Volatilidade nas bolsas europeias, mas recuperação continua

Bolsas europeias em sprint no último dia de negociações da semana. Resgate do First Republic Bank nos EUA reduz pessimismo.

As bolsas europeias voltaram a abrir em alta esta sexta-feira, estendendo a recuperação da sessão anterior, numa semana marcada pela forte volatilidade causada pela instabilidade no setor bancário. Os principais índices arrancaram a sessão com ganhos inferiores a 1%, no rescaldo do resgate da banca norte-americana ao First Republic Bank e da decisão do Banco Central Europeu (BCE) de subir as taxas de juro em 50 pontos base.

Pelas 8h05, o pan-europeu Stoxx 600 subia 0,8%, assim como o francês CAC-40 e o britânico FTSE 100. O português PSI valorizava 0,54%, para 5.897,65 pontos, depois de ter avançado quase 1% na sessão anterior. Um ganho que não permite ao índice, ainda assim, evitar uma queda acumulada de mais de 2% nesta semana.

À mesma hora, o banco português BCP integrava o pódio das subidas do PSI, registando ganhos de 1,82%, para 19,63 cêntimos. Apesar desta recuperação, foi uma semana dura para a instituição liderada por Miguel Maya, cujas perdas acumuladas chegam a superar 10%.

Cotação do BCP na bolsa de Lisboa

Foram vários dias que deixaram os investidores com nervos em franja e que acordaram os fantasmas da crise financeira global. Depois da falência do Silicon Valley Bank há uma semana, os investidores entraram na segunda-feira a saber do colapso de outro banco, o Signature, que aconteceu durante o domingo.

Os temores cruzaram o Atlântico e receios com a situação financeira do Credit Suisse fizeram as ações do banco afundar na ordem dos 30%. A notícia de que o banco pediu um empréstimo de até 51 mil milhões ao banco central da Suíça ajudou as ações a recuperarem de mínimos históricos na quinta-feira. Chegada mais uma sessão bolsista, o Credit Suisse ganha 1,19%, mantendo-se tangente aos dois francos suíços por ação.

De volta a Lisboa, é a Galp que comanda os ganhos esta sexta-feira. A petrolífera avançava mais de 3%, para 10,13 euros, com os preços do petróleo a valorizarem quase 1%. O Brent subia 0,96%, para 75,43 dólares por barril.

A impedir um dia mais animado no PSI estava a EDP Renováveis, que caía 1,12%, travando os ganhos, bem como os títulos dos CTT. A empresa postal recuava 0,28%, para 3,59 euros por ação, reagindo ao anúncio de que os lucros em 2022 caíram 5,2%, para 36,4 milhões de euros.

(Notícia atualizada pela última vez às 8h25)

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Texas tem investidores com “muito interesse em Portugal”

  • Lusa
  • 17 Março 2023

Portugal é visto como potencial destino para filmagens e captar investidores daquele estado norte-americano. Problemas com a banca não afastam interessados.

O secretário de Estado da Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz, disse à Lusa que há investidores no Texas interessados em oportunidades em Portugal, no rescaldo da sua primeira visita oficial a este estado norte-americano.

“Tivemos reuniões com potenciais investidores que têm muito interesse em Portugal, não só pelo que tem para oferecer mas também Portugal como plataforma de negócios para a Europa e para os países de língua portuguesa”, afirmou o governante.

Bernardo Ivo Cruz disse que também “há boas oportunidades para as empresas portuguesas” no Texas, que seria a nona maior economia do mundo se fosse um país independente.

O secretário de Estado esteve em Houston depois de passar por Austin, onde a AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal teve, pela primeira vez, um espaço no grande evento de indústrias criativas South by Southwest (SXSW).

“O objetivo era estabelecer um conjunto de contactos com vários setores do Texas que têm interesse para a economia e empresas portuguesas e que, por sua vez, têm interesse em Portugal e na economia portuguesa”, descreveu.

“Os contactos que estabelecemos foram muito interessantes e com potencialidade, nomeadamente nas áreas das tecnologias de informação, cinema e televisão”, salientou.

Bernardo Ivo Cruz disse que Portugal é reconhecido pelas empresas destas áreas como um país com condições naturais “excelentes” e com muita imaginação e capacidade de inovar.

“Tivemos conversas interessantes com produtores de televisão que estão a olhar para Portugal como potencial destino de filmagens”, disse. “O facto de termos um filme português nos Óscares também ajudou a chamar a atenção para o nosso país”, frisou, referindo-se a “Ice Merchants”, de João Gonzalez, que foi nomeado para o Óscar de Melhor Curta-Metragem de Animação.

O governante referiu que Portugal já tem uma relação económica com o estado, nomeadamente ao nível da energia, sendo que há empresas portuguesas com relevo na economia texana.

A EDP Renováveis é um bom exemplo de uma empresa portuguesa que tem um papel muito importante no Texas“, afirmou o secretário de Estado. “Se nós temos interesse no gás natural do Texas, o Texas tem muito interesse nas nossas energias renováveis”, acrescentou.

Nas reuniões com responsáveis estaduais e da cidade de Houston, Portugal foi identificado com “um bom caso de estudo e de investimento, tecnologia e conhecimento” nas energias renováveis, disse Bernardo Ivo Cruz. “Há um interesse mútuo nesse setor que é importante para nós e para o Texas”, sublinhou.

Em Houston, a visita incluiu uma ida à Rice University, que tem um centro importante de desenvolvimento de tecnologia, e ao Texas Medical Center, descrito como o maior centro de investigação científica aplicada para a medicina do mundo. “Têm muito interesse em algumas empresas portuguesas e nas nossas universidades, nos nossos centros de investigação e fundações”, realçou o secretário de Estado.

Houve ainda reuniões com empresas tecnológicas e uma paragem na agência espacial norte-americana. “Tivemos boas reuniões com departamentos importantes na NASA para aquilo que são as nossas ambições de desenvolvimento do setor aeroespacial”, frisou o governante.

