O que se passa no Credit Suisse? Três gráficos que explicam o caos no banco suíço

Banco tenta passar mensagem de tranquilidade, mas não convence investidores. Ações afundam, risco dispara, enquanto tenta dar a volta aos prejuízos. Três gráficos explicam pressão no Credit Suisse.

EPA/ENNIO LEANZAEPA/ENNIO LEANZA

O que se passa com o Credit Suisse, o banco que tinha António Horta Osório como chairman até janeiro deste ano? Após sucessivos escândalos, o banco suíço volta a estar sob enorme pressão dos mercados. As ações estão em queda livre e o custo para se proteger de uma falência do banco disparou para valores recorde, deixando junto dos investidores uma forte sensação de repetição dos acontecimentos que levaram à estrondosa falência do Lehman Brothers, em 2008. Déjà-vu?

O Credit Suisse foi uma das “tendências” nas redes sociais no fim de semana, que debatiam se um dos maiores bancos do mundo estaria às portas do colapso, num autêntico “momento Lehman”.

Para dar suporte a essa ideia catastrófica, partilhava-se um gráfico com a evolução dos credit default swaps (CDS) a 5 anos do Credit Suisse, que atingiam valores acima dos que registou na crise de 2008.

Os CDS são um produto financeiro que funciona como contrato de seguro que protege o investidor contra o incumprimento do emitente.

Esta segunda-feira, os CDS voltaram a disparar 100 pontos base para níveis máximos de duas décadas, mesmo depois de altos responsáveis do banco se terem multiplicado em reuniões durante o fim de semana com grandes clientes, contrapartes e investidores para assegurarem que dispõe de uma forte posição de capital e de liquidez. Investidores citados pelo Financial Times admitem excessos nos movimentos e alguma especulação em torno da instituição suíça, como aconteceu com o Deutsche Bank em 2016.

Apesar das garantias dos responsáveis do banco, num esforço de credibilidade para sacudir a pressão, a desconfiança dos investidores continuou a varrer o valor da ação esta segunda-feira: caiu para o mínimo histórico de 3,518 francos suíços. Desde o início do ano que perde 57% do seu valor. O Credit Suisse vale hoje menos de 10 mil milhões de francos suíços.

Ações recuam para mínimos

Fonte: Reuters

Ainda que os problemas não sejam novos, a instituição continua à mercê da dúvida dos investidores em relação ao seu futuro e também os reguladores suíço e britânico apertam a monitorização.

O novo CEO Ulrich Körner e o presidente Axel Lehmann (que sucedeu a António Horta Osório ainda este ano) prometeram um plano de reestruturação do grupo quando anunciarem os resultados do terceiro trimestre em 27 de outubro. Esse encontro está a ser aguardado com muita expectativa. Körner disse que o banco vive num “momento crítico”.

Em cima da mesa está a transformação do banco de investimento num negócio bancário que seja de capital leve e focado no advisory e ainda cortes até 1,5 mil milhões de francos suíços nos custos, o que deverá incluir milhares de perdas de empregos.

Com este ajustamento, Körner e Lehmann pretendem resolver um passado marcado pelos escândalos com o colapso do Archego (custou 5,5 mil milhões de dólares) e a falência da Greensill, que abriu uma frente de batalha legal que o banco vai ter de enfrentar nos próximos cinco anos.

Por conta destes casos, o banco soma prejuízos de cerca de quatro mil milhões de francos suíços nos últimos três trimestres, uma tendência negativa que procura inverter com um agressivo plano de reestruturação.

Prejuízos ascendem a 4 mil milhões em três trimestres

Fonte: Reuters

Os investidores questionam-se sobre quanto dinheiro é que o banco vai precisar de levantar para financiar todos os custos desta profunda limpeza, apontaram os analistas da Jefferies.

O RBC Capital Markets estima que possa necessitar entre quatro e seis mil milhões de francos suíços para financiar o plano e também reforçar a sua almofada contra incertezas futuras. Em agosto, os analistas do Deusche Bank estimaram uma insuficiência de capital de pelo menos quatro mil milhões de francos suíços.

Para já, a maior preocupação dos responsáveis do Credit Suisse passa por desfazer dúvidas sobre a sua posição de capital e de liquidez que os analistas do JPMorgan asseguram ser “saudável”, com um rácio common equity tier 1 — um indicador da sua força financeira — de 13,5% e um rácio de cobertura de liquidez de 191%.

O Citigroup sublinha que o rácio de capital do Credit Suisse era elevado em comparação com os pares, tendo implícito um excesso de capital de 2,5 mil milhões de francos suíços acima do rácio de 12,5%, nível para o qual espera que venha a cair se o banco suíço vender o seu negócio de produtos titularizados, como já sinalizou. Ainda assim, também dizia que comprar ações do banco neste momento “é para os mais corajosos”.

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