“É pouco provável voltarmos a um ambiente de baixa inflação”, admite Lagarde
Christine Lagarde disse esta terça-feira que dificilmente o mundo voltará a viver um "ambiente de baixa inflação" como aconteceu antes da pandemia.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, considera que “é pouco provável” o mundo voltar a “um ambiente de baixa inflação” como antes da pandemia, que foi amplamente potenciado pela globalização, mas que está agora a sofrer reveses com a situação de divisão geopolítica mundial provocada pela guerra na Ucrânia.
“Há forças que foram libertadas em resultado da pandemia e do choque geopolítico massivo que estamos a enfrentar agora e que vão mudar o cenário em que operamos”, começou por explicar Lagarde no aguardado painel de política monetária no Fórum BCE, em Sintra.
“Na Zona Euro, temos um baixo nível de desemprego e temos expectativas para a inflação muito mais altas do antes. Mas se olharmos para o resto do mundo, muito do movimento [da baixa inflação] que tivemos nos últimos 20 anos esteve associado à globalização, à multiplicação das cadeias de distribuição e à redução de custos. Isto mudou e vai continuar a mudar rumo a um sistema que ainda não sabemos ao certo“, acrescentou.
Se há quem acredite que a globalização vai prosseguir num formato diferente, Lagarde falou num movimento de relocalização das fábricas e da produção que o mundo está a assistir e em que o fator custo não será o mais preponderante. “O local onde asseguras a produção e de onde forneces os serviços será determinado por fatores além dos custos. Terá a ver com os custos, mas também onde localizo os meus serviços, onde emprego os meus trabalhadores“, explicou. Sublinhou que se estes locais são politicamente “amigos ou inimigos” será relevante para a decisão.
Lagarde também notou que a transição verde na Europa vai ter implicações nos preços nos próximos anos — embora já tenha dito que, a longo prazo, ajudará a baixar os preços energéticos.
"Há forças que foram libertadas em resultado da pandemia e do choque geopolítico massivo que estamos a enfrentar agora e que vão mudar o cenário em que operamos.”
Na Zona Euro, a inflação atingiu os 8,1% em maio (o Eurostat divulgará os dados de junho na próxima sexta-feira) e deverá continuar a subir até ao próximo outono, de acordo com as perspetivas dos economistas, antes de aliviar rumo ao objetivo de 2% do BCE em 2024. O banco central já anunciou que vai subir das taxas de juro em 25 pontos base na reunião de 21 de julho, antecipando nova subida na reunião de setembro.
Antes de Lagarde, também o presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, abordou o período de baixa inflação que foi proporcionado “por fenómenos como a globalização, a tecnologia e baixos crescimentos de produtividade”. Porém, desde a pandemia, “o mundo está a ser guiado por diversas forças” e a criar enorme incerteza. “Não sabemos se iremos voltar ao que tínhamos ou se é será uma coisa nova – acreditamos que será algo misto”, disse Powell.
Posteriormente, Christine Lagarde reiterou o compromisso de fazer baixar a inflação rumo ao objetivo de 2% do BCE. “A nossa missão, o nosso mandato, o nosso trabalho é assegurar a estabilidade dos preços, que nós definimos como uma taxa de inflação de 2%. Precisamos de fazer o que temos de fazer e vamos fazê-lo“, afirmou.
Quanto ao escudo anti-crise que irá travar o disparo dos juros da dívida dos países mais endividados, pouco mais foi adiantado, com a presidente do BCE a dizer apenas que será discutido na próxima reunião do conselho de governadores. “Vai ser criado e vai funcionar, acredite”, assegurou a francesa.
Esta terça-feira, Lagarde admitiu que o banco central poderá ser mais agressivo no aperto monetário caso persistem ou deteriorem as pressões inflacionistas. E revelou que o instrumento anti-fragmentação que está a ser criado vai ter salvaguardas para manter pressão sob os governos a fim de continuarem com políticas orçamentais saudáveis.
(Notícia atualizada às 16h00)
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