Há a perceção de que Portugal é um país aliado e integrado na NATO e com quem os Estados Unidos confortavelmente podem trabalhar em áreas mais sensíveis nos setores ligados à Defesa e aeroespacial, sublinhou.

Por outro lado, “há a perceção de que Portugal é um país moderno, voltado para o futuro, com boas empresas e boas universidades, com boas oportunidades que é preciso identificar e explorar”, acrescentou Bernardo Ivo Cruz.

A visita terminou com uma receção à comunidade portuguesa em Houston, que está “bem instalada” e pode contribuir para o estreitar dos laços com Portugal, disse.

“Estamos a passar por uma boa fase no nosso relacionamento económico com os Estados Unidos e empresas americanas que escolhem Portugal para se instalarem na sua entrada no mercado europeu”, disse ainda o governante, referindo que não é só Califórnia e Costa Leste que têm oportunidades.

“Há um continente inteiro entre a Costa Oeste e a Costa Leste dos Estados Unidos”, sublinhou.

Colapso de bancos não assusta

O colapso de dois bancos nos Estados Unidos é fonte de preocupação mas não assusta investidores norte-americanos interessados em Portugal.

“Foi tema de preocupação dos investidores americanos”, disse o secretário de Estado. “Quando fizemos as reuniões com os investidores no início da visita, tinha acabado de se dar a falência do Silicon Valley Bank” (SVB), explicou.

O colapso do banco, a que se juntou o encerramento do Signature Bank, causou alarme esta semana pelo receio de contágio no sistema financeiro. A situação levou a que 11 bancos se organizassem na quinta-feira para resgatar o banco First Republic e dar um sinal de confiança.

“Houve perguntas sobre a solidez do sistema bancário europeu e português”, indicou o secretário de Estado. “Mas acho que os nossos interlocutores ficaram esclarecidos, principalmente com o facto de que nós fazemos parte da zona euro e o nosso sistema bancário é regulado duplamente”, frisou.

“É regulado pelo Banco Central Europeu e pelo Banco de Portugal, e portanto isso deixou os investidores mais descansados”, continuou. Bernardo Ivo Cruz salientou que não foram perguntas de “grande angústia” mas sim sobre o funcionamento do sistema de regulação do setor financeiro em Portugal.

O encerramento pelas autoridades do SVB tem levantado questões sobre regulação e o seu impacto no segmento das start-ups, em especial ‘fintechs’ (tecnologia para a área financeira) foi imediato, devido ao peso do banco no setor.

Este foi um “revés para toda a indústria”, disse à Lusa Marius Galdikas, CEO (presidente executivo) da ConnectPay, uma plataforma tudo-em-um de soluções financeiras. Embora a empresa não tenha exposição ao banco, Galdikas referiu que o colapso será sentido por todo o setor, especialmente pelas novas empresas ‘fintech’.

“A confiança é uma moeda importante no setor financeiro e sofre um golpe sério de cada vez que um evento destes ocorre”, disse Galdikas. “Isto vai atrasar o desenvolvimento do setor ‘fintech’, em especial no que toca a negócios de ativos virtuais”, disse o CEO, que considerou que será mais difícil para as start-ups obterem financiamento.

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Hoje nas notícias: Greves, apoio à renda e fixação de preços

  • ECO
  • 17 Março 2023

Dos jornais aos sites, passando pelas rádios e televisões, leia as notícias que vão marcar o dia.

Só em 2013 se registaram mais greves do que as comunicadas em 2022. Medida de Costa de apoio à renda só vai chegar a um em cada seis contratos de arrendamento. Em janeiro, mais de 45 mil clientes de bancos portugueses estavam em alerta de incumprimento. Conheça algumas das notícias que marcam a atualidade em Portugal.

Só a troika supera Costa nas greves

Só em 2013 se registaram mais greves do que as comunicadas no último ano (1087) e prevê-se que este ano o número seja superado – algo que não é visto há dez anos. Apenas no mês de janeiro foram comunicados 204 pré-avisos de greve no setor privado ao Ministério do Trabalho, o triplo do registado no mesmo mês do ano passado. Em 2012, com a troika no país e Passos Coelho a chefiar o Governo, os pré-avisos de greve no privado atingiram o maior pico da última década: 1895.

Leia a notícia completa no Expresso (acesso pago).

Apoio à renda só vai chegar a um em cada seis contratos

Foram aprovadas esta quinta-feira duas medidas do pacote “Mais Habitação”. Uma delas é o apoio à renda, que, a partir de junho e num máximo de 200 euros mensais, só vai chegar a um em cada seis contratos de arrendamento. Costa estima que sejam abrangidos “cerca de 150 mil” contratos de arrendamento, sendo que, no país, existem 922 mil. O número de contratos abrangidos é baixo porque o apoio tem vários fatores de exclusão ao que acresce o facto de uma grande parte dos contratos no país terem rendas baixas definidas.

Leia a notícia completa no Jornal de Notícias (acesso pago).

Costa Silva: “Sempre que se fixa preços administrativamente, as coisas não funcionam”

Em entrevista, o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, abordou o aumento do custo dos alimentos. “Penso que o mercado é o melhor instrumento que temos para fixar preços. O que estamos a tentar desenvolver é tentar a autorregulação, o que significa que as empresas também façam uma oferta de produtos que sejam sensíveis a este clima de preços e que seja uma oferta positiva… Porque as outras intervenções que temos visto, mesmo na Europa, podem não funcionar”. Numa altura em que o Governo aperta a fiscalização ao que considera ser especulação nos preços dos alimentos, o ministro aponta que “sempre que se fixa preços administrativamente, as coisas não funcionam”.

Leia a entrevista completa no Diário de Notícias (acesso livre).

