Turismo e exportações ajudam crescimento e validam as previsões mais otimistas até agora
FMI estima crescimento de 2,6% para 2023, as previsões mais positivas entre as já conhecidas. Crescimento no primeiro trimestre, impulsionado pelo turismo e exportações, explica revisão em alta.
Se até agora Fernando Medina e Mário Centeno eram aqueles que estavam mais confiantes no crescimento da economia portuguesa, já foram ultrapassados. O FMI reviu as previsões em mais do dobro e estima agora que o PIB cresça 2,6% em 2023, depois da “surpresa” no primeiro trimestre que muito se deveu ao turismo e às exportações. A atividade turística já recuperou da pandemia e continua a atingir valores recorde, enquanto as exportações têm superado as importações, invertendo as tendências habituais.
O FMI reviu em alta o crescimento de 1%, número avançado já em abril, para 2,6% no relatório do Artigo IV divulgado esta terça-feira. Acima dos 1,8% estimados pelo Governo e Banco de Portugal. A revisão surgiu depois de, como assumiu em conferência de imprensa Rupa Duttagupta, que liderou a equipa de missão do FMI em Portugal, terem ficado “surpreendidos pelo crescimento da economia no primeiro trimestre, [que foi] muito mais forte que antecipado”.
O PIB cresceu 1,6% nos três primeiros meses do ano face ao último trimestre de 2022, enquanto na comparação homóloga avançou 2,5%. O INE salientava na altura que se verificou uma “aceleração das exportações de bens e serviços e um abrandamento das importações de bens e serviços”. “Em consequência, o contributo positivo da procura externa líquida foi superior ao do trimestre anterior”, sinalizou o gabinete de estatísticas nacional.
Rupa Duttagupta também destacou as exportações, sendo que já antes os economistas consultados pelo ECO apontavam para o bom desempenho das exportações nos três primeiros meses do ano. Beneficiaram da redução dos preços das matérias-primas e da melhoria da procura externa, “num quadro de dissipação dos receios de uma crise energética nas principais economias da área do euro, que condicionaram o desempenho da atividade exportadora nos últimos meses de 2022”, escreveu a economista Márcia Rodrigues, da área de estudos económicos do Millennium bcp, na nota de conjuntura.
O próprio ministro das Finanças tinha salientado que o crescimento “acima do esperado pela generalidade dos observadores é um crescimento que assenta sobretudo no crescimento das exportações”. Medina caracteriza mesmo este segmento como um “motor” de crescimento “absolutamente benigno”, que foi capaz de “compensar o abrandamento da procura interna”.
Olhando para os dados oficiais mais recentes, as exportações de bens aumentaram 13,3% no primeiro trimestre do ano, superando as importações, que cresceram 8,7%, em relação ao mesmo período de 2022. Mesmo assim, é de notar que se tem registado um abrandamento. Estes dados vão ser confirmados já esta quarta-feira pelo INE.
Apesar do abrandamento, Medina está confiante do desempenho para o resto do ano, até porque muito se foca nas exportações de serviços. A previsão de crescimento das exportações passou de 3,7% no OE2023 para 4,3% no Programa de Estabilidade. O Ministério das Finanças projeta um aumento no contributo das exportações para o crescimento, enquanto a procura interna, que ainda é “o principal motor do crescimento”, deverá perder algum peso.
O ministro da Economia, António Costa Silva, tinha também já avançado que as exportações portuguesas ultrapassaram 50% do PIB em 2022, ganhando assim uma maior relevância na economia portuguesa.
Além das exportações, o turismo está também em destaque. Como sinalizou Rupa Duttagupta, na mesma conferência de imprensa, o turismo teve um crescimento “muito mais forte que o antecipado” e isso também contribuiu para o desempenho mais positivo no arranque do ano.
Segundo os dados do INE, fevereiro registou um recorde de dormidas nos estabelecimentos de alojamento turístico em Portugal (num total de quatro milhões) e 1,7 milhões de hóspedes. O que ajudou os proveitos totais da atividade turística a alcançarem 245,7 milhões de euros no segundo mês do ano. Trata-se de um aumento das receitas de 60,3% em termos homólogos e de 26,4% face ao mesmo período de 2020.
Estes indicadores acabam por se complementar. Como salienta Márcia Rodrigues, “a manutenção de níveis de crescimento robustos do turismo deverá ter contribuído para suportar o bom desempenho das exportações de serviços”.
O Ministério das Finanças já destacava, no Programa de Estabilidade, que se “perspetiva um menor dinamismo das exportações de bens quando comparadas com a dos serviços, em linha com a evolução do comércio internacional, num enquadramento ainda desafiante, marcado nomeadamente pela incerteza quanto à evolução económica da China e dos Estados Unidos, e consequências de políticas de maior pendor protecionista como o Inflation Reduction Act promovido pela Administração norte-americana”.
Também António Ascensão Costa, na síntese de conjuntura do ISEG de abril, antecipava o contributo mais positivo da procura externa líquida, “em particular devido à recuperação da procura turística externa e ao maior crescimento das exportações face às importações”.
Para o resto do ano, o FMI sinaliza que se pode até verificar “um impulso turístico mais rápido”, que iria dar gás ao crescimento económico. As Finanças salientam também, no Programa de Estabilidade, que este ano “beneficia da procura turística decorrente da Jornada Mundial da Juventude no terceiro trimestre”.
O Banco de Portugal também justifica o otimismo face ao crescimento económico com o turismo. Em março, o banco central reviu em alta os números para 2023, “refletindo uma evolução mais favorável das exportações de turismo e, em menor grau, do consumo privado no início do ano”.
O BdP e o Governo eram os mais otimistas nas previsões, agora superados pelo FMI. Rupa Duttagupta salienta até que, mesmo que o resto do ano seja fraco, já está quase assegurada uma evolução do PIB em torno de 2%. Já o Conselho das Finanças Públicas aponta para um crescimento de 1,2% em 2023, segundo as previsões de março, enquanto a Comissão Europeia e a OCDE, que são as previsões mais “antigas”, apontam ainda para um crescimento de apenas 1%.
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