PRR não combate o desemprego jovem em Portugal
"Há um forte investimento no setor da educação, mas faltam políticas públicas de combate ao desemprego jovem", diz Francisco Simões, investigador do ISCTE e autor do estudo.
O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) falha no combate ao desemprego jovem em Portugal, por não incluir medidas específicas para ajudar esta faixa etária a entrar no mercado de trabalho, conclui um relatório elaborado pelo ISCTE. Neste documento, lê-se que todas as 16 propostas do PRR para promover o emprego jovem são direcionadas à educação e não, efetivamente, ao combate ao desemprego.
“Há um forte investimento no setor da educação, mas faltam políticas públicas de combate ao desemprego jovem“, diz Francisco Simões, investigador do Instituto Universitário de Lisboa – ISCTE e autor do relatório “School to Work Transition in the Resilience and Recovery Facility Framework”, encomendado pela Comissão dos Assuntos Económicos e Financeiros do Parlamento Europeu.
O relatório analisou os PRR de seis países diferentes e concluiu que apenas 11% do investimento destes PRR é destinado a apoiar o emprego jovem. Os restantes 89% dedicam-se à educação, sendo 75% das verbas destinadas aos ensinos profissional, secundário e superior, e 14% destinadas a melhorar o ensino pré-escolar. As medidas focam-se, sobretudo, na formação de professores, na criação de novos cursos superiores e na aposta na digitalização das instituições, incluindo as infraestruturas.
Os dados revelam que, nos últimos dez anos, mais 15,9% dos portugueses entre os 30 e 34 anos obteve um diploma universitário. No entanto, o desemprego jovem em Portugal continua a ser 3,5 vezes superior ao desemprego total, afetando sobretudo aqueles com menos de 25 anos.
Outra conclusão deste estudo é que a maior parte das medidas são universais e não avaliam as necessidades de grupos específicos de desempregados, nomeadamente dos jovens. Os seis PRR analisados contemplam 98 medidas de incentivo ao emprego, das quais 63 se referem ao desemprego geral. No caso português, só três das 16 medidas analisadas são orientadas para os jovens, ainda que as mesmas sejam de cariz educativo.
Os investimentos para o emprego jovem não vão ao encontro das necessidades das diferentes áreas territoriais dos seis países em análise, conclui-se. Em Portugal, a maior taxa de jovens “Nem em Emprego, Nem em Educação ou Formação” registou-se, em 2021, nas ilhas dos Açores. Também a Madeira e a região do Algarve apresentaram taxas elevadas, ao contrário da Área Metropolitana de Lisboa, com a percentagem mais baixa.
“Os decisores políticos devem conceber um investimento estratégico para o setor da educação, definindo quais as áreas em que é necessário investir do ponto de vista da formação para garantir mais oportunidades de emprego e, sobretudo, reter talento e evitar a saída da geração mais qualificada de sempre“, afirma Francisco Simões.
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