Bancos colocaram mais de 45 mil clientes em alerta de incumprimento

Os cinco maiores bancos em Portugal tinham, no início de janeiro, mais de 45 mil clientes integrados em Plano de Ação para o Risco de Incumprimento, mas apenas uma pequena parte resultou em renegociações efetivas dos empréstimos. E deste universo, só uma fatia aconteceu no âmbito das novas regras decretadas pelo Governo.

Leia a notícia completa no Jornal de Negócios (ligação indisponível)

Fecham 18 lojas por dia em Portugal

Entre novembro do ano passado e janeiro deste ano fecharam 1.639 lojas, duas vezes mais do que as que abriram e mais do dobro do registado no período homólogo, revelam dados do INE. Por dia, em média, 18 estão a fechar portas em todo o país. Lojas de roupa, papelarias/tabacarias e mercearias e minimercados estão a ser os mais afetados, segundo o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, João Vieira Lopes.

Leia a notícia completa no Expresso (acesso pago).

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O dia em direto nos mercados e na economia – 17 de março

  • ECO
  • 17 Março 2023

Ao longo desta sexta-feira, 17 de março, o ECO traz-lhe as principais notícias com impacto nos mercados e nas economias. Acompanhe aqui em direto.

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Reforma do mercado elétrico “positiva” mas implementação pode ser difícil

Os especialistas em energia consultados pelo ECO/Capital Verde consideram a proposta de reforma europeia “positiva” na generalidade, mas anteveem algumas dificuldades na implementação.

A Comissão Europeia avançou uma proposta para a reforma do mercado elétrico que o primeiro-ministro português, António Costa, considerou “tímida” e “aquém” das necessidades. Em oposição, os especialistas em energia consultados pelo ECO/Capital Verde consideram-na “positiva” na generalidade, embora contenha sobretudo linhas mestras, que têm ainda de ser traduzidas em mais detalhes para poderem ser aplicadas, e a sua implementação possa ser complicada.

A proposta é “positiva, mas pouco concreta”, avalia António Vidigal, consultor e especialista em energia. Nuno Ribeiro da Silva, professor catedrático convidado do ISEG e ex-CEO da Endesa, considera que esta é uma proposta “sensata e equilibrada”, na generalidade, embora reconheça que será de uma concretização “muito técnica e sofisticada. Será um trabalho profundo”. “Positiva” e “muito positiva” são as avaliações, respetivamente, do analista de Energia da Schneider Electric, Juan José Caudevilla, e de Gonçalo Aguiar, engenheiro eletrotécnico, embora o segundo ressalve também que “ainda existem alguns pontos que têm de ser clarificados em particular na sua exequibilidade, face à realidade de cada país”.

Veja abaixo as principais novidades da proposta e o balanço que é feito por estes especialistas.

Mercado grossista inalterado

A primeira novidade da proposta foi que o mercado elétrico grossista, onde a energia é diariamente negociada entre produtores e comercializadores, permaneceria inalterado, ao contrário do que foi defendido por alguns países, como Portugal. “Mantemos os fundamentais do mercado intocados. O desenho dos mercados de curto prazo mantém-se o mais eficiente”, defendeu a comissária europeia, Kadri Simson. Ou seja: na formação de preços do mercado diário, a tecnologia mais cara vai continuar a definir o preço a cada hora. Por isso, se energias não renováveis, como o gás natural, forem necessárias para responder à procura e chamadas em último lugar (já que as mais baratas têm prioridade), é o preço dessa última energia a ser solicitada que prevalece, independentemente do preço a que negociaram as restantes.

Ao optar por não mexer no desenho deste mercado, a Comissão Europeia, entende Nuno Ribeiro da Silva, tenta “capitalizar o que tem sido de facto bom e até notável na construção do mercado elétrico na Europa”, enquanto introduz ajustamentos em linha com a evolução da realidade, isto é, em linha com a necessidade de alterar o mix energético e com os avanços tecnológicos que se têm verificado. Os defensores deste mercado acreditam que este desenho é importante para incentivar o – muito desejado – investimento em renováveis. Os tais ajustamentos serão então feitos não através de uma mudança no mercado diário, mas por outras vias. E que vias são essas? Encontre-as abaixo.

Incentivo a contratos de longo prazo

Uma das soluções apresentadas pela Comissão tanto para evitar a volatilidade dos preços como para promover as energias renováveis é incentivar os contratos de longo prazo. Fá-lo em vez de criar algum tipo de obrigação neste sentido, como defendido pelo Governo português, nota Gonçalo Aguiar. E como é que a Comissão quer incentivar contratos de longo prazo?

  • Garantias do Estado. Bruxelas propõe a criação de um mecanismo estatal para cobrir o risco financeiro na contratação de longo prazo para pequenas e médias empresas (PME) e clientes residenciais, que normalmente não têm acesso aos chamados Power Purchase Agreement (PPA), contratos de longo prazo, já que implicam um maior risco por parte do comercializador. No entanto, ressalva Aguiar, a redução dos riscos para os comercializadores implica “riscos de despesa para o estado caso existam incumprimentos generalizados num cenário crise”.
  • CfDs. Novos projetos de renováveis ou reforços dos já existentes deverão aplicar os chamados contratos por diferenças (CfD), pelo que os apoios públicos ao investimento passam a ser concedidos desta forma. Estes contratos já são prática comum nos leilões, sendo agora alargados. Funcionam da seguinte forma: é estabelecido um preço que garante uma remuneração mais constante ao produtor, pois, se o preço de mercado for inferior, os consumidores de eletricidade suportarão a diferença entre o preço do mercado e o preço fixado. No entanto, sempre que o preço de mercado exceda o preço fixado, os valores extra são canalizados para os consumidores de eletricidade.
  • Transparência nos futuros. A intenção de tornar os mercados de futuros mais transparentes através da criação de hubs de preços de referência regionais

“A generalização de CfDs e de PPA com garantia dos Estados é positiva”, avalia António Vidigal. Nuno Ribeiro da Silva entende que, no mercado elétrico europeu, é nos aspetos ligados ao mercado a prazo que se sentem as maiores necessidades, e é neste mercado que se deve atuar para colmatar “os maiores problemas” no que toca à necessidade de modernização dos atuais sistemas fruto das novas tecnologias de eletricidade, de passar, por exemplo, de centrais fósseis para produção descentralizada, pelo que aprova este foco da Comissão Europeia. Já a Schneider Electric defende que “os PPA são uma ótima aposta para impulsionar a participação da procura na transição energética, mas não são “a” solução para o longo prazo. São um passo intermédio, um mecanismo para melhorar o funcionamento dos mercados com alguma rapidez, mas o mais importante será mesmo flexibilizar a procura”.

