IGCP ignora crise política junto dos investidores
Uma semana após a queda do primeiro-ministro, a bolsa ainda não recuperou e o risco da dívida não acompanhou a baixa dos pares. Crise política passou ao lado da agência que gere a dívida pública.
Se fossemos um investidor internacional e consultássemos a última apresentação institucional do IGCP relativa a novembro, pensaríamos que Portugal estaria a viver uma situação política tranquila. Mas é tudo menos isso que tem acontecido no país nos últimos dias.
Desde terça-feira da semana passada, uma investigação judicial por conta de suspeitas de corrupção em grandes projetos de investimento envolvendo altos cargos do governo precipitou a demissão do primeiro-ministro, atirando o país para eleições antecipadas em março do próximo ano.
No meio desta crise política, também o próprio governador do Banco de Portugal ficou sob pressão perante o convite de António Costa para “considerar a possibilidade de liderar” um novo governo. Pelo meio houve uma confrontação com o Presidente. A oposição está a questionar as condições de independência de Mário Centeno à frente do supervisor, algo que estará na mira do comité de ética do Banco Central Europeu (BCE).
Todos estes acontecimentos estão a ter amplo destaque não só na imprensa nacional, como nos media internacionais, desde logo as principais agências financeiras como a Bloomberg e a Reuters, ou jornais de grande influência como o Financial Times, mas parecem ter passado ao lado da agência portuguesa responsável pela gestão da dívida pública.
Pelo menos, a apresentação do IGCP relativa a novembro e divulgada esta terça-feira, uma semana depois da demissão de António Costa, ignora a crise política que se instalou no país.
Pelo contrário, a agência continua a indicar (ver slide 4) que o país goza de uma “situação política estável”, com “um Governo apoiado por uma maioria no Parlamento”, uma informação que já vinha nos anteriores relatórios e que estará certamente por atualizar.
A apresentação aos investidores é atualizada mensalmente e dá conta dos principais números e tendências da economia do país junto dos mercados que compram dívida portuguesa. Questionado pelo ECO, a agência liderada por Miguel Martín não respondeu até a publicação deste artigo.
Bolsa ainda recupera, dívida não segue pares
Os analistas consideram que, depois de um primeiro embate muito negativo, a crise política não está a ter um grande impacto na perceção dos investidores. Mas, uma semana depois da notícia das investigações que levaram à demissão do primeiro-ministro, as contas ainda são desfavoráveis.
PSI ainda recupera
Fonte: Reuters
No dia em que Costa se demitiu, a 7 de novembro, o principal índice bolsista português tombou mais de 2,5%, na pior sessão em meses, com a capitalização bolsista das 16 empresas do PSI a cair 1,7 mil milhões de euros. Desde então, a bolsa tem estado a recuperar, mas ainda não totalmente: encerrou a sessão desta terça-feira nos 6.339,99 pontos, ainda 1% abaixo do nível em que fechou na sessão de dia 6 (antes da crise).
No mercado de dívida, embora a yield das obrigações portuguesas a 10 anos registe um recuo de 12 pontos base desde segunda-feira da semana passada, o prémio de risco em relação à Alemanha agravou de forma ligeira, enquanto os pares Espanha e Itália tiveram reduções dos juros mais acentuadas.
Prémio de risco não acompanha pares
Fonte: Reuters; Spread em relação à dívida alemã a 10 anos
“Não obstante a demissão do primeiro-ministro ter sido um evento disruptivo para a vida política, ao nível económico no curto prazo, as consequências são limitadas, tendo em conta a decisão do Presidente da República em manter o executivo até pelo menos ser aprovado o Orçamento de Estado”, disse Mário Martins, analista da ActivTrades.
João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, notou que o maior risco para os mercados e investidores poderá vir da instabilidade e da incerteza que possam sair dos resultados das eleições de 10 de março.
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