Redução da Fosun alimenta cenário de M&A no BCP, dizem analistas
"Cada vez que um acionista relevante reduz a posição, torna o banco mais 'opável", considera João Queiroz, do Banco Carregosa. Ações estão sob pressão na bolsa após Fosun vender ações com desconto.
A redução da participação da chinesa Fosun no BCP BCP 0,00% de 30% para 20% alimenta o cenário de fusões e aquisições (M&A) em torno do banco português liderado por Miguel Maya, consideram os analistas ouvidos pelo ECO.
O grupo chinês anunciou esta segunda-feira a venda de uma posição de 5,6% do BCP a investidores institucionais por 235 milhões de euros. Mas antes tinha alienado cerca de 4,3% em operações realizadas na bolsa, reduzindo assim sua participação de 29,95% para 20,03% no espaço de meio ano.
“De cada vez que um acionista relevante reduz a sua posição torna o banco mais ‘opável’”, adianta João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa. “Se o negócio bancário se mantiver com o mesmo tipo de atração, num cenário em que as taxas de juro não caem tão depressa, a médio e longo prazo pode tornar atrativo algum investidor institucional poder entrar”, acrescenta João Queiroz.
“A venda foi feita a investidores privados, portanto, só por aí, essa porta fica aberta”, admite Vítor Madeira, analista da XTB. “No entanto, esse cenário será completamente incerto”.
Nos últimos tempos, cresceram os rumores de uma fusão entre o BCP e o Novobanco, onde os americanos da Lone Star também estão a preparar a saída após um investimento de mil milhões de euros por 75% do capital em 2017.
De cada vez que um acionista relevante reduz a sua posição torna o banco mais ‘opável’. Se o negócio bancário se mantiver com o mesmo tipo de atração, num cenário em que as taxas de juro não caiem tão depressa, a médio e longo prazo pode tornar atrativo algum investidor institucional poder entrar.
João Queiroz lembra que o mercado já tem a perceção de que a “estrutura acionista do BCP pode comportar alguma volatilidade”, nomeadamente pelo facto de ter dois acionistas com 40% a 50% do capital com origem em economias emergentes. O segundo maior acionista do BCP é a Sonangol, a petrolífera estatal de Angola, que detém 19,49% do banco português.
“Com o preço do petróleo entre os 70 dólares e 80 dólares, não há urgência a entrada de capitais na Sonangol. Não se espera que a Sonangol venha seguir o mesmo exemplo da Fosun. Se fosse esse caso, o preço da ação seria ainda mais volátil”, diz João Queiroz.
Ainda assim, com a redução da Fosun, “haverá nova recomposição dos acionistas do BCP” e a estrutura acionista “ou ficará mais fragmentada ou entra um institucional para estar num banco que é o maior privado em Portugal, com forte presença no mercado polaco”.
Desconto e tomada de mais-valias pressionam BCP
As ações do BCP estão sob pressão vendedora na bolsa de Lisboa esta terça-feira. Abriram a sessão a cair mais de 8%, tendo aliviado as perdas para 5% ao início da tarde, cotando nos 0,272 euros.
“O facto de a Fosun ter feito uma ‘venda rápida’ para investidores privados, levou a que a sua venda tenha sido feita ‘a desconto’, pressionando a cotação do título”, explica Vítor Madeira. A Fosun vendeu os títulos ao preço de 0,278 euros por unidade, 3,3% abaixo da cotação de fecho desta segunda-feira.
BCP sob pressão
Por outro lado, lembra ainda o analista da XTB, “dado que a Fosun continua a ser dos maiores acionistas em conjunto com a Sonangol, parece ter sido uma oportunidade para retirar mais valias”, depois de o BCP ter valorizado mais de 100% em 2023. E isto quando “as perspetivas macroeconómicas já não são tão favoráveis, criando assim uma oportunidade de arrecadar alguns lucros”.
João Queiroz refere que a evolução da cotação do banco também “estará dependente do ecossistema da evolução dos mercados”. Por exemplo, “esta levitação das bolsas dos EUA para máximos, se a Europa acompanhar, o BCP não sai tão penalizado”, destaca o analista do Banco Carregosa.
Dado que a Fosun continua a ser dos maiores acionistas em conjunto com a Sonangol, parece ter sido uma oportunidade para retirar mais valias.
À espera dos resultados
Adicionalmente, “o mercado está curioso com os resultados que apresentará em fevereiro”, diz ainda João Queiroz. Até setembro o BCP registou lucros de 650,7 milhões de euros, com o resultado a multiplicar por sete em relação ao mesmo período de 2022 à boleia da subida das taxas de juro. As contas anuais serão divulgadas no dia 26 de fevereiro.
“Apesar de 2024 ter apresentado alguns sinais de alguma estagnação no produto bancário, as taxas de juro não irão cair tão rapidamente como se esperava no final do ano passado”, contextualiza João Queiroz.
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