Mais flexibilidade do lado dos consumidores

A flexibilização da procura é a única coisa que nos “salvará” a longo prazo”, acredita Juan José Caudevilla. A Comissão abre a possibilidade de os consumidores terem múltiplos contratos de fornecimento de eletricidade para um mesmo consumidor. Isto é, o consumidor pode optar por ter um contrato a preços fixos, o que agora é o mais comum nos clientes domésticos, para que o geral do consumo doméstico seja cobrado desta forma; ao mesmo tempo, poderia ter outro contrato, indexado aos preços do mercado grossista, que servisse consumos mais específicos como o carregamento de carros elétricos ou bombas de calor. Desta forma, os consumidores podem tirar partido da volatilidade dos preços no mercado grossista, e fazerem estes consumos quando os preços estão mais baixos.

Ao mesmo tempo, a Comissão sugere remunerar os consumidores por poupanças em horas em que a produção escasseie face à procura. Mas isto pressupõe a existência de contadores inteligentes. “Portugal ainda não está preparado em termos de infraestrutura para poder implementar”, por falta destes equipamentos, considera Gonçalo Aguiar. Além disso, vê dificuldades na aplicação da medida na definição de como será cobrado o termo fixo, uma componente da fatura da eletricidade que é paga 30 dias por mês atualmente. António Vidigal aponta que medidas como estas pressupõem que os contadores deixem de operar em tempo diferido e passem a funcionar em tempo real.

A Comissão quer ainda facilitar que um pequeno produtor partilhe excedentes de produção de energia renovável com consumidores vizinhos sem a necessidade de criação de uma comunidade de energia. “Esta medida terá impactos muito positivos pois as comunidades de energia carecem de aprovação, que infelizmente em Portugal tem sido muito lenta. Ainda assim será necessário garantir a compatibilidade com a rede elétrica, mas a intenção da nova legislação é agilizar o processo”, indica Gonçalo Aguiar.

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Fed emprestou montante recorde à banca na última semana

  • ECO e Lusa
  • 17 Março 2023

Banco central dos EUA emprestou 164,8 mil milhões aos bancos do país na última semana, mais até do que na crise financeira de 2008.

O banco central dos EUA anunciou quinta-feira que emprestou aos bancos um total de 164,8 mil milhões de dólares na última semana através de dois mecanismos existentes, avança a Bloomberg. Os dados mostram que, no caso do principal mecanismo de liquidez para a banca, foram emprestados 152,85 mil milhões, montante que compara com os 4,58 mil milhões da semana anterior e um novo máximo histórico, superando até a crise financeira.

Em comunicado comum com o Departamento do Tesouro e a agência de garantia dos depósitos bancários (FDIC, na sigla em Inglês), as autoridades financeiras tinham apresentado várias medidas para tranquilizar os particulares e as empresas, depois da falência do banco californiano Silicon Valley Bank (SVB).

Na quinta-feira foi divulgado que um grupo de grandes bancos dos EUA vão participar no resgate do First Republic Bank, um dos que mais sofreu depois da intervenção no Silicon Valley Bank na semana passada. O First Republic, sedeado em San Francisco, viu o seu rating revisto em baixa para a designada categoria “lixo”, tanto pela Fitch Ratings como pela S&P Global. O montante avançado por aqueles grandes bancos ascende a 30 mil milhões de dólares.

“Bank of America, Citigroup, JPMorgan Chase e Wells Fargo anunciaram hoje [quinta-feira] que cada um vai depositar cinco mil milhões de dólares para o First Republic Bank. O Goldman Sachs e o Morgan Stanley farão cada um depósito de 2,5 mil milhões de dólares e BNY Mellon, PNC Bank, State Street, Truist y U.S. Bank farão cada um depósito de mil milhões de dólares”, segundo um comunicado.

Também esta quinta-feira, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, declarou que sistema financeiro dos EUA “é sólido” e que os cidadãos podem confiar em que os seus depósitos “estão seguros”.

(Notícia corrigida às 9h10 com informação da Bloomberg)

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“Tubarão” Tim Vieira soma 40 escolas do futuro e prepara mais seis aberturas em Portugal

Empresário sul-africano quer preparar jovens portugueses para entrar nas principais universidades internacionais com escolas sem horário fixo e um currículo personalizado.

Em dois anos, Tim Vieira já conta com 40 escolas que preparam os jovens para o futuro. A Brave Generation Academy (BGA) já tem espaços em Portugal, Estados Unidos, Espanha, Moçambique, África do Sul, Quénia e Namíbia e, para este ano, só em Portugal o empresário prepara, pelo menos, mais seis aberturas. Apostar no interior do país é a principal meta da escola que quer ajudar jovens, entre os 12 e 18 anos, a descobrir as suas vocações de carreira. A marca das 40 escolas é atingida nesta sexta-feira com a inauguração do espaço em Ofir.

A BGA quer contrariar o modelo de ensino tradicional. Cada um dos hubs acolhe, no máximo, 30 estudantes, e não há horários fixos.

