturidade mais reduzida.
A operação compara com a emissão sindicada a dez anos realizada em abril do ano passado e através da qual Portugal conseguiu um financiamento de quatro mil milhões com um juro de apenas 0,3%.
A diferença para o resultado de hoje — nomeadamente a taxa final — não resulta tanto do prémio de risco pedido pelos investidores (29 pontos base há um ano contra os 35 pontos base desta operação), mas antes da taxa midswap do euro que há um ano estava nos 0,0166% e agora está nos 1,34%.
Resultados das últimas emissões sindicadas de dívida a dez anos
Fonte: IGCP, IFR
Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, explica que “a subida [do custo de financiamento] acaba por refletir o momento que temos no mercado de dívida”. “Os bancos centrais, com o BCE incluído, têm vindo a anunciar o fim dos programas quantitativos, seguidos de subidas de taxas de juro, para fazer face à elevada inflação que se tem mostrado mais persistente do que inicialmente se esperava. Por outro lado, temos a invasão da Ucrânia por parte da Rússia, que trouxe um risco adicional para a Europa e ainda agravou mais a questão inflacionista“, refere o responsável.
“Apesar do aumento dos prémios de risco que estamos a verificar globalmente e que podem vir a prejudicar os países mais endividados, ainda estamos longe dos níveis críticos de taxas”, assinalou ainda Filipe Silva.
"Apesar do aumento dos prémios de risco que estamos a verificar globalmente e que podem vir a prejudicar os países mais endividados, ainda estamos longe dos níveis críticos de taxas.”
Portugal testou o apetite do mercado num momento de elevado stress entre os investidores. A taxa das obrigações a dez anos superou os 1,5% na véspera no mercado secundário, reforçando máximos de três anos.
São vários os fatores que estão a impulsionar os juros da dívida não só portuguesa mas também dos outros governos da Zona Euro e também dos EUA, incluindo a escalada dos preços, que está a ser ainda mais potenciada pela guerra na Ucrânia, e também a resposta dos bancos centrais para lidar com a inflação.
(Notícia atualizada às 12h05 com comentário de Filipe Silva, diretor do Banco Carregosa)
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