Fitch corta notação soberana dos EUA para ‘AA+’

A Fitch salienta que a situação orçamental dos EUA deverá piorar no próximo triénio, citando ainda o elevado e crescente endividamento da economia e uma "erosão" na governança.

A agência de ‘rating’ Fitch cortou esta terça-feira a notação soberana dos Estados Unidos em um nível para ‘AA+’ de ‘AAA’, citando a expectativa de uma deterioração orçamental na maior economia do mundo nos próximos três anos, um aumento do endividamento e ainda uma erosão da governança em relação aos pares.

A última vez que uma das principais agências cortou a notação dos EUA foi em agosto 2011, quando a S&P desceu o nível para ‘AA+’ de AAA, ou seja, para o segundo nível da escala. Essa notação ‘triple A’ é ainda mantida pela Moody’s e pela DBRS sobre a dívida soberana americana.

“A descida do ‘rating’ dos Estados Unidos reflete a expectativa de deterioração orçamental nos próximos três anos, um fardo de dívida pública alto e crescente e a erosão da governança em relação aos pares classificados como ‘AA’ e ‘AAA’ nas últimas duas décadas, que tem manifestado em repetidos impasses sobre o limite de dívida e a resoluções de última hora”, afirmou a Fitch em relatório. A perspectiva, ou em inglês o ‘outlook’, da notação passou para estável de negativa.

Quem não gostou nada da decisão da Fitch foi Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA. “Discordo veementemente da decisão da Fitch Ratings. A mudança anunciada hoje pela Fitch Ratings é arbitrária e baseada em dados desatualizados“, acusou.

Segundo a antiga presidente da Reserva Federal, o modelo de ‘ratings’ quantitativos da Fitch “caiu acentuadamente entre 2018 e 2020 – e ainda assim a Fitch está a anunciar esta mudança agora, apesar do progresso que vemos em muitos dos indicadores nos quais a Fitch confia para sua decisão”. Muitas dessas medidas, inclusive as relacionadas à governança, mostraram melhorias ao longo deste governo, disse Yellen em comunicado, “com a aprovação de legislação bipartidária para abordar o limite da dívida, investir em infraestrutura e fazer outros investimentos na competitividade da América”.

A Fitch espera que o défice do governo central suba para 6,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, de 3,7% em 2022, refletindo receitas federais “ciclicamente mais fracas, novas iniciativas de despesa e uma carga de juros mais alta”. Além disso, espera que os governos estaduais e locais tenham um défice 0,6% do PIB este ano, após um pequeno superávit de 0,2% do PIB em 2022.

Para 2024, a Fitch projeta um défice federal de 6,6% do PIB e uma subida adicional para 6,9% do PIB em 2025. “As subidas dos défices serão impulsionadas pelo fraco crescimento do PIB em 2024, uma carga de juros mais alta e défices estaduais e locais mais amplos de 1,2% do PIB em 2024-2025 (em linha com a média histórica de 20 anos)”, sublinhou a agência.

“Espera-se que a relação juros/receita atinja 10% até 2025 (em comparação com 2,8% para a mediana ‘AA’ e 1% para a mediana ‘AAA’) devido ao maior nível de dívida, bem como às taxas de juros mais altas sustentadas em comparação com níveis pré-pandémicos”, adiantou.

A agência recorda que défices mais baixos e um elevado crescimento nominal do PIB reduziram a relação dívida/PIB nos últimos dois anos desde o pico pandémico de 122,3% em 2020, mas sublinha que, no entanto, em 112,9% este ano, ainda está bem acima do nível pré-pandémico de 2019 de 100,1%.

“Prevê-se que o rácio dívida/PIB aumente durante o período de previsão, atingindo 118,4% até 2025. O rácio da dívida é mais de duas vezes e meio superior à mediana ‘AAA’ de 39,3% do PIB e ‘ AA’ mediana de 44,7% do PIB”, vinca.

As projeções de longo prazo da Fitch “preveem aumentos adicionais do rácio dívida/PIB, aumentando a vulnerabilidade da posição orçamental dos EUA a futuros choques económicos”.

Em relação à governança, a Fitch diz que houve uma deterioração constante nos padrões nos últimos 20 anos, inclusive em questões orçamentais e de dívida, apesar do acordo bipartidário de junho para suspender o limite da dívida até janeiro de 2025″. Os repetidos impasses políticos sobre o limite da dívida e resoluções de última hora “corroeram a confiança na gestão orçamental”, e além disso, “o governo carece de uma estrutura orçamental de médio prazo, ao contrário da maioria dos seus pares, e possui um processo orçamental complexo”.

Esses fatores, juntamente com vários choques económicos, bem como cortes de impostos e novas iniciativas de despesa, contribuíram para sucessivos aumentos da dívida na última década, adianta.

“Além disso, houve apenas progresso limitado em enfrentar os desafios de médio prazo relacionados ao aumento dos custos da segurança social e do Medicare devido ao envelhecimento da população”, conclui.

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