“Uma das grandes vantagens da BGA é a flexibilidade, uma vez que os alunos podem aprender ao seu próprio ritmo e fazer o seu próprio horário. Vivemos num momento em que os jovens lidam com as novas tecnologias e nas escolas tradicionais não encontram isso. Está tudo praticamente igual ao que se fazia quando eu estudava. Os jovens estão agarrados a um horário rígido que mal lhes dá tempo para explorarem outras atividades”, destaca à ECO Pessoas o empresário nascido na África do Sul.

Alunos da Brave Generation Academy têm acessos aos conteúdos 24 horas por dia.

A escola de Tim Vieira tem a certificação da Cambridge School e conta com três níveis de ensino (Lower Secondary, IGCSE e A-Levels), com a duração de dois anos cada. O ano letivo começa quando os jovens quiserem. Os alunos têm acesso a mentores que os podem ajudar no percurso e ainda os course managers (gestores de curso), responsáveis pelos conteúdos ensinados em cada uma das academias.

Vivemos num momento em que os jovens lidam com as novas tecnologias e nas escolas tradicionais não encontram isso. Está tudo praticamente igual ao que se fazia quando eu estudava. Os jovens estão agarrados a um horário rígido que mal lhes dá tempo para explorarem outras atividades

Tim Vieira

Fundador da Brave Generation Academy

Para frequentar a escola é necessário pagar 485 euros por mês, valor que cobre os custos da certificação internacional de Pearson e de Cambridge, “que abre portas nas melhores universidades do mundo”. A BGA, no entanto, proporciona bolsas de estudo. “Os nossos estudantes sentem que estão a fazer algo por eles, num ambiente acolhedor, de proximidade longe da estrutura pesada das escolas ditas normais que conhecem”, defende Tim Vieira.

“O nosso foco é o aluno, não é a turma. Queremos saber qual é o sonho de cada um e ajudar a atingir esse sonho preparando-o também para saber lidar com as dificuldades que vão encontrar e como ultrapassá-las de uma forma positiva. A BGA prepara cada um para o que sonha ser e também para um futuro desconhecido em que a aprendizagem não termina no último ano da faculdade, mas que o vai acompanhar ao longo de toda a vida”, sustenta um dos “tubarões” da primeira edição do Shark Tank em Portugal.

Programas de ensino têm duração de dois anos e preparam estudantes para as principais universidades internacionais.

A proposta de ensino está a conquistar empresas, clubes e câmaras municipais. No Fundão, por exemplo, vai abrir uma escola “porque foi a câmara que nos contactou, na sequência de um plano para captar investimento”. Nas empresas, há uma escola da BGA na sede da Sonae, na Maia. Nos clubes, o Royal Club de golfe, em Óbidos, também conta com um destes espaços. Também está prevista que nasça uma destas escolas na Comporta, onde está a ser desenvolvido o projeto da Vanguard.

As empresas globais, independentemente onde esteja a sua base física ou fiscal, não vão continuar a contratar com base nos currículos académicos, mas sim com base nas competências sociais [soft skills]. Os trabalhadores com capacidade de aprendizagem, atitude positiva no trabalho de equipa e capazes de resolver problemas com criatividade vão continuar a ser os mais requisitados.

Tim Vieira

Fundador da Brave Generation Academy

“As empresas globais, independentemente onde esteja a sua base física ou fiscal, não vão continuar a contratar com base nos currículos académicos, mas sim com base nas competências sociais [soft skills]. Os trabalhadores com capacidade de aprendizagem, atitude positiva no trabalho de equipa e capazes de resolver problemas com criatividade vão continuar a ser os mais requisitados”, antevê Tim Vieira.

Para os próximos meses está prevista a abertura de seis hubs da BGA, em Aveiro, Vilamoura, Coimbra, Viseu, Funchal e Tábua. No entanto, a academia pretende apostar mais no interior do país.

“Somos uma solução para os problemas que essas regiões enfrentam, como a desertificação e a falta de investimento. Para fixar e captar investimento quer interno como externo são precisos trabalhadores. E esses trabalhadores têm ou querem constituir família e uma das principais preocupações é a oferta de ensino de qualidade como a que encontram nos grandes centros urbanos.”

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Bancos dos EUA resgatam First Republic com depósito de 30 mil milhões

  • Lusa e ECO
  • 17 Março 2023

Para mostrar confiança ao mercado, um grupo de instituições financeiras dos EUA vai depositar 30 mil milhões de dólares (28 mil milhões de euros) no First Republic Bank.

Um grupo de instituições financeiras dos EUA vai resgatar o First Republic Bank com um depósito de 30.000 milhões de dólares (cerca de 28.000 milhões de euros), foi anunciado na noite de quinta-feira.

As 11 instituições vão depositar três montantes diferentes no banco First Republic, que sofreu uma forte desvalorização nos últimos dias após a falência do Silicon Valley Bank. As empresas que vão resgatar o First Republic têm de ficar no banco por quatro meses (120 dias).

Bank of America, Wells Fargo, Citigroup e JPMorgan vão depositar, cada um, cerca de cinco mil milhões de dólares; Goldman Sachs e Morgan Stanley vão contribuir com perto de 2,5 mil milhões de dólares; os restantes bancos – Truist, PNC, U.S. Bancorp, State Street e Bank of New York Mellon vão injetar perto de mil milhões de dólares cada, detalhou a CNBC.

“A ação dos maiores bancos dos Estados Unidos reflete a confiança no First Republic e nos bancos de todas as dimensões e demonstra o seu total comprometimento em ajudá-los a servir os seus clientes e comunidades”, justificou o grupo de instituições financeiras em comunicado.

O First Republic, com sede em São Francisco, foi avaliado com o rating “lixo” na quarta-feira pelas agências de notação financeira Fitch e S&P.

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Unicórnios com ADN português têm pouca ou nenhuma exposição ao colapso do SBV

Anchorage Digital, Feedzai, OutSystems e Sword Health garantem ao ECO não ter exposição ao norte-americano Silicon Valley Bank (SVB), conhecido como o banco das startups.

Os unicórnios com ADN português Anchorage Digital, Feedzai, OutSystems e SwordHealth garantem não ter nenhuma ou apenas uma exposição residual ao norte-americano Silicon Valley Bank (SVB), conhecido como o banco das startups, cujo colapso obrigou à intervenção dos reguladores.

O restante ecossistema de startups não dá sinais de impacto direto. Nem há indicação de que, depois da intervenção dos reguladores, haja dificuldade na movimentação dos depósitos. “Não nos chegou nenhuma indicação nesse sentido”, assegura António Dias Martins, diretor executivo da Startup Lisboa.

O colapso do banco das startups não terá tido impactado os unicórnios com ADN nacional, com operações e sede nos Estados Unidos, ouvidos pelo ECO.

“A Anchorage Digital tem uma exposição limitada ao balanço do SVB. A nossa exposição ao SBV é menos de 0,5% da nossa tesouraria. Continuamos vigilantes na proteção dos ativos da empresa e os ativos dos clientes continuam sem ser afetados. Nenhuma reserva de capital do Anchorage Digital Bank está depositada no SVB“, garante fonte oficial da fintech.

OutSystems e Feedzai também garantem que a situação ocorrida com o banco não afetou a sua operação. “Não há nenhum impacto material no negócio da OutSystems e não estamos expostos“, foi a resposta sucinta de fonte oficial da companhia. E o mesmo diz a Feedzai. “A Feedzai não tem uma relação bancária (depósitos, empréstimos, contas ou qualquer outro produto) com o SVB“, garante.

A Sword não sofreu qualquer impacto na operação relacionado com a situação do SVB”, garante igualmente fonte oficial.

Marcelo Lebre, cofundador da Remote, já tinha adiantado ao ECO que a unicórnio não tinha depósitos no banco, não estando, por isso, exposta diretamente à falência. Mas admitia que “muitos dos clientes” da unicórnio tinham depósitos no SVB. A pressão aliviou, no entanto, com a garantia dadas pelas autoridades norte-americanas de que a totalidades dos depósitos estava garantida e não apenas os habituais 250 mil dólares.

No restante ecossistema também não há sinais de impacto. “Não há exposição relevante de startups portuguesas ao SVB”, afirma António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal, ao ECO.

“Pode também ter a leitura de que as startups portuguesas ainda não estão num estádio onde conseguem dimensão, capacidade e funding para estar nos Estados Unidos com operações relevantes e com liquidez relevante neste banco. Contam-se pelos dedos das mãos as que estão nessas condições. O que significa que o nosso ecossistema não está com uma presença significativa neste mercado”, explica.

“As que estão não nos reportaram incidentes de maior”, afirma o responsável da Startup Portugal. Nem ao organismo chegou informação de que, depois da garantia deixada pelas autoridades norte-americanas de que a totalidade dos depósitos está assegurada, que haja dificuldades na sua movimentação. “Não nos chegou nenhuma indicação nesse sentido”.

Contactada pelo ECO, a Farfetch não se mostrou disponível para comentar o tema. A Talkdesk não respondeu em tempo útil.

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BCE abre a porta a fim de ciclo na subida de juros

Economistas e investidores estão a rever em baixa as perspetivas para a evolução das taxas de juro na Zona Euro, admitindo que a pausa pode estar para breve se a crise na banca se agravar.

O Banco Central Europeu optou por seguir o caminho mais arriscado de cumprir o compromisso de subir as taxas de juro em 50 pontos base num período de forte turbulência, mas a falência de bancos nos Estados Unidos e o stress relacionado com o Credit Suisse teve forte influência no discurso adotado pelo banco central.

O conteúdo do comunicado emitido após a decisão de política monetária desta quinta-feira e o tom das declarações de Christine Lagarde na conferência de imprensa são bem menos agressivos do que no passado. O BCE deixou de sinalizar subidas significativas de juros, reviu em baixa as projeções para a inflação e reconheceu que o aperto da política monetária tem implicações não desejadas no sistema financeiro.

Com esta postura, o BCE ganha margem de manobra para um fim mais célere no ciclo de agravamento de juros, que está a ser o mais agressivo de sempre com um aumento acumulado de 350 pontos base (3,5 pontos percentuais) desde julho.

Se a turbulência no setor bancário se agudizar, o BCE pode fazer uma pausa nos juros pois a própria crise se encarregará de pressionar a inflação em baixa. O aperto das condições financeiras será inevitável, com os bancos a concederem menos financiamento e com juros mais elevados. Os ativos cotados vão desvalorizar e a economia acentuará a trajetória descendente, o que terá implicações na procura e nos preços de bens e serviços.

Caso a crise bancária nos dois lados do Atlântico seja contida e a inflação permaneça em níveis elevados, o BCE deverá dar mais passos mais ténues e ponderados no agravamento da política monetária. A taxa de juro já está num nível considerado restritivo e o banco central não vai querer cometer um erro de política que tenha implicações sérias no sistema financeiro. O risco já existia antes de rebentar a crise na banca, sendo agora bem mais pronunciado.

Lagarde assinalou que a inflação permanece em níveis demasiado elevados, pelo que o BCE tem caminho pela frente no agravamento da política monetária. Contudo, a presidente do BCE deixou bem claro que tal só acontecerá no cenário base que admitiu já estar desatualizado perante a recente turbulência na banca. Dito por outras palavras, se a crise persistir, o ciclo de aperto da política monetária estará perto do fim.

Mercados já duvidam de mais subidas de juros

Analistas e investidores partilham esta visão de que o BCE já não deverá carregar muito mais nos juros. Antes do colapso do Silicon Valley Bank (SVB), em meados da semana passada, o mercado de futuros apontava para uma taxa terminal do BCE em 4,2%. Concluída a conferência de imprensa de Lagarde esta quinta-feira, a estimativa para a taxa de juro situava-se em 3,15%.

Os investidores estão assim a descontar que o BCE já não voltará a subir os juros depois deste aumento de 50 pontos base para 3%. Ou, no máximo, agravará apenas 25 pontos base.

Este acentuado ajuste de mais de 100 pontos base num curto espaço de tempo deve ser visto à luz da enorme volatilidade que marca os mercados nestes últimos dias. Mas as taxas Euribor (determinadas pelas taxas de juro cobradas entre bancos do sistema) também ajustaram de forma significativa.

De perto de 4% na sexta-feira, a Euribor a 12 meses passou esta quinta-feira para 3,36%, após uma notável descida de mais de 30 pontos base nesta quinta-feira. É expectável que a taxa que serve de indexante no crédito à habitação registe hoje novo tombo, pois só esta sexta-feira reage à reunião do BCE.

Esta subida de juros pode marcar o início da fase final do ciclo de aperto da política monetária: abrandamento no ritmo, dimensão e número de subida de juros adicionais.

Carsten Brzeski

Economista chefe do ING

“Colocar sal na ferida” e “quebrar algo pelo caminho”

“Uma coisa que ficou clara nas declarações de Lagarde é que não são apenas os mercados que esperam que o ciclo de aperto da política monetária tenha chegado a um fim abrupto após os eventos dos últimos dias”, diz Craig Erlam.

O analista do Oanda afirma que “o tempo dirá” se a decisão de aumentar os juros em 50 pontos base “esfregou sal na ferida, ou representa a necessária continuidade e compromisso” no combate à inflação.

Carsten Brzeski, economista chefe do ING, considera “claro que qualquer aumento adicional de juros eleva a probabilidade de algo quebrar pelo caminho”, sobretudo agora que as taxas estão num nível restritivo. “Por isso, esta subida de juros pode marcar o início da fase final do ciclo de aperto da política monetária: abrandamento no ritmo, dimensão e número de subida de juros adicionais”.

O economista do banco dos Países Baixos assinala que os próximos passos no combate à subida da inflação “serão muito mais duros do que os adotados até agora” e que o BCE “não pode regressar ao papel de bombeiro numa altura em que tem de combater a inflação”. O ING estima que o BCE vai efetuar mais dois aumentos de 25 pontos base antes do verão (maio e junho), adotando depois uma posição de “esperar para ver”.

Os economistas da Bloomberg Economics esperam aumentos de 25 pontos base até ao verão se a estabilidade financeira for preservada. Num cenário de tensões prolongadas no setor bancário, o “ciclo de aumento de juros pode ter um fim abrupto”, referem.

O ABN Amro mantém a perspetiva de uma taxa terminal de 3,75%, mas admite que os riscos para esta previsão são agora descendentes, pois a crise na banca e o correspondente aperto das condições financeiras podem pressionar a inflação em baixa.

O economista Nick Kounis salienta que, ao contrário do que se passava até aqui, as próximas decisões de política monetária não serão baseadas apenas nas estimativas para a inflação, com as condições dos mercados a assumirem também um papel chave.

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Função Pública em greve. Saúde, escolas e serviços centrais terão maior impacto

Os trabalhadores da Administração Pública avançam para greve, manifestando-se contra o aumento do custo de vida e pela valorização das carreiras.

Os funcionários públicos estão em greve esta sexta-feira, reivindicando o aumento dos salários e reforço dos serviços públicos. A Frente Comum, que engloba 29 sindicatos, espera uma adesão elevada e admite perturbações “na saúde, nos serviços centrais como a Segurança Social e as Finanças, conservatórios, e também nas escolas”, indica Sebastião Santana ao ECO.

As expectativas para esta greve são “altas: no trabalho de mobilização identificou-se disponibilidade dos trabalhadores para participar” na greve, indica o líder da Frente Comum, pelo que a adesão deve ser “elevada”, nomeadamente entre os 29 sindicatos que “vão todos participar na jornada de luta”.

Em causa estão temas como a “revogação do SIADAP, o reforço dos serviços públicos”, bem como uma manifestação “contra o aumento do custo de vida, pela taxação de lucros e controlo de preços”. São problemas que “afetam todos os portugueses”, com os funcionários públicos a reivindicarem também a valorização das carreiras.

Quanto ao impacto destas greves, Sebastião Santana salienta que “onde haverá mais visibilidade será na saúde, nos serviços centrais como Segurança Social e Finanças, conservatórios, também nas escolas“. “Tudo o que tenha atendimento ao público ou relação mais direta”, resume, ainda que esta greve “ocorra também em sitio sem visibilidade como os serviços internos da Segurança Social, um conjunto de serviços que a população não vê e tem muitos milhares de trabalhadores”.

As escolas serão um dos sítios com mais destaque, nomeadamente depois de já ter realizado várias greves nas últimas semanas. Os professores e educadores juntam-se à greve dos trabalhadores da Administração Pública, como anunciou a Fenprof. A greve não deverá ter serviços mínimos, ainda que a questão esteja a levantar alguma polémica.

Como explica Sebastião Santana, os “avisos prévios para sexta-feira não foram contestados”, pelo que não foram atribuídos serviços mínimos. No entanto, “algumas autarquias e escolas estão a aproveitar o facto de o Stop ter prolongado o aviso prévio até dia 17 e esse sim tem serviços mínimos e estão a tentar impor esses”, aponta.

Para o líder da Frente Comum, esta é uma “atitude ilegal”, sendo que já indicaram às “autarquias do continente de que não podem ser notificados trabalhadores não docentes”. “Estamos a espera que se cumpra lei”, realça, sendo que “caso as entidades obriguem [os serviços mínimos], reservamos o direito de agir em todas as frentes contra atitude”.

A Fenprof também sinaliza que “a intolerância do Ministério da Educação em relação ao direito à greve por parte dos docentes fica bem expressa: o pré-aviso que foi enviado ao ministério também foi apresentado a outros membros do Governo que tutelam áreas da Administração Pública em que há docentes em exercício de funções e não levantou, qualquer deles, o problema que aquele ministério quer levantar”.

A estrutura representativa dos professores defende assim que “quem pretenda aderir à greve convocada pelos Sindicatos da Frente Comum para 17 de março não terá de cumprir quaisquer serviços mínimos”. “Este é um momento importante da luta dos professores, desta feita em convergência com os outros trabalhadores das escolas e de toda a restante Administração Pública“, acrescentam.

Além desta greve, no sábado, dia 18, vai também realizar-se uma manifestação organizada pela CGTP. “A Frente Comum está solidária com a iniciativa da CGTP”, indica o sindicalista, apontando que “vai haver participação grande nessa jornada de dia 18”, pelo que para muitos trabalhadores esta será uma “luta de dois dias”.

A Fenprof já sinalizou que também vai marcar presença. “No dia 18 de março, os professores e os educadores estarão na rua, de novo”, lê-se na nota do sindicato, sendo que “desta vez vão juntar-se à que se prevê ser uma grande manifestação dos trabalhadores de Portugal contra o custo de vida e, em geral, a desvalorização do seu trabalho”.

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Novo CEO da TAP só entra em meados de abril. Companhia poderá nomear interino

O ministro das Infraestruturas esteve reunido com os sindicatos representados na companhia aérea para lhes dar conta das mudanças na empresa. Novo CEO só deverá entrar na segunda metade de abril.

Se a ainda CEO da TAP deverá deixar as funções no final do mês, o futuro presidente executivo, Luís Rodrigues, só deverá entrar na companhia aérea depois de meados de abril. Um dos cenários que está a ser avaliado é a nomeação de um CEO interino.

O ministro das Infraestruturas, João Galamba, esteve reunido na segunda-feira com cerca de dezena e meia de sindicatos da TAP para lhes dar conta das mudanças na administração da companhia. Uma das informações transmitidas é que o novo CEO, Luís Henriques, ainda presidente executivo da SATA, não entra logo no início do mês.

Luís Rodrigues, ainda CEO da SATA, será o novo presidente executivo da TAP.

Questionado sobre a data concreta, o governante disse que seria em “meados de abril”, afirma Ricardo Penarroias, presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC). “Não seria na primeira semana do mês, mas também não será na quarta”, relata outro dirigente sindical que esteve na reunião.

A saída da atual CEO e do chairman em funções deverá acontecer até ao final do mês. Christine Ourmières-Widener e Manuel Beja já foram notificados pela Direção-Geral do Tesouro e Finanças do projeto de demissão e têm até dia 28 para enviarem uma resposta em sede de audiência prévia. Cumprido este requisito legal, o Tesouro pode fazer de imediato uma assembleia geral para efetivar a demissão. O ministro das Infaestruturas já expressou o desejo de que os gestores saiam “o mais rapidamente possível”.

Ao que o ECO apurou junto de outra fonte ligada à companhia aérea, o cenário mais provável será a entrada de Luís Rodrigues na segunda quinzena de abril, o que significa que haverá um hiato entre a saída da atual CEO e a entrada do novo. Está a ser avaliada a possibilidade de nomear um presidente executivo interino para aquele período. O ECO questionou o Ministério das Infraestruturas, mas até ao momento não obteve resposta.

Mesmo sem os dois administradores que o Governo demitiu na sequência das conclusões do relatório da Inspeção-Geral de Finanças sobre a saída de Alexandra Reis, o conselho de administração continua a ter quórum para deliberar, ainda que reduzido a sete elementos. Tratando-se de uma companhia aérea, um dos requisitos que tem de ser cumprido é a designação de um administrador responsável (accountable manager) perante a Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), função que é desempenhada por Christine Ourmières-Widener.

O accountable manager é o responsável por assegurar todas as condições de segurança de voo do operador. Dentro do grupo, há já outra pessoa com estas funções, mas na Portugália: o diretor-geral, Mário Chaves, que até ao início do mês fazia parte da administração de Luís Rodrigues na SATA.

Ministro pediu paz social aos sindicatos

Na reunião com os sindicatos, o ministro pediu-lhes que atuassem com responsabilidade durante o período de transição na presidência executiva da empresa. “O ministro apelou à manutenção da paz social e ao cumprimento do plano de reestruturação”, conta Ricardo Penarroias, do SNPVAC, lembrando que estes já eram os objetivos impostos aos gestores cessantes. “A folha de Excel não desaparece”, lamenta.

O dirigente considera o apelo à responsabilidade “compreensível”, mas diz, desde já, que o sindicato vai-se pronunciar quando for a apresentação das contas da TAP, prevista para o final do mês. “A empresa vai apresentar resultados muito bons, históricos, segundo dizem, muito sustentados nos cortes salariais. Mais uma vez questionamos a existência dos Acordos Temporários de Emergência [que determinam os cortes]”, afirma Ricardo Penarroias.

“O senhor ministro mostrou a sua preocupação quanto ao plano de restruturação em curso, tendo por conta o processo despoletado da negociação dos acordos de empresa que vise a desejada paz social, pois sem este fator resolvido torna-se difícil atingir os objetivos”, relata também o Sindicato Nacional Dos Trabalhadores Da Aviação Civil (SINTAC), num comunicado divulgado esta quinta-feira.

Abordada foi também a privatização da companhia aérea, à qual vários sindicatos se opõem, entre eles o SINTAC. Uma das exigências foi que a venda do capital assegure a manutenção do hub no aeroporto de Lisboa, o que tem sido defendido pelo Governo liderado por António Costa.

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